Compositores: Xande de Pilares, Miudinho do Salgueiro, Claudio Russo, Betinho de Pilares, Jassa, Miguel Dibo, Marcelo Werneck e W Correa
Sou Salgueiro
De mim fez-se a luz
Herdeiro
Da cor que seduz
Academia que ensina
O evangelho do mestre João
Lugar de toda insurreição
O paraíso na colina
Quintal do fruto proibido
Que foi servido ao despudor ôôô
Lá no jardim das delícias
Onde a serpente o prazer inventou
E fez Adão sonhar
O sonho mais real
Que um deus pagão chamou de carnaval
É grená, carmim, vermelho
Liberdade em profusão
Paraíso do desejo
Escola do meu coração
Mas surgiu o pecado
O certo, o errado
O inferno e o céu
A verdade, a mentira
A vaidade, a ira,
O juiz e o réu
Quem poderá saber julgar?
Quem vai merecer redenção?
Vencer o caos, não se entregar
Amar em qualquer condição
Por todo sangue pisado de mil mutilados
Ratos e urubus
E de Jesus condenado
De olhos vendados
Pregado na cruz
Mas vejo, ressurgir na escuridão
Devolvendo o sol da vida
Meu vermelho pavilhão
Firma na palma da mão
Sacode o terreiro
Salgueiro, Salgueiro
Grêmio da revolução
Êta povo batuqueiro
Salgueiro ô, Salgueiro
A Dragões da Real escolheu na noite de sábado o seu hino para o carnaval 2023. O evento contou com dois sambas na disputa e, por conta disso, foi literalmente um clima de final e expectativa. A ‘Caverna do Dragão’ ficou ‘incendiada’ desde o início das apresentações, que começou com o samba de número três. A obra foi a grande vencedora e despertou euforia em toda a quadra no momento do anúncio. Houve um grande discurso do presidente Renato Remondini (Tomate) e, logo após, o intérprete Renê Sobral cantou a música ‘Porta do sol’, que se refere à cidade de João Pessoa e, finalmente, o hino para o próximo desfile foi revelado. Os compositores vencedores são Thiago SP, Renne Campos, Léo do Cavaco, Marcelo Adnet, Darlan Alves, Rodrigo Atração, Jairo Cruz, Paulo Senna e Tigrão.
Fotos: Fábio Martins/Site CARNAVALESCO
Uma proposta diferente
O compositor Paulo Senna é um grande vencedor pela agremiação. Com a grande vitória neste sábado, são seis sambas escritos para a comunidade. Sobre a obra atual, de acordo com ele, foge do comum. “Após três anos, a gente pôde retornar e fazer uma eliminatória, e reencontrar grandes amigos. É o maior agradecimento acima de tudo. Segundo lugar, papai do céu nos abençoou mais uma vez. A energia da parceria é uma coisa fantástica. A letra exalta, não seria sobre os pontos turísticos, não somente, mas sim exaltando as belezas do lugar. Enfim, é isso que nós fizemos, procuramos explorar esse lado de João Pessoa. Lado belíssimo, que o sol, que traz a fotossíntese e toda a beleza do lugar. E trazer a realidade do nosso samba, sair do clichê que estamos acostumados a ver em samba enredo, exploramos outro lado, a bandeira, o ‘Nego’ que as pessoas renegavam seus valores e as suas diferenças”, declarou.
Thiago SP, que é outro compositor vitorioso pela comunidade, fez uma análise técnica do samba para 2023. “Esse samba na verdade, o professor Jorge pediu para a gente ter como referência musical, nós vencemos o Asa Branca aqui. Que tem uma ideia, algo pré-concebido bem estabelecido. Esse samba de João Pessoa, a música é assim como o enredo, não traz o nordeste óbvio. Não é um Nordeste que o sol castiga quem está lá como Asa Branca, esse é um sol que aquece, que diverte, que atrai turismo. Outro tipo de abordagem do nordeste. Não sei se todo mundo compreendeu isso imediatamente, mas o que precisamos fazer, como se fosse uma música de verão. Para ser cantada em uma tarde gostosa, de verão, uma manhã de ir para a praia, se divertir. João Pessoa tem essa vocação ambiental enorme. É uma cidade verde, precisava trazer outro tipo de linguagem para a música. A proposta do enredo é o Dragão chegando em João Pessoa e aproveitamos, óbvio, o hino da escola que traz essa ideia. Então talvez a identificação imediata da comunidade com a música. E dois refrões explosivos que entregam muito forte lá, é o que vamos precisar de manhã para fechar o carnaval”.
‘Um samba aceito pela comunidade’
O presidente Renato Remondini avaliou a obra e de acordo com ele, combina totalmente com a escola. “É um samba que literalmente incendeia. Tem a cara do enredo, é explosivo, combina com o horário que a gente vai desfilar. Eu resumo o samba na resposta da comunidade na hora do anúncio. Quem cantou foi a comunidade, não foi a torcida. Até porque os dois finalistas, eram de componentes da escola. Não tinha ônibus, era gente daqui mesmo. Então, estamos muito felizes e vai combinar com o visual da escola”, disse.
Tomate fez uma alusão ao “Asa Branca” no ano de 2017, onde a escola ficou com o vice-campeonato. “Quando surgiu Asa Branca, a gente não imaginou que ia ser o que ele foi na avenida. Eu acredito que a gente vá para o mesmo caminho com esse samba maravilhoso. Tem tudo pra dar certo e é um samba que combina com a escola. João Pessoa é um lugar de gente feliz e a Dragões também. Vai ser um trabalho muito legal”, completou.
Uma obra para um espetáculo completo
Como todo carnavalesco, Jorge Freitas foi responsável por desenvolver e explanar a sinopse do enredo aos compositores. Segundo o artista, além de a obra ter a cara da escola, o carnaval paulistano sai ganhando bastante. “Na verdade, acho que o carnaval de São Paulo é quem ganha. Pois logo assim que foi anunciado o samba vencedor, a quadra explodiu. Então, todas as seis obras, elas estavam dentro do contexto do enredo. Umas falavam um pouco mais de uma coisa, outras de outra. Mas a seriedade com que é feito os tramites da escolha do samba da Dragões da Real, é algo fenomenal. E ganhou realmente o samba no qual todos os segmentos da escola votaram, e todos souberam o que é melhor para a Dragões fazer o seu desfile. A décima quarta escola a pisar no Anhembi, é uma responsabilidade ainda maior. A gente encerra o carnaval de São Paulo, onde a escolha em ser a sétima da segunda noite, e a última, tem tudo a ver com nosso enredo. João Pessoa, Paraíso Paraibano, onde o sol nasce primeiro nas Américas. E o samba escolhido nada mais que o condutor de toda essa energia para que a gente faça um bom desfile, um bom carnaval. Estamos trabalhando muito para que esse espetáculo esteja completo. Acredito que a Dragões fez uma bela opção, escolhemos o samba que realmente vai nos impulsionar para fazer um espetáculo fenomenal, e esse espetáculo tem consequências depois do desfile, fazer nossa parte, nosso papel. E quem sabe o título tão almejado possa vir em 2023 com esse belo enredo e fantástico samba”, exaltou.
Emoção, felicidade e ensaio
O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Rubens Cardoso e Janny Moreno, analisou a obra. A dançarina estreia pela agremiação em 2023 e já revelou ensaios com sua dupla. “Achei incrível. Tanto o samba 3 e o samba 4, estavam dentro da proposta. Porém o samba 3 é emocionante, então estou muito feliz por ser meu primeiro samba junto com o Rubens na Dragões em 2023. Já estamos ensaiando, praticamente a cabine já está pronta. Porém estávamos aguardando o samba para adaptar alguma coisa, colocar uma cerejinha do bolo”, contou a porta-bandeira”.
“Acredito que samba, ele vem trazer o raiar do sol. É um samba que emociona, aguerrido, forte, sertanejo, caipira, é tudo. É de uma grande cidade. É um samba que vai me proporcionar junto com a Janny, grandes momentos na avenida, que o mais 40 nunca vai esquecer. O samba inteiro é emocionante. Não tem como falar o que vai acontecer naquele momento da avenida. A gente ensaia, mas leva para uma magia que não dá para descrever”, complementou o mestre-sala.
Novo samba e novo projeto de bateria
Diretor de bateria da escola, mestre Klemen, que também está estreando pela Dragões da Real, falou sobre o samba e, revelou, que também fará algo leve, devido ao horário do desfile. “Ganhou o melhor samba. É o melhor que a gente tinha. É o samba que vamos levar para 2023 em busca do título tão sonhado para a escola. Se Deus quiser, com muito trabalho, a gente vai conseguir. Sobre bossas, tem várias possibilidades para fazer, mas é uma coisa que conversando com o Jorge Freitas e o Renê, é que a gente vai querer fazer uma coisa leve, pois 6 ou 7 horas da manhã com possível atraso não é fácil. Vamos fazer isso para o ritmista não ter a parada de ficar pensando muito para executar. Vai ser muito mais na entrega do samba. Vai dar tudo certo, vamos dar show na avenida e vai ter surpresa”, comentou.
Explosão na avenida
Renê Sobral, intérprete da escola, é o comandante do hino escolhido. O cantor ressaltou a importância de ouvir o samba ao vivo na quadra. “É importantíssimo e isso acho que a Dragões nunca vai perder. Pois tem que estar no terreiro, com a bateria, para sentir o samba. Gravação está no estúdio, pode editar, fazer um monte de coisa. Pode até afinar voz de cantor. Aqui é o pega ratão, vê se o samba cresce, se ele não flui. Se o samba casa com a bateria, se o povo canta ou não canta. Às vezes temos obras belíssimas na gravação e chega em quadra, quando vai executar, não vai. Por isso para nós da Dragões, fazemos questão de trazer para a quadra, e fazer essa eliminatória ao vivo”, disse.
Fotos: Fábio Martins/Site CARNAVALESCO
Analisando tecnicamente, Renê Sobral não poupou elogios à obra. “Ele tem um corpo muito bonito, refrão de cabeça é bom, o refrão de meio explode de uma forma que não tem como ninguém ficar parado. Então acreditamos que teremos dois momentos de explosão na avenida. E os outros momentos do corpo do samba, é a segunda onde vai ter o descanso, porém poeticamente, melodicamente, muito bonito, onde vai estar sendo apresentado a mãe. E o corpo de cima do samba é a apresentação da escola que vem em uma pegada muito boa também”, completou.
Análise dos sambas
Samba 03: O hino vencedor apresenta um repertório muito grande de ideias dentro de sua letra. Iniciando o samba, o primeiro verso começa com “voar, voar, voar e ver o sol nascer primeiro”. Se trata de um misto de referências, sendo o hino da escola com o fato de João Pessoa ter todo o simbolismo do sol. Logo após, a frase “’Négo’ viver outros amores, na bandeira nossas cores e sonhos de carnaval”, há uma clara referência com as cores das bandeiras da Dragões da Real e Paraíba. Por fim, vale destacar o fechamento do samba, que mistura a o lema da escola ‘lugar de gente feliz’, para se retratar ao povo de João Pessoa.
Na apresentação, houve um grande contingente de torcida. Muitos artefatos, bexigas nas cores da escola e, principalmente, cantoria forte. Outro destaque para bandeiras da Paraíba no meio da torcida. Os camarotes também abraçaram o samba e dava para notar algumas pessoas com as ‘bandeirinhas’ escritas ‘samba 3’. De fato, a torcida da parceria deu um show à parte na apresentação. O refrão principal e os dois últimos versos que fecham o samba, foram as partes mais cantadas.
Samba 04: Outra grande obra, mas com características diferentes. Nesta, claramente os compositores quiseram levar para o lado mais nordestino. Expressões como ‘xaxado, ‘baião’ e ‘arrasta pé’ comprovam tal fato. A melodia, principalmente do refrão do meio, que faz alusão à festa de São João e Nossa Senhora, são destaques.
Houve muita energia na apresentação do samba. Os cantores se doaram e até se caracterizaram com fantasias nordestinas, remetendo à João Pessoa. A torcida também entoou forte o hino e muitas bandeiras grandes nas cores da escola foram levadas. Apesar de não ter levado o título, os compositores dessa parceria saíram de cabeça erguida, visto que o samba adversário foi mais aceito.
Compositores: Thiago SP, Renne Campos, Léo do Cavaco, Marcelo Adnet, Darlan Alves, Rodrigo Atração, Jairo Cruz, Paulo Senna e Tigrão
Intérpretes: Wander Pires e Carlos Jr
Voar voar voar
E ver o sol nascer primeiro
No infinito mar, encontrar
O paraíso verdadeiro
Négo viver outros amores
Na bandeira nossas cores
E sonhos de carnaval
Nesse zum zum zum maneiro
De janeiro a janeiro
Alegria é geral!
Hoje tem arrasta pé, quadrilha de cariri
Isso aqui é São João, a poeira vai subir
Se avexe não, minha flor..
Eu esqueci de dizer
Que o sanfoneiro vai até o amanhecer
Oh mãe
Senhora da fé paraibana
A mulher tem sua luz
Emana uma força soberana
Mãos talentosas moldando
Um tantinho de algodão
Transformam em lindas lembranças;
Riqueza e tradição
Dá gosto “ver de novo”
O orgulho brotar da raiz
Dessa terra arretada
Lugar de gente feliz
Isso aqui tá bom demais incendeia
O teu nome escrevi na areia
Dragões: Seu grito ecoa
Arreia o canto pra João Pessoa
Quando chegou ao barracão da Unidos do Viradouro, convocada para uma reunião extraordinária com os presidentes Marcelo Calil (de honra) e Marcelinho Calil, a passista Thays Busson não imaginava que seria protagonista de uma pegadinha armada pela direção da escola e produzida pela Muitamídia Comunicação. Ao entrar na sala dos presidentes, Thays foi informada que, para ser recebida, eles interromperiam uma gravação que estava sendo produzida como material institucional da escola.
Foto: Divulgação/Viradouro
No cenário da pegadinha e sem imaginar que tudo seria gravado, ela encontrou, além de Marcelo e Marcelinho, o diretor de carnaval Alex Fab e Valci Pelé, coordenador da ala de passistas. Os quatro testemunharam um momento especial, marcado de muita emoção: ao final da trolagem, quando Thays caiu em prantos ao saber que havia sido “promovida”.
Thays tem 24 anos, é nascida em Niterói, moradora de São Gonçalo, e está na Viradouro desde 2015, quando estreou como passista da agremiação. Também são musas da vermelho e branco Lore Improta e Bellinha Delfim.
Confira o momento em que Thays foi surpreendida com a novidade.
Mais uma vez, a quadra da Portela recebe os sambas concorrentes da Chave Azul das eliminatórias de samba-enredo para o carnaval de 2023. A festa acontecerá neste domingo, 28, com inicio às 17h. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria da agremiação, durante o evento. Haverá transmissão ao vivo pelo canal oficial da escola no YouTube, o Portela TV! * OUÇA AQUI OS SAMBAS CONCORRENTES
Confira a ordem de apresentação:
1- Cecília Cruz, Cláudio Cruz, Thayssa Menezes, Luciano Fogaça e Fábio Gomes.
2- Celso Lopes, Charlles André, João Carlos Filho, Anderson Leonardo e Gustavo Clarão.
3- José Carlos, Ian Ruas, Madalena e Rogério Lobo.
4- Ari Jorge, Carlinhos Maciel, Cristiane Mazarim, Nilson de Deus, Geisao e Bruninho Camarote.
5- Claudio Russo, Franco Cava, Zé Luiz, Rute Labre, Elói Ferreira e Arnaldo Matheus.
6- Samir Trindade, Camarão Neto, Ramires, Gaúcho, J. Salles e Julio Alves.
7- Júnior Falcão, Brian Ramos, Arnaldo Junior, Carlos Souza, Alessandra Dias e Fabíola Bach.
8- Noca da Portela, Diogo Nogueira, Ciraninho, Flavinho Bento, César Rezende e Som do Tramela.
9- Edynel, Marcos Lauriano, Waldir Guimarães, Gadinelle, Marcello Luz e Serginho Pavuna.
10- Gerson PM, Thiago na Fé, Bruno Lima, Osmar do Breque.
Serviço:
Eliminatórias de samba-enredo
Data: domingo, 28 de agosto
Horário: a partir das 17h
Local: Quadra da Portela (Rua Clara Nunes 81, Madureira)
Ingressos:
Individual: R$ 10
Mesa: R$ 80
Camarote inferior: R$ 250
Camarote superior: R$ 300
A Unidos de Vila Isabel começará no dia 10 de setembro (um sábado, às 21h) o concurso de sambas que vai eleger o hino oficial de seu desfile no Carnaval 2023. O enredo a ser contado nos versos dos compositores da azul e branca é “Nessa festa, eu levo fé!”, assinado pelo carnavalesco Paulo Barros: uma espécie de ode às comemorações de cunho religioso que mobilizam populações do Brasil e também mundo afora.
A sequência do calendário com três eliminatórias antes da semifinal e da finalíssima também já está estabelecida pela escola. Depois do dia 10 de setembro, novos eventos acontecerão nos dias 16, 21 e 28 do mesmo mês, com a escolha definitiva da obra em 9 de outubro. Mais informações serão divulgadas adiante pelos meios de comunicação oficial da escola.
Confira abaixo a programação:
Primeira eliminatória — 10/09 (sábado)
Segunda eliminatória — 16/09 (sexta-feira)
Terceira eliminatória — 21/09 (quarta-feira)
Semifinal — 28/09 (quarta-feira)
Final de samba — 09/10 (domingo)
O site CARNAVALESCO divulga a segunda lista dos sambas concorrentes mais ouvidos em três escolas de samba do Grupo Especial: Grande Rio, Império Serrano, Portela, Mangueira e Viradouro. Os números da Imperatriz só vamos divulgar na semana que vem. Semanalmente, a lista será divulgada com atualização. Diferente dos anos anteriores, vamos soltar até o fim de setembro os três mais ouvidos de cada escola. A primeira lista geral sairá apenas no dia 1 de outubro. Lembrando que o cálculo é feito em cima do link de cada samba publicado no nosso site e não em redes sociais ou players de áudio.
O samba comemorou um momento especial. Pela primeira vez em sua história, a Academia Brasileira de Letras abriu as portas para exaltar a arte de um compositor popular. Ao fazer a palestra intitulada “Silas de Oliveira, um poeta épico”, o escritor Alberto Mussa destacou que o compositor do Império Serrano foi o fundador do gênero samba de enredo e o principal inspirador dos grandes-mestres dos hinos que encantam multidões, quando cantados na Avenida, nos desfiles das Escolas de Samba.
Foto: Império Serrano/Divulgação
Mussa é conceituado pesquisador do assunto, autor do livro “Samba de Enredo: História e Arte”, feito em parceria com o pesquisador e historiador Luiz Antônio Simas.
O SAMBA PIONEIRO
liberdade na feitura dos versos e da melodia foi composto por Silas de Oliveira para o Carnaval de 1951: “Setenta e Um Anos de República”, com o qual o Império venceu o desfile organizado pela Federação das Escolas de Samba (naquele ano houve outro desfile, da União das Escolas de Samba, vencido pela Portela).
“Até então, os sambas mantinham uma estrutura padronizada de letra e melodia, descrevendo ou não o que a Agremiação apresentasse no desfile” – explica. “Os sambas de Silas eram totalmente imprevisíveis e de uma riqueza extraordinária em sua construção artística. Estilo que foi aprimorado na década de 60, com outras obras clássicas, como “Aquarela Brasileira”, “ Glórias e Graças da Bahia”, “Os Cinco Bailes da História do Rio” e “Heróis da Liberdade”. Seus sambas acabaram virando modelo para outros mestres” – conclui.
CADEIRA 41
A palestra encerrou o 5º Ciclo de Conferências do ano, “Cadeira 41” (são 40 imortais no total), que teve como objetivo apresentar quatro nomes que poderiam ocupar, em suas épocas, uma das Cadeiras da ABL e que, por razões diferentes e individuais, não se tornaram membros da Academia.
Na semana anterior, “Teodoro Sampaio” foi o tema da conferência ministrada pelo escritor e compositor Nei Lopes. O ciclo “Cadeira 41” contou com a coordenação da Acadêmica e escritora Ana Maria Machado e foi realizado às quintas-feiras do mês de agosto, às 17h30, na Sala José de Alencar.
A Rosas de Ouro organizou um evento para apresentar oficialmente o enredo e o samba que levará para o Carnaval de 2023. O público que compareceu na sexta-feira na quadra da Roseira, na Freguesia do Ó, aproveitou uma festa que contou também com uma animada roda de samba e a presença da coirmã convidada Vai-Vai.Com o enredo “Kindala! Que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome”, a comunidade da Brasilândia terá uma oportunidade inédita na história do carnaval. O samba que conduzirá a Azul e Rosa pelo Sambódromo do Anhembi é um velho conhecido e amado concorrente que disputou a final de 2006 para representar o tema “A Diáspora Africana, um crime contra a humanidade”, mas que fora derrotado na ocasião e mesmo assim se tornou parte das músicas cantadas pelos componentes da escola até os dias de hoje. A obra, com uma versão readequada para a nova proposta de desfile, conta com a assinatura de Arlindo Cruz e inspirou o carnavalesco Paulo Menezes a conceber o enredo.
Fotos: Lucas Sampaio/Site CARNAVALESCO
“A ideia do enredo é você olhar o jornal, a televisão, as redes sociais, que o enredo que está ali. Está na nossa cara o tempo todo. Era uma ideia que eu já tinha há algum tempo, e no aniversário da escola eu ouvi esse samba quando foi cantado. Eu achei que ele tinha muito a ver com o enredo. Depois do Carnaval (de 2022), propusemos a ideia para a escola. O Osmar Rocha, vice-presidente, e que é um dos compositores desse samba, foi meio resistente porque achou que as pessoas poderiam pensar que seria uma intromissão dele, mas aí ele acabou sendo voto vencido (risos), e a gente está indo para a Avenida com esse samba. É claro que ele teve alguns ajustes, algumas atualizações, porque foi um samba feito com ideia para 2006, e o pensamento, a luta negra, do povo preto, evoluiu muito, mudou muito para os dias de hoje. Fizemos uma adequação, mas sem macular o samba. Hoje estamos apresentando ele aí, e nos preparando para entrar na Avenida”, contou Paulo Menezes.
A assinatura de Arlindo Cruz no samba é um marco especial para Paulo Menezes. No ano em que o samba foi composto, o eterno mestre compositor também assinou uma outra famosa obra para um desfile idealizado pelo artista, o “Império do Divino.”
“É uma coisa que nunca aconteceu antes. Um samba, que perdeu uma final, anos depois entra na Avenida. Ele se torna campeão da disputa e vai para a Avenida. Mostra que o Arlindo pensa sempre à frente. E o Arlindo me dá sorte, porque em 2006, no Império Serrano, ele me deu um samba lindo”.
Histórico do samba à parte, Paulo Menezes fez questão de exaltar a mensagem do enredo da Rosas de Ouro. “É uma pena a gente, em pleno 2023, ainda ter que fazer um enredo para plantar uma semente na cabeça das pessoas. Eu gosto muito do enredo, mas ao mesmo tempo sinto pena de ter que fazê-lo. Eu não vejo sentido nessa desigualdade racial, mas temos que mostrar e a escola de samba serve para isso”, declarou.
O carnavalesco também deu detalhes do andamento dos preparativos para o próximo Carnaval. “Estamos em ferragem de alegoria, terminando o piloto e entrando em reprodução. É um processo normal pelo tempo. Hoje o processo não me assusta, e estamos caminhando tranquilos”, concluiu.
‘Todo dia é dia de aprender’
A presidente Angelina Basílio fez uma análise sobre o resultado do Carnaval de 2022, na qual apontou a importância de sempre aprender com cada carnaval que se passa.
“A Rosas de Ouro é uma escola de samba, e estamos sempre aprendendo. Surpreendeu muito esse nono lugar, e então estamos revendo muitas questões. A gente não viu o que o jurado viu, mas estamos assistindo a vários vídeos, revendo e aprendendo. Por isso estamos em uma escola de samba. Na escola de samba, nós aprendemos todos os anos um enredo diferente, então todo dia é dia de aprender”, declarou.
Apesar do nono lugar na classificação final, a Roseira recebeu diversas premiações da mídia especializada, incluindo três prêmios Estrela do Carnaval (melhor bateria, samba-enredo e carnavalesco). A presidente garantiu que a questão está sendo debatida junto com a Liga-SP para que mudanças ocorram para o próximo ano. “Por isso que estamos na Liga, toda segunda-feira, tendo plenária. Discutindo esses critérios de julgamento, porque tem alguma coisa errada. Mas sempre temos que estar revendo”.
O próximo carnaval está chegando, e trará um sentimento de nostalgia para a comunidade da Brasilândia. Angelina recordou a final de samba de 2006 e destacou a importância da mensagem a ser passada pelo enredo em 2023. “Essa foi uma grande final. Não é que ficou dividido, porque os dois sambas eram maravilhosos. Esse samba (para 2023) ficou conhecido como “Arrasta”, mas a gente reformulou, deu uma nova roupagem, melodia, adaptou umas palavras mais atuais, porque a gente tem que tomar providência de questões raciais, do antirracismo agora. A gente não pode deixar passar. É um enredo muito forte. É um enredo de urgência, que a gente todos os dias nos deparamos com uma situação de racismo. É um enredo que vai até o dia de fevereiro, no dia do desfile”.
Desejo intenso de ser campeão
Dono da voz que levou o tão premiado samba de 2022, Royce do Cavaco analisou o resultado da Rosas de Ouro no último desfile. “O Carnaval de 2022 foi surpreendente. A única coisa que foi realmente um inconveniente foi que fizemos um desfile, um projeto para disputar título. A opinião pública, e até de outras escolas, é que a Rosas estaria na briga pelo título. Então a gente esperava estar pelo menos entre as três primeiras. A surpresa foram algumas notas, em que perdemos alguns décimos importantes em dois ou três quesitos, que nos jogou para nono lugar. Mas eu acho que, em um saldo, foi bom para festejarmos algumas vitórias, e aprender com os erros, para não cometermos novamente. Três ou quatro décimos não parecem nada, mas você perde aí seis, sete posições. A gente tem que desfilar com o regulamento debaixo do braço, a verdade é essa. E você tem que sair, em alguns quesitos, já com nota 10 da quadra”, disse o cantor.
Com quatro décadas de história no Carnaval, Royce conduzirá o querido samba da Roseira junto de Hudson Luiz, novo reforço do time de canto da escola. Para o cantor, dar voz a uma obra assinada por Arlindo Cruz terá um sentimento especial. “É uma emoção por ter a assinatura de Arlindo Cruz e também outros grandes amigos do samba de São Paulo. É um fato curioso, porque apesar do samba ter sido derrotado em 2006, ele casou totalmente com a nova proposta. É muio cedo, 80% dos componentes da escola não sabem o samba e estão ouvindo agora. Vamos começar a trabalhar a cabeça do componente em com esse novo samba. Terá uma nova gravação com arranjo, com bossas da bateria, e aí a coisa vai começar a tomar conta. A gente espera uma comunicação melhor e um retorno maior desse samba quando começarem os ensaios. Mas o samba é muito bom, eu gosto dele. Eu completei 40 anos de Carnaval, e eu acho que conheço um pouquinho de música, e ao meu ver o samba tem muito para render”.
Royce do Cavaco está otimista quanto ao trabalho da Rosas de Ouro, e garante que o objetivo é ser campeão. “A expectativa não pode ser menor do que disputar, entre os três primeiros lugares, disputar o título efetivamente. Brigar realmente, mas do jeito que falei. Fazer um desfile, além de emocionante, tecnicamente perfeito”, concluiu.
A serviço do espetáculo
Comandante da “Bateria Com Identidade”, mestre Rafa celebrou o trabalho de dois anos para o desfile, que garantiu os 40 pontos para a escola sem abrir mão da ousadia e irreverência. “Sempre fazemos uma reflexão do que fizemos e deixamos de fazer. É claro que a gente sabe onde erra. No meu setor, a bateria, conseguimos entregar tudo que ensaiamos no ano anterior, e tudo que criamos nesses últimos dois anos entregamos lá e foi muita coisa. Abaixamos quatro vezes na Avenida, fizemos um “caracol” na frente da Monumental, e o tradicional no recuo três vezes. As nossas bossas, todas juntas, tinham 198 compassos. Conseguimos entregar, e trouxemos as quatro notas 10 para ajudar a escola. Sabemos que é uma forma de engrandecer o nosso trabalho”, exaltou.
Rafa está entusiasmado de poder ditar o ritmo de um samba tão querido pela comunidade, e garantiu que seus comandados farão um novo espetáculo. “Sou suspeito de falar desse samba porque, para ter ideia, esse samba era cantado na várzea. Só quem é mesmo da escola, da Freguesia (do Ó) sabe. O time daqui que se chama Da Quebrada, eles cantavam porque eles não aceitavam a derrota desse samba. Isso é algo novo, e tudo que é novidade para mim é bom, e eu gosto de novidade. Uma obra boa, escrita também por Arlindo Cruz, e que era uma joia que estava guardada. A escola aceitou bem, e agora algumas pessoas que questionavam estão entendendo. Colocaremos os arranjos, e na parte musical temos um reforço que é o Hudson, junto do mestre Royce. Temos muitas coisas para fazer nesse samba, porque ele é um sambão, um dos melhores que haverá no Carnaval. A parte musical da escola, e quem conhece o trabalho da nossa equipe, da Bateria Com Identidade, junto da Ala Musical, podem ter certeza que será uma pancada”.
Mestre Rafa se sente muito honrado em poder conduzir sua bateria ao som de uma obra assinada por Arlindo Cruz, e garante que tratará o samba com muito carinho. “É a maior honra do mundo. Eu sabia que o samba era de Arlindo, mas ele não tinha assinado na ocasião. Ele fez uma parte e deu para os outros compositores, que finalizaram o samba, mas não quis assinar na parceria. A escola fez contato com a família e foi autorizado que colocassem o nome dele na obra. Para mim é uma honra levar um samba do mestre da caneta que é o Arlindo. Vamos pegar o samba e cuidar com carinho. Faremos o melhor e é a maior satisfação estar tocando esse samba que era muito falado entre nós”, finalizou.