Terceira escola a pisar na Sapucaí na primeira noite de desfiles da Série Ouro, a Unidos da Ponte apresentou um desfile irregular, alternando bons e maus momentos. Com problemas de evolução e erro na apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Emanuel Lima e Camyla Nascimento, a escola meritiense atravessou a pista em 56 minutos, um a mais que o permitido no regulamento. Outrora criticado, o samba da escola apresentou desempenho satisfatório na avenida. * VEJA FOTOS DO DESFILE
O desfile da escola começou com certo atraso, devido ao acidente ocorrido na dispersão da Em Cima da Hora, o que pode ter ocasionado um certo esfriamento nos componentes. Em seu esquenta, a Unidos da Ponte relembrou sucessos antigos, como “Oferendas” e “Eles verão a Deus”.
Comissão de Frente
Coreografada por Valci Pelé, a Comissão de Frente da Unidos da Ponte veio representando o “O Anjo Bom da Bahia”. O grupo contava com 11 componentes homens e 4 mulheres, sendo uma representante da própria homenageada do enredo, Irmã Dulce, com as vestes características da mesma. Além da homenageada, outros integrantes da comissão representavam os desfavorecidos, com quem a Santa sempre teve relação, ao longo da vida.
Na apresentação, a Comissão de Frente da escola meritiense apostava na dramaticidade, com uma apresentação muito expressiva, na busca de impactar pela emoção. Os desfavorecidos faziam gestos expressivos que remetiam a sofrimento e fome, sendo esses ajudados pela componente que representava a Santa Dulce. O ponto alto da coreografia ocorria quando quatro componentes, anteriormente vestidos com tiras de saco plástico pretas, se transformavam em anjos, com uma bela roupa branca brilhosa e abriam as asas. Além disso, ao final da apresentação, a Irmã Dulce saia pelo alto do tripé, com luzes de led nas mãos.
Entretanto, no desenrolar da apresentação da Comissão, ao longo da avenida, ocorreram algumas falhas de execução na coreografia. No setor 6, a sanfona carregada pela Irmã Dulce, em um dos momentos da coreografia, ficou presa na porta do elemento cenográfico. Na última cabine, na hora da troca de roupas dos anjos, a asa de um dos componentes agarrou e não abriu.
O elemento cenográfico trazido pela Comissão, um barraco de palafitas que, no final se transformava em uma igreja, se mostrou bastante funcional na ideia. Porém, ao longo das apresentações, a cruz da igreja foi tombando para trás.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos da Ponte, Emanuel Lima e Camyla Nascimento, vestia uma bela fantasia em tons de branco com bege, que representava a santíssima trindade cristã, “Em nome do pai, do filho e do espírito santo”. Emanuel, que era o segundo mestre-sala da escola, assumiu o posto principal há poucos dias do desfile oficial, já que o antigo ocupante da posição, Yuri Souza, sofreu um acidente.
A dupla, que já desfila junta como segundo casal da Portela, no Grupo Especial, fez uma apresentação bem irregular ao longo da avenida, com falhas na execução. Logo na primeira cabine, do setor três, a mais grave das falhas, na qual a porta-bandeira se desequilibrou e caiu, na frente dos jurados. Nas outras cabines, talvez devido ao ocorrido, o casal apresentou certa insegurança na execução dos movimentos, com algumas falhas na sincronia.
Harmonia
A Harmonia da Unidos da Ponte também apresentou desempenho irregular na Avenida Marquês de Sapucaí, com muitas alas passando com componentes mudos ou cantando apenas o refrão do samba. Além disso, a escola apresentou certo esfriamento na avenida, talvez pelo atraso no início do desfile. De destaque positivo no quesito, a ala 18 da escola da Baixada, que representava “A Bahia de Todos os Santos”, com muita animação e cantando o samba.
O carro de som da escola de São João de Meriti, capitaneado por Charles Silva, teve bom desempenho na avenida. Os cantores conseguiram dar animação ao samba da Ponte, apesar de sua característica muito melódica, como em forma de oração.
Enredo
Com o enredo “Santa Dulce dos Pobres- O Anjo Bom da Bahia”, a Unidos da Ponte propunha contar a história de Irmã Dulce, baiana canonizada recentemente pela Igreja Católica. Ao longo do desfile, o enredo da escola mostrou uma certa dificuldade de compreensão, com algumas alas, sobretudo a partir do segundo setor, dando um certa “embolada” no enredo, perdendo um pouco da linearidade da história a se contar.
Evolução
O quesito evolução foi mais um problema para a escola meritiense. Com os carros apresentando alguns problemas de condução na pista, a escola alternou momentos muito parada, com buracos e momentos de correria.
No setor 4, o abre-alas da escola travou na pista, precisando ser empurrado por diversas pessoas. Com isso, as baianas avançaram, abrindo buraco na frente do módulo de julgadores.
No fim do desfile, mesmo sem a bateria entrar no recuo, devido aos momentos em que ficou excessivamente parada, a escola precisou apertar o passo e correu. Mesmo assim, no fechamento do portão, a Unidos da Ponte ultrapassou um minuto do tempo máximo permitido.
Samba
O samba da Unidos da Ponte, composto por Diego Nicolau, Richard Valença, Sandra de Sá e parceiros, teve bom desempenho no desfile da escola da Baixada. Apesar de sua característica mais “pra baixo”, a obra conseguiu sustentar o desfile da escola durante todo o tempo. O refrão principal da escola, sobretudo o trecho com referência mais clara à homenageada do enredo, “Santa Dulce dos pobres, Maria”, foi bem cantado na avenida.
Fantasias
As fantasias da Unidos da Ponte também mostraram certo desnível entre si, ao longo da avenida, com algumas alas contrastando fantasias com soluções mais elaboradas, como a ala do Sagrado Coração de Jesus e outras mais simples, como a segunda ala, “O vaso escolhido por Deus”.
Outra fantasia a se destacar foi a da ala das baianas da Unidos da Ponte, representando o ingresso de Irmã Dulce na congregação das Irmãs Missionárias, com uma bela roupa em tons de laranja e amarelo e a imagem de uma santa na saia. A ala das passistas de escola da Baixada Fluminense representou as “Pombas da Paz”, na Avenida Marquês de Sapucaí.
Alegorias
As alegorias da Unidos da Ponte, de forma geral, apresentaram bom nível no desfile, sobretudo se contrastadas com o último desfile da escola, em 2020. Ainda assim, algumas falhas de acabamento podiam ser notadas na pista.
O abre-alas da escola, representando os primeiros contatos de Irmã Dulce com a religião, majoritariamente em tons de dourado, com belas composições, sobretudo os elementos que representavam Jesus Cristo, com muita teatralidade nos gestos.
A segunda alegoria, “Estenda as Mãos para Acalentar os Filhos Teus”, representava o início do trabalho social de Irmã Dulce, no subúrbio da cidade de Salvador, onde a santa chegou a transformar um galinheiro em hospital.
A última alegoria, representando “A Bênção Senhora de São Salvador”, que aborda a canonização de Irmã Dulce, com referência a cidade de origem da homenageada e representa a pluralidade de religiões. No carro, os carnavalescos da escola fizeram uma homenagem ao ator Paulo Gustavo, falecido em decorrência da Covid-19, que era devoto da santa e doador para o mantimento das Obras Sociais da Irmã Dulce. Entretanto, nessa alegoria, ocorreram as principais falhas de acabamento, com uma escultura passando, inclusive, com a cabeça “amassada”
Outros destaques
A bateria da Unidos da Ponte, comandada por mestre Branco Ribeiro, representou Santo Antônio, de quem Irmã Dulce era devota. Os ritmistas estavam com uma roupa de fácil leitura e comunicação com o público, devido a popularidade do santo. Ao longo da avenida, na realização de uma das bossas, era lançada uma “chuva de fogo” no meio dos ritmistas.