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Império Serrano demonstra muita organização em ensaio técnico com destaque para bateria e evolução

Coube ao Império Serrano a missão de dar o pontapé inicial aos ensaios técnicos do Grupo Especial na Marquês de Sapucaí em 2023, e a agremiação não decepcionou, carregado de muita emoção, o Reizinho de Madureira mostrou uma organização impressionante e realizou uma apresentação extremamente correta e coesa, com destaque para a bateria do mestre Vitinho, a evolução dos componentes e o desempenho de Ito Melodia, que mais uma vez estava em estado de graça. O Império está de volta à elite do carnaval carioca e durante seu discurso, o presidente Sandro Avelar afirmou que o desfile deste ano será o maior da história da escola, além de ser a afirmação da agremiação no Grupo Especial. * VEJA AQU FOTOS DO ENSAIO TÉCNICO

No próximo carnaval, o Menino de 47 levará para a avenida a vida e obra de um dos seus maiores baluartes, o cantor e compositor Arlindo Cruz. O enredo “Lugares de Arlindo” será desenvolvido pelo carnavalesco Alex de Souza, em sua estreia na escola. A agremiação de Madureira fará a abertura do primeiro dia de desfiles do Grupo Especial.

“O balanço, pelo que eu consegui ver daqui, foi super positivo. A escola evoluiu sem problemas. Cantou e foi desenvolta. A gente só repetiu aqui o que temos feito na temporada de ensaios no Parque Madureira, na quadra, na rua. O Império está em um momento especial. A gente tem tudo para repetir o que foi feito aqui no desfile oficial. Eu ainda vou dar uma olhada nos vídeos, que eu tenho uma equipe que grava alguns setores para mim. Três setores diferentes, três momentos diferentes. Estou muito satisfeito com o que aconteceu hoje. O carro de som é um show à parte. As alas coreografadas muito bem. É um ensaio a gente sabe, mas é uma prévia do que o Império vai fazer na Avenida. O que eu mais gostei foram o clima da concentração e o clima do ensaio. A gente sabe que desfilou bem, que tudo certo, por isso aqui – todo se confraternizando, todo mundo se abraçando. O Império vive um momento diferente, um momento de retorno aos seus melhores momentos. Eu acho que o melhor do ensaio hoje foi esse clima que aconteceu. A escola conseguiu cantar e evoluir exaltando Arlindo Cruz”, explicou Wilsinho Alves, diretor de carnaval da escola da Serrinha.

Comissão de Frente

De volta à escola após o campeonato da Série Ouro de 2017, o coreógrafo Junior Scapin levou para o ensaio desta noite uma comissão extremamente forte e aguerrida, composta por homens e mulheres vestidos de branco, a coreografia mergulhou na ancestralidade de Arlindo Cruz, fazendo referência a sua religião. A apresentação foi assistida com entusiasmo pelo público, o grande destaque ficava na parte final, quando os bailarinos abriam uma faixa com os dizeres: “Arlindo Cruz, o Império te ama”, neste momento, toda Sapucaí vibrava muito.

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Fotos de Allan Duffes/Site CARNAVALESCO

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Em seu retorno ao Grupo Especial, o Império escolheu apostar na experiência de Marlon Flôres e Danielle Nascimento. A dupla se apresentou bem em todas as cabines de jurados, foi possível observar a união da dança tradicional com a modernidade, em alguns momentos eles arriscaram passos mais coreografados. Durante a apresentação de pouco mais de dois minutos ambos demonstraram muita leveza, sincronia e garra, levantando e empolgando o público. Danielle estava com um vestido verde brilhoso e Marlon com um terno também verde, porém, com um outro tom, ficou muito evidente o entrosamento da dupla, eles demonstraram ter muita confiança um no outro e apenas no olhar se entendiam.

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“Estou muito feliz de ter retornado ao Império Serrano que é a comunidade em que eu nasci e fui criada. Cresci com todo mundo que está aqui, na Serrinha. Para mim é uma felicidade muito grande poder ajudar o Império Serrano, com o Fábio que um coreógrafo maravilhoso que me deixa mais tranquila no nosso trabalho. Se Deus quiser, vai dar tudo certo. Tenho muita fé, vamos na fé, que a gente vai fazer um trabalho lindo. O Império Serrano vai brilhar na Avenida. Sempre tem o que melhorar. Eu sou muito crítica comigo e assim, eu sempre estou querendo melhorar. E eu acho que tem que melhorar sempre até o dia do desfile. Ainda falta um mês. A gente vai treinar muito. Estamos treinando todos os dias praticamente e com os treinos até o desfile acho que vai aperfeiçoar muita coisa ainda”, afirmou a porta-bandeira.

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“Sempre pode melhorar. A gente vem nessa constante evolução, ensaiando bastante. O Império, graças a Deus, está investindo. Agradecer ao apoio do Sandro Avelar, toda diretoria e toda presidência, que vêm investindo no casal com preparação física, e nosso coreógrafo. E a gente vem ensaiando para fazer um grande desfile. Eu acho que a gente conseguiu fazer um balanço positivo. A escola veio cantando muito bem. Um samba maravilhoso desse sobre Arlindo Cruz, nosso grande poeta. Voltar aqui [na Sapucaí] é importante porque a gente consegue fazer um ensaio já visando o desfile oficial. Nada melhor do que ensaiar no nosso solo sagrado para poder fazer o reconhecimento do solo e na hora com certeza fazer um bom desfile”, completou o mestre-sala.

Harmonia

Um canto constante e empolgante, assim podemos definir a harmonia do Império durante seu ensaio. Em nenhum momento foi observado um canto mais fraco, durante todo o ensaio os componentes cantaram com muita força e vibração, todos estavam com o samba na ponta da língua, fruto dos ensaios realizados em quadra e também nas ruas de Madureira. Vale destacar a ala de baianas, as matriarcas do samba desfilaram à frente do que será o carro abre-alas no dia oficial, foi bonito vê-las girando emocionadas e felizes por estarem novamente no Grupo Especial defendendo as cores do Império. Outro destaque foi a grandiosa ala de passistas, eles vieram um pouco antes da bateria e como de costume, mostraram muito samba no pé.

“Foi um ensaio maravilhoso, fantástico, isso é só uma palhinha, temos muitas novidades, mas o mais importante nós conseguimos passar a emoção do Império Serrano como essa escola é forte. E como é necessário o Império, modéstia parte no Grupo Especial. E viemos com um enredo que conta essa linda história, falar de Arlindo Cruz. Temos um samba maravilhoso, um enredo fantástico e temos um chão como há muito tempo não via. Achei a harmonia perfeita maravilhosa, o carro de som fantástico, estamos ensaiando muito isso também, no estúdio e na quadra, porque queremos fazer o melhor”, comentou o intérprete Ito Melodia, que também citou o entrosamento com mestre Vitinho.

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“Importante e está perfeito, o Vitinho eu o amo, os integrantes dizem que já tenho mais de 30 anos de escola. A bateria é perfeita é fantástica, dispensa comentários e o mestre Vitinho é uma da maiores referências de hoje, o cara dorme com bateria, acorda com bateria, sonha com bateria; ele é um rapaz novo, mas muito promissor esse é o Império Serrano, ele ainda vai ter muitos carnavais e vitórias, porque ele merece e a escola merece”.

Evolução

Sem dúvida, esse quesito foi um dos grandes destaques do ensaio, a começar pelo tamanho da escola, Madureira estava em peso e o Império desfilou com um grande contingente. Os componentes estavam extremamente organizados e cada um sabia seu papel dentro das alas, foi uma evolução fluida e coesa, mas sem perder a empolgação e descontração que pede um desfile de carnaval. Destacar uma ala seria injusto com as outras, visto que todas se apresentaram extremamente bem, a maioria delas com adereços nas mãos, como balões e penas, o que gerava um efeito bom para quem assistia. A marcação de onde ficarão as alegorias no desfile oficial foi feita com carros que traziam telões com imagens de desfiles antigos do Império e também momentos da carreira de Arlindo Cruz. Uma grande escultura de São Jorge finalizou o ensaio.

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Samba-Enredo

O samba de autoria de Sombrinha, Aluísio Machado, Carlos Senna, Carlitos Beto Br, Rubens Gordinho e Ambrosio Aurélio se mostrou correto durante todo o ensaio, com destaque para o refrão principal, em que a toda escola cantava com muita empolgação, vale destacar também os outros refrões presentes na obra, o “Dagô, Dagô” caiu nas graças dos componentes e da torcida que acompanhava o ensaio. Elogiar Ito Melodia pode cair na redundância, mas é sempre válido, após anos à frente da União da Ilha, ele chegou ao Império sob olhares de desconfiança, mas com todo seu talento, o intérprete já demonstra estar totalmente integrado ao Menino de 47, no ensaio deste domingo ele deu mais um show juntamente de seu carro de som.

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Outros Destaques

Pelo segundo ano, a rainha Darlin Ferrattry veio a frente da bateria comandada por mestre Vitinho, porém, dessa vez ela veio apresentando sua filha, Wenny Isa, que fará sua estreia como princesa de bateria da escola, ambas demonstraram muita simpatia com o público e interagiram com os ritmistas durante as bossas.

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“Fiquei muito feliz com o ensaio. Foi um momento de emoção, minha estreia na Marquês de Sapucaí como mestre de bateria do Grupo Especial. Só tenho que agradecer a papai do céu, a minha família e a toda bateria pela paciência comigo. Pois eu sou muito chato com trabalho, mas quando a gente não é chato com trabalho, as coisas não acontecem. Eu cobro muito. Procuro sempre a excelência, pois a bateria da Império Serrano sempre fez um ótimo trabalho, e eu queria resgatar esse respeito da bateria da Império. Eu ainda estou em êxtase. Gostei muito do ensaio, eu vou chegar em casa , escutar, estudar para eu ver se a gente precisa melhorar alguma coisa. Claro, sempre a gente pode mais. Eu sou um cara que me cobro muito, e com certeza sempre tem alguma coisa para a gente ajustar. Estou muito satisfeito com o que a bateria da Império Serrano apresentou aqui hoje”, disse mestre Vitinho, que também falou sobre andamento e paradinhas.

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“Gostei muito do andamento, a batucada de criolo. O que eu aprendi, o que eu gosto, o que eu passo para eles. O ritmista respeitou o que a gente vem trabalhando desde abril. Eu sabia da responsabilidade que era manter o nível. Você chegar no alto é muito fácil, agora você manter é muito difícil. O carnaval de 2022 foi muito bacana, um ano de muita glória para a bateria da Império Serrano. Ganhamos muitos prêmios, conseguimos notas dez. Porém foi um ano que passou, temos que agora ir atrás de 2023. Toda vez se cobrar mais, e mais, e mais. Mas eu gostei bastante que tudo que cobrei conseguimos executar direitinho. A gente vai trabalhar a batucada, a bateria da Império Serrano vem com muita batucada. Sim, com arranjos, mas para executar muito bem elaboradas para a cabine de jurados. E não muita coisa, uma paradinha dentro da melodia, dentro do andamento. Eu estou satisfeito de apresentar isso para os jurados. E mostrar a batucada, o jurado quer ouvir a inovação, mas também quer escutar o ritmo da bateria”.

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A rainha da escola, Quitéria Chagas, desfilou antes da comissão de frente e também recebeu muito carinho do público. Um momento muito especial foi ver Sombrinha, amigo e parceiro de Arlindo Cruz, desfilando ao lado de Babi e Flora Cruz, esposa e filha de Arlindo, ele que é um dos autores do samba desse ano estava extremamente feliz.

Colaboraram Allan Duffes, Augusto Werneck, Cristiano Martins, Lucas Santos e Matheus Vinícius

Freddy Ferreira analisa a bateria do Império Serrano no ensaio técnico

A bateria do Império Serrano de mestre Vitinho fez uma apresentação muito boa em seu ensaio técnico. Na cozinha da bateria do Império Serrano (parte de trás do ritmo) as marcações de primeira e segunda fizeram um trabalho seguro no confortável andamento escolhido para o ensaio.

Já os surdos de terceira foram responsáveis pelo molho extremamente envolvente, junto de repiques firmes e caixas de guerra simplesmente impressionantes. O toque de caixa imperiano passou por um processo de reciclagem e o resultado foi musicalmente expressivo. É possível dizer, inclusive, que as caixas da “Sinfônica” serviram de base sonora para todos os demais naipes da bateria.

Na cabeça da bateria do Império, as peças leves preencheram o ritmo com segurança e inegável qualidade musical. Uma ala de tamborins que tocou firme e de forma coesa, fazendo o desenho de modo chapado, dando alto valor sonoro ao ritmo. O naipe de chocalhos seguiu o mesmo caminho, valorizando o samba com um toque sincronizado, uníssono e principalmente volumoso. Os tradicionais agogôs imperianos ressoaram daquela forma peculiar, pontuando a melodia do samba com exatidão e técnica apurada. Cuiqueiros também exibiram um trabalho sólido, ajudando a preencher a sonoridade acima da média da “Sinfônica do Samba”.

A paradinha da cabeça do samba permitiu um molho acentuado na primeira, numa concepção musical que se mostrou sobretudo criativa. Entre inúmeros pagodes já realizados musicalmente por baterias, a escolha imperiana foi por transformar os instrumentos do ritmo em peças utilizadas em rodas de samba. Caixas de guerra fazendo a intenção musical do pandeiro com toque de partido alto, repiniques dando balanço similar ao repique de mão, chocalho virando reco reco, cuícas fazendo toque de pagode, assim como tamborins realizando uma espécie de telecoteco, seguida de uma batida envolvente com tapas, como se chamasse o povo para sambar.

Tudo isso com marcações que deram base e contribuíram para um arranjo que se aproveitou da solução musical de atrelar pagode ao ritmo, com terceiras funcionando como repique de anel, segundas imitando Tantan, enquanto a primeira marcava. Uma construção musical privilegiada que fugiu do lugar comum, produzindo uma sonoridade destacada, que tende a ter uma execução ainda mais refinada até o Carnaval.

Logo após essa bossa, um breque no início do refrão posterior exibiu uma versatilidade rítmica notável por parte das caixas e terceiras, que batem praticamente dobrando seu toque e realçando o referido trecho do samba num arranjo de elevado grau de dificuldade, mas executado de modo consistente de forma a propagar o balanço imperiano.

No final da segunda do bem fundamentado samba-enredo imperiano começa a bossa de maior extensão musical (mais longa) a partir do verso “Numa porção de fé”. A primeira parte remete a uma paradinha do Império das antigas, que na época era puxada pelos agogôs, mas dessa vez é chamada pelos repiques, se aproveitando da pressão proporcionada pelas marcações. Os agogôs, inclusive, entraram pelo corredor da bateria para realizar essa convenção em meio a cozinha, permitindo uma melhor retomada.

O arranjo musical prosseguiu dando um balanço único no refrão principal da escola, enquanto os ritmistas se abaixavam. O toque sincretizado de candomblé no final do estribilho merece menção pela musicalidade e pelo swing propiciado. A paradinha só termina em meados da primeira do samba, explorando a qualidade de todos os naipes, sobretudo das caixas de guerra e do toque envolvente dos surdos de terceira.

O refino musical ficou evidente nos toques para os dois Orixás citados no samba. Primeiro a bateria do Império Serrano tocou para Xangô, dançando dois pra lá, dois pra cá de forma ritmada, enquanto marcavam os movimentos, esbanjando sincronia. A conclusão musical do referido trecho ainda é valorizado por terceiras, que chamavam o ritmo de forma ousada. No segundo refrão, a escolha foi tocar para Ogum, explorando mais uma vez a pressão das marcações. Um acerto cultural e religioso que acrescentou demais a exibição da bateria do Império, além de emocionar os sambistas vinculados à religiões de matriz africana.

Um treino que dignifica as tradições rítmicas da escola da Serrinha, com a “Sinfônica do Samba” de mestre Vitinho propagando inúmeras virtudes musicais ao longo de todo o cortejo.

Freddy Ferreira analisa a bateria do Paraíso do Tuiuti no ensaio técnico

A bateria “SuperSom” do Paraíso do Tuiuti fez um ensaio técnico excelente, sob o comando de Mestre Marcão. Um ritmo requintado e com concepção musical apresentando refino. Por vezes, pela pista, a sensação era de estar ouvindo uma “bateria de estúdio”. Com um ritmo que ficou marcado pelo equilíbrio, boa equalização e consistência.

Na cabeça da bateria, o destaque musical ficou a cargo dos naipes de tamborins e chocalhos, fazendo um desenho rítmico de modo entrelaçado, como se musicalmente se completassem. Uma ala de chocalhos que uniu ritmo esplêndido e espontaneidade de movimentos coreografados, que deram leveza à parte da frente da bateria. O naipe de tamborins executou sua convenção de forma chapada, adicionando qualidade musical à sonoridade. As peças leves eram complementadas ainda por um naipe de cuícas seguro, firme e ressonante, que graças a uma bateria do Tuiuti bem equalizada, pôde ser escutado em qualquer lugar do ritmo.

Já na cozinha, o ritmo da parte de trás da bateria foi conduzido por afinações de surdos privilegiadas, se aproveitando ainda da consistência do ressonante naipe de caixas de guerra e a boa levada dos repiques. O swing envolvente produzido por ritmistas tocando repique mor merece menção musical. Tudo isso alinhado a um balanço irrepreensível dos surdos de terceira, que complementaram a sonoridade com eficácia.

Uma paradinha de grande destaque foi a do refrão principal do samba. Ritmistas tocando repique mor e timbal realizaram um solo de bastante valor sonoro, com direito a uma chamada que adiciona molho ao ritmo após a retomada, além de invariável pressão. A bossa ainda é finalizada de forma inovadora, aproveitando a divisão silábica da palavra “Pará” para a conclusão musical de modo atrevido.

Já a bossa da cabeça do samba deu pressão logo nos primeiros versos, gerando um grande balanço, além de uma retomada bem pontuada por ritmistas tocando repique mor. Uma paradinha que ajuda a escola tanto no canto, quanto na dança, exatamente por fazer o componente sentir a pulsação rítmica.

Logo na sequência desta convenção, no trecho “E nesse encontro entre o rio e o oceano” tem uma paradinha como se fosse uma releitura do Afoxé, se aproveitando do swing dos surdos terceiras para consolidar o ritmo, com direito a um término da convenção realizando um arranjo ousado na parte “Ê batuqueiro..” no início do refrão do meio. Essa conclusão da bossa se aproveita mais uma vez da divisão silábica de um verso do inspirado samba-enredo para destacar com nuance rítmica a bela obra da escola de São Cristóvão.

O leque de bossas é tão amplo e refinado, que não poderia deixar de ser citada a paradinha do refrão do meio no ritmo de Carimbó. De alto grau de complexidade e dificuldade, além do acerto cultural de dar a música o que ela pede, a retomada pautada pelo ritmo dos valiosos chocalhos da “SuperSom” adicionaram qualidade musical inegável ao arranjo, mesmo sendo uma proposta desafiadora, o resultado foi eficaz.

Uma apresentação de exímia qualidade rítmica por parte da bateria “SuperSom”. Mestre Marcão e a bateria do Tuiuti exibiram uma musicalidade merecedora de exaltação junto ao novo intérprete da escola, o invariavelmente talentoso, Wander Pires.

Elogiadíssimo, samba-enredo do Império de Casa Verde é destaque no primeiro ensaio técnico para o Carnaval 2023

Um dos sambas-enredo mais elogiados da elogiada safra do carnaval de São Paulo em 2023 teve sua primeira exibição no Anhembi no último domingo. E a canção foi o ponto forte do Império de Casa Verde no primeiro ensaio técnico da agremiação no ano. Segunda a se apresentar em uma noite com três escolas, o Tigre Guerreiro cantou o enredo “Império dos Tambores – Um Brasil Afromusical”.

Samba-enredo

A tão decantada safra de sambas-enredo paulistanos de 2023 tem na Império de Casa Verde um dos grandes expoentes. Cantado a plenos pulmões em boa parte do desfile e pela grande maioria dos componentes, ele caiu no gosto dos imperianos e de quem acompanhava o ensaio técnico na arquibancada. A qualidade da canção facilitou a tarefa de Tinga, experiente intérprete que estreia na escola da Zona Norte e que não precisou de muitos cacos para empolgar a escola.

O intérprete da escola elogiou o ensaio técnico da escola: “Maravilhoso. A galera está entrosadinha, com muita humildade sempre. Tentando sempre fazer o melhor para ajudar a escola. Acho que isso é muito importante, sempre tentar fazer o melhor, e levar a escola ao objetivo dela que é ser campeã do Carnaval. Estamos trabalhando bastante, com muita humildade, para chegar ao nosso objetivo”, pontuou.

Rogério Tiguês, diretor de Harmonia da escola da Casa Verde, concordou. “Eu gostei bastante do canto do povo e do desempenho da bateria junto com o carro de som, que acho que funcionou muito bem. O Tinga e todos os meninos do carro de som fizeram uma apresentação brilhante. Bateria também brilhante. Por hora, a parte positiva do que eu vi de onde estava, esse é o saldo mais positivo.

ImperioCasaVerde et InterpreteTinga

A obra também foi elogiada por Mestre Zoinho, comandante dos ritmistas da escola: “Samba bom, considerado um dos melhores do carnaval, respeitamos muito o samba, escola, comunidade, está todo mundo de parabéns” pontuou.

Harmonia

O ótimo samba-enredo transformou a Harmonia imperiana. Cantando forte desde o primeiro setor (com exceção da Comissão de Frente), a escola veio leve: até mesmo os responsáveis pelo quesito no Tigre pareciam mais tranquilos, com rápidos incentivos e sem grandes broncas. A ala coreografada que veio logo atrás do carro abre-alas, além de coreografada, foi um excelente cartão de visitas para o Tigre, cantando fortemente.

O intérprete da escola comemorou a receptividade imperiana: “A energia da escola. Dançando o samba, vibrando com o samba. Essa bateria maravilhosa do Mestre Zoinho, a Barcelona do Samba. Foi tudo muito bonito. Espero que seja assim no dia oficial que é o mais importante”, destacou.

ImperioCasaVerde et MestreZoinho

Os elogios foram recíprocos: “Eu e o Tinga já nos conhecemos há muito tempo. O Tinga e bateria do Império casou legal, então não estamos tendo problema nenhum. Parece que a gente toca há dez anos juntos, pelo entrosamento que temos, então estamos felizes por isso, e feliz pelo resultado, o trabalho apresentado, entrosou legal. O Tinga não teve nenhuma dificuldade e a gente também não, e agora é só trabalhar mais, só acertar os erros, alguns detalhes, é claro, internamente, vamos conversar para isso, mas estamos no caminho certo”, elogiou Zoinho.

Tiguês fez o mesmo coro: “É um balanço bem positivo. Se a gente levar em consideração que a escola veio em peso, que o canto está muito bom, as coreografias que previmos foram muito boas, o samba virou. Sempre tem alguma coisa ou outra que depois vendo no vídeo vamos analisar, mas por hora bem positivo, bem favorável”, destacou.

Comissão de Frente

ImperioCasaVerde et Comissao1

Com vários componentes (cerca de trinta), os integrantes se revezavam em uma área à frente de um espaço destinado a um tripé – que, como é natural para a escola, pareceu bastante suntuoso. Chamou atenção que, em determinados momentos, apenas homens dançavam – em outros, apenas mulheres; e, em um terceiro ato, integrantes de ambos os sexos. Também chamou atenção a coreografia dos componentes, bastante extensa – até a metade da Arquibancada Monumental, eram reproduzidos movimentos inéditos. Foi a escola com a coreografia mais próxima do dia do desfile em todos os ensaios técnicos até aqui. Aparentemente para facilitar a movimentação, os componentes desfilaram com camisas da escola, sem fantasias. Todos os presentes focaram na dança e pouco cantaram.

Mestre-Sala e Porta Bandeira

O samba também foi componente importante no bailado de Rodrigo Antonio e Jessica Gioz. Interagindo bastante com a canção e marcando algumas partes do samba com movimentos corporais, a dupla efetuou menos giros que outros integrantes de coirmãs. Sempre sorridentes, até mesmo o staff responsável por eles sorria para as cabines de jurados quando eles estavam próximos do local de avaliação. Não foram notados erros técnicos como aberturas em falso do pavilhão imperiano. Rodrigo e Jessica vieram com roupas especiais, sem fantasias.

ImperioCasaVerde et Casal

Ambos, entretanto, destacam que ainda há pontos para evolução. “A gente veio 90%. Foi do jeito que esperávamos”, destacou Jéssica. Rodrigo pensa de maneira semelhante: “Por ser o primeiro ensaio geral, a gente vai almejando cada ensaio uns cinco a dez por cento. Se estamos 90%, vamos para 95 para no último atingir 100%”, pontuou. Ambos não revelaram se e quais serão os elementos afro na fantasia e na coreografia do casal no dia do desfile.

Evolução

De longe o ponto fraco em um grande ensaio técnico da Império de Casa Verde. Logo de cara, um espaço considerável era notado entre o casal de mestre-sala e porta-bandeira – um responsável pela Harmonia pediu para que a ala avançasse. Premiadíssima, a Barcelona do Samba apostou em uma entrada rápida no recuo e foi possível notar uma morosidade da ala subsequente para tomar o espaço que eram dos ritmistas – antes do movimento, dois responsáveis pela Harmonia conversavam sobre a entrada no espaço.

ImperioCasaVerde et Comunidade1

Outros Destaques

– O gigantismo das alegorias imperianas, mesmo sem carros, ficou evidente no ensaio técnico: os quatro espaços destinados a eles chamaram atenção. Boa parte deles pareceu bem maior que boa parte dos carros da maioria das outras escolas de samba.

– A ala das baianas vinha benzendo com água de arruda quem estava na lateral da passarela. O repórter foi benzido duas vezes.

ImperioCasaVerde et MadrinhaThebaPitelly

– Ao contrário do que muitas vezes acontece no carnaval de São Paulo, a Barcelona do Samba não encerrou o desfile: depois, vinham uma ala e até mesmo um carro alegórico.

– A bateria imperiana executou três bossas e marcou o verso “Acompanha um novo ser”, quando os ritmistas paravam de tocar e voltavam ao cantar “Mete a mão nesse tambor”, com quatro toques nos instrumentos. O comandante aprovou o que foi feito pela escola: “A primeira impressão é que fizemos um bom ensaio técnico. Dentro das nossas possibilidades, ensaiamos para isso, estamos em uma crescente dos ensaios de rua que fazemos e o ensaio de bateria. Agora foi o primeiro contato aqui com a passarela do samba. Temos que melhorar bastante, claro, esse foi só o primeiro, temos mais dois para melhorar, trabalhar bastante. Para o segundo ensaio, terceiro, podem esperar mais, que vamos trabalhar muito mais neste tempo que temos, e fazer um grande trabalho, mostrar um grande carnaval para essa rapaziada, para o público que merece”, destacou.

Colaboraram Gustavo Lima e Lucas Sampaio

Com forte harmonia, Mocidade Alegre tem grande desempenho em seu primeiro ensaio técnico para o Carnaval 2023

A Mocidade Alegre realizou na noite do último domingo o seu primeiro ensaio técnico rumo ao carnaval 2023. Foi um grande treino da Morada do Samba. Praticamente impecável em todos os quesitos. O canto forte da comunidade, a forma como os componentes ‘gritavam’ o samba e a bateria com os vários apagões realizados foram os principais destaques. Dentro dessas paradinhas, a torcida na arquibancada foi muito presente e acompanhou a comunidade nas palmas. No contexto geral que se pode tirar de positivo, a atitude do componente no treino é a de maior valia.

Destaque também para a comissão de frente, que mostrou uma grande riqueza em sua dança, com vários componentes e grupos diferentes encenando.

Comissão de frente

A ala teve várias interpretações dentro do treino. Em determinado momento da coreografia, uma parte mulheres dançavam a frente e, no eixo de trás, um grupo composto por homens sem camisa e com saia vermelha seguravam um pequeno tronco. Todos os integrantes evoluíram por toda a pista, ocupando o espaço destinado. A atração principal, o componente que interpreta o guerreiro ‘Yasuke’, transitava entre todos os integrantes. A interpretação é que o contexto da ala se trata da chegada do guerreiro ao Japão.

Harmonia

A comunidade da Mocidade Alegre deu uma aula no quesito. Os componentes ‘gritaram’ o samba do começo ao fim do treino. Talvez seja a principal força da Morada. Os integrantes de toda escola esbanjaram felicidade, sorrisos, simpatia e desejo de desfilar enquanto passavam pela pista. Todas as alas estiveram muito bem, mas fica o destaque para ‘Ala Asas Douradas’ e ‘Ala Jovem’. A bateria cantava bastante o samba durante os apagões e os versos mais entoados por toda a comunidade foram: “Lágrimas em chamas… Cinzas pelo ar… Serás eterno, jamais se apagará… Em cada jovem o sonho brilha… A sua luz renascerá… Pode ter fé que todo preto pode ser o que quiser”, além dos refrões, principalmente o primeiro, que explodia.

“Foi um ensaio bom, graças a Deus. A gente estava com muito medo do tempo, mas no conjunto geral a gente considera um ensaio bom, tem bastante coisa para acertar ainda, vamos continuar trabalhando e eu acho que nossa comunidade é fantástica, fora de série. Nada acontece se não tem eles. Precisamos acertar a questão das palmas, o canto hoje precisamos acertar o fundo, porque o carro de som para trás ele não tem som. Não vamos dizer que atrapalhou, mas também não ajudou. Talvez seja a questão de acerto”, analisou o diretor de harmonia, Carlos Magno.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Jefferson Gomes e Natália Lago mostrou uma coreografia belíssima dentro do samba. Bailaram de acordo com todos os acordes do carro de som, girando de um lado para o outro. Dança bem realizada com grande sincronia. Apenas um leve deslize do mestre-sala ao mostrar o pavilhão próximo ao módulo três.

MocidadeAlegre et casal

“Ensaio foi muito bom. Para o que a gente tinha programado, excelente, pelo que a gente testou aqui, e o que vamos alterar que é o primeiro ensaio. Ver o andamento da escola, ajustar algumas coisas, o espaçamento, mas tudo que planejamos, a gente pode executar”, disse o mestre-sala Jefferson Gomes.

“Foi muito bom, mas sempre dá para melhorar, então temos tempo para poder ter o melhor do melhor”, completou a porta-bandeira Natália Lago. Na semana viemos ensaiar, e estava muito vento, hoje comparado com os ensaios da semana, foi um dia melhor”, completou a porta-bandeira Natália Lago.

Evolução

A escola evoluiu de forma satisfatória e apostou bastante em alas coreografadas. Em certa parte do desfile, talvez tenha dado uma acelerada, mas nada que impactou diretamente no desempenho da Mocidade Alegre no ensaio. O alinhamento das alas foi feito de forma correta e compacta. Quando a bateria fazia a bossa citada no quesito harmonia, os componentes batiam palmas no alto. Destaque principal para a forma como se comportavam. Todos estavam leves e soltos.

MocidadeAlegre et Comunidade1

Samba-enredo

Considerado um dos melhores sambas do carnaval, a obra da Mocidade Alegre prontamente caiu no gosto da comunidade. Apesar de ser uma grande junção, a diretoria da escola foi feliz em escolher como usar ambas as partes. O intérprete Igor Sorriso, mostrou-se totalmente adaptado à trilha sonora. A forma como ele jogava para a comunidade cantar, diz muito sobre o significado. É uma obra que além de exaltar o guerreiro Yasuke, passa motivação ao povo negro. Caiu nas graças da comunidade.

MocidadeAlegre et IgorSorriso

O intérprete Igor Sorriso deu a sua visão a respeito do treino. “Sempre pode melhorar, buscamos fazer um trabalho de excelência e todo trabalho de excelência precisamos ajustar os detalhes. Então vamos buscar sempre essas correções, tem algumas coisinhas que deixamos a desejar, pecamos, vamos ajustar. Mas foi um ensaio bom, produtivo, para um primeiro ensaio foi muito bom. Pode ter certeza que no próximo ensaio, sexta-feira, a Mocidade vem ainda melhor, e no terceiro melhor ainda, se preparando para o grande dia. O canto em coral é muito difícil, todo mundo no mesmo momento, na mesma divisão, é bem complicado. Precisamos ensaiar bastante para ter o máximo de excelência, então vamos trabalhar para poder melhorar”, disse.

MocidadeAlegre et PresidenteSolange

Outros destaques

As bossas da bateria ‘Ritmo Puro’, comandada pelo mestre Sombra, foram grandes. Destaque para os apagões executados por muitas vezes no refrão do meio e nos últimos versos do samba. As caixas e os surdos de terceira foram os instrumentos destaques da batucada.

MocidadeAlegre et MestreSombra

O diretor de bateria, mestre Sombra, avaliou o ensaio. “A gente está dentro de um planejamento. A meta era fazer um ensaio de melhor rendimento possível, e graças a Deus nós atingimos esse objetivo. Agora é tentar melhorar. Sempre tem algum ajuste, sempre tem algum detalhe, para no próximo vir numa crescente, com mais clareza, mais detalhes ajustados para o segundo ensaio. Sempre falta tudo. Acho que a gente nunca pode se acomodar. Tem que estar atento a todos os naipes, todos os detalhes, todos os breques. Ver o que aconteceu, conversar com a diretoria, ver o que todo mundo sentiu do ensaio para dar o status real do que foi ensaio. É o que nós sempre fazemos”, declarou.

MocidadeAlegre et Comunidade 2

Destaque para a torcida da Morada. Não arredou o pé do Anhembi. Ao término do ensaio, alguns foliões foram acompanhar a bateria na dispersão.

As baianas levavam um guarda-chuva vermelho ao estilo japonês, dando um belo contraste na ala. Muitas alas desfilaram com adereços de mão e de cabeça.

MocidadeAlegre et Baianas

Colaboraram Lucas Sampaio e Will Fernandes

Galeria de fotos: ensaio técnico do Paraíso do Tuiuti no Sambódromo

Galeria de fotos: ensaio técnico do Império Serrano no Sambódromo