Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Aclamado por muitos como o melhor samba do Grupo Especial do carnaval 2024 de São Paulo, a Acadêmicos do Tucuruvi teve uma apresentação próxima da catarse. Sétima (e última) escola a desfilar no sábado de carnaval (10 de fevereiro), a agremiação da Serra da Cantareira teve excelente rendimento da canção, um conjunto musical brilhante, uma ótima exibição do Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira… um quesito, entretanto, pode ser crucial para definir a ventura do Zaca – como a agremiação é popularmente conhecida. Apresentando o enredo “Ifá”, desenvolvido pelos carnavalescos Dione Leite e Yago Duarte, a escola teve 62 minutos na passarela.

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Comissão de Frente 

Em determinados momentos, é impossível não relacionar a coreografia com o já histórico Exu do enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, campeão pela Acadêmicos do Grande Rio em 2022 e imortalizado por Demerson D’Álvaro. Não à toa: no enredo, ele é quem contará a amizade de Ifá com Orunmilá, outras duas entidades de religiões de matrizes africanas. Com um grande tripé, os coreografados por Renan Banov executaram uma dança envolvendo muita palha no tripé, em movimentos bastante bonitos esteticamente. Ao descer da alegoria, todos dançavam com igual vigor – incluindo momentos no qual, de dois em dois, os bailarinos se deitavam no chão até o próprio tripé chegar próximo dos mesmos. Vale pontuar que o instante no qual os componentes desciam para a passarela acontecia nas proximidades dos módulos, fazendo uma apresentação diferenciada para os julgadores.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira 

Substituindo Waleska Gomes, Beatriz Teixeira se tornou apenas a quarta porta-bandeira da Acadêmicos do Tucuruvi desde 2022 – Fabíola Andrade e Thaís Paraguassu completam a conta. No primeiro bailando juntamente com Luan Caliel (desde 2020 na escola), a evolução de ambos na agremiação foi nítida e bastante perceptível em casa ensaio realizado e observado pela reportagem. O desfile apenas coroou uma trajetória de crescimento exemplar: com exibição excelente em todos os quatro módulos, cumprindo balizamentos obrigatórios e cheios de energia, sincronia e bailado, a dupla teve ótimo papel ao longo de toda a apresentação.

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Enredo

Dos enredos mais celebrados do carnaval paulistano, a Acadêmicos do Tucuruvi também pegou muitos de surpresa pela temática a ser desenvolvida pelos carnavalescos – haja vista que, dentre tantas entidades africanas muito conhecidas pelo grande público, Ifá não está entre elas. Citando a criação da natureza e até mesmo a travessia de afrodescendentes para o Brasil, o orixá do destino na cultura iorubá também clama por justiça, respeito e igualdade aos seguidores – pregando uma mensagem de resistência, força e tolerância. Vale destacar que, conforme o desfile se encaminha para o seu final, também são mencionadas as forças da natureza – como a energia do ar, Oya; e da terra, Oduduwa. A ala que encerra o carnaval é uma grande celebração de tudo que a escola e a própria folia procuram – sobretudo em um enredo de tanta densidade cultural: “A diversidade aos olhos de Ifá – me abraça, somos irmãos”.

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Alegorias

É importante salientar que, na função de membros de um setor, cada alegoria costuma ter concepções bastante diferentes. Foi o caso dos carros produzidos pela Acadêmicos do Tucuruvi, cada um com um DNA bastante diferentes um do outro – o que quer dizer que cores, esculturas, estilos e motivações eram bastante diversas ao longo de todo o desfile. O abre-alas, “Agito, Borbulhas, Fagulhas – A Terra Se Fez Cabaça” era inteiramente em tons escuros, pendendo para o vermelho, com esculturas de entidades africanas; já o quarto e último carro, “De Amanhecer Um Novo Dia – Aos Olhos de Ifá”, pensando no futuro em Ifá, tinha uma estética muito mais pendendo para o verde – não à toa, a cor da esperança.

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Fantasias

Tal quesito, certamente, definirá a sorte da escola na apuração. É bem verdade que a escola utilizou materiais muito adequados em absolutamente todas as fantasias, todas com bom gosto estético e de boa durabilidade. A questão, entretanto, são algumas escolhas feitas pela agremiação. A ala 01, “Irofá”, estava sem chapéu e costeiro. Mais adiante, havia uma sequência de três ou quatro alas sem calçados – que incluía, por exemplo, a ala 14, “Osún e a energia da água”. Caso tais situações estejam explicadas, é justo dizer que a agremiação pode, inclusive, sonhar com o título; se não, o quesito pode derrubar as pretensões do Zaca – em contato com representantes da agremiação, a instituição destacou que tudo está documentado para os jurados, e que as alas sem calçados foram assim concebidas pois o enredo pede o contato de determinadas alas diretamente com o chão.

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Harmonia

Após o quesito brilhar no segundo ensaio técnico da agremiação, o Zaca deixou claro que tal excelente momento do cantar da agremiação não é por acaso. Com uma obra aclamada por toda a comunidade do carnaval paulistana, os componentes do Extremo Norte paulistano corresponderam a contento ao longo de toda a apresentação. Mais do que ser um canto bastante uniforme, ele foi inteiramente uníssono e vigoroso, causando ótima impressão – e, em muitos momentos, sendo bem respondido pela arquibancada.

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Samba-enredo

Se o enredo pegou muitos de surpresa, o samba-enredo, desde quando foi escolhido em uma fortíssima eliminatória, foi apontado como uma das grandes canções do ciclo carnavalesco paulistano. Bastante melódica, a canção é propícia para que, em alguns momentos, a comunidade cante forte – embora não seja criado para empolgar pelo ânimo; mas, sim, pela beleza e riqueza na construção. Comandante da Bateria do Zaca, Mestre Serginho já destacou que a preciosidade da obra motivou a mudança de planos dele e de toda a diretoria ao fazer arranjos mais do que especiais – e os ritmistas conseguiram sustentar a canção muito bem ao longo de toda a passarela, com destaque para a convenção em que, na segunda parte do samba, apenas os atabaques executam a função do segmento. Estreante na instituição, Hudson Luiz colaborou sobremaneira para que o samba “pegasse na veia”, já que o intérprete, de voz bastante marcante, ornou muito bem com a canção composta por Macaco Branco, Carlos Bebeto, Djalma Santos, Chiquinho Gomes , Dr. Marcello Medeiros e Denis Moraes.

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Evolução

O quesito teve uma inversão bastante curiosa e rara pensando na imensa maioria dos desfiles de escolas de samba. O andamento da escola começou bastante acelerado – com doze minutos, por exemplo, a comissão de frente já estava fazendo a coreografia para o segundo módulo de jurados. A situação começou a mudar na hora em que a Bateria do Zaca fez o movimento para entrar no recuo – que durou cerca de 135 segundos e aconteceu por volta dos 25 minutos. Após ocupar tanto a passarela quanto o box, os ritmistas entraram no espaço e cederam o espaço para a ala seguinte. A partir de tal momento, a agremiação passou a ter movimentos bem mais morosos – e, mesmo assim, encerrou o seu desfile em tranquilos 62 minutos.

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Outros Destaques

Falando na Bateria do Zaca, é importante destacar a rainha, Carla Prata, única presente na corte da agremiação.