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Ernesto Teixeira: O sambista que embala o povo

Para quem conhece o básico do carnaval, em especial o de São Paulo, sabe que Ernesto Teixeira é um dos maiores intérpretes da história. Como ele apenas um, outro membro do panteão dos bambas, Neguinho da Beija-Flor, é tão longínquo no posto de cantor principal de uma mesma escola de samba ainda em atividade. São 57 anos de idade, 44 deles dedicados a uma comunidade e voz da mesma desde antes dela se fazer escola.

 

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Acho que a Gaviões a gente pode resumir que ela praticamente é a minha vida. Pelo tempo de vida que eu tenho e o tempo que eu estou na agremiação, dá para entender facilmente”.

O artista assumiu o microfone principal dos Gaviões quando a agremiação ainda era bloco, em 1984, e desde então apenas o cancelamento da festa de Momo, no ano passado, o impediu de ser a voz da Fiel Torcida na passarela. Em 2022 ele estará de volta ao Sambódromo do Anhembi, e não há cor que reine em algum pavilhão que não se emocionará ao ouvi-lo cantar mais um de incontáveis sambas os quais já defendeu.

O site CARNAVALESCO conversou com o cantor e compositor, e em meio a prosa, perguntou sobre a relação dele com a escola alvinegra.

“Eu cheguei na Gaviões com 13 anos, hoje estou com 57. Passei por todos os departamentos. Sou da torcida organizada, de assistir jogo, de viajar, de cruzar o Brasil pelo Corinthians. Com 16, 17 anos, também me interessei por esse braço cultural da Gaviões que é o Carnaval, através do bloco, onde eu saí em ala, depois eu saí da bateria, fui para ala musical, virei intérprete, compositor. Já se vão 40 anos nesse segmento cultural dentro da Gaviões da Fiel. Então, resumindo, a Gaviões é a minha vida. Muitas vezes a gente começa a analisar, e a gente passa mais tempo na quadra com os Gaviões, do que com a própria família. A gente acaba se envolvendo de tal forma que você não percebe, e quando olha aquilo é a sua família, uma extensão da sua família”.

Muitos colocam Ernesto Teixeira no mesmo patamar de importância de Jamelão, histórico intérprete da Estação Primeira de Mangueira cuja trajetória também ficou marcada por defender os sambas da escola por décadas sem pestanejar. E uma coincidência marcará 2022 para o cantor paulistano: os mesmos 57 anos que ele completou equivalem a totalidade de carnavais os quais José Clementino defendeu as cores da verde e rosa. Questionado sobre a comparação com o ídolo mangueirense, Ernesto aproveitou para garantir que, se depender dele, terá carreira tão duradoura quanto.

“Primeiro eu fico lisonjeado, porque ser comparado com Jamelão é uma honra. A gente vai fazendo ano a ano. Como eu disse, eu fui guindado ali em 85 na ausência do intérprete que não pôde estar lá, que era o Tobias (do Vai-Vai). Me pegaram na bateria e me colocaram para cantar. E dali a gente ficou, foi se aperfeiçoando, fazendo curso de canto lírico, canto popular, estudando um pouquinho de música e praticando dia a dia. E a cada ano é uma nova emoção, cada ano é um novo desafio, porque muitas pessoas até tem essa curiosidade de saber, “poxa, vai parar, não vai parar”, aí eu vou falar: “O Jamelão pelo que vi ele foi até os 90, e eu estou só com 57”. Tem mais uns trinta e poucos pela frente. Se Deus nos der saúde, e se quem estiver a frente da direção da escola não tiver nenhum empecilho, a gente vai continuar prestando esse serviço, fazendo com muito amor, estando ali no carro de som da Gaviões da Fiel, com certeza”.

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Foto: Arquivo pessoal

A jornada de Ernesto com os Gaviões é histórica, mas mesmo dentro do samba houve momentos em que a ligação da escola com o futebol foi vista com grande preconceito. Ao menos na capital paulista, esse trato com as chamadas pejorativamente de “oriundas” mudou, em especial com a ascensão de outras agremiações de mesmas origens, como Mancha Verde e Dragões da Real, coirmãs que também fazem parte do Grupo Especial. O intérprete acredita que o pior momento já passou, e exaltou a importância dessas agremiações na formação de sambistas.

“(O preconceito) melhorou, melhorou. A gente atingiu um ápice dessa negatividade em 2006, onde o próprio exemplo são os Gaviões da Fiel que foi lançado ao Grupo de Acesso, quando naquela oportunidade as pessoas ligadas a outras agremiações queriam criar o grupo das torcidas e o grupo das escolas de samba. Os Gaviões se sustentaram em uma liminar, mas dentre as notas dos jurados a gente, de 30 notas 10 conseguimos apenas 3, da letra do samba. Depois disso aí o pessoal entendeu a importância, haja vista que hoje são algumas escolas de samba com identidade de torcida no Carnaval. A torcida organizada, como a própria escola de samba, todo mundo ou a grande maioria tem suas origens no futebol. Eu fui forjado dentro da Gaviões da Fiel como sambista, como compositor, como intérprete, e assim acontece com os nossos ritmistas, com os nossos diretores de bateria, com os nossos casais de mestre-sala e porta-bandeira, com os nossos diretores de Harmonia. A gente é uma escola de samba na acepção do termo. Não tem que ter esse preconceito, que eu acho que diminuiu muito”.

Entre tantos desfiles que fizeram história do carnaval de São Paulo, os Gaviões da Fiel foram responsáveis por alguns dos mais marcantes. Um deles tem lugar especial no coração de Ernesto Teixeira: ‘Xeque-Mate’, de 2002, uma apresentação campeã praticamente perfeita que contou com um samba que não só foi assinado pela parceria do próprio cantor, como é lembrado até os dias de hoje e se tornou um dos esquentas tradicionais da escola.

“Com certeza todo carnaval se torna inesquecível. É uma história diferente, é uma música diferente. Alguns vão ganhando algumas particularidades. Por exemplo, eu gosto de falar muito do carnaval de 2002 da Gaviões porque a gente foi campeão. A gente tinha um enredo que fazia uma analogia da sociedade como um todo em cima do tabuleiro do jogo xadrez, onde a gente se manifestava contra a corrupção, por uma sociedade melhor e mais justa, um enredo na linha do que a gente vem agora em 2022. E eu era um dos autores do samba do lado do José Rifai e do Alemão do Cavaco, e a escola foi campeã. Então eu tenho esse desfile, que foi tecnicamente perfeito, tudo deu certo, as passagens da bateria, da ala musical, os carros se encaixavam perfeitamente junto com o samba, tanto é que é um dos sambas mais cantados da história dos Gaviões até hoje”.

Em se tratando dos sambas que cantou pela escola, são diferentes os motivos que levam alguns a serem inesquecíveis para Ernesto. O primeiro título, o primeiro samba composto a vencer o concurso, além do já citado. Cada um deles tem significado único em suas memórias.

“Coloco o Xeque-Mate, coloco o ‘Corinthians o meu mundo é você’ de 1998, que foi a primeira música que a gente compôs como escola de samba, também em parceria com o Alemão do Cavaco e com José Rifai que a gente foi vencedor. Foi um carnaval muito bom também, inesquecível pelo samba. Agora eu posso falar aqui também que é óbvio, o grande público vai lembrar de 95, o ‘Coisa Boa é Para Sempre’. Mas esse não dá para a gente nem analisar, esse samba e esse carnaval são ‘hors concours’. Quando a gente fala dele a gente se lembra de Raul Diniz, a gente se lembra do Grego como compositor, a gente ali na ala musical fazendo a interpretação, a nossa bateria Ritimão. Ou seja, foi um desfile assim que quem estava ali sentiu algo jamais visto e sentido da história da Gaviões. E até o público do samba fala isso. Depois que a gente terminou passar falaram ‘acabou o carnaval, não tem pra ninguém’. Muita gente regravou esse samba, como Neguinho da Beija-Flor, Jamelão, Tobias do Vai-Vai”.

O apreço aos clássicos de um ícone do samba paulistano

Quem acredita que o conhecimento do intérprete se restringe aos carnavais dos Gaviões, está cometendo um grande erro. Perguntado sobre quais sambas de outras escolas ele gostaria de ter defendido caso tivesse oportunidade na época, o ídolo musical da Fiel Torcida mostrou grande apreço pelos clássicos do carnaval de São Paulo, e a julgar pelo samba carioca citado por ele, só os Anos 80 renderiam um disco inteiro com sua voz.

“Eu gostaria de ter cantado ‘Kizomba’ da Vila Isabel (‘Kizomba, Festa da Raça’ de 1988). Eu gostaria de ter cantado ‘Catopés do Milho Verde’, da Colorado do Brás (de 1988). Gostaria de ter cantado ‘Jorge Amado’, do Vai-Vai (‘Amado Jorge, a História de uma Raça Brasileira’, de 1988). São muito sambas. ‘Boa noite, São Paulo’, do Camisa Verde e Branco (‘Convite Para Amar’, de 1988). Sempre tem um samba marcante, um samba diferenciado. Tem também aquele ‘Contam os antigos rituais, que Xangô foi rei um belo dia, de Obatalá seu pai’, samba de autoria de Dom Marcos da Cabeções de Vila Prudente (‘Do Iorubá ao Reino de Oyó’, de 1981), samba muito bonito. Samba da Imperador do Ipiranga, que é escola da minha região, tem um samba muito bonito que fala ‘Meu canto levanta, poeira, samba é a minha, bandeira, essa arte de bamba, me coroou, cabeça feita, sou Imperador’ (‘Ipiranga, Berço Esplêndido de um Povo Heroico’, de 2004), um samba bonito que eu gostaria de ter cantado. Você pega ‘Mariana’, no Peruche (‘Água Cristalina’, de 1985), que Eliana de Lima cantou muito bem. ‘Mariana’ do saudoso Ideval”.

Um amor que se renova a cada ano

Ernesto Teixeira é um sambista que conquistou incontáveis corações além do bando de loucos de sua escola. De uma simpatia ímpar e sempre muito receptivo, trata a todos do mundo do samba com o mesmo carinho ao qual se dedica a nação corinthiana. O segredo para ser tão bem reconhecido por todos é simples, daqueles que crianças são capazes de entender melhor que muita gente grande.

“O sucesso é o amor. É o amor, é a paixão, é pensar e lembrar que cada ano é um novo carnaval. Cada é um novo enredo, é uma nova história, uma nova fantasia, um novo carro alegórico, um novo samba-enredo. É uma emoção diferente. Então é isso que nos motiva. Quando a gente olha para trás que a gente vê que tem uma estrada longa que foi percorrida, mas você olha para frente e vê que tem muito o que fazer ainda. Que cada ano é um novo desafio. É isso que a gente tem como legado. O olhar de que tudo pode ser diferente no ano que vem”.

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Foto: Arquivo pessoal

Um bom momento de uma história que precisa ser perpetuada

A história do carnaval de São Paulo é bastante rica, com histórias centenárias. Infelizmente, são raros os registros ao alcance do grande público desse importante legado que tantos homens e mulheres deixaram ao longo das décadas. Instigado a fazer um balanço do momento atual do carnaval de São Paulo e projetar o futuro da festa na cidade, Ernesto Teixeira encerrou nossa entrevista deixando uma mensagem aos sambistas paulistanos que pode ser espelhada aos de todo o Brasil.

“Hoje a gente vive um momento no sentido da infraestrutura, mas por outro lado a gente tem que discutir todos os dias a questão da identidade, a questão da raiz do samba. Porque se não a gente corre o risco de engessar o carnaval, de industrializar o carnaval ainda mais. Daqui a pouco o componente está com som mecânico. E a gente tem que valorizar a essência do samba. Nós temos que valorizar o samba no pé, temos que valorizar a poesia, a letra do samba-enredo, que não é dado muito valor até no próprio julgamento. Parece que ela é feita assim: ‘Todo mundo é 10’. Isso é uma coisa que não incentiva a gente a melhorar, e a gente precisa discutir isso, ter olhos para isso também. Eu vejo que o carnaval passa por um momento bom, mas que tem que estar sempre no grupo ali da Liga das escolas de samba, os mais antigos e os mais novos, tem que estar em constante discussão para que ele se perpetue. Para que ele permaneça, que evolua, sem perder as raízes. Um dos pontos que a gente defende é a criação de um memorial do carnaval de São Paulo, para justamente resgatar essa história das pessoas que iniciaram tudo isso. Dos grandes compositores, dos grandes cantores, dos grandes sambistas. Os grandes sambas de enredo, as grandes fantasias, os grandes carnavalescos. A história do carnaval de São Paulo é riquíssima, e a gente precisa correr atrás dela porque o tempo passa e cada vez fica mais difícil”.

Rumo ao seu oitavo desfile pela Beija-Flor, Marcelo Misailidis destaca a importância do enredo da escola para o carnaval de 2022

Há 23 anos no carnaval carioca, Marcelo Misailidis se consolidou como um dos grandes nomes da comissão de frente. Desde 1999, quando começou na Unidos da Tijuca, com passagens por Salgueiro e Vila Isabel, até os dias de hoje na Beija Flor de Nilópolis, o artista coleciona prêmios e boas notas. Em entrevista dada ao Site CARNAVALESCO, o coreógrafo, que vai para seu oitavo carnaval pela escola da Baixada Fluminense, destaca a importância e relevância de tratar de um tema tão importante, com o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“É uma oportunidade de dar voz a uma questão tão relevante, tão importante, nos dia de hoje, é um processo que acho que nós temos que combater diariamente, não pode ser uma coisa só do carnaval, porque é uma situação que se a gente não lembrar a todo momento, sempre acaba acontecendo uma injustiça envolvendo essa questão da consciência da questão do povo preto”, destacou o artista.

Branco, de origem uruguaia, Missailidis afirma contar com pessoas negras em sua equipe, com “lugar de fala” dentro do enredo Beija-Flor. Além disso, o coreógrafo ressalta a colaboração de Rui Moreira no desenvolvimento do projeto para o carnaval de 2022, que é negro, bailarino, coreógrafo e investigador de culturas, com passagens por diversas companhias de dança brasileiras.

“Toda a minha equipe é basicamente formada por negros e também teve a participação do Rui Moreira, que é um dos maiores pesquisadores nessa área”.

Na primeira passagem de Alexandre Louzada por terras nilopolitanas, o coreógrafo não era o responsável pela comissão de frente da escola. Desde o retorno do carnavalesco à Beija-Flor, em 2020, os dois formam parceira na troca de ideia, que, no último carnaval, resultou em quatro notas 10 e um 9.9, descartado. Apesar de afirmar não ter contato diário com o carnavalesco, Misailidis afirma possuir boa relação com o mesmo, com quem tem um “trabalho em paralelo”.

“É muito boa(a relação com o carnavalesco Alexandre Louzada), são questões que a gente trabalha em paralelo, não há necessidade de uma troca diária, a questão maior é no início, quando a gente traça as metas. A partir dali, a gente encontra os projetos na avenida”.

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Foto: Site CARNAVALESCO

Como mostrado no ensaio técnico, a comissão de frente da Beija-Flor não contará com a presença de mulheres, em 2022. “Não tem mulheres”, afirmou Misailidis, sem relevar o número exato de integrantes. No teste na Sapucaí, os integrantes da comissão, 15 homens negros, com corpos pintados com tinta dourada, realizaram uma coreografia muito plástica e expressiva, com movimentos corporais fortes.

Marcelo Misailidis preferiu não adiantar muitos detalhes do trabalho da comissão para o carnaval. “A questão da comissão é surpresa”, disse. Contudo, o coreógrafo deu pistas de que usará o elemento cenográfico, em sua apresentação. “Provavelmente, sim(Usar o elemento cenográfico). Para o que eu vou fazer, acho ele importante”.

Por fim, ao tratar de assuntos específicos do quesito, o coreógrafo destacou a mudança pela qual as comissões de frentes passaram no carnaval carioca. Sobretudo a partir de 2010, quando a Unidos da Tijuca levou o campeonato, com o enredo “Segredo” e a comissão das “trocas de roupa”, de Priscilla Motta e Rodrigo Negri, as comissões de frente se tornaram um show à parte nos desfiles das escolas de samba.

“Apresentar a escola é um elemento de obrigatoriedade, mas a comissão de frente, há décadas, já mudou a sua configuração e é um espetáculo, um grande espetáculo. Então, ela tem que, sobretudo, introduzir o enredo”, concluiu.

‘Vila Isabel vem para celebrar a vida na Avenida e sermos campeões”, diz Sabrina Sato, rainha de bateria da Escola

A Unidos de Vila Isabel será a responsável por fechar os desfiles da Escolas de Samba do Rio de Janeiro. A agremiação vai homenagear o cantor, compositor, poeta e escritor Martinho da Vila, com o enredo “Canta, canta, minha gente! A Vila é de Martinho!”. A azul e branco vai usar do luxo, criatividade e beleza para exaltar a vida do artista.

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Foto: Site CARNAVALESCO

Por falar em beleza, Sabrina Sato estará de volta a frente da bateria. A apresentadora ocupava o posto desde 2011, mas em 2020 foi ocupado por Aline Riscado. Agora, a artista que voltará a brilhar a frente dos ritmistas, relatou para o site CARNAVALESCO a importância de trazer Martinho da Vila em um samba enredo.

“O mais legal desse momento que a gente está vivendo é o retorno a vida, é o retorno a Vila, é Martinho como enredo. Então, esse ano vai ser muito especial. A Vila Isabel vem para celebrar a vida na Avenida e sermos campeões”.

A agremiação, que foi campeã do Carnaval em 2013, tentará repetir o feito no ano de 2022. Muito mais que homenagear uma peça importante na escola, o samba enredo irá trazer para os amantes do carnaval um enredo de resistência, de persistência e de amor. Martinho se apaixonou pela Vila e a Vila se apaixonou por ele.

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Foto: Site CARNAVALESCO

A paulistana Sabrina Sato, também foi acolhida e adotada pela comunidade da agremiação, desfilando pela Escola como Rainha de bateria de 2011 até 2019, relatou na entrevista qual é o segredo para ter essa relação tão estreita com a comunidade do samba.

“Eu costumo falar que eu sou filha adotiva da comunidade, eu participo o ano inteiro. Eu não participo só no dia do desfile ou só nos ensaios, eu participo dos eventos sociais, tenho uma troca muito grande com a comunidade ao longo do ano, em vários eventos sociais e em várias causas. Tudo que envolve a comunidade de Vila Isabel, Morro dos Macacos, eu estou junto porque eu aprendo bastante. A vivência que eu tenho aqui, a experiência e o amor que eu recebo, não existe nada igual! É muito gigantesco”.

A apresentadora, além de ser rainha de bateria da Vila Isabel, também desfila pela Gaviões da Fiel, em São Paulo, desde 2004. Neste ano, já contando com toda a emoção por trás de voltar à Sapucaí após a pandemia da Covid-19, Sabrina enfrentará outro desafio, defender os dois pavilhões no mesmo dia.

“Não sei se vocês sabem, mas eu desfilo na Gaviões e na Vila com três horas de diferença, no mesmo dia. Eu desfilo meia noite na Gaviões e às três e quarenta na Vila Isabel. Vai ser um carnaval muito especial para mim”, comentou.

Estrela da Mocidade Independente de Padre Miguel: Entrevista especial com o intérprete Wander Pires

Todos conhecem o ilustre Wander Pires, intérprete da Mocidade Independente de Padre Miguel aqui no Rio e da Unidos de Vila Maria em São Paulo. O artista é uma figura carismática e que esbanja simpatia, juntamente com o seu topete.

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Fotos de Allan Duffes/Site CARNAVALESCO

Estiloso, o cantor está sempre muito bem vestido e conta com a ajuda da esposa, Ana Paula para ajudar nos looks. No ensaio técnico da Mocidade, quem produziu o look que o intérprete e os componentes do carro de som usaram foi Edilson da Angus. O artista também conta com a ajuda de Viviane, figurinista e personal stylist, responsável pela vestimenta que Wander irá usar no dia do desfile.

A Mocidade Independente de Padre Miguel é a grande paixão do cantor. Em entrevista para o site CARNAVALESCO, o artista declarou que agremiação é a sua casa: “A gente quando ama aguentamos e superamos muita coisa. A Mocidade representa o amor, minha casa e minha família. Quem é meu fã e quem me acompanha, sabe que aqui a coisa é diferente”.

Wander já teve passagem por algumas escolas de samba do Rio de Janeiro, porém a verde e branca de Padre Miguel é o seu amor. Com a família toda de independentes, ele é desde pequeno apaixonado pela escola. O cantor explica como surgiu a paixão por ser intérprete: “Quando era criança eu queria cantar igual o Ney da Mocidade. Mas me inspirei muito em Aroldo, por causa do meu vibrato”.

Com o sonho de cantar desde criança, Wander teve seus pais como seus maiores incentivadores de carreira. E tem a certeza que além da proteção de Deus e dos orixás, seus genitores estarão o protegendo no dia do desfile.

No que se trata de carro de som, o da Mocidade é considerado um dos melhores. Com a presença de vozes femininas e masculinas, é algo que funcionou muito bem na escola. O intérprete tem o seu devido destaque, obviamente, mas também trouxe o filho para estar presente ao seu lado puxando samba. É válido ressaltar o entrosamento do carro de som com a bateria “Não existe mais quente”. Dessa forma, o samba que já funcionava bem, está cada vez melhor e tem tudo para brilhar na avenida.

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Foto: Site CARNAVALESCO

O cantor costuma dizer que não se vê mais cantando sem as suas meninas: “Não me vejo sem elas, já fazem parte da minha banda. A presença feminina nesse samba da Mocidade e também no da Vila Maria é muito importante. As vozes combinam e dão todo um toque especial”, comenta Wander.

Sendo o primeiro cantor a colocar mulheres no carro de som para cantar, o intérprete já as considera como peças fundamentais e imprescindíveis na sua equipe. É como se as próprias fossem o brilho que faltava: “Eu já não sei mais cantar sem o meu brilho, elas me dão esse brilho. São tudo na minha vida”, diz o intérprete.

O artista tem na família a maior fortaleza para brilhar na Sapucaí: “Sem a minha família, sem os meus filhos a minha vida não existe. Eles estarem do meu lado e me acompanhando é de muita importância para mim”, relata.

A Mocidade Independente de Padre Miguel será a terceira agremiação a pisar na Sapucaí no sábado, com o enredo “Batuque ao Caçador”. A escola promete muita emoção, com Wander Pires nos vocais e a comunidade dando um show de animação e cantoria.

Série Ouro pede passagem

Após dois anos sem poder acompanhar de perto a festa mais tradicional do Rio de Janeiro, o público vai poder sentir a emoção de estar de volta de forma oficial à Marquês de Sapucaí. O antigo “grupo A” do Carnaval carioca, que agora passa a se chamar Série Ouro, nome que tinha sido sugerido pela LIERJ no Carnaval de 2013, contará com quinze Escolas de Samba. Os desfiles vão acontecer quarta e quinta-feira, dias 20 e 21 de abril.

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Foto: Divulgação/Liesa

Mesmo com as emoções à flor da pele, não podemos esquecer que o Carnaval, além de toda história de resistência que carrega, é uma competição. O site CARNAVALESCO conversou com Rafael Tavares, ritmista da Unidos de Padre Miguel e torcedor da Mocidade, sobre o que esperar dos desfiles da Série Ouro.

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Foto: Site CARNAVALESCO

“Acredito que esse ano será um dos mais competitivos. Aposto em algumas que podem ser favoritas ao título, como a Império Serrano, que traz o samba enredo “Mangangá”. A Porto da Pedra, que irá homenagear Mãe Stella de Oxóssi, escritora e Yalorixá que marca a história ao lutar pelo respeito ao Candomblé também vem forte. Obviamente, também aposto na Unidos de Padre Miguel”.

O Carnaval, que chegou ao Brasil pelos colonizadores portugueses e se estabeleceu no país entre os séculos XVI e XVII, desde suas raízes enfrenta batalhas árduas contra o preconceito com a festa. Ano após ano, vem mostrando que o maior espetáculo da Terra não é apenas a “festa da carne”, mas que, dentro de um desfile, pode-se manifestar indignação com situações do cotidiano, mostrar que as religiões de matrizes africanas são dignas de respeito, como todas as outras, entre diversas vertentes que têm condições de serem abordadas.

Guilherme Bonifácio, torcedor da Porto da Pedra, de São Gonçalo, falou um pouco sobre a história que sua Escola vem cantar e destacou a importância que as agremiações carregam por retratarem memórias do passado.

“A mãe Stella foi uma forte influência no Candomblé: ela lutou muito para que a religião ganhasse seu merecido espaço e respeito no Brasil. A Porto sempre gostou de trazer à Sapucaí pessoas e histórias que merecem e devem ser destacadas, pessoas que são sinônimos de luta e de resistência. Porque, assim como o Carnaval enfrentou desconfianças, diversas pautas em nossa sociedade enfrentam até hoje. Então, é muito importante trazer esses enredos para a Sapucaí. Funcionam quase como um livro de contos em movimento”.

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Foto: Site CARNAVALESCO

O Carnaval de 2022 já pode ser considerado um sucesso. Após esses anos em baixa, a realização dos desfiles traz um marco para todos nós, amantes ou não do Carnaval: é o começo do fim do “novo normal”, imposto pela Covid-19. As expectativas são as melhores possíveis em todos os quesitos e, com certeza, por podermos estar vivenciando tudo isso novamente, emoção e alívio não vão faltar.

Como diz a frase da extinta banda “O Rappa”, o Carnaval será “luz que faísca no caos”. A volta dos desfiles suprirá todos os abraços que não puderam ser dados, o acalento no coração dos que perderam alguém nesses anos e, principalmente, a esperança em dias melhores. O Carnaval voltou para quem nunca deveria ter sido deixado de lado: o povo.

De volta à escola do Borel, Lobato promete comissão de frente energizante para o desfile da Unidos da Tijuca

Após mais de 14 anos fora da escola, no começo de 2020 o coreógrafo Sérgio Lobato  assinou com a Unidos da Tijuca. Todavia em razão da pandemia mundial do Covid 19, somente no carnaval de 2022, Sérgio poderá retomar a sua casa. A última passagem do artista pela escola havia sido em 2006.

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Foto: Site CARNAVALESCO

Lobato também já foi diretor artístico do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e do Teatro Bolshoi no Brasil, além de também ter brilhado em escolas como: São Clemente, Portela, União da Ilha do Governador, Unidos do Viradouro e sua última casa, Acadêmicos do Salgueiro. O artista contou ao CARNAVALESCO um pouco da sensação de estar de volta na azul e amarela tijucana.

“Primeiramente é uma grande honra retomar a essa maravilhosa escola, quero agradecer ao presidente Fernando Horta e a toda a diretoria e seguimentos que me receberam muito bem. Estou muito feliz também por estar retornando a avenida depois de todo esse tempo de pandemia e esperando essa festa. Vamos fazer um grande espetáculo para essa torcida maravilhosa”.

Empolgado e ansioso para mostrar seu trabalho árduo após dois anos saudosos, Sérgio aproveitou para falar um pouco de sua comissão, que conta com um pequeno tripé de apoio, o qual segundo ele servirá de coxia, para que todo o trabalho por eles realizado se esclareça como uma síntese do enredo.

“Podem esperar uma coreografia com muita energia e de intensidade muito grande. Buscaremos movimentações que possam abrir a escola com muita força, mesmo que contando uma história. No final deixaremos uma mensagem para todos nós brasileiros e para quem está de fora também”.

Quanto a performance apresentada no ensaio técnico, relatou: “No ensaio técnico não trouxemos a coreografia do desfile oficial, mas alguns trechos fazem parte. A coreografia que estamos apresentando em eventos como o que teve na Cidade do Samba e no Ensaio técnico, eu montei para a festa de celebração do aniversário da escola, e desde então estamos usando. Estou com componentes e substitutos e os trouxe hoje porque acho importante termos uma rodagem já que se trata de um ensaio técnico, então é necessário que eles pisem nessa avenida, com esse público, para que sintam essa cobrança e responsabilidade”, comentou o coreógrafo.

Em sua última passagem pela agremiação tijucana, Sérgio trabalhou com o carnavalesco Paulo Barros, que permaneceu na escola até o carnaval de 2014 e teve um breve retorno apenas para o carnaval de 2020. Hoje a escola é comandada pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, com quem Lobato confessou ter tido certo receio no começo.

“Está sendo a primeira vez em que eu trabalho com o Jack, tem sido maravilhoso. Como eu não o conhecia, de primeira tive uma preocupação de criar essa amizade, essa interatividade, mas foi muito fácil e o trabalho tem sido maravilhoso com o apoio dele. O trabalho que nós vamos trazer é uma concepção dele junto comigo e isso tem sido até hoje muito bom”.

Apesar de ser um artista mais que consagrado no mundo do samba, todo grande talento possui uma grande inspiração. Lobato revelou que sempre foi muito apaixonado pelas comissões do Fábio de Melo e que as mesmas chamavam muito sua atenção. Apesar de reconhecer as grandes comissões inovadoras da atualidade, ressaltou a representatividade e a importância da origem dessa história.

“Não vou falar todas porque vou acabar esquecendo de alguma, mas eu poderia citar várias comissões de frente marcantes. Nós temos maravilhosos profissionais, a maioria são meus amigos. Então eu posso dizer que desde o Fábio de Melo, passando pelo Carlinhos de Jesus, só temos tido trabalhos incríveis. Nós temos hoje a Priscila que começou comigo, o Jorge, e assim vai”.

Embora sempre tenha sido um quesito esperado pelos telespectadores, depois de ótimas apresentações realizadas no que chamamos de “carnaval contemporâneo”, a comissão de frente tem causado bastante expectativa até mesmo em simpatizantes do samba. Com isso, o nível de responsabilidade que antes já era grande, agora só aumenta com toda essa espera. Abrir o desfile é de uma grande competência, coisa que a escola do Borel tem dominado otimamente.

Apelidados pelos componentes da escola como “incansáveis”, o grupo composto por homens e uma única mulher, tem se mostrado bastante empenhado, ensaiando todos os dias, como o próprio diretor de bateria da escola Mestre Casagrande fez questão de ressaltar recentemente em discurso.

“É uma grande responsabilidade abrir o desfile, principalmente hoje, onde as pessoas esperam muito para assistir à apresentação da comissão. Eu sempre levo muito a sério o fato de iniciarmos o desfile, pois se abrimos com alegria e com um trabalho que tenha uma boa receptividade, o restante que vem atrás se sentem cortejados a embarcarem na felicidade de desfilar pela escola”.

“Quando questionado sobre o que aperfeiçoaria no julgamento desse quesito que hoje é tão disputado, desabafou: “Eu gostaria muito que não houvesse comparação, e sim o merecimento artístico coreográfico de cada comissão. O problema é que nós não somos avaliados somente pelo o que apresentamos como enredo e como coreografia, e sim na comparação com outras escolas, quando possuímos enredos e figurinos diferentes”.

A Unidos da Tijuca será a quarta escola a desfilar na segunda noite de desfiles do grupo especial com o enredo “Waranã, a reexistência vermelha”.

 

Fotos: alegorias da Unidos de Bangu na área de concentração do Sambódromo

Fotos: alegorias do Porto da Pedra na área de concentração do Sambódromo

Fotos: alegorias do Cubango na área de concentração do Sambódromo