Por: Diogo Cesar Sampaio.
Em pleno momento de crise do carnaval, tanto financeira, quanto de credibilidade, a São Clemente quer, em 2019, retomar a sua identidade crítica e irreverente. Indo para o seu nono carnaval consecutivo no Grupo Especial, a amarelo e preto de Botafogo escolheu revisitar um de seus maiores clássicos: “E o samba, sambou”. E para que a segunda passagem da obra pela Sapucaí seja exitosa, assim como foi a primeira, a escola não está poupando esforços e nem mesmo custos, como contou o coreógrafo da agremiação, Júnior Scapin:
“Essa é a comissão de frente mais cara da história da São Clemente. Logo na minha primeira conversa com o Renatinho, ele me disse que daria todo o suporte para eu fazer uma comissão de frente muito bacana. E eu tenho certeza absoluta que, com o trabalho que nós estamos fazendo, com o suporte que nós estamos tendo, a gente vai fazer uma comissão de frente memorável. Até porque, está muito fresco na mente do povo o que nós vamos falar na comissão.”
A proposta crítica do enredo e do samba estará presente no desfile, desde a sua comissão de frente. É o que promete o coreógrafo Júnior Scapin, mas sem deixar de lado o bom humor.
“A gente vai trazer uma crítica, muito bem humorada, sobre a situação do carnaval. A gente vai tocar em uma ferida, que eu não posso falar. Vamos trazer um tripé, que a gente precisa necessariamente dele, para fazer o jurado. Mas a gente toca na ferida, fala do que realmente aconteceu, de uma forma maneira, de uma forma engraçada, de uma forma bem humorada. Afinal, não queremos agredir ninguém e nem ofender.”
Faltando apenas alguns dias para o desfile oficial, o coreógrafo afirma já estar com tudo pronto. Para Júnior Scapin, o cronograma antecipado é um diferencial para o sucesso do trabalho na São Clemente.
“Já está tudo pronto. Experimentamos o figurino, com a roupa toda pronta. Já estamos ensaiando com o tripé há bastante tempo. Agora damos uma parada, para que se possa começar a enfeitar e a fazer todo o adereçamento do tripé. Está tudo dentro do cronograma que a gente fez. É muito difícil eu ter isso em uma escola: antecedência. E graças a Deus, isso está acontecendo na São Clemente.”
Sobre a sua relação com Jorge Silveira, Júnior Scapin alega ser uma parceria baseada no diálogo. A troca de ideias e a interação, entre o carnavalesco e o coreógrafo, foram de muita importância no processo de trabalho.
“O Jorge (Silveira, carnavalesco) me deixou muito a vontade. Ele é um profissional que está perto e que constantemente dá todo o suporte. Deixou-me a vontade não só para fazer a concepção da comissão de frente, mas em tudo o que eu preciso. Desde se a roupa está boa, se a cor está boa, se o sapato está bom. Eu escolho isso, eu escolho aquilo. Antes de mexer no tripé da comissão, ele me consulta. Então é uma parceria muito grande. O Jorge é um carnavalesco super talentoso e super humilde. É bom trabalhar com pessoas assim, que está junto da gente o tempo todo, desde o primeiro momento que a gente conversou sobre comissão de frente, até o dia do desfile.”
E se não bastasse a cobrança e a responsabilidade que é assinar uma comissão de frente no Grupo Especial, em 2019, Scapin terá de lidar com outra questão. Pelo enredo da São Clemente se tratar de uma reedição, é inevitável que surja comparações entre o que será apresentado e o que passou originalmente em 1990.
“O que vamos trazer vai lembrar os antigos carnavais sim, por conta das nossas fantasias e por conta de todo o gestual que a gente vem fazendo. Porém, contando uma história que acabou ficando atemporal: o que acontecia em 1990, ainda acontece em 2019. Assim, o público vai sentir um pouquinho da nostalgia de 1990, tem algumas características da comissão daquele ano sim, mas a coreografia em si é bem contemporânea.”
A comissão de frente de 2019 trata-se do primeiro trabalho de Scapin na São Clemente. Dono de um currículo extenso, o coreógrafo conta com trabalhos anteriores em agremiações como Mangueira, Império Serrano e Paraíso do Tuiuti.
“Estou muito feliz de estar na São Clemente. Sinceramente, é uma escola que está me tratando muito bem. Eu já tive em inúmeras escolas, e nunca tinha vivido nada como estou vivendo aqui. O Renatinho está me dando um tratamento tão bacana, de profissional para profissional. Seja em termos de tratamento como equipe, comigo, em termo de coisas que preciso para minha comissão de frente, ele está me dando todo o suporte, para que a gente possa estar fazendo um trabalho muito bacana.”
O coreógrafo ainda falou para a reportagem do site CARNAVALESCO, a sua opinião acerca do uso dos tripés e elementos cenográficos pela comissão de frente. E apesar de utilizar da ferramenta esse ano, Scapin se mostrou crítico ao seu uso e funcionalidade.
“Eu não gosto de tripés. Se eu pudesse, traria uma comissão de frente só com bailarinos e algum artifício que pudéssemos ter. Mas o carnaval cresceu tanto, e depois de 2010 com a comissão do “É Segredo” da Tijuca, o tripé tornou-se praticamente obrigatório. Os jurados querem ver grandiosidade. E se você não traz essa grandiosidade, parece que você entra com menos um décimo na avenida. Eu acho até bacana trazer um tripé, desde que ele não seja o ponto principal da comissão de frente. Ele tem que interagir e complementar a apresentação apenas. Eu continuo acreditando que os bailarinos são a ferramenta ideal para uma comissão de frente. Mas repito, acho válido usar um elemento cenográfico. Não acho que deva ser grande, embora o que vou usar esse ano tenha uma dimensão enorme. Porém, é necessário para o que estamos propondo. Mas eu sonho com o dia, em que a gente vai poder voltar a trazer aquelas comissões dançadas, sem aquele trambolho atrás. Sou a favor da comissão de frente de pé no chão.”