A bateria da Unidos de Vila Isabel realizou um primeiro ensaio na Avenida 28 de Setembro muito bom, segundo mestre Macaco Branco. Com a oportunidade do pontapé inicial dos trabalhos pela rua, ele julgou ser um bom parâmetro para testar a funcionalidade dos dois arranjos ensaiados, entre os três que pretende levar para a Avenida. Uma bossa no refrão do meio e outra paradinha no final da segunda até o refrão principal já se encontram a pleno vapor, ainda restando o arranjo musical que será encaixado na cabeça do samba futuramente. Macaco Branco se considera metódico, além de sempre aguardar o samba ser escolhido para só posteriormente desenvolver o trabalho, com o intuito de acompanhar a obra.
Sua filosofia musical foi aprovada com nota máxima pelo segundo ano consecutivo por julgadores. Mesmo aumentando a responsabilidade, ajuda a credenciar a bateria da Vila Isabel entre um dos ritmos mais aguardados do carnaval, o que é motivo de orgulho para o mestre. O ritmo da “Swingueira de Noel” possui como características uma afinação de surdo particularmente grave, bem como o surdo de terceira efetuando um papel de centrador, marcando.
Essa identidade musical é complementada com repiques dando molho, junto das caixas com levada reta aliadas a uma inconfundível batida de taróis, com toque genuíno de partido alto. Dentro desse processo de retomada do ritmo da Vila foi fundamental o trabalho naipe por naipe, separados por rodinhas de ritmistas, para que os toques evoluíssem nos aspectos de limpeza, clareza e também sincronia na pulsação rítmica. Uma didática musical que privilegiou a melhora individual, proporcionando impacto na evolução coletiva da bateria.
Discípulo musical de mestre Mug desde a infância, Macaco Branco faz questão de exaltar o valioso Amadeu Amaral, que dedicou grande parte da vida a moldar e lapidar a cara da bateria da Vila Isabel, desde que herdou o ritmo de mestre Ernesto. Mug era daquelas personalidades únicas dentro do mundo do samba. A pouca instrução, devido às realidades da vida, contrastavam com um conhecimento musical profundo, ouvidos extremamente apurados, além de uma interminável vontade de ensinar. Hoje percussionista, mestre de bateria e formado como produtor musical pelo IATEC, Macaco Branco absorveu tudo que foi possível com uma autêntica lenda da Unidos da Vila Isabel, creditando grande parte do seu sucesso ao saudoso mestre Mug.
O mestre também aproveitou para ressaltar a importância do projeto social Instituto Celeiro de Bamba, que possibilita a formação musical de vários integrantes da comunidade, entre outras atividades, com impacto direto nos moradores do bairro e adjacências. Movimentar a agremiação com iniciativas desse tipo dignificam o já auto-explicativo nome escola de samba. Ainda pegando carona nessa relação com a comunidade, Macaco Branco explica que a vitória do samba composto pela rapaziada do morro dos Macacos tem ajudado a reaproximar a escola de Noel de sua raiz. Sendo assim, foi importante ter vencido o samba que a maior parte da escola queria e a expectativa é que esse processo ajude a restabelecer vínculos que possam gerar frutos.
Mestre Macaco Branco ainda faz questão de deixar registrado o agradecimento ao trabalho do diretor musical Douglas Rodrigues e de todo o carro de som, além da satisfação de poder conduzir uma bateria para um ídolo da escola e do mundo do samba, como Tinga. A inegável qualidade musical da Vila Isabel fica ainda mais destacada com o casamento entre o ritmo da “Swingueira de Noel” e a voz potente de Tinga, sendo uma das molas propulsoras do grande primeiro ensaio técnico da Vila. O saldo foi positivo, muito além do esperado.