Sacode! A vermelho e branco de Niterói “amassou” a pista montada na Cidade do Samba. O trabalho de uma das escolas que mais ensaia e gosta de treinar com sua comunidade é refletido no sucesso da performance do mini-desfile. Tudo está encaixado na escola. O “samba da carta” caminha para ser a obra do ano, já é uma das principais, e conquistou o público torcedor ou não da escola. O intérprete Zé Paulo conduziu com maestria o carro de som, trabalho de extrema qualidade musical de sua equipe. * VEJA FOTOS
Com canto forte da comunidade, até o diretor de carnaval Dudu Falcão se emocionou. O diretor falou sobre o evento inédito em 2022, sobre a importância do Carnaval e a projeção da escola para o desfile na Sapucaí, em abril. “O presidente está feliz, a comunidade está emocionada, e independente de ser com a Viradouro, ou não, a festa já é um sucesso. A gente conseguiu um problema bom agora. É um evento que a gente mistura a tal ‘bolha’, com quem é fora da bolha, turista de fora, de dentro, o suburbano, o zona sul, o que gosta de samba e o que é modinha. Enfim, tinha de tudo”, disse o diretor que completou:
“A gente trabalha muito e a expectativa é sempre a melhor. Tem outras 11 escolas também trabalhando muito, mas eu tenho que acreditar muito no que a gente faz. Já provamos que deu certo. É difícil ganhar, e se manter no topo é mais difícil ainda. Esse ano estamos trabalhando o dobro do que trabalhamos em 2020, e a expectativa é melhor. Se ganharmos, vamos fazer jus ao título, porque o que mais estamos fazendo é trabalhar”.
O ritmo da “Furacão Vermelho e Branco” é avassalador. Nada de “correria”. O andamento adotado é característica, confortável para quem toca e deve ser respeitado. Mestre Ciça, seus diretores e ritmistas conhecem demais. Fazem show em bossas e também na condução do andamento. Para o comandate, o encontro na Cidade do Samba entrou para a história: “Depois de quase dois anos sem um evento dessa estrutura, foi emocionante voltar a desfilar como se estivesse pisando na passarela do samba. Perdemos tanta gente, amigos, familiares, e, depois de tantas perdas, é preciso valorizar esse reencontro, a oportunidade de ver novamente pessoas que venceram essa luta e estão com saúde. Também é muito gratificante fazer um show como esses para proporcionar um pouco de alegria para o povo que vem sofrendo há tanto tempo”, ressaltou o comandante da Furacão Vermelho e Branco.
Nada na Viradouro é feito de “orelhada”, existe muito estudo, organização e trabalho. A gestão tão elogiada e referência na competência administrativa da presidência é, acima de tudo, também da perfeita conjunção de profissionais gabaritados, como os diretores de carnaval, Alex Fab e Dudu Falcão, e, da direção de harmonia com Mauro Amorim. O intérprete Zé Paulo Sierra terminou o mini-desfile da Viradouro impressionado com a interação com o público. Ele confessou que não imaginava que o evento teria essa proporção e aproveita para fazer um desabafo sobre a importância do carnaval para a cultura e economia no Brasil.
“Eu vou confessar para você que eu estava meio duvidoso que iria ter essa energia que teve. É uma coisa nova, como tudo que é novo a gente sempre acredita que pode melhorar. Eu não acompanhei as outras escolas. Acredito que tenha sido tanta energia como a nossa. Mas, eu amo esse negócio, cara. Cantar para mim é tudo. Cantar samba. Viver isso aqui é privilégio para poucos. Eu me orgulho muito disso porque é uma coisa que meu pai passou para mim, hoje ele não está mais aqui entre a gente. E, eu me orgulho muito de defender o meu gênero. Eu não deixo ninguém massacrar a gente. Eu ponho a minha cara para bater porque eu amo samba-enredo. E, enquanto eu viver, ninguém vai difamar a nossa cultura, contar mentiras, dizer que a gente é responsável por pandemia ou por qualquer tipo de mazela que existe nesse país. A gente tem que acordar para esse detalhe. A gente como povo tem que se conscientizar do tamanho que a gente é. O que a gente fez nesses desfiles é colocar a boca no trombone de verdade. É a voz do povo. O que eu vi acontecer com a Viradouro é o povo, é a verdade de um carnaval que está entalado na garganta. O carnaval é muito grande. Existe uma cadeia produtiva no carnaval. Se tem tanta gente trabalhando nesse evento é por causa das escolas de samba e do carnaval. Porque isso aqui está aberto e isso aqui é do povo”.
A comissão de frente, comandada pelos coreógrafos Alex Neoral e Marcio Jahú, brindou o público com muita dança e coreografia. Julinho e Rute, casal de mestre-sala e porta-bandeira, são referências profissionais do quesito. Além do figurino espetacular, a dupla ensaia demais e colhe os frutos, com o protagonismo merecido, e a garantia de resultado para Viradouro. Elegantemente trajados com bastante luxo, eles contaram um pouco da alegria de ter preenchido a data do carnaval com um evento feito para os sambistas.
“Muito bom. E, assim, a gente pensava que a data do carnaval passaria em branco, que a gente não podia nem estar fazendo ensaio de rua. Então, ia ser mais um ano que a gente ia ficar de forma estranha dentro de casa. E, com essa expectativa de que a gente teria carnaval esse ano. Mas, não está deixando de ter. E, isso tomou uma proporção, esse mini desfile aqui para todas as escolas, todas levaram muito a sério, prepararam seus componentes para brindar o público e todo mundo se emocionou. Eu acho que não vai haver necessidade pedir garrar, de muita vibração porque eu acho que o pessoal já vai se doar como todos se doaram nas 12 escolas que passaram”, acredita Julinho.
“Quando eu estava vindo pra cá minha afilhada me falou que no primeiro dia estava lotado, me deu aquele frio na barriga, sabe? Gente, estava todo mundo para se divertir, para celebrar a vida, para celebrar o carnaval , a cultura. Deus, Exu, meus orixás, minha mãe Iansã, eu pedi para que me permitissem que eu fizesse merecer esse público. Que eu seja merecedora da presença deles. E quando eu entrei já lá no palco já fui sentindo uma emoção, eu pensei nas pessoas lá da Viradouro que a gente perdeu, pessoas importantes, pessoas queridas, e falei ‘tô aqui por vocês e para vocês ‘ . Eu senti muita alegria, muita emoção, supriu. Não tem aquela tensão da nota, da Avenida, da disputa, mas me deu muita alegria. Meu coração não ficou enlouquecido não, ficou fervendo de alegria” revela a porta-bandeira Rute Alves.
Participaram da cobertura: Alberto João, Gustavo Maia, Leonardo Damico, Lucas Santos, Nelson Malfacini e Rodrigo Madureira