Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Quem acompanhou o início do desfile da Camisa 12 jamais poderia esperar pelo final do mesmo. Com uma comissão de frente muito bem celebrada e um abre-alas extremamente imponente, a escola começou a exibição impressionando. Com os primeiros componentes evoluindo morosamente, um acidente com o segundo carro alegórico, um passo bastante apertado nos últimos dez minutos e o estouro do cronômetro em um inacreditável segundo (!), cabe ressaltar o bom apresentado pelo samba-enredo, a boa condução por parte de bateria e ala musical e uma noite bastante segura do casal de mestre-sala e porta-bandeira ao defender o enredo “Meu Black é de Rei, Minha Coroa é de Chico. Chico Rei Entre Nós”, sétima agremiação a desfilar no Grupo de Acesso II neste sábado.

Comissão de Frente 

Com um ator representando Chico Rei, a comissão de frente investiu na dança e em uma coreografia bastante expressiva, e não em tripés alegóricos – como muitas coirmãs. O protagonista do enredo, por sinal, era cortejado por alguns “súditos” em um trono que evoluía na avenida. A coreografia, em dois atos, era revezada entre dois grupos distintos de componentes – ambos dourados: um que trazia um cabelo black power com detalhes dourados; outra simulando pepitas de ouro no cabelo e que abria um display com iminentes personalidades afrodescendentes – como Madrinha Eunice e Hélio Bagunça. O grande ponto de atenção do segmento coreografado por Yaskara Manzini foi a Evolução bastante morosa do segmento, que chegou à Dispersão com cerca de quarenta minutos – apenas dez antes do tempo-limite.

Camisa12 et ComissaoFrente

Mestre-sala e Porta-bandeira

Se, no ensaio técnico da agremiação, Luã Camargo e Estefany Righetti focaram na segurança, ambos vieram com bem mais energia no desfile oficial – sem Sol, com pouco vento e temperatura agradável. Em nem um dos quatro módulos foram perceptíveis erros de execução e todos os balizamentos obrigatórios foram cumpridos – sendo que, em todos eles, o casal fez três sequências de giros. O figurino também ganhou destaque, com o amarelo ganhando companhia do azul – já que o ouro encontrado em Minas Gerais durante o ciclo da mineração também vinha de lagos e rios. No caso de Estefany, a barra da saia tinha tons mais terrosos – e um lado do figurino não tinha mangas, enquanto o outro possuía.

Camisa12 et PrimeiroCasal

Enredo

Repleta de mensagens antirracistas, a história de Chico Rei foi contada pela Camisa 12 com um grande leque de situações. No primeiro setor, a história da mítica figura foi contada; depois, veio a hora de exaltar a resistência afrodescendente e falar sobre a presença da negritude durante o Ciclo da Mineração – e, em menor proporção, em toda a história nacional a partir de então; por fim, exaltar pessoas que, de acordo com o enredo, são herdeiros de um dos afrodescendentes mais conhecidos da história do Brasil – e, aqui, a escola optou por focar em ramos de atuação, como a imprensa e o teatro. O segundo carro era mais específico, com nomes de figuras importantes da história do Brasil que representam o legado de Chico Rei – como Leci Brandão e Emicida. Vale destacar, também, que tal fio condutor foi bastante utilizado no documentário “Chico Rei Entre Nós”, que conta com uma canção do rapper citado na linha anterior.

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Alegorias

O abre-alas da agremiação, “Reino do Congo e Sequestro”, era bastante expressivo em todos os pontos possíveis: bastante alto e com três chassis acoplados – e alguns componentes que vinham no chão entre o primeiro e o segundo. Com predomínio do azul, a alegoria espantou a todos pela opulência e pelo bom gosto em esculturas e na confecção – repleto de tiras para emular o mar, com direito a uma caravela que fazia menção à chegada de Chico Rei ao Brasil em um navio negreiro. Importante notar, entretanto, as rodas aparentes no primeiro chassi.

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O segundo carro, “Chico(s) Rei(s) entre nós”, com muitos tons de amarelos, trouxe uma série de desafios. Logo nos primeiros espaços da passarela, a alegoria bateu em uma das grades e teve uma parte do acabamento arrancado, ficando com madeiras à mostra. O nome de Abílio Ferreira, um dos escolhidos como um dos “descendentes” de Chico Rei, também estava dobrado por uma das tantas bolas emulando pepitas de ouro no carro.

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Fantasias

Com muitos tons de amarelo, a Camisa 12 teve bastante detalhes em costeiros e ao longo do conjunto de fantasias no geral. A roupa de cada uma delas também variava: algumas tinham tecidos mais simples, outras possuíam mais detalhes – como a ala 10, “Caifazes”. Também é importante pontuar a Ala das Baianas, “Black da Alforria”, inteira em um tom mais fosco de dourado – e quebrando com extremo bom gosto o brilho na roupa de outros componentes.

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Harmonia

Se o canto da agremiação preocupou no ensaio técnico, realizado sob muito Sol, a escola claramente evoluiu e mostrou estar habituada à madrugada. Vale destacar que a agremiação começou a cantar o samba-enredo de 2024 cinco minutos antes do cronômetro ser disparado, deixando a escola mais “quente”. Ao longo de todo o desfile, a agremiação teve bom volume vindo dos componentes – uma das poucas exceções foi a ala 08, “Coroação de Chico”, coreografada e que focou na dança, não na canção.

Camisa12 et Interpretes

Samba-enredo

Sem muitos cacos ou exagero em rimas, a canção foi dividida da seguinte maneira: a primeira estrofe narrava o que acreditam ser os primeiros momentos da vida de Chico Rei, já com toda a temática da luta por direitos e cidadania em foco; a chegada da figura na cidade mineira de Ouro Preto, com a igreja de Nossa Senhora do Rosário como pano de fundo, é o tema do refrão do meio; enquanto a segunda estrofe da obra conta toda a mensagem de resistência que Chico Rei traz para os afrodescendentes – além, é claro, de exaltar a própria icônica figura. Na avenida, viu-se uma condução correta de Tim Cardoso e um pouco mais irreverente de Clóvis Pê, que tentava empolgar componentes e público com mais cacos que o companheiro de microfone.

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Evolução

Ao falar da comissão de frente da agremiação, foi destacado que a Evolução tinha andamento moroso – o que já começou a preocupar. O recuo de bateria da escola foi outro prenúncio negativo: embora feito com um movimento bem simples, a ala seguinte não foi muito célere em ocupar o espaço deixado pelos ritmistas – em dinâmica que demorou cerca de cento e cinquenta segundos. Para tentar recuperar tempo, a escola, claramente, começou a apertar o passo após a saída da comissão de frente. Tal situação fez com que a agremiação deixasse alguns buracos consideráveis na avenida – como, por exemplo, à frente do segundo carro alegórico nos Setores A e C. Uma das cenas mais dramáticas foi a ala 11, “Imprensa Negra”, composta por diversos componentes PCD que, nitidamente, precisou ter um andamento bem mais acelerado do que quando começou a exibição. Mesmo com todos os esforços, o destino foi cruel com a agremiação, que encerrou seu desfile com cinquenta e um minutos cravados – sim: apenas um segundo tempos do tempo-limite.

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Outros Destaques

Bateria da agremiação, a Ritmo 12 contou com duas destaques na corte: Vanessa Aggio (rainha) e Mayra Ribeiro (musa).