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Quadra da Unidos da Tijuca passa por transformação com projeto dentro da temática do enredo

Artista Marcelo Augusto, reconhecido mundialmente, desenvolveu o trabalho que pretende resgatar o orgulho dos componentes

Quem chega na quadra da Unidos da Tijuca se surpreende com a beleza em que o lugar se transformou, é como se fosse uma extensão da Baía de Todos os Santos, tema do enredo da escola para o carnaval do próximo ano. O chão virou um grande mar, o teto lembra o céu, no palco tem a presença uma igrejinha baiana e até mesmo a reprodução de uma nau portuguesa pode ser vista em um dos camarotes, esses e outros detalhes serão conhecidos pelo público no dia 15 de outubro, data da semifinal do concurso de samba da agremiação.

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Fotos: Luan Costa/Site CARNAVALESCO

O projeto da quadra temática é de Marcelo Augusto, artista de 48 anos, sendo 36 de carreira e com vivência em vários países ao redor do mundo. Antes de tudo, ele é um apaixonado por carnaval e pelas escolas de samba. Contou que logo aos 12 anos, levado por sua avó, já estava dentro de um barracão contribuindo com sua arte, desde então sua relação com o carnaval se intensificou, teve passagens pela Beija-Flor de Nilópolis, onde trabalhou com grandes profissionais, como Laíla e Xangai, seu trabalho mais reconhecido e premiado foi a da comissão de frente do Paraíso do Tuiuti, em 2018, ao lado de Patrick Carvalho e Jack Vasconcelos, hoje carnavalesco da Unidos da Tijuca.

“Eu comecei numa escola lá atrás, com 12 anos de idade, minha avó pegava a cadeirinha de praia dela com o isopor e o lanchinho, ela foi a maior incentivadora da minha arte, imagina um garoto de 12 anos fazendo uma pintura de arte dentro de uma escola de samba. Eu sou cria do carnaval, mas tive a oportunidade de trabalhar com outros grandes artistas mundo afora, já expus no Louvre, já rodei 83 países, são vivências, porque arte é arte em qualquer lugar do planeta, acredito que vamos vivendo experiências, não faço nada diferente lá fora do que faço aqui dentro, o carnaval me proporcionou muito conhecimento e tive a oportunidade de trabalhar com grandes mestres, toda experiência vai embasando a gente artisticamente e dando o olhar do artista brasileiro, através da nossa arte a gente chega a lugares que nunca imaginamos chegar, eu pude trazer a Madona para o morro da Providência e foi muito bacana”, conta Marcelo.

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Por sua afinidade com o carnaval e com o incentivo de sua patrocinadora, surgiu a oportunidade de levar sua arte novamente para uma escola de samba, a escolhida foi a escola do Borel, a partir daí ele entrou em contato com o diretor de carnaval da escola, Fernando Costa, que prontamente pediu que ele fosse ao barracão para uma conversa inicial, a princípio todos gostaram do projeto, mas havia uma dúvida se o presidente Fernando Horta iria embarcar, porém, Marcelo conta que tudo fluiu bem e se sentiu muito honrado pela confiança de todos em seu trabalho.

“Eu gostaria novamente de fazer uma pintura de arte para uma escola de samba, eu recebi o convite da Colorgin e dentro da agenda que tenho com eles eu trouxe esse projeto pra Tijuca, eu entrei em contato com o Fernando Costa, a gente veio e desenvolveu esse projeto pra cá. Quando eu trouxe a proposta a galera que trabalha com o Horta há muitos anos disse que ele não iria aceitar, mas acabou que a ideia da quadra partiu dele, porque eu fui levar uma proposta para o carnaval, que seria uma empreitada junto com a Sherwin-Williams, acredito que seria muito legal investir no que é o maior espetáculo a céu aberto do planeta. A quadra hoje é tombada pelo IPHAN, quando você mexe numa estrutura dessas que é o patrimônio da escola, dos componentes, da comunidade, tudo acontece na quadra, a escolha do hino, o pavilhão é exaltado”, pontua o artista.

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Em entrevista, Fernando Costa, diretor de carnaval da Tijuca, contou que as primeiras conversas com Marcelo já foram animadoras, mas que o projeto inicial não era da quadra temática, que só surgiu depois, ele acredita que os componentes podem se sentir mais próximos do enredo, além do orgulho em ver a quadra remodelada e mais bonita, ele disse ainda que os comentários nas redes sociais são ótimos e que o componente da Tijuca está mordido por conta do resultado do último carnaval.

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“As coisas foram acontecendo, eu não conhecia o Marcelo, ele entrou em contato falando que tinha um patrocínio, pedi pra ele ir até o barracão pra gente conversar pessoalmente, o projeto inicial não tinha nada a ver com a quadra, era uma outra coisa, levei ele até o presidente e durante o papo surgiu a ideia de fazer algo na quadra, queríamos alguma coisa dentro do enredo, ele fez o projeto e a gente aprovou. Ele já fez coisas que nem estavam no projeto inicial, ele é um cara muito profissional, super conhecido, o trabalho dele é super importante, tem vários projetos espalhados por aí. Ele é de carnaval e isso já ajuda, as ideias foram surgindo e até o dia 15 tem mais coisa pra fazer. Eu acho que a quadra nova aproxima mais, eu mostro fotos e as pessoas doidas, acredito que a autoestima volta, o componente vê e anima, os comentários nas redes sociais são ótimas, depois do resultado deste ano estão todos mordidos, passamos um ano sendo massacrados, mas na avenida mostramos nosso valor”, disse Fernando.

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Para o próximo carnaval, as histórias e belezas da Baía de Todos-Os-Santos formam o tema da Unidos da Tijuca, através do enredo “É onda que vai… É onda que vem… Serei a Baía de todos os santos a se mirar no samba da minha terra”, do carnavalesco Jack Vasconcelos, Marcelo conta que começou a estudar o enredo para poder encaixar o projeto de arte dentro dele e que a primeira coisa que pensou foi em fazer a ligação entre os portugueses que chegaram na costa brasileira, com o presidente Fernando Horta, que é português, o artista conta também que fez uma pintura em homenagem ao português, como forma de reconhecimento.

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“Quando lançou o enredo eu fui pesquisar pra entender a proposta e fiz a ligação, nós temos um português na escola e estamos falando de um lugar que foi onde os portugueses chegaram, como posso fazer o português comprar a ideia, então fiz no camarote dele a caravela, onde a primeira Vela é a vela da Tijuca, é a nau portuguesa, ele é o comandante deste barco, tenho muito carinho e respeito, fiz uma homenagem pra ele também com a pintura na parede, eu acho que homenagens devem ser feitas em vida, é importante reconhecer. Quando ele viu o projeto ficou doido e falou pra gente ir dentro”, disse Marcelo.

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Foto: Trino Produções/Divulgação

Marcelo conta que o projeto todo ainda não foi finalizado e que algumas surpresas serão reservadas para a final do concurso de samba enredo, para ele, a revitalização da quadra pode ser um fator determinante para trazer de volta o orgulho do torcedor tijucano, que viu em 2022 a escola ser alvo de vários boatos no pré-carnaval e que mesmo assim chegou na avenida e apresentou um belíssimo desfile, ele aproveitou para exaltar a equipe artística da escola e acredita que em 2023 a Tijuca retornará aos anos de glórias.

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Foto: Trino Produções/Divulgação

“A gente tinha um provisionamento de uma data para fazer a inauguração, mas eles acharam mais bacana guardar pra semifinal e final, inclusive pra final vai ter mais coisa, terá algumas coisas diferentes, tem coisa guardada, uma cartada final, é onde vamos escolher o hino para 2023. A Tijuca não se contentou com o resultado desse ano e promete vir de uma forma avassaladora para o carnaval 2023, o projeto é muito bacana, o Jack é um cara iluminado naquilo que se propõe a realizar, o Horta tá trazendo um equilíbrio pro time, tá compondo o quadro artístico da escola. Vamos fazer o barulho mostrando na prática, sem forçar, o burburinho que teve nas redes sociais por conta da quadra nova, vi os tijucanos orgulhosos com a quadra sendo revitalizada, ainda mais dentro do enredo e acredito que isso possa fazer diferença no carnaval para 2023”, disse Marcelo.

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Foto: Trino Produções/Divulgação

Em números gerais, Marcelo conta que foram gastos mais de 300 sprays de tinta e que somente no piso foram mais de 300 litros de produtos, entre tintas e seladoras, a lavagem do chão durou cerca de 12 horas para que tudo pudesse ficar da melhor forma, ele destaca que se preocupou muito em não colocar o símbolo da escola no piso no chão, para ele, pisar no pavilhão é algo contraditório e foge do objetivo principal, que é reverenciá-lo, portanto, o objeto dele é que os passistas e casais de mestre-sala e porta-bandeira se sintam no mar, outra preocupação foi com os produtos utilizados, para evitar escorregões dos componentes.

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Foto: Trino Produções/Divulgação

“A gente tá vivendo uma questão aqui no Rio de Janeiro que é a chuva, esse mês choveu quase todos os dias, o que acabou me atrapalhando porque ainda tem um pedaço da área externa que é onde eu vou fazer a parte do piso, então meio que deu uma pausa, mas o trabalho todo foi em 9 dias, é o meu estilo, estar inspirado e querer executar, transformar o lugar me motiva, as vezes fico dois, três dias direto, tenho minha equipe que me acompanha ao longo dos anos, são artistas também que participam, pra mim é importante que essa galera esteja comigo. Através de uma conquista de uma, é importante oportunizar os outros, é isso que vai fazendo o fomento, que torna o trabalho referencial. Agradeço ao presidente da Sherwin-Williams, pelo apoio, é importante que tenha essa parceria, só no piso foram mais de 300 litros de produtos, entre tintas e seladoras, foram 12 horas de lavagem no piso, essa proposta da gente trazer o mar no chão, é algo diferente, não queríamos o pavilhão no chão, a maioria das escolas tem o pavilhão no chão, acho até um pouco contraditório. Existiu todo um tratamento para evitar que ocorra quedas, conseguimos tratar bem o piso, através da tinta que é em escala industrial, pra quem tá frequentando, os passistas, a Denadir e os outros casais se sentirem confortáveis, se sentindo num mar. Foram também 300 latas de spray no total, além da parte das plataformas que me permite ficar no alto”, finalizou o artista.

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Foto: Trino Produções/Divulgação

A volta do orgulho tijucano comentado por Fernando Costa e pelo Marcelo pode ser refletido nas redes sociais da escola, sempre que uma parte da quadra é mostrada, os comentários são diversos e extremamente positivos, é o caso de Giovanna Brammer, torcedora da escola que costuma frequentar a quadra mesmo sendo moradora de São Paulo, para ela, ver a quadra se adequando ao enredo tem sido revigorante e um estímulo a mais para a Tijuca reviver seus melhores anos.

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“Sou torcedora da Tijuca desde 2010 e acompanho a quadra desde 2013, a primeira sou de São Paulo, então tem essa essa distância, essa dificuldade de conseguir ir pra escola sempre e tudo mais, mas sempre que posso e vou ao Rio passar pela Tijuca. A quadra nova eu vi uma parte dela quando fui na primeira eliminatória, o chão ainda não estava pronto, mas eu acompanhei todo o processo pelas redes sociais, por fotos de amigos meus que são tijucanos, é revigorante, sabe? É um ar novo, parece que é uma escola nova, é uma escola diferente depois de tantos anos, desde 2017 que a gente tem passado por tantas dificuldades, acho que agora é um start novo, o carnaval de 22 foi uma lavagem de alma pra gente, ter sido tão respeitado novamente, acho que esse ano a Tijuca com a quadra nova, com o enredo bom, o enredo novo, o enredo com temáticas africanas, coisas que a gente não falava há muito tempo, me despertou assim a gente tá de volta, sabe? A gente está voltando ao que era em 2010, algo que éramos a potência. Então, assim, até presunçoso da minha parte, talvez, mas me dá esse ar novo, me dá essa cara. Está tudo bem. A gente está no caminho. Então, a quadra nova tem sido revigorante pra mim que sou torcedora e acho que é um status de que a gente está tentando voltar com tudo e se Deus quiser voltaremos”, disse Giovanna.

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