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Últimos dias para ver os reis do carnaval, Joãosinho Trinta e Laíla, em cena no teatro

Por Lucas Santos e Luan Costa

Dois personagens principais na história dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, Joãosinho Trinta e Laíla, são homenageados no espetáculo “Joãosinho & Laíla: Ratos e Urubus, larguem minha fantasia”, que encerra temporada domingo, na Arena Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160). As sessões de sexta, sábado e domingo acontecem às 19h. Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira).

O maior desfile da história do carnaval do Rio de Janeiro é o grande tema da peça. O elenco no palco aborda os preparativos para o emblemático desfile da Beija-Flor de Nilópolis em 1989. Oito sambas enredo costuram a cronologia do espetáculo. A ideia surgiu de uma conversa de Édio Nunes, diretor da peça, que participou do histórico desfile, com o coreógrafo de comissão de frente Patrick Carvalho.

“Jamais esqueci a cena em que nós, os mendigos, arrancávamos o plástico preto (desfile das campeãs) que cobria a réplica da estátua do Cristo Redentor, um Cristo mendigo, que havia sido censurado pela Igreja e execrado pela mídia. Durante o desfile, a gente foi arrancando aquele plástico, desvelando aquele Cristo, provocando uma comoção”, diz o diretor.

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Fotos Claudia Ribeiro/Divulgação

O ator Wanderley Gomes que representa Joãosinho Trinta revelou ter profunda admiração pelo carnavalesco. “É um grande presente fazer Joãosinho Trinta que para mim é muito genial. Eu acho ele incrível, sempre tive uma grande admiração e estou encarando como um grande presente. A primeira coisa que eu fiz foi tentar não imitar (o Joãosinho), porque como eu não tive contato, eu vi uma coisa do programa “Roda Viva”, eu não quis imitar. Mas todo mundo fala que eu faço igual, não sei como, mas é isso”, disse o ator Wanderley Gomes.

Coube ao ator Cridemar Aquino representar o lendário Laíla. “Sou um folião, primeiro que eu sou o Beija-Flor de Nilópolis, sou um torcedor da escola. Cria de São João de Meriti, desde sete, oito anos de idade, estou do lado da quadra. Sempre que possível desfilo na escola e esse ano foi um presente receber esse carinho. Estou comemorando 25 de carreira como ator e fazer esse personagem nesse contexto falando desse carnaval específico de 1989 é muito importante pra mim”.

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Conversa com Édio Nunes, diretor da peça

O que representa para você ter criado a peça do João 30 e Laíla?

“Encenar Joãosinho e Laíla é trazer à tona dois gigantes da história do Carnaval Carioca, é reverenciar esses mestres, tornando-os inesquecíveis pela sua obra, e contribuição artística no mundo do samba”.

Além das cenas que relembram sambas, tem uma parte da peça que cita Marielle, Dom Philips e Bruno Pereira. Como surgiu a ideia?

“Relembrar os sambas, com outra leitura, já fazia parte do roteiro. Contextualizar o Cristo de 89, para o Oxalá de 2022, surgiu nos ensaios. Marielle, sempre estará presente, uma negra guerreira, militante, nos representa. Dom e Philipe, é para gritar para o mundo, que VIDAS IMPORTAM, e o Teatro têm essa voz. Nós artistas, inquietos e pensantes, temos a palavra, e ninguém, nos cala”.

Após homenagear o João 30 e o Laíla pensa em outra pessoa, escola ou desfile?

“Penso em fazer uma trilogia. Sou mangueirense, e quero contar as histórias do Morro de Mangueira, homenagear os moradores que vivem naquele Palácio, a música, os costumes e tudo o que pulsa dentro da comunidade. O Samba no Teatro é uma cena desafiadora”.

Por que é tão difícil termos espetáculos teatrais que façam homenagens para escolas de samba e sambistas das agremiações?

“Penso que o Carnaval já cumpre essa função, de homenagear ícones, agremiações e personalidades. O meu interesse é sempre fazer recortes dentro de uma temática, e revirar o baú. Registrar, reverenciar e mostrar ao público, que o samba, é um dos maiores patrimônios do mundo, que precisa ser respeitado e divulgado, na sua excelência. E viva a arte do Samba”.

‘Yasuke’ é o enredo da Mocidade Alegre para o Carnaval 2023

A Mocidade Alegre anunciou o enredo para o carnaval 2023. “Yasuke” é o tema do desfile, que será desenvolvido pelo carnavalesco Jorge Silveira, estreante na escola.

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“Eu queria agradecer muito por esse presente para minha, para sua e para nossa Mocidade Alegre. Muito obrigado, Jorge, de coração. Quando a coisa já nos emociona, vendo tudo isso, porque eu já ouvi, acabo me emocionando novamente. Sensacional. Estou muito feliz, espero que todos vocês tenham gostado, bora trabalhar em prol do carnaval 2023 firmes no propósito, porque vocês já sabem. A vitória vem da luta, a luta vem da força e a força da união. Juntos, a gente vai fazer esse diferencial e conta com cada um de vocês”, disse a presidente da agremiação, Solange Cruz.

“Japão e África são duas culturas de riqueza ancestral imensa. São culturas que carregam por si só, sabedoria. Foram construídas ao longo do tempo baseadas na sabedoria. Todas as duas cultuas tem uma riqueza estética incrível. Se expressam fortemente através da plasticidade. Então, para carnaval isso é um prato cheio e a gente vai buscar explorar o máximo possível. Acho que é a primeira vez que a gente vai ver na passarela a junção desses dois universos pensados esteticamente no mesmo carnaval. Acho que esse é o desafio da Mocidade Alegre e a gente chama pro peito, pra responsabilidade e vamos fazer, se Deus quiser, uma grande trajetória”, contou o carnavalesco Jorge Silveira.

Veja o texto publicado pela escola

“O espírito de Yasuke ressurge no corpo de cada jovem preto, assim como aqueles que hoje habitam a cidade de São Paulo, onde negros e asiáticos fazem morada.

A cidade mais japonesa fora do arquipélago oriental é, paradoxalmente, a que também mais mata jovens negros. Por isso, diante de um mundo em que a pele preta assusta, é necessária uma armadura preta, de samurai, semelhante à de Yasuke, para enfrentar as guerrilhas e adversidades cotidianas do mundo contemporâneo. Salve os “Samurais da Quebrada”, determinados em não morrer.

Para o Carnaval de 2023, a Mocidade Alegre usará todo o potencial do sangue guerreiro de seus valentes foliões. Eles, vestidos de suas armaduras-fantasias, enfrentarão mais uma batalha em busca de uma importante vitória: provar que, assim como um dia fez Yasuke, cada jovem preto pode ser o que ele quiser, mesmo que os opressores, o preconceito e a discriminação digam o contrário.

Benditos, louvados sejam aqueles que encaram suas batalhas, independentemente dos temores do combate!”.

Vai-Vai reedita enredo de 2005 para o desfile de 2023

O Vai-Vai anunciou o seu enredo para o carnaval 2023. O tema, que é uma reedição do desfile de 2005, tem como título “Eu também sou imortal”.

Confira o texto divulgado pela escola.

“Explode de emoção o coração alvinegro, que fará do seu cortejo para o próximo Carnaval momento místico e mágico ao resgatar uma das buscas mais longínquas e intrigantes da experiência humana sobre a Terra: a Imortalidade!

Da explosão inicial à eterna expansão, um clarão na imensidão …Eis o despertar para os limites entre a vida e a morte: o desejo de perpetuar …Nas religiões, a fé é o espelho da alma que promete infinita salvação e paz… Contos e fábulas: _“Era uma vez… Felizes para sempre!”_ …Nas experiências alquímicas, o elixir da eterna juventude. Entre a alquimia e a ciência, o homem brinca de Deus e desafia o Criador.

A obra imortaliza. É chama que não se apaga o amor ao samba. Eterno, o Bixiga renasce!

Das cinzas ao apogeu… Eu Também Sou Imortal!”.

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Sinopse da Viradouro para o Carnaval 2023

UNIDOS DO VIRADOURO CARNAVAL 2023

ROSA MARIA EGIPCÍACA

A Profecia das Águas

Presságio... Diante do espelho ondulante das águas, a menina courana sentiu a vida passar diante de si. Uma gota se transformou em oceano, fazendo o real transbordar em vertigem.

Em transe, percebeu-se tragada por um assombrosoredemoinho em meio a um dilúvio brutal. Então defrontou-se com o reflexo de uma mulher misteriosa, de manto reluzente e coroa luminosa, como que a protegendo da própria sina. E, de súbito, viu-se emergir em uma arca resplandecente sobre a qual flutuaria plácida a cortar a fúria das ondas.

A menina chorou frente àquela revelação. Dali em diante, tudo se desfez em mar revolto, apagando as memórias dos seus primeiros anos. Foi rebatizada em águas cariocas, no outro lado do Atlântico. E desse bárbaro ritual de esquecimento, brotou uma nova Rosa, preta e cálida: a Rosa mística do Brasil.

Auri Sacra Fames A Fome de Ouro

Ainda jovem, seguiu em romaria vigiada, por léguas e léguas mata adentro. Vendida às Minas Gerais, foi obrigada a peregrinar com os cativos pela Serra da Mantiqueira, longo percurso que a assombrava com visões de paraísos e infernos. Entre bruma e poeira, cortava as alterosas cravejadas de sonho e temor.

Nas freguesias mineiras, a sociedade devota do ouro e dos diamantes era sustentada pela depravada escravização na colônia. Cortejos de penitentes saíam pelas vielas do arraial entoando ladainhas. Pediam perdão por muitos pecados, menos o de submeter outros seres humanos a condições degradantes em nome da adoração às pedras e aos metais preciosos. Pacto social que envolvia todo um sistema forjado no privilégio, na degeneração moral e violação da dignidade dos corpos pretos.

Mas havia as frestas sociais. Enquanto servia de oferenda àquela civilização de escândalos e perversões, Rosa acumulou um tanto de joias para se enfeitar e sedas para se cobrir. Os parcos ganhos eram ostentados nos batuques do Acotundá. Na magia da noite escura, encandeada de luar e fogueira, a preta girava saia, saudava as almas e soprava aos ares a fumaça do cachimbo, religando-se à ancestralidade que brotava no terreirão da Fazenda Cata Preta, onde era cativa.

Até que o corpo deu sinais de desgaste. E Rosa se desfez de tudo. Distribuiu aos seus o pouco que havia recolhido, como fez Maria do Egito, a santa meretriz que foi alçada ao altar celestial após doar aos desvalidos toda a riqueza de uma vida. Mais tarde, deixaria de ser a Courana para ser Rosa Egipcíaca, transitando entre a devoção e o misticismo.

Ventanias, Visões e Possessões

Feitiçaria ou teatro? A freguesia alvoroçada se dividia em opiniões ao testemunhar as possessões da mulher, ocorridas entre rezas e sessões de exorcismo comandadas pelo padre português Francisco Gonçalves Lopes, o “Xota-Diabos”.

Visagens chegavam a Rosa em ventanias ruidosas que apoquentavam sua mente dividida entre os solfejos dos anjos e os gritos dos malignos. Em êxtase espiritual, elaera saliva e fogo, arrepio e suor, lágrima e vulcão. Sentia, atordoada, a presença de sete demônios pairando sobre si em vertiginosas espirais, possuída tal qual Maria Madalena.

Mas, assim como a personagem bíblica, a africana tinha também a alma acalentada pelo amor Divino. E os ventos agora lhe sopravam de volta ao litoral.

A Flor do Rio

Vivendo a debulhar as contas do Rosário, retornou ao Rio de Janeiro por onde desfilava como dileta serva de Deus. Sob o pálio da devoção a Santana, avó de Cristo, a negra cruzava a fé dos brancos com os cultos ancestrais aos mais velhos, herança da sua origem na costa africana. Rosaimpressionava o universo religioso da cidade com seus dons premonitórios, jejuns e flagelações, tornando-se focode curiosidade e admiração. Um passo para ser cultuada como Santa.

Levada pelo dever de perpetuar os pensamentosdevocionais, alfabetizou-se nas letras divinas e passou a escrever compulsivamente. Foi assim que colocou no papel aquele que é considerado o primeiro livro a ser escrito por uma mulher negra no Brasil. Desta forma, derramava pelas suas mãos o bendizer da palavra reveladanos pergaminhos mais sublimes.

Sentia na pele e no coração as dores das mulheres afastadas do convívio familiar. Assim, a visionária ergueu o Recolhimento, mosteiro com que ela havia sonhado como arca protetora a abrigar almas cujos corpos femininos eram negados pela sociedade.

O poder da vidência não cessava e Rosa sonhou com a imagem de cinco corações radiosos e brilhantes. Cada vez mais santa no altar popular, foi se tornando mais mística, mais etérea e mais misteriosa. Elo entre Deus e a humanidade, a beata com dons paranormais seria desposada em um grandioso devaneio apocalíptico.

A Derradeira Profecia

Revelação. Rosa fechou os olhos e pressentiu um dilúvio de força descomunal que lavaria os pecados da humanidade. Estava novamente frente à imagem que tanto a impressionou na infância: a mesma mulher misteriosa de manto reluzente, protetora do seu destino. Debaixo do majestoso véu das virtudes, revelou-se a face verdadeira: era o próprio rosto de Rosa.

Águas em turbilhão sairiam como veios da terra. E daquele reino sobrenatural emergiria não uma, mas duas arcas, flutuando entre a história e o delírio. Em uma,estava ela, no esplendor do seu último desvario; na outra, o rei Dom Sebastião, desaparecido em épica batalha em nome de Cristo.

O enlace com o Rei dos Encantados consumaria a união mística para fundar o grande Império Brasileiro. Rosa, enfim, seria o rastro de salvação dos eleitos no triunfanteevento do fim dos tempos, inundando as almas de esperança. Assim, cumpriu o enredo de uma vida e agora estava liberta para se tornar a própria Santa na qual se refletia.

Uma Santa Negra no Céu

E lá no firmamento, aonde as águas do dilúvio a arrebataram, um concerto de marimbas e candombes a aclamou em sua saga de fé. Guardas da Santa Coroa, empunhando fitas e bandeiras, uniram-se em batuquespara louvar à Santíssima africana que um dia viveu cercada de mistérios e virtudes em uma terra tão plena de vícios quanto de credos.

Folguedos desfilaram em louvor à mulher que virou divindade, em sagrado cortejo de canonização popular. Nos jardins do Palácio Celeste, ela se enxergou em cada rosa que desafia a sorte, insiste em rachar o chão e brota da aridez.

E no altar do Divino, todo enfeitado de flor, a mais belaRosa orna a coroa do Senhor.

Não é uma rosa qualquer. É a Rosa que o povo aclamou!

Autor do Enredo e Carnavalesco: Tarcísio Zanon

Inspirado no livro “Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil”, de Luiz Mott

Texto: João Gustavo Melo

Referências:

ARARIPE JÚNIOR, Tristão de Alencar. O Reino Encantado: crônica sebastianista. Editor do Organizador, 2017.

ANTAN, Leonardo. Laroyê, Xica da Silva: narrativas encruzilhadas de uma incorporação no carnaval carioca. Nova Iguaçu: Carnavalize, 2021.

MARANHÃO, Heloísa. Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1997.

MOTT, Luiz. Rosa Egipcíaca: uma santa africana no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993.

MOTT, Luiz. Acotundá: raízes setecentistas do sincretismo religioso afro-brasileiro, In Escravidão, Homossexualidade e Demonologia. S. Paulo: ícone, 1988, pp. 87-118.

PERES, Eraldo. FÉsta Brasileira: folias, romarias e congadas. São Paulo: Editora Senac, 2010.

SIMAS, Luiz Antônio. Almanaque de Brasilidades: um inventário do Brasil popular. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2018.

SOUSA, Giulliano Glória de. Negros feiticeiros das Geraes: práticas mágicas africanas e repressão em Minas Gerais na segunda metade do século XVIII. Anais da Anpuh. Mariana (MG), 2012.  

‘Delírios de um paraíso vermelho’ é o enredo do Salgueiro para o Carnaval 2023

Enredo: ‘Delírios de um paraíso vermelho’

PRÓLOGO

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No princípio era o verbo. E os verbos e as gírias estavam com o povo, eram o povo, que descia o morro para transformar a rua em palco. Artistas de uma opulenta ópera popular chamada escola de samba, regida por um maestro/profeta que banhou de luxo a miséria e escancarou aflições escondidas em folhas de jornal.

Pelas mãos do profeta João esfarrapados ganharam ar de nobreza e protagonismo. Suas visões misturaram paraísos e infernos. Opostos que se atraem e se reinventam.

O evangelho segundo o João do povo teve suas primeiras páginas escritas na Academia do Samba e pregou que a regra é ousar. Seus delírios etéreos gozavam de intensa liberdade, não cabendo em si ou em julgamentos outros. Sem proibição ou pecado — abolir o não, purgar os preconceitos. A arte é para fazer sonhar, riqueza que não cabe em uma caixa ou que possa estar encarcerada nos porões de mentes tacanhas.

As epístolas deixadas ainda conduzem o reino do carnaval. Quem aprendeu em suas escrituras sabe bem que a alforria é soberana e que o encantamento e as inquietações provocadas pela criação e manifestação artística são elementos fundamentais de sanidade, capazes de provar que a fantasia é uma grande realidade.

João 30:90

DELÍRIOS DE UM PARAÍSO VERMELHO

O misterioso pórtico ergue-se da página em branco do universo. Por detrás de suas portas maciças, cuidadosamente entalhadas por nobre criador, a mais sublime obra de arte: as faces de um novo mundo. Superfície coberta por jardins que atravessam o horizonte, contorno sem fim. Paraíso protegido, íntegro. Em uma exuberância desmedida brotam árvores, folhas e flores de suntuoso encantamento. Os frutos ostentam tenra suculência, despertam apetite inesgotável. Até onde os olhos alcançam tudo é deslumbrante.

Frondosa e exótica, a natureza se impõe guardiã da sabedoria. O paraíso, ao contrário do que relatam os livros, se expande em tons de vermelho, em ricas cores vivas, fortes e sedutoras, que tingem a terra e o céu.

Entre barro e costela levantam-se as primeiras criaturas. Imagem e semelhança divina, testemunhas únicas a experienciar a excelência do Éden, os mistérios guardados no paraíso original. Adão e Eva, nativos afortunados, são retrato do bom selvagem, carregam em si a pureza em estado bruto, a inocência cercada de curiosidade. Cada descoberta é magnífica: tudo é estranho e familiar. No paraíso, o real e o fantástico se frequentam, o vento fresco tem perfume de liberdade. Os corpos dançam fluidos, percorrem o ambiente livres para as ilusões.

Vagueiam pelos campos sem contar que em sua sombra espia-lhes a ira. Furtiva criatura a invadir sorrateira a calmaria do Éden. Dissimulada aos olhos e nas palavras, transfigura verdades e mentiras, destila veneno poderoso e ludibria talentosa a pureza nativa. Sedutora serpente de língua afiada, faz florescer na mínima censura a mais tenra tentação. De tantas árvores e tantos frutos, somente aquela, proibida, há de revelar os segredos da vida, de preencher a ignorância com sabedoria.

No afã por intensidade, em uma mordida, o vermelho perde a cor, a exuberância míngua. No perigo maior do paraíso, a perda. Fruto da desobediência, agora pecado original. O pórtico se fecha e o Éden esvanece. Paraíso perdido, herança primeira da humanidade, expatriada da perfeição por ser facilmente corrompida.

O ser humano é filho da queda, desorientado pela condenação aos limites mundanos. Aqui na Terra, jardim dos exilados, o inferno são os outros. A cada juízo, uma condenação. Tudo é perversão e pecado. Tudo é proibido. Grandes olhos vigiam a vida dos outros e sentenciam à margem quem desafia os “costumes”: exclusão, apagamento. A obediência anda incorporada na culpa.

Quem há de ter pecado maior?

Uma luta de vaidades se manifesta e entre a inveja e a ira os homens se afrontam. Onde antes dava valor, hoje boto preço. Vendo barato minha dignidade, pois meu paraíso são meus bens. Notícias de tempos corrompidos, dos prazeres da carne, da gula devastadora e da preguiça moral. Relatos de períodos obscuros e frios.

A esperança renasce na fé, na ponta da espada, duelo do bem contra o mal. Na luta diária contra as cabeças de um dragão insaciável pelo sofrimento. Com a batalha armada, põe-se entre nós a cavalgada do fim dos tempos. É ensurdecedor o som do galope austero dos cavaleiros do apocalipse se misturando nas ruas, despertando dores e espalhando terror. Vendem a paz que não queremos, propagam o conflito. Devastam, destroem, espalham a escassez e a fome. E nessa irradiação do caos, a morte é a verdade anunciada.

A velha barca para o inferno tem uma nova diretriz: a redenção vem para os renegados. Os crucificados, os doloridos: uma multidão marginalizada aos olhos dos homens. Seus demônios caíram por terra.

Louvados sejam os excluídos!
Louvados sejam os rejeitados!

A compaixão lhes aguarda no novo Éden. Reluz em tons fortes de vermelho, renasce de amores e sonhos. Portas abertas a quem tem fome e sede de infinito. Entrem e sejam tomados pelo êxtase de um paraíso em festa, efusivo como uma interminável noite de carnaval. Lugar de desejos e das individualidades. Caldeirão de diversidade. Paraíso dos devaneios, da liberdade democrática das ruas, da comunhão entre todos, onde a fantasia se mistura com a realidade. O que era aparente ilusão hoje alimenta os olhos, preenche do corpo à alma: a fartura, a união, o respeito. Ouse imaginar um paraíso “carnevale”, salgueirense, em que a celebração é a fonte da vida eterna. No lugar das trombetas, tambores da Furiosa dão as boas vindas e pedem passagem para toda a gente.

Ainda que a mesma história fosse contada setenta vezes ou ilustrada por trinta mãos talentosas, seria difícil fantasiar esse lugar de reencontro com a liberdade, onde o pecado não mora mais ao lado, pois o sagrado e o profano se misturam, são tão mundanos quanto divinos, fontes de um mesmo criador. Apenas abra os olhos e flutue pelos encantos e delírios do novo paraíso vermelho, pulsante como a Academia do Samba, viva de desejos e prazeres.

Autoria do Enredo: Edson Pereira
Pesquisa e Desenvolvimento: Edson Pereira, Ruan Rocha, Lucas Abelha, Victor Brito e Departamento Cultural.
Roteiro: Edson Pereira e Ruan Rocha

Em sinopse divulgada, Imperatriz apresenta uma visão de Lampião inspirada em literatura de cordel

A Imperatriz teve seu primeiro encontro de trabalho com os compositores visando a produção do samba que vai embalar o desfile de 2022. Na noite de quarta-feira a Verde e Branca de Ramos apresentou na quadra e divulgou nas redes sociais a sinopse completa para o enredo “O arrepeio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida”. Presentes na mesa estavam a presidente Cátia Drumond, o diretor executivo, João Felipe Drumond, o carnavalesco Leandro Vieira, o diretor de carnaval, Mauro Amorim, o diretor musical Pedro Miguel e um dos coordenadores de carnaval André Bonatte. Antes de entrar no tema do enredo propriamente dito, o carnavalesco Leandro Vieira fez questão de demonstrar a sua felicidade de poder produzir na Imperatriz um enredo autoral e ter esse contato com a ala de compositores. Em 2020, em sua primeira passagem pela agremiação, a diretoria da Rainha de Ramos preferiu trabalhar com a reedição do samba de 1981 “Só Dá Lalá”. * LEIA AQUI A SINOPSE DO ENREDO DA IMPERATRIZ

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Fotos: Lucas Santos/Site CARNAVALESCO

“Eu preciso falar da minha alegria de voltar a esta quadra para poder apresentar um enredo. Eu tive uma passagem aqui em 2020, que foi uma passagem muito alegre, muito feliz na minha trajetória de trabalho. Mas foi uma trajetória que talvez não tenha sido tão feliz porque eu não tive a oportunidade de apresentar um enredo para ter o privilégio de diante dos compositores da Imperatriz Leopoldinense, ouvir coisas que vocês pudessem ter escrito a partir de ideias que eu pudesse propor a vocês. E acho que traz uma frustração para qualquer carnavalesco que pensa em propor algo para a Imperatriz e que não tem a possibilidade de ouvir as propostas dos compositores da Imperatriz porque a gente está falando de uma ala que tem uma sequência de clássicos do carnaval e quem gosta do carnaval certamente gosta do que a Imperatriz Leopoldinense apresenta”, apontou Leandro.

O carnavalesco explicou antes da leitura da sinopse propriamente dita o fio condutor do desfile da Imperatriz que está baseado em dois cordéis ” A chegada de Lampião no inferno” e “O grande debate que teve Lampião com São Pedro”, de José Pacheco.

“Eu misturei alguns cordéis para que a gente pudesse vislumbrar a chegada de Lampião, uma figura histórica muito bem definida, muito presente no imaginário de todo mundo. Essa figura morreu e foi ao inferno, e foi ao céu. Não conseguiu abrigo em nenhum desses lugares. Existem dois cordéis muito famosos a respeito desse fato, que dizem que o Lampião foi ao inferno e o diabo não quis concorrência, botou ele para fora, e foi ao céu. Em função da vida de Lampião na Terra, São Pedro não deixou que ele ficasse. Nos dois ambientes ele causou uma confusão tamanha. E por não ficar no céu e nem no inferno, ele foi parar em algum lugar, esse algum lugar que ele foi parar é o desfecho do nosso carnaval”, explica o carnavalesco.

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Esse lugar citado pelo carnavalesco está explicado na sinopse no trecho em que Leandro apresenta Lampião descendo a terra e sua relação com Luiz Gonzaga. O carnavalesco também colocou aos compositores o seu pedido para que os artistas não sucumbissem a cair em um lugar comum que muitas vezes é apresentado quando se compõe para um enredo que fala de algo relacionado ao Nordeste.

“Acho que os compositores já devem ter ouvido isso ‘ah cordel, o Salgueiro já fez’ , ‘ah Lampião de novo’, ‘ o cangaço de novo’, ‘ah, é forró’. Isso é uma bobagem. Essa bobagem ela deve ser repensada, inclusive pelos compositores, porque isso que está sendo proposto não foi feito. O problema é quando o que vai ser cantado recorre a um pensamento que já foi visitado. Então, quando a gente pensa nesse tipo de universo , as pessoas pensam logo em um vocabulário muito recorrente, por exemplo “ô xente’, ‘vishi Maria’, isso é tratar o tema de uma maneira recorrente , comum, ‘misturar samba com forró’, isso é ser recorrente, isso é estar envolvido com coisas que já foram feitas, inclusive isso é tratar o Nordeste como uma coisa só, não respeitando sotaques que são próprios de determinadas regiões, não respeitando a diferenciação rítmica, achando que forró e xaxado é a mesma coisa”.

O carnavalesco também acrescentou que procurou desenvolver o texto da sinopse apresentando variedades de expressões que pudessem ajudar os compositores a entrar em um universo mais específico daquele contado no enredo.

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“A sinopse é toda construída com palavras com sabores sertanejos, com a cultura do sertão, eu quis colher na pesquisa muitas palavras com sabores específicos que é para sugerir que a gente tenha uma repertório linguístico, uma cultura oral que não se limita a um vocabulário comum, tradicionalmente associado a cultura nordestina. Acho que a Imperatriz também é uma escola muito acostumada a contar versões históricas com cunho delirante. Não seria a primeira vez que a Imperatriz iria apresentar algo que tem uma percepção delirante a respeito da história oficial”, acredita o artista.

Também antes da leitura da sinopse, o diretor executivo da Imperatriz Leopoldinense,João Felipe Drumond, fez um apelo aos compositores sobre a aceitação dos resultados que vão acontecer ao final da disputa de sambas.

“Este trabalho tem um único objetivo que é ver a Imperatriz novamente campeã do carnaval. Vai ganhar o melhor samba. Para evitar qualquer tipo de fofoca, e intriga, o pedido que eu faço aos senhores e às senhoras é que a gente tenha uma disputa limpa, respeitosa e que se respeite as decisões que serão tomadas pela escola porque elas são única e exclusivamente para o bem da agremiação. Estamos muito confiantes e eu desejo boa sorte aos compositores”, finalizou João.

Em discurso, o diretor de carnaval Mauro Amorim também desejou boa sorte aos compositores e fez questão de ressaltar a qualidade da sinopse apresentada.

“Desejo sorte e sucesso a todos vocês compositores, que estejam muito iluminados, contamos muito com o trabalho de cada um nesse maravilhoso enredo, retratado nessa maravilhosa sinopse, espero que gostem”.

Datas para entrega de samba e regulamento

Durante o evento de apresentação e leitura da sinopse, também foram divulgadas informações sobre a disputa de samba. A entrega dos sambas será no dia 25 de agosto na quadra da escola de 20h às 22h. No dia 04 de setembro os sambas serão apresentados na feijoada da escola. O sorteio da ordem de apresentação acontecerá ao final da entrega das obras no próprio dia 25 de agosto. Antes destas datas a escola ainda fará cinco tira-dúvidas nos dias 12,19 e 27 de julho e nos dias 02 e 09 de agosto. A escola trabalha com oito datas para as eliminatórias, sempre às sextas-feiras.

As regras para a disputa de samba são as seguintes:

Parcerias
01 O concurso de samba-enredo do GRES Imperatriz Leopoldinense é aberto, ou seja, não é obrigatório aos autores serem membros efetivos da ala de compositores do GRESIL, assim como não é impeditivo que o mesmo tenha obras inscritas em outros concursos de Samba-enredo, no Grupo Especial ou qualquer outro grupo ou liga carnavalesca.

02 As parcerias poderão ser formadas com no máximo seis compositores, sendo facultativa a presença de, no máximo, duas participações especiais.

a) Apenas os autores qualificados como compositores terão seus nomes no CD ou em qualquer outra mídia e veículo oficial de divulgação após a escolha do samba.

b) Todas as questões financeiras são de responsabilidade exclusiva das parcerias, não cabendo ao GRESIL nenhum tipo de interferência sobre valores ou divisões orçamentárias.

Inscrição dos Sambas (25/08 de 20h às 22h)

Para inscrição do Samba as parcerias deverão apresentar, obrigatoriamente:
a) 30 cópias impressas do samba
b)10 CD’s ou pendrive com o samba gravado
c) Pagar a taxa de inscrição no valor de R$ 700,00

Escolha do Samba

01 É de responsabilidade exclusiva da presidência do GRESIL junto a sua diretoria executiva a escolha do samba-enredo. Todos os segmentos da Agremiação podem se manifestar de forma democrática em favor de qualquer samba em disputa.

02 A premiação paga ao samba escolhido será dividida entre a Agremiação (50%) e a parceria vencedora (50%).

Apresentação dos Sambas

01 Serão disponibilizados no palco um total de cinco microfones para cada parceria.
02 Todos os cantores e músicos no palco são de responsabilidade da parceria, incluindo violão, cavaquinho e o surdo de marcação do andamento (pedal).
03 Não é permitido acesso ao palco a pessoas de bermuda ou camisetas do tipo regata.
04 É obrigatória que a parceria esteja apta à apresentação do seu samba no momento em que for convocada ao palco.
05 Toda utilização de efeito especial como papel picado, fogos frios, fumaça, etc, deverá ser comunicada e, consequentemente, aprovada pela direção da escola.

Divulgação dos sambas

As obras inscritas na disputa serão disponibilizadas prioritariamente nos canais oficiais da GRESIL na internet, ficando proibido aos autores sua divulgação total ou em parte antes da liberação oficial da diretoria executiva da agremiação.

Presidente da Mocidade Alegre elogia Edson Pereira e explica escolha por Jorge Silveira

A Mocidade Alegre é a terceira escola com mais títulos do carnaval de São Paulo, são 10 conquistas, mas é a maior campeã dentre as escolas do Grupo Especial em 2023, afinal, Vai-Vai e Nenê de Vila Matilde estão no Grupo de Acesso. A presidente Solange Cruz analisou o resultado em 2022, explicou a troca no carnavalesco, e fez mistério sobre enredo e outras mudanças na escola.

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Foto: Vinicius Vasconcelos/Site CARNAVALESCO

Vice-campeã do carnaval de 2022, a Mocidade Alegre liderou a apuração quase inteira e com dois 9.9 em alegoria, acabou perdendo o título para a Mancha Verde. A presidente Solange não discordou desta nota, e sim de uma relacionada a bateria, um 9.9.

“Não respondo antes, pois a gente precisa realmente esperar as justificativas, o que foi e o que não foi. Na realidade algumas notas, a Mocidade realmente mereceu, determinadas colocações dos jurados. Em outras não, como na bateria, é claro que até a própria pessoa que deu o curso falou que estava errado realmente. E não é porque o Sombra é meu marido não, a Mocidade Alegre ela já teve várias situações diferentes disso, independentemente de qualquer coisa. Mas enfim, estamos aí e vamos em frente, firme no propósito agora é 2023”.

A Morada do Samba trocou o carnavalesco para 2023, Edson Pereira pelo Jorge Silveira. O artista Edson assinou o carnaval da Mocidade em 2020 e 2022, ambas com boa colocação, primeiro em terceiro lugar e depois o vice. Mas para 2023, acabou trocando de escola no Rio de Janeiro, assumiu o Salgueiro no Rio de Janeiro e ficará somente no carnaval carioca.

Enquanto Jorge Silveira, voltou para São Paulo em 2022, depois de três carnavais pela São Clemente. Para 2023, ele voltou à escola carioca que estará no Grupo de Acesso, e também mudou de casa em São Paulo. Foram quatro carnavais pela Dragões da Real. A presidente da Mocidade explicou a mudança.

“Na realidade, o Edson tinha que ter uma exclusividade no Rio para não ficar vindo para lá e pra cá. E a gente respeita, é um grande amigo que a Mocidade adquiriu, gosto muito dele, a gente tem um relacionamento super bom. Mas tínhamos que escolher alguém, e o Jorge (Silveira) tem referências muito boas em São Paulo, um grande carnavalesco e aí crescemos esse olho para o lado de lá, daí trouxemos ele para a Morada do Samba”.

Sobre o enredo, Solange foi misteriosa: “Olha, a única coisa que posso dizer para vocês, é um enredo do carnavalesco. A gente adquiriu, adorou, e vai dar tudo certo. A única coisa que posso dizer para vocês é que a gente pode ser o que a gente quiser”.

Assim como o enredo, as outras mudanças que a escola fez, serão divulgadas somente nesa quinta-feira: “Mudamos algumas coisas, mas no decorrer vocês vão saber, no dia 30 a gente fala tudo”.

A Mocidade foi tri campeã seguida de 2012 até 2014, de lá para cá, foram três vices em 2015, 2018 e 2022. Ou seja, a escola quer voltar ao caminho do título, já são 10 conquistas em sua história. Para isso, será a quinta escola do sábado, 18 de fevereiro.

Portela abre a ala de compositores para a disputa de samba-enredo do centenário

A Portela realizou na noite de quarta-feira a explanação da sinopse do enredo da escola para o próximo carnaval. Em 2023 a agremiação irá contar a sua história desde a fundação com os personagens que fizeram e fazem parte do centenário. Com o enredo “O azul que vem do infinito”, que será desenvolvido pelo casal de carnavalescos, Márcia e Renato Lage, a Águia Altaneira de Oswaldo Cruz e Madureira irá de encontro com as suas raízes desde Paulo Benjamin de Oliveira. * LEIA AQUI A SINOPSE DO ENREDO

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Foto: Ingrid Marins/Site CARNAVALESCO

Para a disputa de samba-enredo do centenário, a Portela decidiu dar um passo além, visando a modernidade. Sua famosa ala de compositores está aberta e todos vão poder participar da competição de sambas para 2023. Ou seja, os compositores podem assinar samba na escola e em qualquer outra do Grupo Especial. Por conta da pandemia, a disputa do último carnaval teve algumas restrições, mas para 2023 fizeram algumas mudanças.

  • Liberação da gravação de videoclipes de cada samba concorrente;
  • Número máximo de compositores: Seis compositores em cada parceria (não pode ter participação especial – a pedido dos compositores, a escola ainda estudará aumentar ou não o limite);
  • Intérprete: Cada parceria só irá poder levar um intérprete do Grupo Especial;
  • Cada parceria pode levar a sua torcida e também distribuir camisas do samba.

A entrega dos sambas será feita no dia 02 de agosto, na quadra da escola, das 18h às 22h. Se a parceria tiver três pessoas da ala de compositores Ary do Cavaco, a taxa de inscrição é de R$ 500 e se for com pessoas de fora ou tiver menos de três pessoas da ala, o valor é de R$ 2 mil. Os cortes de samba irão ocorrer aos domingos e ainda não tem uma data estabelecida de semifinal e final das disputas, pois aguardam a decisão da Liesa com a TV Globo sobre o programa “Seleção do Samba.

Em entrevista ao site CARNAVALESCO, o presidente da Portela, Fábio Pavão, explicou a decisão de abrir a ala de compositores. “A Portela era uma das poucas escolas que resistia a essa mudança, mas chegou o momento em que foi necessário. A escola não pode nadar contra a correnteza, as disputas de samba assumiram um formato e a Portela estava indo na contramão disso. O que fizemos foi se adequar ao modelo da nossa disputa com o das outras escolas”.

Para o vice-presidente, Júnior Escafura, foi preciso se modernizar, pois todas as escolas têm as suas alas de compositores abertas e na Portela não poderia ser diferente. “Compositor de todo o Brasil quer participar da disputa e a gente entende que é um ano especial, é o centenário da Portela e todos estão convidados a participar”, informa.

A Portela foi por muito tempo conhecida em não abrir a sua ala de compositores, mas para o presidente Fábio Pavão esse novo modelo vai ser produtivo para a disputa da escola, em que terão sambas de qualidade. E que isso também não é fugir da tradição.

“A tradição não pode ser uma âncora que nos prenda ao passado, ela tem que ser o farol que ilumina o nosso futuro. Temos que usá-la, mudar sim, pois o mundo muda e as escolas de samba não são as mesmas que eram na década de 1950, 1960, 1970, 1980 e por aí vai. As escolas de samba estão em constante transformação e a tradição pode ser mantida no sentido em que vamos permanecer sendo a Portela. Com os nossos valores, preservando nossos baluartes e a nossa história. A gente entende que o carnaval mudou, foi para um outro caminho em relação às disputas e nós estamos nos adequando a essa mudança. Tudo se transforma”, afirma Pavão.

Protesto? Barracão da Beija-Flor amanhece pichado e intriga torcedores da escola

O barracão da Beija-Flor, localizado na Cidade do Samba, Zona Portuária do Rio, amanheceu pichado nesta quinta-feira. Uma das entradas do local, que dá acesso à lojinha da escola, foi interditada com um tapume grafitado com palavras de protesto: “Direitos iguais”, “O Brasil está com fome”, “Reforma agrária”, “Educação” e “Trabalho digno” foram alguns dos dizeres escritos. Ainda não há informações completas sobre a intervenção.

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Até mesmo o banner com o enredo da agremiação para o Carnaval 2022 (“Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”) foi pichado. Em cima da imagem, foi escrito “BF 23”, o que parece ser uma alusão ao próximo enredo da azul e branca.

Vale lembrar que a azul e branca de Nilópolis ainda não anunciou o tema do desfile do ano que vem. Nos últimos dias, a escola vem dando pistas do que levará para a Avenida em 2023 com uma série chamada “A Beija-Flor em movimento”, relembrando seus desfiles de temática crítica ou social. Somente publicações com conteúdos desse tipo estão disponíveis na página oficial da agremiação no Instagram — o resto desapareceu.

Relacionado ou não à intervenção no barracão, o mistério em torno do enredo da “Deusa da Passarela” deve chegar ao fim neste sábado, durante feijoada na quadra da escola. O anúncio foi feito pelo presidente Almir Reis, que participou do podcast “Só Se For Agora”, comandando pelo presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro, na última segunda-feira, 27.

Xangô Aganjú é o enredo da Unidos de Bangu para 2023

A Unidos de Bangu já tem enredo para 2023. Sob o título “Aganjú… A visão do fogo, a voz do trovão no Reino de Oyó”, de autoria do carnavalesco Robson Goulart, a escola da Zona Oeste vai contar a história de uma qualidade de Xangô, o orixá da justiça. O tema foi revelado na noite desta quarta-feira, 29, dia de São Pedro, que é sincretizado com a entidade nas religiões de matriz africana, em evento para convidados, na Zona Oeste.

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Robson Goulart explica um pouco sobre o enredo. Para ele, a escola vai caminhar por curiosidades sobre o orixá, entrando nos ritos e festejos que são pouco conhecidos pelo grande público.

“A escolha de falar de uma qualidade do orixá já se torna um diferencial na leitura, pois Aganju, por ser um Xangô menino, apresenta fatos e lendas relacionadas que pouco foram mostradas. Na nossa construção narrativa, vamos focar muito nos costumes e danças, deixando de lado o tradicional. Focaremos nos festejos relacionados a Aganju, passando pelo sincretismo, que é relacionado às festas de São João e São Pedro”, sintetiza o carnavalesco.

Em 2022, a Unidos de Bangu terminou a Série Ouro na sétima colocação ao homenagear Castor de Andrade. Desde que voltou à Sapucaí, este será o terceiro enredo com temática afro da escola. Anteriormente, foram apresentados “A travessia da Calunga Grande e a nobreza negra do Brasil”, em 2018, e “Memória de um Griô: a diáspora africana numa idade nada moderna e muito menos contemporânea”, em 2020.