O Acadêmicos do Salgueiro realizou em sua quadra, na noite desse sábado e madrugada deste domingo, mais uma fase do concurso que elegerá o hino oficial da agremiação para o Carnaval de 2024. A reportagem do site CARNAVALESCO esteve presente e, como parte da série “Eliminatórias”, acompanhou essa nova etapa da disputa promovida pela vermelha e branca da Tijuca. Ao todo, nove parcerias se apresentaram e cada uma teve direito a quatro passadas, sendo a primeira sem bateria e as demais acompanhadas dos ritmistas da “Furiosa”. O anúncio de quais obras irão seguir na competição será feito nas redes sociais da agremiação na próxima terça-feira. Quem se classificar, volta ao palco no sábado que vem, dia 30 de setembro.
Em 2024, o Salgueiro será a terceira escola a cruzar o Sambódromo da Marquês de Sapucaí no domingo de Carnaval, dia 11 de fevereiro, pelo Grupo Especial. A agremiação levará para Avenida o enredo “Hutukara”, que pretende fazer um alerta em defesa da Amazônia e em particular dos Yanomami, que sofrem efeitos da ação de garimpeiros na sua região. O desfile terá a assinatura do carnavalesco Edson Pereira, que fará seu segundo trabalho consecutivo na Academia do Samba.
Parceria de Marcelo Adnet: O samba que abriu as apresentações na noite de eliminatória salgueirense foi o de autoria de Marcelo Adnet, Benjamin Figueiredo, Rodrigo Gauz, Patrick Soares, Gilberth Castro, Edson Daffeh, Vagner Silva e Bruno Papão. A intérprete Wictoria teve a missão de defender o microfone principal e demonstrou grande desenvoltura na condução. A obra mostrou evolução em relação às etapas anteriores na competição e teve um bom rendimento na quadra. O aguerrido refrão principal, com os versos “Ya temi xoa, esse país sonhou…/ Ya temi xoa, o povo é vermelho/ Na cor do meu Salgueiro, tambores do Salgueiro”, foi o ponto alto, sendo berrado pelos torcedores. O refrão do meio, “É magia Yanomami, pinta a pele, cor de sangue/ Desliza, rasteja, saber ancestral/ Os olhos na caça, instinto animal/ É magia Yanomami, pinta a pele, cor de sangue/ Aê aê arererê, fartura, festança e a dança no entardecer”, também se sobressaiu no canto. Quanto à torcida, o grupo veio com bandeiras vermelhas. Eles dançaram e pularam sem parar, além de provarem estar com o samba na ponta da língua. Tanto que, antes mesmo do início da apresentação, os torcedores já entoavam a obra.
Parceria de Moisés Santiago: O segundo samba a se apresentar no palco da Academia do Samba foi o assinado por Moisés Santiago, Serginho do Porto, Gilmar L Silva, Aldir Senna, Orlando Ambrosio, Marquinho Bombeiro, Wilson Mineiro e Gigi da Estiva. A parceria contou com um time estrelado de cantores para defender a obra, que foi formado por nomes como Marquinhos Art’Samba, Wantuir e Serginho do Porto, que também é um dos compositores. O refrão principal, com “Êêô! Ahêa! Ahêa! Nharu êá!/Tronco forte é minha aldeia, Salgueiro! Êô êá!”, mais uma vez, provou sua força e foi o trecho de maior rendimento da boa apresentação. Outro destaque foi a subida para ele, com os versos “Ya temi xoa! Yanomami eu sou!/ Livre pra sonhar, onde o céu não desabou/ Por um brasil-cocar/ O elo da nação/ É hutukara em manifestação”. Em relação a torcida, o grupo, numeroso e empolgado, realizou novamente um espetáculo na quadra salgueirense. Membros do grupo Maculelê vieram caracterizados como indígenas e performaram na quadra, simulando danças e rituais típicos. Eles foram acompanhados pelos demais torcedores, que vieram com galhos e folhas como adereços de mão, interagindo com a coreografia. Havia ainda alguns com bandeiras brancas com a palavra “basta” escrita em vermelho com uma exclamação.
Parceria de Rafa Hecht: A obra composta por Rafa Hecht, Samir Trindade, Thiago Daniel, Clairton Fonseca, Michel Pedroza, Ribeirinho, Cléo Augusto e Domingos Os foi a terceira a se apresentar. O intérprete Wander Pires, voz oficial da Unidos do Viradouro, foi quem conduziu o samba na quadra e soube explorar as variações melódicas com a maestria que lhe é característica. O refrão do meio, com os versos “Ê xawara, eles não sabem, não conhecem a raiz/ Choram mães Yanomami, lágrimas na terra/ Um céu de fogo que deixou cicatriz/ Ê xawara, eles não sabem, não conhecem a raiz/ Se o céu desabar, teu povo segura/ Contra a ganância napë, bravura”, foi o grande destaque. O trecho “Aë aë aë, voz da alma brasileira/ Ee, ee, ee, canto que estremece a aldeia”, presente na primeira estrofe, também chamou a atenção durante a apresentação; assim como “Anti o brilho da cobiça/ A coragem de um guerreiro/ Tenho sede de justiça/ Sou o dono verdadeiro”, na segunda estrofe. Quanto à torcida, com um pequeno número de pessoas, o grupo deu o seu recado. Animados, eles pularam, vibraram e mostraram estar com a obra totalmente decorada. Em diversos momentos, os torcedores usaram as bandeiras que traziam como adereços de mão, todas nas cores da escola, para fazer coreografias, provocando um efeito visual interessante.
Parceria de Pedrinho da Flor: O quatro samba da noite de eliminatória foi assinado por Pedrinho da Flor, Marcelo Motta, Arlindinho Cruz, Renato Galante, Dudu Nobre, Leonardo Gallo, Ramon Via13 e Ralfe Ribeiro. Os intérpretes Tinga e Pitty de Menezes, da Unidos de Vila Isabel e da Imperatriz Leopoldinense respectivamente, conduziram a obra que promoveu um verdadeiro sacode na quadra. O refrão principal, com os versos “Ya temi xoa! Aê, êa!/ Meu Salgueiro é a flecha/Pelo povo da floresta/ Pois a chance que nos resta/ É um Brasil cocar!”, foi berrado por torcedores e boa parte do público presente. Outro grande destaque foi o trecho “Você diz lembrar do povo Yanomami em dezenove de abril/ Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome, quando o medo me partiu/Você quer me ouvir cantar em Yanomami pra postar no seu perfil/ Entre aspas e negrito, o meu choro, o meu grito, nem a pau Brasil!”, presente na segunda estrofe, que além da força em si da mensagem crítica presente nessa letra, foi entoado a plenos pulmões. Aliás, a torcida foi parte importante para o espetacular performance do samba. Ornamentados com bandeiras diversas na cor vermelha, além de luzes coloridas, o grupo dançou e cantou o tempo todo, sabendo manter o fôlego.
Parceria de Ian Ruas: Na sequência, o quinto samba a se apresentar na quadra do Salgueiro foi o de autoria de Ian Ruas, José Carlos, Caio Miranda, Sonia Ruas Raxlen, David Carvalho e Gabriel Rangel. O intérprete Nêgo, da União da Ilha do Governador, defendeu a obra ao lado de nomes como Victor Cunha e Nino do Milênio, sendo o time de cantores fundamental para o bom rendimento. O ponto alto foi o refrão principal, com os versos “Ya nomaimi! Ya temi xoa!/Em Hutukara, arco é ligeiro/Um povo a sorrir, um povo a sonhar/Renasce no chão do meu Salgueiro”, que mesmo melodioso teve uma performance “pra cima”. Com bandeiras vermelhas e brancas, a torcida, uma das maiores nessa noite de eliminatória, demonstrou empolgação e cantou com afinco ao longo de toda apresentação, especialmente durante os refrões.
Parceria de Fred Camacho: O samba assinado por Fred Camacho, Paulo César Feital, Guinga do Salgueiro, Diego Nicolau, Fabrício Fontes, Daniel Rozadas, Claudeci Taberna e Francisco Aquino foi o sexto a se apresentar na eliminatória salgueirense. Para defender a obra, os intérpretes Evandro Malandro e Diego Nicolau reeditaram a dupla que formaram entre 2014 e 2018, quando comandaram o carro de som da Renascer de Jacarepaguá. A química dos dois se mostrou intacta pelo tempo e foi fundamental para que o samba rendesse bem na quadra. O momento de pico de canto ocorreu no refrão principal, com os versos “Yanomami eu sou, guerreiro!/ Só vive meu sonho quem sabe sonhar/ Yanomami eu sou! Avante, Salgueiro!/ De pele vermelha e branco cocar”. Além disso, o refrão do meio, “Ó mãe natureza que me viu nascer/Dou a minha vida pra te defender!”, novamente se destacou pelo grande funcionamento, aliando a simplicidade da letra com a beleza da melodia. Assim como em apresentações nas fases anteriores da competição, a parceria trouxe uma faixa com dizeres retirados de versos da obra. Os torcedores também vieram uniformizados com camisas estampadas com trechos do samba concorrente.
Parceria de Leandro Thomaz: O sétimo samba a passar pelo palco da vermelha e branca da Tijuca foi o composto por Leandro Thomaz, Grazzi Brasil, Filipe Zizou, Myngauzinho, Marcelo Lepiane, Claudio Gladiador, Telmo Augusto e Micha. A obra foi defendida por Zé Paulo Sierra, voz oficial da Mocidade Independente de Padre Miguel, que teve a cantora Grazzi Brasil, uma das compositoras, como parceira de microfone. O refrão principal, com os versos “Ya temi xoa, Ya temi xoa/ É o grito que ecoa aos que tentam nos calar/ Yanomami é o legado brasileiro/ Que se mantém de pé nas raízes do Salgueiro”, foi o ponto de maior rendimento do samba ao longo de toda a apresentação. Além dele, o refrão do meio, “Querem nos matar, sangrar nossas feridas/ Falam em preservar, eu pergunto: o quê?/ Se estamos condenados a viver assim/ Chora o Deus maior, sofre o Curumim”, também chamou a atenção, graças ao desenho melódico interessante. Mesmo com um contingente relativamente pequeno, a torcida veio animada. Tendo bandeiras quadriculadas, nas cores da agremiação, como adereços de mão, eles dançaram e brincaram durante a performance no palco. Todavia, o canto sofreu altos e baixos, ganhando força justamente nos refrões.
Parceria Manu da Cuíca: Dando prosseguimento nas apresentações, a obra de autoria de Manu da Cuíca, Luiz Carlos Máximo, Buchecha Bil-Rait, Belle Lopes, Fabiano Paiva e Rodrigo Alves foi a oitava da noite de eliminatória da Academia do Samba. O intérprete Bico Doce é quem defendeu o microfone principal e conseguiu se sair bem na difícil missão de conduzir o samba, uma vez que este possui um desenho melódico diferenciado que intercala momentos acelerados com outros bem cadenciados. O grande destaque foi o refrão do meio, com os versos “Ya nomaimi, dá aroari/Aqui é povo de Omama/Yãkoana, waitheri”, que mesmo formado basicamente por expressões indígenas, se mostrou de fácil assimilação. Também se sobressaiu positivamente o trecho que serve de subida para o refrão principal, “Mas na sombra de um salgueiro/ Escutei uma canção/ Ê, ê, ê, a gente quer demarcação/Um país renascido/ E parido da terra/ A força do cocar/ Vai calar a motosserra”. Em relação a torcida, sem nenhum tipo de adereço ou ornamentado, o grupo deu conta do recado e fez bonito. Eles cantaram e dançaram o tempo inteiro, além de realizarem diversas coreografias. No entanto, o samba não empolgou o restante do público presente na quadra, cuja grande maioria apenas assistiu a parceria.
Parceria de Xande de Pilares: Para encerrar, o nono samba da noite de disputa salgueirense foi o composto por Xande de Pilares, Claudio Russo, Betinho de Pilares, Jassa, Jefferson Oliveira, Miguel Dibo, Marcelo Werneck e W Correa. Contando com os apoios luxuosos de nomes como Igor Vianna e Leonardo Bessa, o intérprete Igor Sorriso, da Mocidade Alegre, foi quem conduziu a obra, que cresceu ao longo das últimas eliminatórias, mas que pode render mais. Entre os destaques, o refrão principal, com os versos “Sou eu, Yanomami waitheri/ Salgueiro, vermelha força pra existir/ A lança em defesa da mãe terra/ O canto forte da nação em pé de guerra”, foi o maior deles. O trecho de subida para o refrão principal, “Êê curumim auê/ Livre pra viver por minha alma e meu nome/ Êê curumim auê/ Meu povo originário não pode morrer de fome”, também se sobressaiu. Quanto à torcida, eles vieram ornamentados com bandeiras e balões nas cores da escola. O grupo dançou, pulou e fez coreografias, mas o canto deixou a desejar.