Oito sambas participaram de mais uma etapa do concurso de samba-enredo neste domingo na Majestade do Samba em Madureira. As parcerias encabeçadas por Samir Trindade e Wanderley Monteiro tiveram o melhor rendimento de seu samba na quadra nesta fase da disputa. Ao final, as parcerias de Franco Cava e Thiago Na Fé foram cortadas e deixaram a competição. As seis obras restantes voltam ao palco da Azul e Branca no próximo dia 01 de outubro para a semifinal. A reportagem do site CARNAVALESCO acompanhou in loco todas as apresentações através da série “Eliminatórias” e a análise de cada samba, você confere ao longo do texto.
No próximo carnaval, a Azul e Branca de Oswaldo Cruz e Madureira será a segunda escola a desfilar no Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda noite de apresentações do Grupo Especial. A agremiação irá em busca do seu vigésimo terceiro título de campeã na elite da folia carioca com o enredo “Um Defeito de Cor”, desenvolvido pelos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga.
Parceria de Wanderley Monteiro: Iniciando as apresentações, o primeiro samba foi assinado por Wanderley Monteiro, Rafael Gigante, Vinicius Ferreira, Jefferson Oliveira, Hélio Porto, Bira e André do Posto 7. Para as vozes, a parceria apostou em Wander Pires da Viradouro, que teve o apoio de Charles Silva, intérprete da Estácio de Sá e Tinguinha da Em Cima Da Hora. Os cantores de apoio seguraram bem o samba e deixaram Wander livre para fazer os seus já famosos cacos. O cantor usou do artifício de forma responsável, nos momentos que o samba pedia, e, manteve a pegada forte e bem “swingada” da obra. A música apresentou um andamento favorável com o que a bateria de Nilo Sérgio gosta de levar para a Sapucaí. A melodia da obra é bastante rica, com diversas nuances, vários caminhos bastante criativos e que tira a composição do lugar comum. Na cabeça do samba destaque para o trecho “Omoduntê, vim do ventre do amor/Omoduntê, pois assim me batizou”, que permitiu, inclusive, a Wander brincar com as notas através de “terças”. Os dois refrãos “Salve a lua de Bennin” e “Saravá Keindhe!” também se destacam pela melodia. Apesar de ser o primeiro samba da noite, a obra começou a disputa com muita força. A torcida trouxe muita gente sambando, integrantes vestidos com roupas de religiões de matriz africana e cantou de forma satisfatória, principalmente, na primeira passada em que os cantores deixavam para o público por regra. No restante da quadra, a adesão foi um pouco inferior aos componentes, mas ainda assim satisfatória com alguns segmentos como velha-guarda cantando e baianas dançando, além do público que acompanhava. Manteve o nível alto das últimas apresentações.
Parceria de Luiz Carlos Máximo: O segundo samba a se apresentar na eliminatória portelense foi o composto por Luiz Carlos Máximo, Manu da Cuíca, Cecília Cruz, Thayssa Menezes, Fabinho Gomes, Luciano Fogaça e Cláudio Cruz. O samba foi interpretado por Bico Doce. O cantor trouxe uma pegada forte e conseguiu manter a obra pra frente, bem apoiado pelo restante do time de vozes, além de muita empolgação dos compositores no palco. A composição caminha por características mais intrínsecas a parceria que em geral procura fugir da linha melódica mais tradicional do samba-enredo. A obra tem diversos pontos altos melódicos como o refrão de baixo “Nasceu d’Oxum flor de Kehindé/Nas esquinas de Madureira…”. A segunda samba também possui uma linha melódica original e bonita, principalmente, a partir do verso “Iyá, sua saga é meu abrigo”. A melodia em geral é muito rica. O samba tem um estrutura que permite uma levada interessante para a bateria do mestre Nilo Sérgio, agradável, sem correria. O refrão do meio “Oleleá, caruru é pra Ibeji…” tem destaque pela métrica empregada que torna o cantar de uma forma bem balanceada. A torcida foi bem na passada sem os cantores e manteve um bom rendimento de canto. Também fez coreografia no verso “A maré guardou seu nome de Erê”, imitando o movimento das águas. Em relação ao restante do público, porém, o envolvimento da quadra foi menor, algumas poucas pessoas cantando e dançando. O refrão de baixo “Nasceu d’Oxum flor de Kehindé/Nas esquinas de Madureira…” foi o trecho cantado com maior empolgação.
Parceria de Jorge do Batuke: Na sequência das apresentações, o quarto samba foi o de autoria de Jorge do Batuke, Claudinho Oliveira, Zé Márcio Carvalho, Leko 7, Romeu D’ Malandro, Silas Augusto e Araguaci. Os intérpretes Zé Paulo Sierra, da Mocidade Independente de Padre Miguel, e Tem-Tem Jr, do Império Serrano, conduziram a obra. A dupla fez uma apresentação muito segura e bastante explosiva no palco, valorizando a força da obra, mantendo o ritmo para frente. O samba se destaca em termos de melodia e de explosão pela existência de dois refrãos na composição, que são valentes. São os trechos a partir de “ôôôô!ôôôô! Oxé sagrado é machado de Xangô…” e “Eu sou Portela, quero o que é meu de direito…”. O restante da obra também segue essa característica mais valente na melodia com alguns versos de muito valor melódico como a repetição na cabeça do samba “Pergunto onde está o defeito da cor?”. A segunda do samba, com certeza, o trecho de maior beleza e força em letra e na mensagem, a partir dos versos “Se prometeram nos matar/Prometemos não morrer/Se prometeram nos matar/ Nós vamos sobreviver”. Apesar da apresentação mais vibrante, não se observou correria com a música. A parceria trouxe algumas pessoas com vestimentas utilizadas nas religiões de matriz africana. A torcida foi destaque nas primeiras passadas, principalmente na que foi realizada sem os cantores. “Eu sou Portela” e o refrão principal eram os trechos em que se ouvia com mais força na quadra. Depois na cabeça se notava uma diminuição do canto que voltava a explodir no refrão do meio “ôôôô!ôôôô! Oxé sagrado é machado de Xangô…”. Houve mais envolvimento com algumas pessoas que na grade acompanhavam a apresentação com canto e dança, porém, mais para o final esse frisson diminuiu um pouco. O que não apagou o bom rendimento do samba que está crescendo na disputa.
Parceria de Noca da Portela: O samba composto por Noca da Portela, Claudio Russo, Lico Monteiro, Leandro Thomaz, Orlando Ambrosio, Marcelo Lepiane e Rodrigo Peu foi o quinto a se apresentar. Pitty de Menezes foi o responsável por comandar as vozes da parceria. Ele empregou bastante energia na obra, e fez uma apresentação de bom nível. Manteve-se à vontade para chamar a quadra a cantar, fazendo pertinentes intervenções no canto, amparado pelo restante das vozes. Quanto ao samba da parceria, tradicional competidora dos concursos da Portela, o grupo trouxe uma obra muito característica das músicas da escola, tanto em andamento quanto em melodia. Um samba cadenciado, com andamento agradável. Em termos melódicos, tem pontos altos como nos refrãos, tanto o de baixo “Yà Ilê Axé….Portela”, um pouco mais valente, quanto o do meio, falso refrão, mais melodioso, formado por versos completamente diferentes que não se repetem, mantendo a estrutura de notas: na primeira vez “Sob o azul do seu axé… Oh Mãe Naê” e na repetição “Só Xangô pôde entender o que eu senti”. A obra tem um caráter mais tradicional, traz um saudosismo, traduzido inclusive na escolha das notas. A torcida trouxe alguns integrantes vestidos com roupas de matriz africana realizando uma coreografia pertinente à vestimenta. O canto da torcida foi tímido com alguns pontos de maior rendimento no refrão de baixo, principalmente na parte que se repetia quatro vezes É o porto onde pude enfim /Longe de mim te encontrar”. A obra também teve pouco envolvimento do restante da quadra, poucas pessoas cantando e quase ninguém, fora da torcida, dançando ou pulando. No geral, foi uma apresentação mediana nesta eliminatória. Deve crescer mais nas próximas.
Parceria de Celso Lopes: A obra assinada por Celso Lopes, Neyzinho do Cavaco, Charlles André, Chicão do Cavaco, Jorge Feijão, TH Joias e Anderson Leonardo foi a sexta a se apresentar. O samba foi conduzido pelo intérprete Nino do Milênio, da União de Maricá, e Dowglas Diniz, da Mangueira. A divisão da atuação da dupla de cantores foi Nino sendo mais responsável pela comunicação com quadra e torcida, enquanto Dowglas mantinha a boa condução da obra. Desempenho positivo da dupla. O samba é bastante para frente com melodia mais valente, já na cabeça o trecho inicial “Mãe essa carta é para você/eu sou Abiku Feffe, tenho tanto para contar” já coloca a energia lá no alto. Ainda na primeira do samba, a repetição “fiz aos pés da gameleira uma prece ao orixá” é um destaque da obra em relação a melodia, que a todo tempo dá o tom de tensão, épico, carregado pela força do enredo até os trechos da segunda do samba com uma virada melódica que acontece no trecho “Ia Ia num lindo sonho fui te encontrar” que vai até o refrão principal em que a melodia se torna mais alegre, pra cima, para exaltar Luísa Mahin. A torcida foi mais uma que trouxe pessoas vestidas como entidades das religiões de matriz africana, inclusive, Oxum. Além disso, fez coreografia e chegou a abrir o meio da quadra em um momento. O samba no pé foi garantido por passistas que vinham à frente e uma mulher vestida de baiana benzia com ramos de ervas. Apesar da animação, o canto entre os componentes foi mais tímido. No restante da quadra o envolvimento do público também foi tímido, mas como ponto positivo pode-se ver as baianas em seu camarote dançando e se divertindo com a obra.
Parceria de Samir Trindade: A penúltima obra a se apresentar foi a composta por Samir Trindade, Valtinho Botafogo, Junior Falcão, Brian Ramos, Fabrício Sena, Deiny Leite e Paulo Lopita 77. A parceria trouxe para comandar as vozes: Marquinho Art’Samba, da Mangueira, e Bruno Ribas, da Unidos de Padre Miguel. A atuação do carro de som foi destacada não só pela energia e correção na condução da obra por Marquinho e por Bruno, mas também por um alto desempenho das vozes de apoio, Lissandra Oliveira (Em Cima da Hora, intérprete) e do ilustre Gera (Carro de som da Vila Isabel). O samba concilia uma pegada para frente, vibrante com pontos altos de melodia e de canto. A música tem uma melodia com um misto de força e singeleza. É valente, mais possui pontos de destaque que trazem toda a força do enredo como no trecho logo na cabeça “Omotunde/ Do seu ventre, sou fruto, mulher/ Matriarca, heroína Kehinde, rainha preta” e na segunda estrofe, nos versos “Orayeye ô (minha mãe)/Sua ancestralidade (nossas mães)/É ouro de Oxum/Ilê de liberdade”. O refrão do meio traz versos de uma virada melódica em tom mais alegre e com muito ritmo em “Ê Nanã ê…foi Nanã quem criou….”, o que permitiu mais liberdade para Nilo Sérgio criar . O refrão principal “Senhora do meu afeto…” não procura uma explosão para frente, mas empolga pela riqueza melódica, por ser agradável e pela força da mensagem. A torcida foi uma das que mais mostrou animação e manteve o canto em um bom rendimento. Um dos efeitos produzidos pela parceria foi a presença de uma Oxum no meio da quadra que abria sua enorme saia dourada. O restante da quadra também mostrou envolvimento com a parceria. Muita gente levantou das cadeiras para pular e cantar.