De volta ao desfile das campeãs, a Portela foi a 5ª colocada no carnaval de 2024. Após amargar um 10º lugar em 2023, a centenária se vê unida pós-resultado. Mesmo com notas baixas em bateria, casal de mestre-sala e porta-bandeira e alegorias e adereços, os segmentos, em entrevista ao site CARNAVALESCO, afirmaram estar unidos em prol de um carnaval vitorioso em 2025 e comemoraram a volta da escola no desfile das campeãs.
Mestre Nilo Sérgio não escondeu a frustração e a dor com as duas notas 9.9 que a Tabajara do Samba levou neste ano:
“Sempre dói, porque quando a gente vê uma justificativa, a minha afinação é a afinação da bateria da Portela. Eu não posso tirar a afinação que ele quer. Eu não posso mudar a afinação que eu aprendi e que a Portela usa há anos. Agora, o chocalho, a Liesa diz que não pode comparar bateria. A Mila me comparou com outras demais escolas sobre o chocalho. Gente, eu não posso botar numa escola centenária danças de chocalho. Eu tenho que trabalhar a sustentação da escola. Assim, dói, mas hoje é festa. A Portela está revendo, vai rever algumas coisas. Mas estou chateado. Chorei para caramba, mas, infelizmente, está aí”, desabafou o mestre.
Mesmo abatido e triste com a avaliação dos jurados, o mestre já pensa no próximo carnaval e promete mais trabalho e empenho:
“Eu vou trabalhar mais, vou trabalhar mais, sempre assim, vou trabalhar mais. De compensação, é sobre os meus diretores que continuam, graças a Deus. Eu não vou tirar o meu diretor de chocalho, porque eu acho que ele trabalhou muito bem. A equipe continua a mesma e vamos que ano que vem tem mais carnaval”, contou Nilo.
A rainha da Tabajara do Samba, Bianca Monteiro, recebeu o prêmio Estrela do Carnaval, de Melhor Rainha da Bateria, pelo site CARNAVALESCO. Ela, que veio com o corpo pintado de preto, apenas de tapa-sexo, veio fantasiada de Oxum. Totalmente diferente de todas as fantasias que Bianca já usou, a rainha afirma que ficou receosa com o figurino, tentou colocar empecilhos, tentou fazer os carnavalescos desistirem, mas foi convencida e acredita que o resultado foi positivo.
“A gente tem um carinho muito grande pelo site CARNAVALESCO, que está sempre acompanhando a gente em todos os trabalhos. E poder ganhar esse presente esse ano, que é um ano muito transformador para nossa escola, transformador na minha vida também, porque essa Oxum foi uma divisora de águas, eu recebi tantos elogios, mas também muitas críticas, e tem uma galera que se movimentou muito na internet. Então, poder ver que isso, de alguma maneira, trouxe algo positivo na minha vida, é uma resposta de que a gente fez um bom trabalho, que a gente conseguiu concluir algo positivo. Então, para mim, é uma honra muito grande, realmente. Mas eu falo sempre isso, não é demagogia, mas não existe melhor rainha, eu acho que existe o momento, e o momento, graças a Deus, foi dar o show, e foi o meu”, comemorou a rainha.
Questionada sobre a idealização da sua interessante fantasia, Bianca contou que a ideia veio de André e Gonzaga, os carnavalescos, e que ela não tinha gostado muito no início, mas foi convencida e apoiada pela gestão da escola em vir toda pintada à frente da Tabajara do Samba.
“Os carnavalescos comandaram tudo. No início, eu fiquei muito com medo, pensei ‘será que terá tapa-sexo?’, porque conta ponto, prejudica a escola. Vir pintada, estar extremamente exposta na avenida. E eu, que venho de uma escola muito tradicional e tal, mas eles não me deram confiança. Eu reclamei três vezes e eles não me deram confiança. Eu conversei com o presidente, com a diretoria, e ele falou: ‘Não, Bianca, não vai ser assim’. Eu botei vários empecilhos, mas graças a Deus, a insistência deles deu certo. E também ver a cara dos carnavalescos, ver a carinha do Antônio, quando ele me viu pela primeira vez, ele ficou com os olhos cheios de lágrimas. E para mim, foi a resposta de que a minha decisão foi certa. Porque eu fiquei imaginando a idealização deles para a fantasia e eu recusar, isso não deve ser algo não bom para o carnavalesco, mas poder somar com tudo aquilo que eles sonharam e dar certo. Fiz a fantasia com uma equipe com a qual trabalho há anos, foi tudo feito com muito amor, com muito carinho, e eu acho que a resposta positiva foi essa que você sabe. Amei essa aventura aí, eu sou uma mulher de Iansã, eu gosto de me aventurar, eu gosto de me jogar e eu gosto do novo, na verdade, eu estava um pouquinho enjoada dessas mesmas roupas que a gente usa todo ano, aquele biquíni, o maiô, e aí eu queria algo diferente, mas também não sabia que ia ser tão diferente assim, mas eu acho que valeu super a pena. Foi um preto que não me deixou vulgar, então eu acho que é como eu sou”, contou Bianca.
Bianca, que veio ao lado do mestre Nilo na frente da bateria, lamentou as notas baixas que a Tabajara levou, mas viu que o afeto foi o que consolou todos eles após a apuração.
“A gente é uma família, trabalhamos todos juntos, eu falo que eu não dou ponto, mas eu também posso tirar. Então foi algo que mexeu muito comigo, ver o Nilo chorando, o Marlon também, a Squel, a gente se apoiou, a gente se abraçou. A mão que acolhe a outra mão é isso, é o afeto, é o nosso enredo e é o que a Portela é. Acho que, maior do que isso, não tem. Isso foi a maior prova, exatamente foi esse afeto. No final, está todo mundo junto. O meu presidente, que está aqui também, acolheu todo mundo naquele momento. Isso é muito importante, a diretoria, acolher o Nilo, acolher o casal, a comissão de frente. Eu acho que eu não esperaria menos dessa gestão do meu presidente e da Portela”, disse a rainha.
O enredo da Portela, “Um defeito de cor”, foi extremamente elogiado no pré-carnaval, gabaritou o quesito e foi premiado por diversos veículos, inclusive recebeu o Estrela do Carnaval, do site CARNAVALESCO. Os carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga comemoraram o feito.
“É sempre bom ter o trabalho reconhecido com premiações, além da nota. Mas, obviamente, que o nosso foco é a nota, porque é o que importa para o todo. As premiações vêm para engrandecer o trabalho, mas muito de uma maneira mais direta, de quem participou dessa criação do enredo. Mas a gente fica sempre muito feliz. Não tem como não ficar muito feliz. A gente está saindo muito satisfeito e emocionado desse carnaval. Ainda não temos enredo para 2025, hoje aqui na concentração a gente devaneou algumas coisas, mas são só devaneios. A ideia é que a gente possa fechar o tema de 2025 antes da gente conseguir tirar umas férias. Então, muito provavelmente nas próximas semanas a gente vai estar ainda se encontrando e trabalhando junto para poder definir o rumo do carnaval da Portela e depois ter um descanso que a gente merece”, afirmou André Rodrigues.
“Ah, é uma alegria enorme porque a gente acha que o enredo é a coisa mais importante. Não importa o que a gente vai pensar em termos de fantasia e em termos de alegoria, se a gente não está contando uma boa história, se a gente não está trazendo um tema relevante, a gente teve a ajuda e a colaboração da Bia Chaves, e nessa final teve o Marcelo também que ajudou a gente na defesa das coisas do livro abre-alas. E a gente tem muito orgulho da recepção do enredo, o auxílio da Ana Maria Gonçalves, autora do livro, que também fez a consultoria para a gente, e é uma alegria enorme”, disse Gonzaga.
Olhando para todo o carnaval da Portela, Gonzaga se diz satisfeito e entusiasmado para o ano que virá, já que ele e André seguem na Azul e Branca de Oswaldo Cruz e Madureira.
“O balanço é bem positivo, acho que a Portela está muito feliz com o resultado, com o desfile que fez, eu e o André também estamos muito felizes, felizes em continuar na Portela, já pensando no carnaval de 2025, e acho que a escola está se reencontrando num caminho rumo ao topo da tabela, a gente espera chegar lá em 2025”, comentou o carnavalesco.
A última alegoria da Portela, “Em cada porto, nosso ninho”, que trouxe mães pretas que perderam seus filhos para a violência, emocionou o público e ganhou inúmeros elogios nas redes sociais. Os carnavalescos compartilharam o sentimento de ver na avenida uma obra tão sensível e forte idealizada por eles na avenida.
“Nossa, foi muito emocionante, acho que é um carro que tem uma potência, uma força muito grande e ele é realmente levado por essas mulheres, por essas mães, ele foi carregado por elas e é difícil descrever o que foi esse carro na avenida, mas o que foi esse carro durante todo o processo, foi ele no barracão, enfim, ele nos testes, ele foi aqui na concentração e depois da avenida, as fotos que vão saindo dele, tudo é muito emocionante. A nossa única pretensão era realmente prestar essa homenagem, fazer uma alegoria bonita o suficiente para passar a mensagem, mas parece que extrapolou um pouquinho e fez com que realmente as pessoas fossem tocadas por esse projeto”, disse André.
“Eu acho que o último carro é a síntese do enredo. Ele traz o enredo para uma mensagem mais contemporânea, mas que faz a gente pensar sobre o lugar dessas mães pretas que ocupam o Brasil hoje em dia. Porque esses filhos são tirados dessas mães, e por que a gente não pode sonhar com um Brasil mais justo”, contou Antônio.