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Com forte crítica social dentro do carnaval, Tucuruvi encanta com seu canto e comissão de frente

O Tucuruvi abriu o Carnaval 2022 do Grupo Especial de São Paulo com o enredo “Carnavais… De lá pra cá o, que mudou? Daqui pra lá, o que será?”. O desfile foi marcado pelo forte canto da comunidade, uma comissão de frente que emocionou, onde homenageou todas as escolas do Grupo Especial e, principalmente, pela crítica social feita. Os carnavalescos Dione Leite e Fernando Dias, conseguiram desenvolver isso de uma forma lúdica. Todos conseguiram entender a mensagem. Vale destacar as inúmeras vezes que sambistas e outras agremiações foram lembrados na apresentação. As fantasias foram de fácil entendimento. A escola optou por não usar nenhum tipo de luxo. Por fim, o ‘Zaca’ fez um desfile técnico, justamente para tentar se manter no Grupo Especial, visto que voltar e ser a primeira de todas, desfilando na pista ‘fria’, não é uma tarefa fácil. A apresentação da agremiação fechou com 1h04m. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Comissão de frente

A ala da escola, lidera pelo coreógrafo Fernando Lee, veio simbolizando a mensagem: “A força da nossa raiz ninguém pode calar”, contando com 15 dançarinos. Desses integrantes, 14 representavam ‘os guardiões do legado’ e um deles, a ‘força da ancestralidade’. A fantasia foi composta por uma saia e uma cauda. Nessa saia, dentro da apresentação, ela abria e o grupo se alinhava e, juntos, formavam a frase ‘sou resistência’ e, na cauda, havia uma abertura, onde o efeito se dava em um pavilhão de todas as escolas. Cada componente da ala trajado com o símbolo de uma escola de samba do Grupo Especial nesse costeiro. Um ótimo efeito que arrancou muitos aplausos do público presente no Anhembi.

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Para a abertura dos desfiles, realmente foi algo que de se reverenciar, pois essa questão se identifica muito com tudo que o carnaval passou atualmente também. Além de ter sido uma abertura para a apresentação do Tucuruvi, de fato, passou a sensação de ser uma abertura para todas as escolas pisarem na pista nos desfiles que estão para acontecer.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Luan Caliel e Waleska Gomes, representando “A forma mais pura de alegria”, bailaram de maneira satisfatória. A fantasia era leve, e isso fez com que a porta-bandeira pudesse realizar os seus movimentos no sentido horário e anti-horário sem problemas. O mestre-sala sambou de forma intensa e fez movimentos rápidos juntos aos giros de Waleska Gomes. A coreografia dentro do samba também foi executada com sucesso e, quando mostraram o pavilhão para a cabine de jurado frente ao recuo, arrancou aplausos do jurado. Sobre as vestimentas, a porta-bandeira vestiu uma roupa dourada com a saia na cor vinho. Luan Caliel, também usou o dourado brilhoso, mas a combinação feita foi com uma espécie de cor laranja claro.

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Harmonia

A ansiedade e responsabilidade de abrir os desfiles do Grupo Especial, fez com que a comunidade do Tucuruvi entoasse o hino com uma força tremenda. Na questão do volume do canto, tudo o que se viu nos ensaios técnicos, se confirmou na apresentação oficial. Esse quesito sempre foi uma característica da escola e a felicidade estampada no rosto dos componentes era nítida.

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O carro de som, liderado por Leonardo Bessa, teve uma apresentação dentro do que se pede. Levantou o astral da comunidade e do Anhembi. No carnaval paulistano, a primeira agremiação que desfila nas noites, sempre tende a levantar as arquibancadas e, o ‘Zaca’, junto ao seu carro de som e canto, de certa forma, conseguiu.

Enredo

A escola teve uma apresentação satisfatória dentro do que se pede. É interessante observar um gesto legal, onde durante grande parte do desfile, a agremiação fez alusões às coirmãs. Vimos várias vezes pavilhões das outras escolas do Especial, principalmente as mais antigas e que marcaram época, afinal, o tema volta ao passado para resgatar a história dos baluartes e tudo o que foi feito para chegarmos até aqui.

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Porém, a proposta principal do enredo da comunidade da Cantareira, é fazer uma crítica social ao que virou o carnaval nos dias de hoje e, notou-se isso em todos os setores do desfile, onde se fala muito de dinheiro e que a ganância ficou em primeiro lugar. O destaque vai para o terceiro setor, onde o carro “Cassino Carnaval” abriu as alas fazendo fortes questionamentos.

Evolução

O departamento de harmonia foi extremamente técnico nesse quesito. Optou por colocar a bateria no primeiro setor para assim, se ‘livrar’ do recuo rapidamente. A batucada entrou de forma correta, respeitando o limite técnico. Sobre as alas, elas evoluíram de maneira correta. Bem como a alegria do samba, a evolução funcionou. Um complementou o outro. Com qualquer tipo de fantasia dá para evoluir bem, mas as leves, como o Tucuruvi usou, fez com que muitos componentes, sambassem no pé em vários momentos. Alas coreografadas também foram de bastante destaque, onde interagiam com o público a todo instante. Destaque para a primeira encenação, que ficava posicionada no carro abre-alas.

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Samba-enredo

Apesar de teoricamente, o samba do Tucuruvi ter uma melodia para baixo, a bateria e o carro de som, liderados por mestre Serginho e Leonardo Bessa, respectivamente, desde os ensaios, fizeram estratégias para isso mudar. A aceleração do ritmo da batucada culminou bastante para essa mudança. A letra fala muito de como o carnaval de antigamente era melhor e mais alegre, de ganância dentro do carnaval, de baluartes esquecidos e, sobretudo, de resistência. Porém, também enaltece algum tipo de esperança.

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As partes mais cantadas são os dois últimos versos: ‘o choro da velha baiana, a esperança no olhar, a força da nossa raiz ninguém pode calar’. Após essa parte, entra o primeiro refrão que também é muito entoado pela comunidade. Destaque para a frase ‘sou resistência e você tem que respeitar’, onde alguns componentes até batiam no peito ao cantar essa parte forte do samba.

Fantasias

A escola optou por fazer igual o seu enredo. Não quis nada de luxo nas fantasias. Apesar disso, os materiais utilizados e o acabamento, estavam bons. A proposta foi muito clara, sendo esquecer toda a beleza luxuosa e optar pelo simples com o intuito de propor uma fácil leitura ao público e aos jurados. Quem assistiu o desfile e prestou atenção, com certeza prestou atenção em cada detalhe.

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Vale destacar a ala 2: “O trevo do Camisa Nairanã chegou”, onde homenageava a escola de samba Camisa Verde e Branco. Alas 3 e 4 que faziam uma homenagem à Mocidade Alegre, respectivamente e, por fim, a ala 8: “Nova realidade: Gaviões da Fiel Torcida e seu manto preto e branco”, uma homenagem aos Gaviões da Fiel, onde os componentes carregavam bandeiras.

Alegorias

Assim como as fantasias, o entendimento da alegoria foi muito claro. A primeira alegoria veio representando o carnaval elitizado e não elitizado, com alas coreografadas que interagia e encenava para o público. Tais integrantes, dançavam no chão, pois o carro tinha aberturas.

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Segunda alegoria simbolizou a Avenida Tiradentes, palco dos desfiles mais épicos e populares da história do carnaval de São Paulo. Um carro colorido e recheados de destaques no centro e lados. No topo, uma grande figura do Henricão com uma coroa, segurando um bastão. A escultura se mexia o tempo todo, acenando para o público.

O terceiro carro representava um cassino. Aparentemente, fazia uma referência às apostas que as pessoas fazem dentro do carnaval para ver quem sai vencedor ou não.

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A quarta alegoria simbolizava a resistência, onde nele, havia a velha guarda e, também, os pavilhões das escolas do Grupo Especial e Acesso. Como dito anteriormente, na questão do entendimento e proposta de enredo, ficou muito claro o que a escola quis passar.

Outros destaques

A Bateria do Zaca, comandada pelo mestre Serginho, teve um desempenho seguro. A batucada executou bossas esporadicamente. A batucada se destacou por marcar o samba e dar sustentação rítmica ao samba e carro de som, para assim, a harmonia funcionar com fluidez. A bossa destaque vai para o último refrão, onde a bateria brinca com todos os instrumentos e, no final, a batucada faz uma paradinha no verso ‘sou resistência e você tem que respeitar’.

Eterno Jamelão: velha guarda presta homenagem ao ídolo da escola em desfile

Mangueira01aCom enredo homenageando três dos maiores ícones de sua história, os escolhidos da Estação Primeira de Mangueira foram Cartola, Jamelão e Mestre Delegado. Tendo isso em vista, a velha-guarda da escola realizou um verdadeiro tributo a Jamelão. A ala apresentou dados biográficos do homenageado, deixando muitos mangueirenses saudosos e emocionados.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, alguns componentes dessa ala tão querida por todos os sambistas, fizeram questão de relatar um pouco de suas relações com o saudoso intérprete da escola Jamelão.

Mangueira01b“Tenho a honra de dizer que conheci Jamelão, fui ao enterro dele inclusive. Ele foi um dos maiores intérpretes que esse mundo já viu. Nós não éramos tão amigos, ele era um pouco ranzinza”, brincou, “Mas sempre que me via, me cumprimentava”, afirmou o senhor Ari Rios, componente da Mangueira há 25 anos.

Também parte da velha-guarda da escola, Iracema da Silva se mostrou bastante emocionada em prestar tal homenagem. Com mais de 30 anos de escola, disse também ter conhecido Jamelão.

Mangueira01c“Não cheguei a ter tanta intimidade com ele, mas éramos muito amigos na quadra, nos amávamos. Tenho certeza que não só para mim, mas ele faz muita falta, por isso me sinto muito feliz em poder lhe prestar essa homenagem”.

Roberto da Silva, veterano de Mangueira com mais de 40 anos, também não deixou de contar parte de sua vivência com o homenageado.

“Me sinto honrado por ter conhecido ele, temos muitas histórias. Ele era muito bacana, gente finíssima, só não gostava de dar entrevistas. Me lembro que ele só dava entrevista a quem o pagasse”, riu ao relembrar.

“Confesso que eu tinha um pouco de medo de brincar com ele, já que ele era bem grosso, sempre expulsava a gente. Ele costumava manter sempre uma postura de bastante autoridade, mas ainda sim um querido por todos e gente boníssima”, finalizou.

Tucuruvi 2022: galeria de fotos do desfile

Ouça a bateria e arrancada do samba no desfile da Mangueira 2022

Inspirado no Theatro Municipal, abre-alas da Imperatriz relembra todo o luxo e opulência de Arlindo Rodrigues

Imperatriz04aA Imperatriz Leopoldinense abriu a primeira noite de desfiles do Grupo Especial com o enredo “Meninos, eu vivi… Onde cantam Dalva e Lamartine”, recordando os grandes trabalhos de Arlindo Rodrigues. Além de homenagear o carnavalesco, a escola de Ramos também presta reverência a dois grandes nomes do carnaval carioca: a cantora Dalva de Oliveira e o compositor Lamartine Babo.

A trajetória de Arlindo Rodrigues se inicia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com o encanto provocado pelo belíssimo universo de formas e movimentos do lugar. É o que retrata o carro abre-alas da Imperatriz, que trouxe uma coroa grandiosa toda decorada com os rocailles e luminárias fascinantes do interior do Municipal.

A alegoria foi intitulada “À luz de um nobre destino – O universo fascinante do Theatro Municipal”, abrindo com muito luxo e opulência o conjunto alegórico da escola. O carro foi dividido em dois módulos. Na segunda parte, muitos espelhos decoravam a alegoria. Foi Arlindo Rodrigues quem introduziu este tipo de material no desfile das escolas de samba.

Imperatriz04bO destaque central baixo veio com uma luxuosa fantasia representando a “Folia carnavalesca” e, mais acima, o destaque central alto simbolizou “A opulência dos carnavais do Theatro”, em referência aos famosos bailes de carnaval do Municipal, dos quais Arlindo participou em seu início de carreira.

Na parte superior da alegoria, em frente ao proscênio clássico, um grupo cênico representava a dramaturgia simulando a apresentação de uma peça teatral. A ideia do carro era que esse universo majestoso guiasse o futuro carnavalesco Arlindo Rodrigues ao encontro da arte, a sua vocação.

“É uma grande homenagem ao Theatro Municipal, onde tudo começou para o Arlindo nas artes”, explica o diretor executivo da Imperatriz, João Felipe Drummond. Ele ainda completa: “A Rosa, gênia que é, usou características como os lustres, como o barroco… É uma arquitetura claramente barroca, com várias características presentes na arquitetura do Theatro”.

Imperatriz04cAs composições da primeira parte do carro abre-alas eram as “Jóias do teatro”, ao redor do símbolo da escola. Já as composições da segunda parte eram os “Guardiões do esplendor”, que vinham sobre as escadas do templo das artes cariocas carregando adereços espelhados que provocaram um lindo impacto visual.

Viviane Alves, 46 anos, cabeleireira, contou a sensação de desfilar como composição no carro abre-alas da Imperatriz: “É maravilhoso! Depois da pandemia, é sensacional! A emoção chega a corroer o peito. A gente fica nervosa, mas muito feliz”.

A atendente de telemarketing, Vanessa Souza, 32 anos, confessou estar ansiosa antes do desfile. “É uma mistura de emoção com a responsabilidade de representar as jóias da coroa, que é símbolo da Imperatriz”.

Ala da Imperatriz traz a história de Xica da Silva de volta para a Sapucaí

Imperatriz03aO segundo setor da Imperatriz Leopoldinense foi denominado “Canta, Salgueiro! A revolução africana na vermelho e branco”, em alusão à marcante passagem do carnavalesco pela escola do bairro da Tijuca. Uma das alas que relembraram este período da trajetória de Arlindo foi a ala “Xica da Silva – A personagem negra em destaque”.

Arlindo Rodrigues propôs o enredo sobre Xica da Silva para o carnaval de 1963, contando a história da escrava que, alforriada, alçou à fidalguia, ingressando na alta sociedade em Diamantina, Minas Gerais. Por conta do sucesso do desfile do Salgueiro, a personagem se tornou uma notória figura do país, servindo de tema para o teatro, o cinema e para a televisão.

No carnaval de 1963 os desfiles ocorreram pela primeira vez na Avenida Presidente Vargas, mais larga e mais espaçosa do que a avenida Rio Branco, onde as escolas desfilavam até então. Dessa forma, Arlindo modificou a idealização dos trajes, aumentando o volume das fantasias para preencher melhor o espaço e assim ocupar toda a pista.

Por isso, as fantasias da ala de Xica da Silva utilizavam grandes ancas nas roupas femininas, que é uma marca da apresentação. A roupa era predominantemente vermelha e branca, com alguns detalhes em preto e dourado. A ala recebeu uma maquiagem facial branca, com direito a uma pinta na bochecha, batom vermelho e uma sombra verde, amarela e vermelha ao redor dos olhos.

Aline Lima, 43 anos, mecânica de automóveis fez sua estreia na Imperatriz Leopoldinense. “Tô amando representar Xica da Silva! Tem seu desconforto, um pouquinho, mas é normal. São dois anos longe do carnaval, voltar com essa energia é maravilhoso”.

Imperatriz03bXica da Silva foi eternizada como símbolo maior do primeiro campeonato solo conquistado por Arlindo. Anos depois, em 1965, Xica seria destaque novamente nas criações do artista, revisitada no enredo “História do carnaval carioca”, quando Rodrigues foi outra vez consagrado como campeão.

Lucilene Alves, 53 anos, advogada, revelou o sentimento às vésperas de entrar na avenida do samba: “Uma renovação depois dessa pandemia. Todo mundo estava com uma expectativa muito grande pra isso”. Ela contou que a preparação de maquiagem foi intensa: “Desde às 14h estamos nos preparando… Fizemos um treinamento bem puxado, porque a ala é coreografada”.

Renata Rocha, 50 anos, costureira, é moradora de Ramos e revelou estar emocionada ao viver Xica da Silva no desfile da Imperatriz. “É um orgulho muito grande. Uma satisfação enorme. Não sei nem explicar. Para quem conhece toda a história de Xica é uma emoção muito grande”.

Guaraciara Campos, 53 anos, professora, disse que vale o esforço de suportar o peso da roupa: “A fantasia é um pouco pesada porque caracteriza ela (Xica da Silva) mesmo, então tem que aguentar”.

Composição da Imperatriz fala sobre homenagem ao Salgueiro em carro: ‘Não deixou se ter nossa identidade’

Imperatriz02De volta ao Grupo Especial, a Imperatriz Leopoldinense abriu a sexta-feira de desfiles com uma homenagem ao carnavalesco Arlindo Rodrigues, bicampeão pela escola. Além de marcar época na Rainha de Ramos, o artista também conquistou quatro títulos pelo Salgueiro. O terceiro carro da Imperatriz fez uma homenagem à Academia do Samba, e a desfilante Tuane de Paula falou sobre a alegoria.

“Homenagear uma co-irmã, usar cores de outra escola não é muito normal, mas a Imperatriz conseguiu fazer esse carro, que fala sobre o Salgueiro sem deixar de ter a identidade da nossa escola. Adorei minha fantasia, leve, o carro muito bem acabado, com cores combinando. Dá pra brincar e se divertir muito”, comentou Tuane, que é composição do carro ‘A Raça Encarnada na Negritude do Salgueiro’.

“Pra gente é até estranho, porque a Imperatriz sempre foi uma escola de muita tradição, de muito verde, branco e dourado. Aí esse ano você enxerga a escola se atualizando e usando coisas que já passaram. Arlindo Rodrigues era um gênio e a gente poder representar com nosso samba e nossa voz é muito bom”, completou a enfermeira de 28 anos.

Dupla da Comissão de Frente comenta desafio de interpretar Dalva e Lamartine: ‘Muita responsabilidade’

Imperatriz01Primeira escola a desfilar no Grupo Especial em 2022, a Imperatriz Leopoldinense trouxe um enredo em homenagem ao carnavalesco Arlindo Rodrigues. Na Comissão de Frente, que levou o ‘Trem das Lembranças’ para a Sapucaí, a Rainha de Ramos teve como personagens principais Dalva de Oliveira e Lamartine Babo, grandes nomes da música brasileira. A atriz Lana Rhodes falou sobre o processo de interpretar a cantora.

“A Dalva é um símbolo da música no Brasil. Muitas cantoras da nossa geração tinham ela como inspiração. Me emociona bastante esse papel porque eu sou mãe também e descobri um papel de mulher dela que eu não conhecia, muito doloroso e potente ao mesmo tempo. Ela foi tão importante que chegou a ser o enredo da Imperatriz em 1987. É uma potência feminina que vale ser lembrada sempre’, disse Lana.

“A preparação foi muito bonita da escola, foi muito emocionante toda comunidade cantando demais nos ensaios. Isso aumenta ainda mais a responsabilidade, mas deixa a gente muito feliz por saber que tem uma energia boa no nosso trabalho. Eu tive uma pesquisa de imagens dela, porque os vídeos são poucos, então eu me prendi mais às fotografias para trabalhar nessa Comissão de Frente”, completou a atriz de 35 anos.

Dalva de Oliveira foi enredo de Arlindo Rodrigues com a Imperatriz em 1987, quando a escola ficou na 6ª posição. Assim como a cantora, Lamartine Babo também foi tema do Carnaval da Imperatriz, em 1981, também assinado por Arlindo. Lourenço Marques, de 22 anos, que também é assessor de imprensa da escola, falou sobre a emoção de dar vida ao compositor.

“É muito incrível esse presente que eu recebi, de representar essa figura tão importante que é o Lamartine. É até curioso que algumas pessoas falam que eu lembro um pouco ele. É um grande desafio e pressão, porque eu sou assessor de imprensa e estou na Comissão de Frente, que vale 50 pontos”, comentou Lourenço.

“Mas apesar de ser assessor de imprensa, eu sou Imperatriz, torço para a escola. Sabe lá quando que vou ter essa oportunidade de novo. A preparação foi muito difícil porque existem pouquíssimas imagens e vídeos de Lamartine. Eu achei alguns raros vídeos de entrevista dele, então tentei pegar um pouco o jeito dele falar”, encerrou.

Série Barracões: Mangueira reverencia seus grandes baluartes e aposta em desfile leve e emocionante na busca por mais um campeonato

A Estação Primeira de Mangueira tem o costume de homenagear em seus sambas-enredos ícones da música e da cultura brasileira, recentemente foi campeã com o enredo sobre Maria Bethânia, em 2016, no passado inúmeros foram os enredos de sucesso em homenagens prestadas, como a Chico Buarque, em 1998, Carlos Drummond de Andrade, em 1987, Dorival Caymmi, em 1986, e em 1984 com o super campeonato de inauguração do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, homenageando Braguinha, fora o emocionante desfile sobre Nelson Cavaquinho, em 2011. Para o próximo carnaval essa tradição estará de volta. A verde e rosa voltou para dentro de sua riquíssima história e resolveu levar à avenida a vida e obra de Cartola – o seu maior compositor; Jamelão – seu maior cantor; e Mestre Delegado, o grande mestre-sala da escola. O enredo “Angenor, José e Laurindo” é de autoria do campeoníssimo carnavalesco Leandro Vieira.

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Foto: site CARNAVALESCO

Em visita do site CARNAVALESCO ao barracão da Verde e Rosa, o artista explicou que o enredo nasceu durante a pandemia, quando precisou se ausentar da escola, a vontade dele de celebrar o povo da Mangueira e de reverenciar as pessoas de carne e osso que construíram e constroem a escola a cada dia fez com que ele chegasse nos nomes de Cartola, Jamelão e Delegado.

“O enredo nasce dessa vontade de festejar a Mangueira, o enredo chegou pra mim no período da pandemia, um período em que eu e todo mundo da Mangueira ficamos privados do convívio da própria Mangueira, então isso de você ficar privado de uma coisa que faz parte da sua rotina me fez falta, a partir daí foi nascendo essa vontade de festejar e abraçar a Mangueira, então eu achei que a melhor forma de celebrar a Mangueira seria juntando três pilares do que é uma escola de samba, que é a poesia traduzida pela composição, o canto coletivo e os corpos que dançam, na busca pela personificação desses três pilares eu encontrei o corpo de Cartola, Jamelão e Delegado” conta Leandro.

Ao colocar no título do enredo o nome de batismo desses três gênios, Leandro escolheu nesta homenagem lembrar que antes de se tornarem ícones não só da Mangueira, mas de todo o carnaval, eles eram de carne e osso, criados no Morro e acima de tudo, apaixonados pelo samba e pela Mangueira, afinal, poucos são os sambistas que carregam o peso de uma instituição no corpo e na história.

“Acho que o de mais interessante da biografia e da história desses três é notar o quanto eles eram apaixonados pela comunidade que eles representavam, o quanto os três estavam a serviço da comunidade e o quanto os três eram excelentes e símbolos de excelência naquilo que realizavam, então assim, é muito interessante você se deparar com um tipo de sambista que os três traduzem no corpo o que é a Estação Primeira de Mangueira, eles trazem no corpo, existem alguns sambistas que se transformam na materialização da instituição, é o caso deles”, destaca Leandro.

Na sinopse do enredo, Leandro destaca que Cartola, Jamelão e Delegado representam todo o Morro de Mangueira, lá diariamente nascem milhares de talentos, como diz um trecho da sinopse: “Engana-se quem pensa que os habitantes do Morro de Mangueira morrem sem ter o que deixar como herança, assim como estão enganados aqueles que pensam que, os que lá nascem, estão desprovidos de bens. […] Lá, nascem ricos daquilo que o dinheiro não compra, e nós, quando privados da arte que brota a granel nos corpos da favela, ficamos mais pobres”.

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Proposta do desfile:

Leandro não tem o costume de falar sobre as propostas visuais de seus desfiles, para ele, isso pode criar uma expectativa desnecessária em torno da escola, o mesmo vale o número de elementos alegóricos que a escola levará para a avenida, segundo ele, isto é irrelevante para a qualidade artística, porém, ele afirma que está trabalhando para que a agremiação esteja linda no desfile e conta que o resgate do verde e rosa, é o grande trunfo.

“Eu estou tentando fazer a Mangueira bonita, acredito que a cor é o grande trunfo para o próximo ano, talvez o mangueirense ache que está bonito só pela escola estar toda verde e rosa”, afirma o carnavalesco.

Para Leandro, montar um desfile de escola de samba é pensar artisticamente a apresentação dessa escola na avenida,sempre apontando para um futuro que ele acredita que deve ser um caminho melhor para os desfiles, para ele, esse modelo de regulamento não é o mais claro, em diversas oportunidades Leandro já afirmou ser contrário do engessamento das escolas e na uniformidade das mesmas, o que tornou todas iguais para atender as necessidades do julgamento.

Pensando nisso, Leandro projeta mudanças no desfile da Mangueira, a principal delas, o retorno do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Olivério e Squel Jorgea, para a frente da bateria, prática comum no passado, mas que nos últimos anos foi pouco utilizada.

“Pensando esse roteiro de desfile, pensando nessa apresentação que aos meus olhos deve ser sempre potencializada em termos de emoção, eu mudei algumas coisas na estrutura do desfile da Mangueira, nosso ensaio técnico mostrou de alguma forma isso, então assim, o casal que não está na frente da escola, como todo mundo costuma, isso é uma coisa antiga, vir a frente da bateria, mas foi convencionada para atender a uma expectativa de desfile que o casal viesse na frente da escola junto com a comissão. Estou tentando experimentar situações que de alguma forma trazem mais emoção, espontaneidade e tiram a Mangueira dessa rigidez”, destaca Leandro.

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Foto: Site CARNAVALESCO

Seguindo a linha de um desfile mais solto, alegre e brincante, Leandro diz que a ala das crianças vem maior que nos últimos anos, o que proporciona um canto diferente, já que o canto da criança é diferente do adulto, outra iniciativa interessante é o projeto de mestre-sala e porta-bandeira infantil ao longo do desfile.

“Queremos alas que evoluam de uma maneira mais livre e menos militarizada, a abertura do desfile da Mangueira ficará marcada por uma ala, se bem que eu não gosto dessa história de ala, nem dizer quantas alas são porque por exemplo, na abertura do meu desfile de 250 componentes, é difícil comparar com as outras escolas, por isso eu acredito que a evolução de uma escola é pensamento artístico, eu tenho a felicidade de montar o roteiro de desfiles da Mangueira, e aí pensar a Mangueira que não quer só se apresentar bem para falar do enredo que escolheu, é uma escola que quer pensar como ela se comporta na avenida, como ela pode desfilar de uma maneira mais emocional e menos fria”.

A Mangueira será a segunda escola a pisar na avenida pelo Grupo Especial no primeiro dia de desfiles, sexta-feira, dia 22 de abril. Homenageando três dos seus maiores baluartes, a Verde e Rosa busca o topo do carnaval carioca mais uma vez.