Há três semanas do início dos desfiles e na véspera dos ensaios técnicos, o que deveria ser evitado se repetiu mais uma vez. A interdição do Sambódromo carioca virou uma dor de cabeça para as escolas de samba, especialmente para as agremiações que realizam ensaios neste fim de semana.

Preparativos realizados ao longo dos últimos meses quase foram por água abaixo com a decisão tomada na última sexta-feira. Entretanto, mais uma vez, a força da maior festa popular do mundo falou mais alto. Em entrevista ao CARNAVALESCO, torcedores e apaixonados pelo carnaval comentaram sobre a suspensão e o impacto dela no mundo do samba.

Juliana Andrade, de 34 anos, é torcedora do Império Serrano e achou a suspensão estranha. Ela ressaltou que ao longo do ano, outros eventos foram realizados no Sambódromo, mas a interdição ocorreu somente perto do Carnaval deste ano, o que para ela, é um desrespeito com os sambistas.

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Juliana Andrade, de 34 anos, é torcedora do Império Serrano e achou a suspensão estranha

“Eu não acho normal (a interdição). Inclusive, estavam ocorrendo eventos na Marquês de Sapucaí antes de começar o período de carnaval. O carnaval é algo que já está no calendário da cidade e sempre antes fica essa tensão que a gente sabe que vai ser resolvida, mas parece até amadorismo. Se o Sambódromo não estava apto para receber os ensaios e desfiles, porque estaria apto para receber tantos shows que ocorreram aqui?”, declarou Juliana.

Gabriel Mello tem 31 anos, é torcedor da Beija-Flor e acredita que a interdição da Avenida é preconceito com os sambistas. Para ele, se deve esperar a preparação do espetáculo para aí sim analisar se a casa está em ordem.

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Gabriel Mello tem 31 anos, é torcedor da Beija-Flor e acredita que a interdição da Avenida é preconceito com os sambistas

“É muito estranho, porque eles esperam a aproximação tanto do desfile oficial como dos ensaios técnicos. De repente, surgem milhares de problemas e ocorre a interdição. Geralmente são coisas que muitas vezes eles aprovaram ou já estavam cientes. Com certeza rola um preconceito. Não só preconceito mas uma certa implicância. Eu penso que a festa ainda está sendo montada, então para realizar uma vistoria total, tanto da segurança como da estrutura tem que terminar de preparar a festa. Tem que esperar a preparação da festa para ver o que tá em ordem. Do nada surge esse tipo de coisa?!”, enfatizou Gabriel.

O torcedor da escola de Nilópolis também destacou que o carnaval não é só espetáculo e lazer, mas o sustento de muitas famílias que trabalham nas escolas e na organização do evento.

“É um descaso com o sambista, porque o que nós fazemos aqui não é só diversão e cultura, é trabalho também. Trabalhamos no barracão, muitos aqui sustentam suas famílias com o dinheiro do barracão. Muita gente da limpeza e da segurança daqui do Sambódromo, por exemplo, tem isso aqui como o sustento da família. Quando isso é limitado, você tira o sustento daquela família, porque é um dia não trabalhado. É um descaso do poder público com a população do samba”, ressaltou Gabriel.

Torcedor da Grande Rio, Mateus Santos acompanhou no Setor 2 os ensaios da Série Ouro. Para ele, a definição do que ocorreu com a Marquês de Sapucaí é “inexplicável”. Na opinião dele, o poder público não dá a devida atenção ao espetáculo que é o carnaval.

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Torcedor da Grande Rio, Mateus Santos acompanhou no Setor 2 os ensaios da Série Ouro

“Agora é todo ano a mesma coisa, mas só no carnaval. No resto do ano não acontece nada, isso é inexplicável. O apoio é muito ruim e isso é lamentável. Os turistas vêm nessas condições. Nós mesmos estamos sofrendo com o abandono da Sapucaí”, disse o torcedor.

Desmerecimento com os sambistas e injustiça. Assim define, Aloisio Lafaiete, que tem 31 anos de idade e torce para a Mocidade. Ele ressaltou a importância do samba e do para as minorias do país.

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Desmerecimento com os sambistas e injustiça. Assim define, Aloisio Lafaiete, que tem 31 anos de idade e torce para a Mocidade

“Já são três anos seguidos que se fala em interdição, sempre perto do carnaval. Acho que isso acaba desmerecendo um pouco o sambista, uma certa implicância. É uma certa injustiça. Nós somos tachados sempre como um povo favelado e do morro, sendo que o samba está aí para mostrar que não somos um povo favelado, que temos cultura e algo para mostrar. Samba é cultura”, disse Aloisio.

A interdição ocorreu após uma ação enviada à Vara de Fazenda Pública alegando que a pista não possuía alvará do Corpo de Bombeiros e condições mínimas de segurança. No ensaio técnico deste último sábado, já com a liberação dos Bombeiros, a Avenida contava com novos extintores de incêndio e mangueiras ao longo da Avenida, além da presença de seguranças nas arquibancadas.