É notório que os temas afros das escolas de samba estão dominando o carnaval de 2022. No Império da Tijuca não foi diferente, mas fazendo questão de enaltecer também as questões sociais e raciais. Desde de alas que falam sobre resistência e a luta do quilombo e também sobre a negra arte de fazer política preta.
Por falar em “política preta”, foi isso que o muso Raphael Oliveira veio representando na frente da ala 5. Em entrevista ao site CARNAVALESCO ele falou o que a fantasia simboliza: “É a política preta, pois é algo muito forte e presente no quilombo. É um super orgulho e de tremenda responsabilidade estar aqui e representar isso é muito importante”.
Políticas raciais é algo que deveria ser debatido constantemente e ter mais visibilidade. É importante a representação na luta e discussão do papel do negro na construção do Brasil e Raphael fez isso evidenciando o Quilombo.
Para Raphael, é de extrema necessidade as políticas raciais estarem em alta nos debates. Ele evidencia isso ao falar que é necessário fazer algumas reparações nos principais temas:
“Temos a política de cotas que conseguiu fazer com que a gente tenha um número grande de pessoas pretas que ingressaram na universidade. Entretanto, ao mesmo tempo, temos uma evasão enorme, o que se torna pouco por causa do gap histórico”, relata.
Ele também considera esse enredo da escola, o “Samba Quilombo: a resistência pela raiz” de muita importância. “Esse enredo é muito importante, pois fala da relevância do negro. O carnaval é um momento que o povo preto têm muita visibilidade, porque o mundo inteiro para pra ver a gente”, diz. O muso também completa o quão grandioso é ter esse tema em relevância: “E é de uma grandiosidade absurda e é super relevante termos temas como este, já que isso aqui é muito mais que entretenimento. Carnaval é algo sério e sempre vou dizer isso”.
A Acadêmicos de Vigário Gerl, sexta escola a entrar na Sapucaí em mais uma noite de desfile, apresentou o enredo Pequena África – da Escravidão ao Pertencimento, Camadas de Memórias entre o Mar e o Morro. O enredo contou a história da região que ficou conhecida como a “Pequena África”, além de enaltecer a população, valores urbanos e artísticos. O segundo carro representou a celebração às religiões de Matrizes Africana.
Nele, é retratado o Exu abrindo os caminhos para mostrar o legado que a região da Pequena África produziu para os negros: a essência africana. Um local onde os negros pudessem praticar a fé e a crença de origem, cultuando divindades do panteão africana e evocar toda sua ancestralidade. A alegoria traz à frente uma representação do Orixá Exu como o Senhor dos caminhos e de Oxalá em escultura principal. A escultura ainda traz imagens dos principais Orixás: Xangô, Omolu, Ogum, Oxossi, Iemanjá, Oxum, Iansã.
Para a secretária Letícia Antonelli, 37 anos, a oportunidade de desfilar pela escola é um presente. E a vivência na religião de matriz africana, reforçou ainda mais esse laço de amor e cultura. “Sou umbandista e esse carro representa muita coisa na minha história. Sinto um orgulho! É a minha primeira vez desfilando e tenho a oportunidade de realizar esse sonho. Esse carro vem representando todos os Orixás. Isso é um sincretismo entre o candomblé e a umbanda”, ressaltou Letícia Antonelli.
Quem também concorda com essa opinião é a estudante Juliene Vitória, 20, que é católica e defende a liberdade religiosa na sociedade. “Esse enredo é muito importante. Nós aprendemos a ter o respeito com a religião. Estou feliz com a Vigário e esse ano a escola vem com muita força. Esse é o meu primeiro ano e estou muito feliz de poder desfilar em um carro que representa pontos importantes sobre o enredo, além de reforçar a identidade cultural. Mesmo sendo católica ou de outra religião, devemos respeitar a todos. Acredito que a Vigário vai reforçar o respeito às diferenças”, finaliza Juliene.
O primeiro casal do Império Serrano Matheus Machado e Verônica Lima trouxeram à Sapucaí uma fantasia toda trabalhada em branco para retratar Exu Lalu. O mestre-sala, em entrevista ao site CARNAVALESCO, detalhou a fantasia.
A entidade é quem faz a ponte como mensageiro e é considerado o responsável pela entrega das oferendas destinadas ao orixá do branco com contornos claramente africanizados. Matheus Machado, em entrevista ao site carnavalesco, detalhou a fantasia.
“A gente veio representando o Exu Lalu que é uma qualidade de Exu de Oxalá, é uma entidade que veste branco que vem com seis cabaças aqui na cintura. O Leandro fez um desenho excelente, o João Vitor que fez nossa roupa, entregou tudo que o Leandro pediu, a roupa tá excelente”, detalhou.
Após dois anos sem carnaval, a Verde e Branca de Madureira pôde comemorar bravamente a volta dos desfiles na Marquês. Verônica Lima conta, em entrevista ao site carnavalesco, qual era a expectativa para essa volta.
“É uma emoção muito grande poder pisar na Sapucaí de novo, depois de dois anos sem carnaval, poder desfilar foi emocionante demais, poder estar aqui, estar vivo, ser grato, ser honrado em representar esse orixá”, comentou.
Para o carnaval de 2020, após os problemas apresentados no último carnaval antes da pandemia, o Império Serrano, sob nova direção, deu uma repaginada nos seus segmentos. Com o enredo “Mangagá”, que aborda a vida de Besouro, a escola de Serrinha apostou no consagrado coreógrafo Patrick Carvalho, que também é responsável pelo quesito no Salgueiro, para comandar a Comissão de Frente.
Em entrevista ao Site Carnavalesco, Patrick se mostrou encantado pelo Império Serrano, o qual chamou de “baita escola”. Além disso, o coreógrafo também enalteceu a comunidade do Menino de 47.
“O Império é uma baita escola de Samba. Eu já sinto a energia antes de entrar, o povo da Serrinha é apaixonado por essa escola. Foi uma responsabilidade muito grande montar uma comissão de frente para essa escola, que ano passado teve tantos problemas, mas esse ano vem com tudo para ganhar o carnaval.”
No projeto montado para este ano, representando “Besouro e Império da Patente de Ogum”, o Império Serrano traz componentes vestidos com uma bela roupa brilhosa prateada e outros, bastante carregados na maquiagem, com roupas brancas. A escola também utiliza um elemento coreográfico, montado com materiais que remetem à palha.
Segundo o coreógrafo Patrick, o processo criativo da comissão se deu de maneira muito rápida, após um papo com o carnavalesco Leandro Vieira.
“Todo o processo de criação dessa comissão aconteceu em dez minutos com o Leandro Vieira. Eu falei tudo que eu queria, ele também falou tudo que queria e a gente fez essa comissão de frente.”
Por falar no carnavalesco Leandro Vieira, que também é responsável pelo carnaval da Estação Primeira de Mangueira, Patrick Carvalho afirmou ter tido ansiedade de trabalhar com o carnavalesco, que ele considera uma “teta de arte”.
“Eu estava muito ansioso para trabalhar com Leandro e como a gente estava na pandemia, eu falava pra a gente se encontrar e o Leandro falava ‘Agora não, depois’ e eu falava pra ele que não era possível que agora que vou trabalhar junto dele, não vou mamar nessa teta de arte? Pelo amor de Deus, eu preciso aprender contigo. Aí, a partir disso, a gente trocou uma ideia e nasceu a comissão de frente do Império Serrano”, disse.
Última escola a desfilar na segunda noite de desfiles da Série Ouro, o Império Serrano, com o enredo “Mangagá”, encantou o público presente na Marquês de Sapucaí. A tradicional Velha-Guarda da escola, representando os griôs, brilhou em um bonito terno estampado nas cores do pavilhão.
Na África, os griôs são as figuras responsáveis por guardar, preservar e transmitir, através da oralidade, histórias, canções e mitos de seu povo. Nas escolas de samba, esse papel fica por conta das velhas-guardas. Até por isso, o Império Serrano deu esse papel à sua ala “de cabelos brancos”, como eles mesmo se chamam.
Em entrevista ao Site CARNAVALESCO, integrantes da ala falaram sobre a ansiedade e expectativa para o desfile da escola e o possível título. Apesar de confiantes, demonstraram muitos pés no chão e crença no bom trabalho feito pela escola. É o caso da faxineira Janeta Nascimento, que afirma ter gostado do desfile da coirmã União da Ilha.
“Eu acho que, pelo o que eu vi aqui, dá para o Império ganhar, não sei. A Ilha ontem passou bem, a gente tem que fazer melhor do que a Ilha. Desfilei ontem e hoje e acho que a Ilha passou linda. A campeã de ontem foi a Ilha e hoje, não sei. Espero que ganhe o Império. Se der tudo certo, a gente consegue. A expectativa é enorme, estamos todos ansiosos, mas a gente vem pra brigar e vamos ser campeões, se Deus quiser.”, afirmou.
Já a cuidadora de idosos Maria de Lourdes, apesar de também respeitar as coirmãs, acredita muito no trabalho feito pela escola, na busca pelo retorno ao Grupo Especial.
Respeitando as coirmãs porque todo mundo quer chegar ao primeiro lugar, nós vamos fazer a nossa parte para chegar ao título. Acho que dá para brigar pelo título, o acabamento tá perfeito, os carros também, os componentes estão com garra, agora os jurados que vão dar o veredito final. Temos que ter muito controle na ansiedade porque nós estamos vindo de uma temporada sem carnaval e agora voltando, estamos com muito expectativa.
Há 40 anos desfilando pelo Império Serrano, escola da comunidade em que nasceu, o taxista Edinho, além de afirmar acreditar no título da escola, se declarou ao Menino de 47 e o chamou de “minha vida”. Além disso, versou sobre a troca de comando da escola.
“É difícil até de falar, eu tenho quarenta anos desfilando, o Império faz parte da minha vida. A vida me fez Império e eu fiz do Império minha vida. Sou nascido e criado na Serrinha. A gente desfila pelo coração e hoje, estou vendo a escola com uma estrutura melhor, a diretoria é totalmente diferente da anterior e vamos ver na Avenida. Ver a escola bonita assim é lindo, há muito tempo que a gente não vê. Vamos vir com muita garra, emoção e muita evolução. Esse é o Império Serrano, de 82, 83, da década de 80 pra 90. Depois, devido a algumas administrações da escola, teve aquela queda. Todo mundo fala que a escola não tem dinheiro, tem dívida e todo mundo quer ser presidente. Hoje, você vê a escola, eles assumiram no meio de uma pandemia e olha como está. É muita satisfação. Império Serrano é coração.”, concluiu.
Com o enredo Pequena África – da Escravidão ao Pertencimento, Camadas de Memórias entre o Mar e o Morro, a Acadêmicos de Vigário Geral contou a história da região que ficou conhecida como a “Pequena África”, além de enaltecer a população, os valores urbanos e artísticos ao pertencimento histórico-cultural da cidade carioca. A rainha da escola Simone Monigo representou o “Malungo”, ou seja, os laços de amizade formados entre os escravos durante a travessia.
A rainha da azul e branco conversou com o Site CARNAVALESCO e explicou a relação da sua alegoria com os povos africanos, o que ressalta a importância de conhecer a história. “A minha roupa foi criada para mostrar a celebração que a Vigário Geral vai apresentar. Ela se chama a Pequena África, porque o Rio de Janeiro, na região do Cais do Valongo, um lugar de desembarque dos negros escravizados. E o Rio mantém essa espiritualidade até hoje”, destacou Simone Monigo.
Após dois anos longe do solo sagrado, o retorno foi marcado pela emoção e o sentimento de vitória. “Me sinto muito feliz! É um momento de felicidade e liberdade. Voltamos e hoje podemos celebrar a festa Diáspora, a festa dos nossos ancestrais. Além de ser advogada, sou artista, porque o samba é a minha vida. Amo o que eu faço aqui na avenida e a cultura brasileira faz parte do meu dia a dia, não vivo sem o carnaval”, declarou Simone.
Com apenas dois anos de desfile pela comunidade, Simone, revelou se sentir em casa com o apoio e carinho da família de sambistas. “A comunidade é muito carinhosa, abraça as pessoas que desejam conhecer as quadras cariocas e o carnaval. A escola honra a presença da Pequena África, quero representar a Vigário Geral porque ela valoriza esse tema”, concluiu Simone.
Penúltima escola a desfilar na noite de quinta-feira da Série Ouro do carnaval carioca, o Império da Tijuca apresentou o enredo “Samba Quilombo – A resistência pela raiz”. A agremiação exaltou o valor ancestral da sua própria comunidade do Morro da Formiga, na intenção de valorizar as memórias do povo tradicional de matriz africana.
Toda essa ancestralidade esteve presente na ala das baianas, as matriarcas do samba, que desfilaram com a fantasia “O bloco Quilombo dos Palmares”. A referência principal é o núcleo de organização negra formado no período escravista na região da Serra da Barriga, atual estado de Alagoas, que serviu de inspiração para o surgimento do bloco com o mesmo nome, em 1975. O bloco foi semente da criação do G.R.A.N.E.S. Quilombo.
A indumentária das baianas do primeiro Império do samba reuniu bom gosto e opulência. As saias das senhoras eram feitas de tecido branco com detalhes em dourado nas pontas. Por cima da saia, uma bata preta e dourada condicionava ainda mais elegância à ala. O figurino foi inspirado nos trajes tradicionais das baianas dos anos 1970, carregando os grafismos e composições inspiradas na arte afro-brasileira.
Simone Aparecida, 54 anos, aposentada, revelou como estava o seu sentimento momentos antes de desfilar: É uma emoção muito forte porque somos negras, somos as mães do samba, negras. Então é uma representatividade maravilhosa”.
Rita Sampaio, 50 anos, diarista, disse estar muito satisfeita com o peso da sua fantasia. “Está ótima, levinha! Vai dar pra gente brincar bastante”.
Cléia Assis, 65 anos, agente dos correios, confirmou o conforto da fantasia de baianas do Império da Tijuca: “Tudo certo, não tem nada incomodando. Nós vamos brincar mesmo”.
Regina Gomes, 58 anos, dona de casa, confessou que sempre desfila no Império porque “é uma escola que a gente brinca à vontade, todo mundo respeita”.
O Império da Tijuca desfilou na madrugada desta sexta-feira no Sambódromo e contou, de forma brilhante, a história da Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo. O carnavalesco Guilherme Estevão trouxe para a Avenida a agremiação criada pelo intérprete Candeia, e fez várias referências ao baluarte da Portela na apresentação. Além do destaque para o enredo, o casal de Mestre Sala e Porta Bandeira também teve ótima exibição, assim como a Comissão de Frente. Fantasias sem grande impacto visual e pequenos erros de acabamento nos carros foram os pontos negativos. A escola passou na Avenida de forma correta, sem erros de evolução, em 54 minutos de desfile. * VEJA FOTOS DO DESFILE
Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO
Comissão de Frente
A Comissão de Frente da Império da Tijuca, coreografada por Lucas Maciel somou 14 componentes, sendo sete homens e sete mulheres. Batizados de ‘Ancestralidade e raiz’, o segmento trouxe, como diz o nome a raiz negra das escolas de samba. A Comissão de Frente também fez uma homenagem a Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, agremiação criada por Candeia para ressaltar a história preta. A dança foi dividida em três momentos: ritos africanos, cultura afro brasileira e a tradição do samba atual, com baianas e baluartes negros. A Comissão também utilizou um tripé que representou um trono, como altar para uma rainha africana, além de trazer a bandeira original da G.R.A.N.E.S Quilombo. A força e sincronia da dança, além da transformação da Rainha em uma Porta-Bandeira merece elogios. A apresentação durou cerca de 2m40s.
O casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira da Império da Tijuca representaram alguns pilares da formação do G.R.A.N.E.S Quilombo, como a resistência e a proteção. Renan Oliveira trouxe fantasia em alusão à resistência do Quilombo, enquanto Laís Ramos representou a proteção espiritual do mesmo. O Mestre-Sala foi, no desfile, um guerreiro do quilombo dos Palmares, com referências no figurino a Ganga Zumba no filme ‘Quilombo’, de 1984. A Porta-Bandeira vestia figurino com representação ao orixá Oxum, com cores branco, ouro e amarelo, trazendo a ideia da proteção religiosa à escola e ao Quilombo. Os dois foram impecáveis em todos os módulos, mostraram entrosamento, envolvimento nos olhares e gestos, além de ótima dança.
As primeiras alas da escola, além dos segmentos e casal, cantaram demais o samba. Composições do primeiro carro alegórico também não poupou a voz. No entanto, o canto caiu de ritmo a partir da ala 15, ‘Ao Povo Em Forma de Arte’. A ala passou praticamente muda pelo segundo módulo, seguida da 16, ‘Noventa Anos de Abolição’, que também decepcionou na voz. A última ala, ‘Cinco Séculos de Resistência Afro Brasileira’, contudo, soltou a voz e gritou o samba no final.
O Império da Tijuca começou o desfile contando a história da criação da Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo e seu principal fundador, Candeia. Neste primeiro momento, a escola também abordou o Quilombo dos Palmares, o mais famoso do país, e contou também a origem dos batuques afrodescendentes que se transformam no samba como conhecemos hoje. No segundo setor, a agremiação trouxe a resistência do povo preto em suas várias vertentes, como a música, arte e religião. Na sequência, a escola focou ainda mais na música e na arte oriunda do povo preto. Por fim, a escola relembrou os carnavais da G.R.A.N.E.S Quilombo, que desfilava como um bloco, sem competição, nos bairros do subúrbio carioca, e ainda promoveu um ‘encontro’ entra a escola de Candeia e o Império da Tijuca. Com alas e carros organizados, a escola conseguiu contar a história e manter a linearidade do enredo.
Evolução
O Império da Tijuca conseguiu passar fluidez e cadência durante todo desfile. Sem correr, a escola apresentou seus quesitos em todos os módulos de forma completa. As alas passaram com bastante organização, animadas e brincando durante a apresentação, como a ala 20, ‘Cinco Séculos de Resistência Afro Brasileira’. A bateria também não teve problemas para entrar e sair dos boxes.
Samba
O samba foi conduzido de forma magistral por Daniel Silva e tem vários momentos de ápice no canto, como o refrão e o refrão do meio. Os versos ‘Sou a poesia sem mordaça’ até ‘Heróis e heroínas da abolição’ merecem destaque. ‘Vem de Maracatu do caboclo lanceiro’ até ‘No rabo de arraia não leva rasteira’ também foi bastante cantado.
Fantasias
Logo no primeiro setor, se destacou visualmente a ala das baianas, que teve inspiração não só na G.R.A.N.E.S Quilombo, mas como nas tradicionais fantasias das matriarcas da década de 1970, que tinham figurinos com traços de arte afro brasileira, com cores em preto, branco e dourado. A ala 4, ‘Pela Identidade do Preto Brasileiro’, também se destacou na beleza, com cores da bandeira brasileira somadas ao vermelho e uma homenagem a Candeia presente no figurino. Outra ala que que mereceu elogios pelo figurino foi a 15, ‘Ao Povo em Forma de Arte’, onde a escola rememora o samba de 1977 do G.R.A.N.E.S Quilombo e faz alusão a ‘Sankofa’, símbolo de grande valia para o povo da África Ocidental. Representações tribais, pintura e o preto e branco se destacaram a ala. Apesar de não terem muito luxo e brilho, e não causaram grande impacto visual, todas as fantasias correspondiam ao proposto com enredo.
Alegorias
A primeira alegoria do Império da Tijuca, ‘Nova Escola’ trouxe as cores da G.R.A.N.E.S Quilombo, em amarelo, roxo e branco, com painéis inspirados em artistas pretos da cultura afro-brasileira, e homenageando grandes nomes da escola fundada por Candeia, como Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Nei Lopes, Dona Ivone Lara e Clementina de Jesus. Com luzes todas, o carro teve as cores ainda mais ressaltadas e abriu muito bem o desfile da escola.
O segundo carro alegórico, ‘Resistência Pela Raiz’, como o nome diz, trouxe como pilar a ideia da resistência preta, principalmente vindo das escolas de samba e da G.R.A.N.E.S Quilombo. Heróis da liberdade do povo preto foram representados na alegoria, como Zumbi, Dandara, Gangazumba e Manuel Congo. O carro, contudo, não causou o mesmo impacto visual do primeiro e teve leve defeitos de acabamento. No último setor, um quadripé chamou atenção para homenagem a escola criada por Candeia.
A terceira alegoria, ‘Sob a Proteção da Padroeira, a Resistência em Dia de Graça’, encerrou o desfila da escola com um grande encontro do G.R.A.N.E.S Quilombo com o Império da Tijuca. Ambas têm o orixá Oxum, sincretizada no Catolicismo como Nossa Senhora Aparecida, como padroeira. Por conta disso, as cores douradas e brancas no carro. A coroa superior teve o destaque ‘Bençãos da padroeira’, além de outros destaques como a ‘Resistência Imperial’ e ‘Oxum’. A Velha Guarda do Império da Tijuca desfilou neste último carro como a ‘Ancestralidade Imperial’. Assim como o segundo carro, a última alegoria também apresentou erros de acabamento, principalmente na parte traseira.
Outros Destaques
Desfilaram na escola Selma Candeia (filha de Candeia), Vera de Jesus (Neta de Clementina de Jesus), Nilcemar Nogueira (neta de Cartola) e Geisa Ketti (Filha de Zé Keti), a cantora Tereza Cristina e músico Tunico, filho de Martinho da Vila. Fundador da G.R.A.N.E.S Quilombo junto a Candeia, Rubem Confete também desfilou na escola. As atrizes negras Cinnara Lea, Karen Mota, Aline Borges, Aline Wirley, Dandara Albuquerque, Jeniffer Nascimento, Katiuscia Ribeiro, Isa Black, Juliana Alves também se apresentaram com a agremiação. Adriana Salles, a catadora que viralizou na internet sambando no ensaio técnico da escola, também veio à frente do Império da Tijuca.
O Império da Tijuca se inspirou em sua ancestralidade negra para levar à Marquês de Sapucaí o enredo intitulado “Samba Quilombo – A resistência”. A verde e branco homenageou o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo, fundada pelos compositores Candeia, Neizinho, Wilson Moreira e Mestre Darcy do Jongo em 8 de dezembro de 1975.
O G.R.A.N.E.S. Quilombo surgiu como uma importante manifestação cultural contra as dinâmicas mercadológicas , políticas e de afastamento do protagonismo negro nas agremiações carnavalescas. A ideia era contribuir para a valorização da história e dos preceitos da luta, tanto do Quilombo dos Palmares, quanto das bases tradicionais do samba brasileiro.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Império da Tijuca representou na avenida do samba a resistência e a proteção espiritual do Quilombo. Juntos, Renan Oliveira e Laís Ramos simbolizaram os fundamentos e conceitos essenciais da criação do G.R.A.N.E.S. Quilombo.
Laís vestia uma luxuosa fantasia repleta de brilho e espelhos, inspirada em Oxum. “É de uma responsabilidade gigantesca, porque a gente está representando um dos maiores pilares da época do quilombo”, revelou a primeira porta-bandeira da escola.
As penas da saia de Laís eram da cor laranja, assim como a capa e as penas da cabeça de Renan, que representava a resistência dos guerreiros. “A gente está feliz demais pelo carnavalesco ter nos dado esse presente, um dos pontos altos do desfile, ter deixado sob nossa responsabilidade”, disse o primeiro mestre-sala do Império da Tijuca.
“A responsabilidade se carrega de muito trabalho, e a gente fez jus a isso, trabalhou bem pra estar vestindo esse figurino, representando tanto o Quilombo, quanto Oxum, da melhor maneira possível. A gente trabalha pra fazer a melhor apresentação possível. A nota, claro, é o que a gente almeja. Mas agradar também o público, quem paga pra assistir esse espetáculo, é um dos nossos principais objetivos”, ressaltou Renan Oliveira, momentos antes de adentrar à avenida.