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Beija-Flor ganha reforço do pesquisador Mauro Cordeiro

Para repetir o feito do último carnaval, quando gabaritou o quesito enredo, a Beija-Flor de Nilópolis reforçou ainda seu time e ganhou a contribuição de Mauro Cordeiro. O pesquisador é um dos autores do enredo para 2023 (“Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência”, lançado no início de julho) e vem trabalhando ao lado dos carnavalescos Alexandre Louzada e André Rodrigues no aprofundamento do tema. * LEIA AQUI A SINOPSE DO ENREDO DA BEIJA-FLOR

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Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Beija-Flor

Mauro é licenciado em Ciências Sociais pela UFRRJ e mestre pela PUC-Rio. Atualmente, cursa Doutorado em Antropologia na UFRJ e também é professor substituto da UFPI e efetivo da Seeduc-RJ, atuando no ensino superior e na educação básica.

O pesquisador ainda é um dos fundadores do movimento Pensamento Social do Samba, onde ministra aulas, cursos e oficinas acerca do universo das agremiações do Rio de Janeiro. Suas pesquisas valorizam o caráter associativo e territorial das escolas de samba, compreendidas como expressões afrodiaspóricas.

“Tem sido uma experiência incrível trabalhar com o André, um amigo que é, antes de tudo, um artista que admiro, e também com o Alexandre, carnavalesco fundamental na história da festa e que dispensa apresentações”, disse Mauro, que completou: “Esta oportunidade de construir a narrativa do desfile de uma escola com o tamanho da Beija-Flor é uma responsabilidade gigantesca, mas tenho muita convicção no trabalho que estamos desenvolvendo”.

Grande Rio anuncia calendário da disputa de sambas e espera samba festivo para homenagear Zeca Pagodinho

A Acadêmicos do Grande Rio, atual campeã do carnaval carioca, levará para a avenida no próximo ano o enredo em homenagem a Zeca Pagodinho, com “Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar!”, a escola passará por momentos da vida do cantor e compositor, a proposta é ser o menos formal possível e é isso que a agremiação espera dos sambas concorrentes. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o diretor de carnaval, Thiago Monteiro, espera sambas leves, com bastante malandragem e que seja a cara de Zeca. * LEIA AQUI A SINOPSE DO ENREDO DA GRANDE RIO

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Foto: Luan Costa/Site CARNAVALESCO

“Acho que esse enredo vai nos proporcionar ter um bom samba, um samba leve, um samba malandro, um samba que é a cara do Zeca, né? Eu acho que o formalismo passa longe do samba desse ano. Agora como todos os anos a gente tá focado na disputa e nas obras, não é na pirotecnia das parcerias, não é no no melhor cantor do mundo que o cara tá especializado em defender samba de disputa, a gente tá focado é nas obras, acho que a partir do momento que a gente olha pras obras, olha com carinho, pra qualidade dela, a gente consegue junto com a presidência escolher a melhor obra. Então a gente quer que o samba que seja escolhido dialogue não mais do que nunca com o enredo. Zeca Pagodinho é leve, o nosso enredo é uma crônica, enfim, é uma grande festa que a gente ainda está festejando junto com o Zeca pro campeonato, então tem que ir nessa linha o nosso samba”, conta Thiago.

Nos últimos dois carnavais, a Grande Rio tem se destacado no quesito samba enredo, agora, em busca do bicampeonato, o desafio é ainda maior, sobre o regulamento da disputa, Thiago conta que pouca mudou do último ano e que o Evandro Malandro continua gravando os sambas concorrentes, a maior mudança é a exigência de que o samba na gravação comece a ser cantado até o segundo 20, para o diretor, a ideia é evitar alusivos grandes, ou músicas do Zeca, o que interessa para a escola é a obra na voz do intérprete oficial.

“A gente pretende fazer como nos outros anos, não vai mexer muito não, a gente vai ter quatro datas. O que já caracteriza nossa disputa de alguns anos é não ter obrigatoriedade de torcida, os companheiros podem trazer, mas a escola não exige, a primeira data é 13 de setembro. A gente pretende levar 10 sambas pra quadra. O Evandro Malandro continua gravando todos os sambas. Tem uma novidade esse ano nos áudios, que a escola vai receber, a gente quer que os sambas comecem a ser cantados principalmente até o segundo vinte. Porque o que nos interessa é ouvir o samba. Ouvir muito alusivo, ouvir a música do homenageado que é maravilhosa, mas não pro concurso, não é o foco, então é o Evandro gravando todos os sambas, isso com um valor abaixo do valor de mercado, na disputa na quadra não pode cantor do Especial, oficial do Especial, só cantor do Acesso ao Especial de outros outras praças, isso a Grande Rio já vem mantendo. A única novidade esse ano é essa questão dos áudios começarem com até vinte segundos o samba pra gente ouvir logo o samba e na voz do Evandro”, destaca Thiago.

Confira abaixo o calendário do concurso:
22 de agosto – Inscrição dos sambas – Das 20h à 0h;
05 de Setembro – Divulgação dos sambas classificados para a apresentação na quadra;
13 de Setembro – 1º Eliminatória – 20h
22 de Setembro – 2º eliminatória – 20h
01 de Outubro – 3º eliminatória – 20h
08 de Outubro – Final – 22h
* Caso ocorra o programa Seleção do Samba, da Rede Globo, o dia 08 de outubro
consistirá na semifinal do concurso.

Conheça os integrantes eleitos para escola de samba dos sonhos

O site CARNAVALESCO realizou uma pesquisa, chamada de “Presidente por um dia” com seus leitores e eles tiveram a oportunidade de definirem suas escolas de samba dos sonhos. Foram escolhidos: presidente, carnavalesco, intérprete, coreógrafo da comissão de frente, mestre de bateria, diretor de carnaval, diretor da ala de passistas, mestre-sala e porta-bandeira, diretor de harmonia, rainha de bateria e três compositores para serem os autores do samba-enredo.

A votação foi feita somente com os nossos leitores. No dia 1º de setembro, quando o site CARNAVALESCO completará 15 anos, vamos fazer a diplomação dos vencedores. Esse projeto faz parte da primeira iniciativa visando nosso aniversário de 15 anos. A segunda será a escolha dos desfiles do século. A partir da segunda quinzena de julho abriremos a votação.

Veja os integrantes da escola dos sonhos

Pedidos de Natal

Presidentes: Marcelinho Calil (Viradouro) e Almir Reis (Beija-Flor). Ambos ficaram empatados com 38% dos votos. O primeiro foi eleito por duas vezes consecutivas o gestor do ano, conquistou o carnaval de 2020, o vice em 2019 e foi terceiro lugar em 2022. O segundo, eleito em abril de 2021 para o comando da Beija-Flor de Nilópolis, vem se destacando no resgate da comunidade e ficou na segunda colocação no Grupo Especial no desfile deste ano.

Mestre de Bateria: Ciça (Viradouro). Comandante da bateria “Furacão Vermelho e Branco”, um dos principais mestre de bateria da história do carnaval, Ciça é querido por ritmitas e sambistas de todas escolas de samba. Sempre humilde, o popular “Caveira” venceu com mais de 50% dos votos.

Intérprete: Neguinho da Beija-Flor. O principal sambista vivo do carnaval, Neguinho é uma lenda de Nilópolis para o mundo. Na categoria muito disputada, ele venceu com 41% dos votos.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Claudinho e Selminha (Beija-Flor). Era possível escolher um mestre-sala de uma escola e a porta-bandeira de outra. Porém, Claudinho e Selminha Sorriso, da Beija-Flor, venceram como dupla. São mais de 30 anos de serviços prestados para arte e cultura do carnaval. Donos de diversos títulos e premiações, eles foram escolhidos para equipe dos sonhos.

Diretor de Carnaval: Dudu Azevedo (Beija-Flor). Com passagens por grandes agremiações e agora na escola de Nilópolis, ele venceu uma categoria bastante acirrada.

Diretor da Ala de Passistas: Carlinhos Salgueiro. Outra categoria com disputa bastante acirrada. Carlinhos, diretor da ala de passistas do Salgueiro e do grupo de maculelê da vermelha e branca, foi o escolhido do público.

Rainha de Bateria: Mayara Lima (Tuiuti). Principal personagem do pré-carnaval de 2022, ela superou outras grandes rainhas e ganhou a preferência do público.

Diretor de Harmonia: Junior Escafura (Portela). Hoje, vice-presidente da Portela, ele foi eleito por uma vantagem mínima de 3% contra Simone e Válber, da Beija-Flor.

Carnavalescos (Gabriel Haddad, Leonardo Bora e Leandro Vieira): A escola de samba dos sonhos terá um trio responsável pelo desfile. Houve um empate com 34% dos votos para a dupla da Grande Rio, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, com o carnavalesco Leandro Vieira, da Imperatriz.

Coreógrafos da Comissão de Frente (Priscila Motta e Rodrigo Negri): Apelidado de “Casal Segredo”, os coreógrafos Priscila Motta e Rodrigo Negri, que estão na Viradouro, venceram uma disputa muito apertada com outros grandes coreógrafos.

Compositores (André Diniz, Arlindinho e Cláudio Russo): O samba-enredo da escola dos sonhos é assinado por André Diniz, Cláudio Russo e Arlindinho.

Vem aí uma Mangueira renovada para o Carnaval 2023

A Estação Primeira de Mangueira realizou uma bonita festa na tarde do último sábado para apresentar oficialmente sua nova diretoria administrativa, comandada pela presidenta Guanayra Firmino, e também a equipe de carnaval, principalmente os novos contratados para os segmentos do próximo ano. O destaque vai para a dupla de carnavalescos Guilherme Estevão, vindo do Império da Tijuca e Annik Salmon, contratada da Porto da Pedra, apostas da diretoria vindas do Grupo de Acesso.

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Fotos: Lucas Santos/CARNAVALESCO

Após a apresentação dos membros da diretoria e dos segmentos, a presidenta da escola foi chamada ao palco para também dizer algumas palavras à comunidade e comentou seu jeito discreto de trabalhar e sua atuação firme na Mangueira que já vem de algumas diretorias.

“Eu estou aqui desde que eu nasci, mas há nove anos, através do desafio do meu irmão Chiquinho da Mangueira, eu voltei para a administração da Mangueira. Eu sempre trabalhei nos bastidores. Aí eu fui vice do Elias (Riche), continuei nos bastidores. E, eu presidenta vou continuar nos bastidores também. Porque a gente não precisa estar no palco para fazer alguma coisa . Trabalhar ‘independe’ de aparecer ou não”, concluiu a dirigente.

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A dupla de carnavalescos recém chegados de viagem à Bahia para desenvolvimento do enredo, se mostrou já bastante entrosada com a comunidade. Emocionada, a carnavalesca Annik Salmon agradeceu todo o carinho que recebeu junto com Gui Estevão e prometeu fazer de tudo para buscar o título.

“Hoje a felicidade e a emoção estão tomando conta. Muito obrigada. A gente está trabalhando muito, vocês podem ter certeza que a gente está fazendo de tudo para trazer o carnaval para a escola”.

Entrosados também no discurso, Guilherme repetiu a promessa de Annik em relação a busca de título no próximo carnaval, ainda falando também da grandiosidade que este momento representa na carreira.

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“Boa noite nação, é uma felicidade enorme estar aqui com vocês, a gente está desde maio trabalhando, e esse momento aqui é o momento do encontro com vocês. E vocês não tem a noção da dimensão do que isso significa para a gente. Eu só posso agradecer por ter sido formada essa dupla que veio para somar. Nós somos um de vocês. É como se a gente tivesse nascido aqui no morro, e com esse morro que a gente vai ser campeão do carnaval 2023”, finalizou empolgado.

Uma das mais festejadas e com um fã clube gigante, a porta-bandeira Cintya Santos pouco conseguia andar após sua apresentação e primeira dança com o mestre-sala Matheus Olivério, de tanta gente que parava ela para abraçar e pedir uma foto. Ao falar pela primeira vez com sua nova comunidade, Cintya não segurou as lágrimas, teve que respirar um minuto antes de agradecer o carinho e compartilhar com todo mundo o turbilhão de sentimentos e o tamanho do orgulho que está vivendo.

cintya portabandeira mangueira

“É um momento muito importante na minha vida poder estar aqui carregando o pavilhão da Mangueira ao lado do meu mestre-sala Matheus Olivério. Muito obrigada a presidenta por acreditar em mim, eu vim da Série Ouro, gorda, e com muito orgulho, representando muitas outras porta-bandeiras. O que eu posso dizer para vocês é que se vocês tem um sonho, acreditem que ele acontece”, disse a porta-bandeira emocionando todo mundo.

O mestre-sala Matheus Olivério, que vai para o seu sexto carnaval na escola, deu as boas vindas a sua nova companheira e agradeceu a presidência por permanecer dançando na escola que tanto ama.

mangueira renovada

“Gostaria de agradecer à presidenta Guanayra por poder continuar vivendo o meu sonho. Gostaria de agradecer de modo especial a Cintya, apresento a vocês o casal furacão, muito trabalho, muita fé, e para a Mangueira eu só tenho a dizer que eu sou um filho fiel, Estação Primeira, por tua bandeira vou sempre lutar”.

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Nova coreógrafa da comissão de frente da Estação Primeira de Mangueira, Cláudia Mota terá duplo desafio em 2023, pois também será responsável pela coreografia do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Olivério e Cintya Santos. Claudia aproveitou para declarar seu carinho pela escola que vai defender o pavilhão a partir de agora.

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“Todo mundo sabe aqui, eu sempre falo, o quanto eu amo isso aqui a minha vida inteira. Eu não nasci no morro, mas nasci com o meu coração verde e rosa, e eu estou muito honrada de poder abrir o nosso desfile e também ter a honra de poder coreografar o nosso primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. E hoje a gente preparou um pouco do que a gente vai apresentar na Avenida. Obviamente com outro hino, mas a gente fez uma coreografia para vocês hoje aqui”, explicou a bailarina.

Durante o momento de apresentação da escola também foram ao palco o novo diretor de carnaval Amauri Wanzeler, o novo diretor de harmonia Helton Dias, e Tânia Bisteka, que assumiu a direção do barracão. No carro de som, além da promoção de Dowglas Diniz a intérprete oficial ao lado do renovado Marquinho Art’Samba, a Estação Primeira de Mangueira apresentou também para o time de vozes de apoio o cantor Igor Vianna, intérprete oficial da União da Ilha do Governador, do cantor e compositor Lequinho, e das vozes femininas Cacá Nascimento e Nina Rosa.

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A grande novidade do carro de som, Dowglas Diniz muito entusiasmado e emocionado no palco, também bastante aclamado pela comunidade, o cantor, em entrevista ao site CARNAVALESCO, antes da apresentação, contou que a apresentação teria uma carga emocional a mais pela perda recente da avó, grande incentivadora da sua carreira.

“Eu estou com um misto de sentimentos que eu estou tentando entender até agora porque hoje é um dia muito especial para mim, um dia que eu sempre sonhei. Faz duas semanas que eu perdi minha vó, que foi a minha grande inspiração para eu estar aqui hoje, para eu seguir esse caminho do samba. E eu estou muito feliz e ao mesmo tempo emocionado e não tenho explicação para o momento que estou vivendo hoje. Quero subir ali no palco e dar o meu melhor pela Estação Primeira de Mangueira e pela minha vó também”, prometeu Dowglas.

Bom também foi ter visto o intérprete Marquinho Art’Samba recuperado e feliz após ter passado mal por um problema de hipertensão durante o desfile em abril. Em entrevista ao site CARNAVALESCO no dia da posse da presidenta Guanayra Firmino, Marquinho ressaltou o seu carinho pelo novo parceiro Dowglas Diniz.

O Douglas a gente já vem trabalhando desde 2019, eu sempre falei com ele que um dia ele seria um cantor da Mangueira, isso não resta maior dúvida, nossa relação é de pai e filho mesmo, e agora a gente vai se ajustar, porque a grande estrela é a Estação Primeira de Mangueira”.

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O show da bateria “Tem Que Respeitar Meu Tamborim” ficou por conta da rainha Evelyn Bastos e dos novos mestres de bateria Rodrigo Explosão e Taranta Neto que também foram bastantes festejados pela comunidade quando anunciados pelo apresentador da festa.

A escola aproveitou a feijoada para também fazer a reinauguração da loja oficial da agremiação com produtos oficiais da Verde e Rosa.

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Entrevista especial ‘Eleição no Salgueiro’:Thiago Carvalho apresenta propostas para a gestão salgueirense

O Salgueiro realiza no próximo dia 17 de julho sua eleição presidencial. A oposição concorre com a chapa “Salgueirar vem de criança”. Thiago Carvalho é o candidato para presidente. Abaixo, você pode conferir uma entrevista com ele. O site CARNAVALESCO abrirá o mesmo espaço para o atual presidente, André Vaz, candidato para reeleição na Academia do Samba.

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Fotos: Lucas Santos/CARNAVALESCO

Por que ser presidente do Salgueiro?
“Por não concordar com vários problemas que a escola está passando, principalmente por não desfilar como a campeã. Quinto lugar duas vezes, sexto, amargando a pior colocação nos últimos 14 anos que vai até além da administração anterior, ela vai há duas administrações, 14 anos atrás, e ideologias”.

Conta para gente qual é a história do Thiago Carvalho dentro do Salgueiro?
“Eu cheguei no Salgueiro para desfilar em 1999 para o carnaval de 2000. Eu tinha uns 12 anos, levado por uma baiana que trabalhava na minha casa, e uma baiana que era conhecida, a mãe dela fazia as fantasias de baiana, uma família tradicional dentro do Salgueiro. Comecei em ala, na ala ‘verdes mares’, eu e minha mãe, a convite da Tia Ciça e da Tia Lindoca que eram as presidentes da ala das baianas. Elas convidaram a minha mãe para ser baiana do Salgueiro, e elas ganhavam um ticket do Seu Miro de fantasia e ela me dava. Então, passei a desfilar na comunidade. Anos depois trocou a presidência das baianas, a Fátima assumiu e ela me colocou como diretor da ala das baianas, eu tinha 15, 16 anos como diretor da ala das baianas. Depois eu sou presidente da escola Mirim, harmonia, apresentei o casal 2009, campeão. Fui responsável pelos shows da quadra do Salgueiro, trabalhei os dois últimos anos (2017 e 2018) até dezembro no marketing da escola. Minha história é bem ligada ao Salgueiro, principalmente porque eu morava na Rua Silva Teles. Eu só atravessava a rua e estava dentro da quadra. Foram 19 anos morando na Silva Teles, eu morava no 68 e a quadra é no 104”.

O Salgueiro ficou 16 anos sem título e agora está há 13 anos. O que falta para o sonhado décimo título?
“Organização na verdade, porque se você parar para analisar friamente, o corpo da escola, harmonia, direção de carnaval, bateria e comissão mudou, mas o corpo mesmo, carnavalesco, nesse período, nada mudou. No carnaval de 2018 ficou em terceiro, 2019 quinto, 2020 quinto , e agora com algumas mudanças, sexto. Falta mais organização, porque o corpo da escola, se na administração antiga foi campeão, sempre estava em segundo e terceiro lugar almejando o primeiro, eu acho que a parte é na administração mesmo”.

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Uma das maiores escolas de samba do carnaval vive em conflito político. É possível o salgueirense acreditar que após pleito o clima será de harmonia e em prol da escola?
“É possível porque eu sou Salgueiro, sou raiz da escola, fui criado ali dentro. As pessoas da escola me conhecem desde pequeno, frequentavam a minha casa. A minha casa quando a cidade do samba foi interditada, a cozinha do Salgueiro foi para a minha casa. Alas foram para a minha casa, para fazer. Todo mundo ali, harmonia, baianas, velha guarda, passistas, as pessoas frequentavam a minha casa. Compositores guardavam suas bandeiras, vários sambas, não era só um. Várias parcerias passavam o samba lá, antes de entrar para a quadra. É um salgueirense que está assumindo. E a guerra política na verdade ali não tem. É a guerra pessoal, uma guerra entre André e Regina. Para a chapa 2, a gente tem o apoio da Regina, como a gente tem o apoio do Mangano, são os dois últimos dois presidentes que deram título para a escola, são os únicos presidentes vivos. O Salgueiro só tem três presidentes vivos hoje: o Mangano, a Regina e o atual. Dos três, dois estão apoiando a gente”.

Eleito, você mantém equipe e o enredo de 2023?
“Sim, a princípio sim. Até porque os contratados , são contratados da escola, não são contratados da administração. O presidente exerce a função de ver quais são os melhores profissionais, mas eles são contratados do Salgueiro, eles não são contratados do presidente. Como eu costumo dizer, a eleição é para presidente , vice, o corpo do conselho deliberativo. Ela não é para o mestre de bateria, para o intérprete, carnavalesco. Eles são contratados da escola. Agora, a gente também não pode obrigar as pessoas a ficarem. Se tiver alguém que não esteja satisfeito, ou não queira continuar , aí a gente não pode obrigar. Mas, o meu desejo é que todos continuem. Até porque, ali, por exemplo, o Sidclei é Salgueiro, ele é raiz da escola, tem anos de Salgueiro, foi para a Grande Rio, mas voltou para o Salgueiro. Emerson é a mesma coisa. Os meninos da bateria, Gustavo foi meu mestre de bateria quando eu fui presidente da escola Mirim. Eu coloquei ele para ser mestre de bateria da Aprendizes do Salgueiro. O corpo dali é Salgueiro. E os últimos contratados que foram o Edson e o Patrick, o Patrick para mim é o 01, hoje, de comissão de frente do carnaval. E o Édson tem uma relação muito boa até mesmo com a própria Regina por causa da Unidos de Padre Miguel, fez grandes carnavais na Vila, então não tem porque não continuar. Só depende deles quererem ficar”.

Qual sua análise da equipe salgueirense para o ano que vem?
“Com certeza é uma equipe para um Salgueiro forte. A ideia é fortalecer ainda mais a escola. Óbvio, algumas coisas a gente vai ter que mudar porque eu não concordo. Um dos motivos de eu não concordar com a atual administração é o enxerto de pessoas de outras escolas dentro do Salgueiro. O Salgueiro sempre foi uma escola que cria profissionais, que lança profissionais. Por exemplo, grandes carnavalescos, intérpretes, mestres de bateria saíram do Salgueiro. Será que não tem pessoas competentes para assumir a harmonia, o departamento de carnaval? Foi colocado a segunda porta-bandeira de outra escola, tendo porta-bandeira na casa. É uma das coisas que eu não concordo. O enxerto de pessoas que não são do Salgueiro e não tem história no carnaval como profissional para assumir tal cargo. Se tiver que errar , que erre alguém da escola, a oportunidade seja para alguém da escola e não de fora”.

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Qual é o seu momento inesquecível dentro do Salgueiro?
“São muitos. Eu acho que o mais inesquecível foi 2009 quando eu venho apresentando o primeiro casal Ronaldinho, grande mestre-sala, e Gleice Simpatia, no título de 2009. Apresentar o primeiro casal é uma honra, é uma responsabilidade e a gente ainda foi campeão. Melhor impossível”.

Qual é o tamanho da importância de ter o apoio dos ex-presidentes Mangano e Regina para sua candidatura?
“A importância é total. A gente tem dois presidentes, Mangano na década de 1990, um Salgueiro grandioso, aquele Salgueiro que as pessoas achavam que não ia dar tempo, o Salgueiro tomando forma, o Salgueiro campeão de 1993, com todo respeito às co-irmãs, mas é um dos melhores carnavais, pelo menos do samba da Sapucaí. E o Salgueiro vitorioso da Regina, que é o Salgueiro campeão de novo em 2009, uma quadra feliz, contente, com aquele clima de família, harmonia, que as próprias outras escolas se sentiam bem de estar presentes. Eu continuei frequentando o Salgueiro e não vi em momento algum o mesmo abraço no carnaval, nas pessoas do samba na atualidade”.

A partir daí, caso seja eleito, o comando é do Thiago ou da Regina e Mangano?
“É do Thiago, sou eu e o Flávio (Oliveira, vice na chapa), a gente vai ter uma comissão de carnaval, de harmonia, enfim, a diretoria. O seu Mangano é benemérito da escola, a Regina teve o título cassado pela atual administração. Eles continuam, já fazem parte do corpo da escola, qualquer decisão que dependa dos beneméritos, do conselho deliberativo, o Mangano participa ativamente até hoje. E isso é estando o Thiago, estando o André, estando qualquer pessoa. É mais um apoio mesmo, até para a gente poder ficar mais forte dentro da escola e contar com todos os salgueirenses”.

Você é um cara que gosta de eventos e shows. O que faria no Salgueiro vencendo a eleição?
“Eventos, a gente vai voltar a trabalhar como eu fazia, já fazia os eventos de terça e de sexta na escola, dar uma valorizada na feijoada da escola também, trazendo grandes artistas, dando uma movimentada, voltar a fazer festa dos segmentos, festa da ala das baianas, há pouco tempo eu achava que a única festa que ainda continuava sendo realizada era da velha-guarda. Mas eu soube que nem a festa da velha-guarda teve mais. Foi cancelada em cima da hora. Assim, festas da escola, dos segmentos para receber as co-irmãs, carnaval é isso, uma grande festa, uma grande celebração”.

O lado social é fundamental para uma escola de samba. O que melhorar para comunidade e claro lá no morro do Salgueiro?
“A primeira ação social é ativar com muita urgência a Vila Olímpica. Ela está fechada há quatro anos, na qual foi alegado inclusive em assembleia, que eu estava presente, que a Vila Olímpica estava embargada. Porém, não tem um documento na porta dizendo qual o órgão que embargou, porque foi fechado. Você ia no samba sábado e você via a Vila Olímpica funcionando como estacionamento. Então, no meu entendimento quando está embargado não funciona, não abre. E se pode funcionar para estacionamento, para ensaio, porque não pode funcionar para a comunidade, para cursos, dentistas? E o outro projeto é o ‘Casa Salgueiro’, que é uma casa cultural profissionalizante, dentro do Morro do Salgueiro, para dali a gente tirar os profissionais para trabalhar no barracão, os ritmistas, passistas. Seria uma casa dentro da comunidade. No pé, no meio, ou lá em cima do morro, onde a gente conseguir esse espaço. E a última grande ação é ativar o centro cultural de frente da escola que foi denominado ” Centro Cultural Djalma Sabiá”, como realmente centro cultural. E ali ter a sala de troféus, tirar ela do camarote da presidência porque só quem tem acesso a sala de troféus do Salgueiro, é quem tem acesso ao camarote da presidência. A comunidade, os salgueirenses, ninguém tem acesso. Se colocar em um lugar que todo mundo tem acesso, no caso um centro cultural. Ter um estúdio de gravação audiovisual, exposições sobre a história do Salgueiro. Entregar o centro cultural ao departamento cultural da escola. Ali ter fotos, gravações, depoimentos, uma coisa bem cultural mesmo, com a história do Salgueiro”.

Você fala da Casa Salgueiro. O que seria?
“A Casa Salgueiro teria parcerias do governo, prefeitura, ou parceiros da escola mesmo, patrocinadores. A gente já tem o projeto pronto mesmo, só assumir a escola e ter o local. Seriam cursos de mestre-sala e porta-bandeira, de passistas, ritmistas, cavaquinho, cordas, adereços. Um espaço da comunidade, para receber as pessoas lá, cursos, um cinema ao ar livre se for o caso, um cinema para comunidade, mais ou menos isso”.

Por fim, qual mensagem você deixa para os sócios que podem votar no dia 17 na eleição salgueirense?
“Alô família Salgueirense, domingo dia 17 de julho é o pleito do Salgueiro, convoco todos vocês eleitores, salgueirenses para estarem juntos com a gente, você que não concorda , você que tem uma ideologia parecida com a nossa, você que quer o Salgueiro campeão, você que quer ver a escola brigando pelo título e não mais em quinto, sexto lugar, somente com os mesmos discursos, as mesmas desculpas. Você que quer a Vila Olímpica de volta, funcionando, projetos sociais, eventos , a comunidade dentro da escola, feliz! Conto com vocês no dia 17 na quadra do Salgueiro, nós vamos estar lá na porta fazendo uma grande celebração, uma roda de samba dos compositores que estão nos apoiando, uma roda de sambas-enredo para a gente celebrar esse grande acontecimento,se Deus quiser vai levar a gente à administração do Salgueiro para gente poder voltar a ter um Salgueiro campeão. Conto com vocês e a hora é essa, a hora da mudança, a hora do salgueirense ter a voz, a hora do salgueirense administrar”.

Presidente da Série Ouro confirma intenção de ensaios técnicos no mesmo dia que escolas do Especial

Após dirigir o sorteio que definiu a ordem de desfiles das 15 escolas da Série Ouro para o carnaval 2023, o presidente da Liga-RJ, Wallace Palhares, confirmou, em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO, que conversou com o presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro, para desenvolver a ideia de que as escolas dos dois Grupos que desfilam na Sapucaí realizem os ensaios técnicos em um mesmo dia, diferente do que aconteceu na preparação para os desfiles de 2022, quando a Série Ouro ensaiava no sábado e o Especial no domingo.

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Foto: Lucas Santos/Site CARNAVALESCO

“Conversei hoje com o presidente Perlingeiro, uma conversa muito boa, eu sou muito grato a tudo que a Liesa faz pela gente. E a gente está vendo que se faça o mesmo dia, de repente no domingo, com todas as escolas, tanto da Série Ouro, quanto do Grupo Especial, para a gente fazer uma grande festa e o ensaio técnico seja bem proveitoso tanto para Série Ouro como para o Grupo Especial”, revelou Wallace.

O dirigente também confirmou que a Liga pretende realizar outra vez esse ano a festa de divulgação dos sambas-enredo do próximo carnaval com mini-desfiles na Cidade do Samba, assim como aconteceu com o evento de divulgação do carnaval 2022.

“O que é bom tem que ser repetido. Foi muito bom, a gente quer melhorar um pouco a estrutura, algumas coisas tem que corrigir, a gente tem consciência disso. O que depender da gente vai ter sim. A gente deve fazer em dezembro próximo ao dia nacional do samba. Lógico, a gente tem que conversar com a Liesa para utilizar o espaço da Cidade do Samba, é uma grande parceria nessa grande festa”, completou Wallace.

Outros tópicos da entrevista com Wallace Palhares

Renovação com a Rede Globo
“A gente vem conversando com a Globo. A emissora está fazendo estudo dos números do último carnaval para que a gente possa voltar a falar do novo contrato. Mas sempre é uma conversa muito boa com a Tv Globo porque é um produto muito bom também, o carnaval da Série Ouro teve recordes esse ano, então só está faltando essa conversa só para poder sacramentar”.

Cidade do Samba 2
“O Eduardo Paes é o cara do samba, é o cara que olha pela gente. Então , a gente já está vendo alguns terrenos, algumas escolas já estão saindo de alguns barracões que estavam em condições desumanas, já tem um espaço legal, estão tendo esses espaços, eu estou direto com a prefeitura, realocando essas escolas, as coisas estão fluindo bem”.

Balanço do carnaval 2022 da Série Ouro
“Eu, para ser sincero, lamento muito o que houve naquele acidente (acidente na dispersão da Em Cima da Hora). Aquele acidente me tirou um pouco do meu prumo, até porque teve uma notícia veiculada com o meu nome que não é verdade. Quando eu dizia que a Liga não tinha responsabilidade, como se eu Wallace não quisesse saber de nada, e não foi bem assim. Aquilo me afetou muito no carnaval, o Wallace no pessoal. Mas, tirando isso, o balanço foi bem positivo e as escolas vieram bem equilibradas, a decisão foi por décimos”.

Gabriel David revela que ‘Seleção do Samba’ pode ser ao vivo e com público escolhido por cada escola de samba

O diretor de marketing da Liesa, Gabriel David, revelou em entrevista para Mais Carnaval que pelo segundo ano consecutivo haverá o programa “Seleção do Samba”, na TV Globo, para escolha dos sambas-enredo para o Carnaval 2023. Ele disse que não será na Cidade do Samba e que pode ser ao vivo.

gabriel david

“Será gravado em estúdio, não será na Cidade do Samba. Estamos finalizando exatamente qual será o formato do programa. Aberto para público selecionado pelas escolas e tem muita possibilidade de ser ao vivo. Isso não está 100% certo, mas tem muita chance de ser”, disse.

Sobre o sorteio da ordem dos desfiles do Grupo Especial para 2023, que acontece na segunda-feira, Gabriel David comentou a decisão da Liga de não abrir para comercialização. “A decisão é 100% do presidente da Liga de fazer evento fechado. Foi opção voltar para o modelo que ele mesmo produziu. A gente acata”.

O diretor respondeu também sobre a transmissão dos desfiles das campeãs no canal Multishow e que foi alvo de bastante críticas do público.

“Foi 100% escolha do Multishow. A equipe da Globo ficou decepcionada com o resultado. Tinha que ter alguma da minha equipe acompanhando o tempo inteiro, mas era humanamente impossível pelo tamanho da equipe na Liga. O Milton Cunha salvou a transmissão”.

Sinopse do enredo da Grande Rio sobre Zeca Pagodinho para o Carnaval 2023

Enredo: “Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar!”

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Texto de enredo para ser lido de soslaio, ao som de um samba mansinho, de preferência com sol, cerveja gelada no copo, um cavaquinho do lado, feito as crônicas de outrora, evocando Noel Rosa

“(…) o botequim é, no Rio de Janeiro, uma verdadeira instituição.”
Nei Lopes – Dicionário da Hinterlândia Carioca

Ô Zeca, tu nem imagina o tanto de perna batida! Casco, cavaco e sapato. N’alvorada da malandragem, quando os fogos ainda explodiam, as armas do Santo Guerreiro brilhavam no peito e nos dedos daqueles que são valentes, a nata, a fina-flor, dos bicolores nos pés, sobre um chão de asfalto e folia, pétalas de rosas vermelhas, parafina derretida, nobres ruas suburbanas, entre a capela e o bar. Salve Jorge, 23 de abril! Pois tu não contou pra mim que daí veio a devoção – dos anéis e medalhões, bambambãs de fama e palavra? Mesma data em que o galo cantou e o povo chamou o Ôme, sob a luz prateada da lua, em forma de um grande pandeiro, aquela de tantas lamúrias, que clareia cada despacho das macumbas das baixadas – numa casa de Caxias, num terreiro em Acari?

Seguia a cavalgada de capas encarnadas! Era hora de agradecer – mas cadê teus copos na mesa, entornando, naquela esquina? Nos trilhos dos trens da Central, o ferro dormente de Ogum, vigia que nunca falha, espada!, aquele que desce nas giras, viga!, depois que Exu se alimenta. Patacori, Ogunhê! Todo dia é dia de luta e sem fé não se labuta nem se banha de mandinga. Juntei os patuás todinhos e segui buscando a farofa. Saudei o Velho da cura, teu pai, rezei pra Nossa Senhora, lembrei de Dona Ivone e do dourado que é d’Oxum. Lembrei de Jovelina, de quem tu falou carinhoso, com saudade de Angola, saudade da Velha Bahia, e essa coisa de contas e guias me guiou foi pra Irajá. Irajá de tanto sambista e de tanto gurufim. E lá… lá, pisando em caquinhos, eu lembrei dos tempos da infância, bola de gude na terra, pipas malucas no céu, as serestas, os coretos, o banquete dos cachorros que alguém dedicou a São Roque, e doces de toda sorte (suspiro, cocada, pirulito, coração de abóbora…) pra São Cosme e São Damião. Que tu tatuou no peito, por isso eu chamei a Patota! Doum é que passeava no cavalo do ferreiro: galopou pra Del Castilho, flecha veloz do tempo. E haja caruru pro banzé da criançada!

Manhãs brejeiras me levam, é bom esse vadiar. Quase me perdi rodando, mas aí pensei que é isso mesmo: perder é parte do jogo e já chorei pelas tabelas. Da lágrima se faz rima, de tristeza ou alegria. Então me veio a Madrinha, com a sua voz das andanças, e eu fui é pras bandas de Ramos, a Zona da Leopoldina, juntando na mesma mochila os retalhos do teu pagode: dos Boêmios, o “sobrenome”; do Cacique, a raiz e a casca. Tremia nas rodas, caboco? A Tamarineira sagrada. Que viu tantas invenções que mudaram a nossa batida – o repique de Ubirany, o improviso, o banjo… Teu Compadre imperiano! Lições da filosofia que respinga nos azulejos, sincopada, sem floreios. “Camarão que dorme a onda leva” – e é por isso que eu durmo acordado: um olho no peixe, o outro no gato. Ou na Onça do Bafo. Mas lá tu também não estava. Talvez numa gafieira? Não, era dia claro. No Beco da Coruja, na Beira do Rio, no Morro do Fubá, cadê, ond’é?

Caminhei meio assim, à toa, tropeçando nas biroscas, essa coisa, a gente sabe, trem lotado, sol queimando, o jornal que embrulha a fruta, a marmita da menina, o petisco, o tira-gosto, a birita, o percurso que tu fazia, roda em roda, pegando ônibus. Não se vê super-herói de barriga ou despensa vazia. Cada laje uma fuzarca, engradados se empilhando. Tem sururu na feira, tem salseiro noutra praça. Lama. Pé-sujo. Fofoca. Faixas gritando amores nuns letreiros meio tortos, como tudo é meio torto, amarrotado, nessa vida – inclusive as pernas que driblam e as mãos que dão as cartas. Vida vivida na rua, entre caronas e atalhos. Apostei no milhar do cavalo e palpitei minha fezinha. Desci mais uma gelada e passei o giz no taco. A barriga é que roncava tanto mais que uma cuíca! Caviar nunca comi, fico mesmo é no quiabo. Pimenta jamais faltou pela tua caligrafia: o dendê pintou o dente, o pão bebeu o pingado, um samba enfim refogado nos temperos da boemia. Partido alto! Não se vive, pois bem, sem orgia. Creio que tu me entende… Justificado o atraso? Santo, aqui, também bebe! Faltou o feijão carregado, a farinha e o torresmo – então eu matei a charada e tomei rumo certeiro.

De carroça imaginária, zarpei pra “Velha Baixada”, Sapopemba e Maxambomba, subúrbios de tantas gentes que migraram retirantes. Do Nordeste, do Vale do Paraíba. Fé curtida feito couro, as malas, as fivelas, as favelas pelos morros, eu pensava era no Heitor e na pintura que se mexe. As roças. Quintais musicais de folguedos, congos, calangos, quadrilhas, fogueiras, roncós, curimbas, violas caipiras:

“Xerém, Imbariê,
mas quem diria
que até Duque de Caxias
foi Nossa Senhora do Pilar!”

Em Xerém, tanta gente chegava que parecia uma farra de dias! “O que espanta a miséria é festa!” – aprendeu com Beto Sem Braço? Um rojão decretou seis horas, a multidão se embolando. Amigos de todas as partes bebiam, dançavam, cantavam, sul, norte, Santo Amaro. Madeira, mesa, baldes, balcão. Eu perdi foi tudo ali! Eu ganhei a luz da graça. Rito. Finalmente eu te encontrei e pude contar o dia. Noite afora, quem cantava, dedilhando maravilhas, eram nossas Velhas-Guardas, os perfumes pastoris das Tias (ô Doca!), porque tu, meu amigo querido, é um devoto desse legado. Entende que ouvindo os mais sábios é que se projeta o futuro – “pra reunir a garotada e proteger meu amanhã!” Sob as asas da Águia altaneira, voz centenária do samba, que fez ninho na Jaqueira e merece o aplauso e a glória (e voou pro Jaqueirão, festeira que só ela), tu bebia sorridente e entoava Seu Monarco: “Meu peito agora é só paixão!”

Depois foram sambas de enredo e as parcerias continuaram, no desafio, madrugada adentro, e eu acho que esse samba, que também é pagode (e vice-versa), girou feito porta-bandeira e desaguou na Passarela. E eu posso jurar, nessa embriaguez, juro pelas juras de Sinhô, que uma estrela solitária desenhou um risco que uniu finalmente subúrbios, baixadas, Portela, Irajá, Xerém, Intendente, Sapucaí, rabiscando as encruzas, outras geografias, e atendendo ao pedido maior – que é não deixar o samba acabar. Honrar o mestre Thybau e permanecer versando: o que se leva (e leva eu) é “o que se come, o que se bebe, o que se brinca!” Por aí, numa estrada, pés descalços, passarinhar.

E depois disso, é aquilo: não sei contar nem vou me comprometer. Deliro. Só sei que foi mais ou menos assim e que a vida que tu me ensinou, ô Zeca, o “Zeca way of life”, essa vida é um litro aberto!  Falando a verdade, meu povo, eu, Grande Rio, que sou tão jovem e ainda me vejo, feliz, beijando o troféu da vitória… em 2023, pois sim, eu vou (e tu vem comigo!) é morar no botequim.

*Uma singela e jocosa homenagem a Jessé Gomes da Silva Filho, Zeca Pagodinho, “a cara do povo brasileiro”, na definição de Beth Carvalho; aquele que, nas palavras de Flávia Oliveira, pode ser lido como um “cronista de um subúrbio mais amoroso e solidário”.

Título do enredo livremente inspirado na letra de “Zeca, cadê você?”, composição de Jorge Aragão e Zeca Pagodinho. 

Carnavalescos: Gabriel Haddad e Leonardo Bora

Autores do enredo, do desenvolvimento e do roteiro de desfile: Gabriel Haddad, Leonardo Bora e Vinícius Natal

Pesquisa: Gabriel Haddad, Leonardo Bora e Vinícius Natal
Texto: Leonardo Bora; colaboração de Gabriel Haddad e Vinícius Natal
Autor do pôster/cartaz do enredo: Antônio Gonzaga; ilustração de Zeca Pagodinho gentilmente cedida por Guilherme Kid (pintura “Zeca”)
Identidade visual e demais artes: Antônio Gonzaga
Fotografias: Antônio Gonzaga, Gabriel Haddad, Leonardo Bora, Patryck Thomaz

Agradecimentos: Bira Presidente (Cacique de Ramos), Carlos Monteiro, Dorina, Eliza Piquet, Flávia Oliveira, Guilherme Kid, Jane Barboza, Jorge Aragão, Leninha Brandão, Leonardo Bruno, Louiz Carlos da Silva, Lucas Bártolo, Luiz Antonio Simas, Luiza Maria Almeida, Mônica Silva, Rafael Mattoso, Renata Menezes, Renato Menezes Ramos, Sérvula Amado, Thiago Ortiz, Victor Lobisomem

Referências/Indicações bibliográficas e audiovisuais:

ALVIM, Victor (Lobisomem). O Magnífico Encontro de Zeca Pagodinho com a Patota de Cosme & Damião. Literatura de Cordel. Contato: [email protected]. 2012. 

ALVIM, Victor (Lobisomem). A Fantástica História de Zeca Pagodinho, o Disco Voador e o Extraterrestre. Literatura de Cordel. Contato: [email protected]. 2009.

AMADO, Jorge. O Compadre de Ogum. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

AZEVEDO, Ricardo. Abençoado & Danado do Samba. Um estudo sobre o discurso popular. São Paulo: EDUSP, 2013. 

BANDEIRA, Manuel. O enterro de Sinhô (crônica). In: Os Reis Vagabundos e mais 50 crônicas. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966.

BARBOZA, Jane; BRUNO, Leonardo. Zeca. Deixa o samba me levar. Rio de Janeiro: Sonora Editora, 2014. 

BÁRTOLO, Lucas; FREITAS, Morena; MENEZES, Renata. Doces Santos. Devoções a Cosme e Damião. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 2020. 

BEZERRA, Nielson Rosa; NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. De Iguassú à Baixada Fluminense. Histórias de um território. Curitiba: Appris, 2019. 

CASTRO, Maurício Barros de. Carnaval-ritual. Carlos Vergara e Cacique de Ramos. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021. 

DINIZ, André. Almanaque do Samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. 

GABEH, André. Suburburinho. Rio de Janeiro: Autografia, 2018. 

GUILHON, Teresa; MATTOSO, Rafael; SANTOS, Joaquim Justino dos (Orgs.). Diálogos Suburbanos. Identidades e lugares na construção da cidade. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.

LOPES, Nei. Dicionário da Hinterlândia Carioca. Antigos “subúrbio” e “zona rural”. Rio de Janeiro: Pallas, 2012. 

LOPES, Nei; SIMAS, Luiz Antonio. Dicionário da História Social do Samba. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017. 

MONTEIRO, Carlos. Zeca Pagodinho, religiões e subúrbio: uma pesquisa. Rio de Janeiro: Editora Conexão 7, 2021. 

MOUTINHO, Marcelo; SIMAS, Luiz Antonio (Orgs.). O Meu Lugar. Rio de Janeiro: Mórula, 2015. 

RIO, João do. A alma encantadora das ruas. São Paulo: Companhia de Bolso, 2008. 

RIO, João do. As religiões no Rio. Rio de Janeiro: José Olympio, 2015. 

SANTUCCI, Jane. Babélica Urbe. O Rio nas crônicas dos Anos 20. Rio de Janeiro: Rio Books, 2015. 

SIMAS, Luiz Antonio. O corpo encantado das ruas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020. 

SIMAS, Luiz Antonio. Santos de casa: Fé, crenças e festas de cada dia. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2022. 

VIANNA, Luiz Fernando. Zeca Pagodinho. Coleção Perfis do Rio. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.

– Discografia completa de Zeca Pagodinho

– Documentário “Jaqueirão do Zeca”, de Ricardo Bravo e Denise Moraes

– Musical “Zeca Pagodinho – uma história de amor ao samba”, de Gustavo Gasparani

– Exposição “Crônicas Cariocas” – Museu de Arte do Rio (MAR); curadoria de Amanda Bonan, Conceição Evaristo, Luiz Antonio Simas e Marcelo Campos

– Arquivos de Zeca Pagodinho gentilmente cedidos por Mônica Silva, Louiz Carlos da Silva e família Pagodinho.