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Freddy Ferreira analisa a bateria da Ilha no desfile

A bateria da União da Ilha do Governador fez um desfile magnífico, sob o comando de mestre Marcelo Santos. Uma conjunção sonora que explicitou o alto valor técnico da “Baterilha”. O ritmo insulano ficou marcado pela concepção musical baseada em funcionalidade e eficácia, mesmo com arranjos mais elaborados, que permitiu uma fluidez sonora entre os mais diversos naipes.

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A cozinha da bateria da Ilha apresentou um trabalho refinado. Marcadores de primeira e segunda foram seguros, firmes e eficazes. Surdos de terceira deram um balanço profundo ao ritmo insulano. Repiques auxiliaram a complementar a musicalidade da parte de trás do ritmo. Um naipe de caixas absurdamente técnico exibiu o clássico toque embaixo com a rufada peculiar da Ilha. Vale ressaltar que as caixas deram amparo musical para todas as peças, tocando de forma ressonante.

A cabeça da “Baterilha” contou com trabalhos simplesmente impecáveis. Um naipe de cuícas de qualidade foi percebido, bem como uma ala de agogôs excepcional deu leveza à parte da frente do ritmo. O naipe de agogôs, inclusive, possui papel fundamental nas paradinhas, usando sua sonoridade primorosa dando um alto valor musical às peças leves. Uma ala de chocalhos sublime e com volume notável tocou de forma integrada a um naipe de tamborins profundamente técnico. O “Tamborilha” (apelido da ala) tem indubitavelmente um dos melhores naipes de tamborinistas do país e fez valer seu legado musical tocando como se fosse somente um durante toda a pista.

O trecho “Portela” evidenciou o bom gosto nos arranjos musicais insulanos. Pautado pela simplicidade, um corte seco é realizado, deixando os ritmistas do repique mor fazendo um solo envolvente. O maior mérito envolvendo a bossa é deixar o samba-enredo da Ilha ser cantado em coro, retomando o ritmo com um tapa em conjunto de todas as peças.

A bossa da cabeça do samba começava no refrão principal, após um corte seco seguido de retomada através do “ataque” dos naipes. A finalização da convenção envolveu sofisticação e requinte, envolvendo inclusive uma subida progressiva, consolidando a sonoridade de forma destacada.

A luxuosa construção musical da paradinha do refrão do meio consolidou o ritmo através da pressão provocada pelas batidas de diversas peças em conjunto. Possui um grau de dificuldade elevado de execução. O bom balanço das terceiras ficou evidente no arranjo, que ainda contou com três tapas dos tamborins unidos a uma rufada de caixa.

Uma bossa no fim da segunda teve destaque devido a boa integração musical, num arranjo que deixou explícito o swing envolvente dos surdos de terceiras insulanas. Isso sem contar os solistas do repique mor, que deram balanço ao ritmo da bateria da Ilha no momento de retomar o ritmo. Uma construção musical baseada em impacto sonoro e pressão.

Todas as apresentações nos julgadores foram bem realizadas. É possível dizer, inclusive, que era nítida a boa receptividade por parte do júri, diante de arranjos bem elaborados e executados à perfeição. Um grande desfile da “Baterilha” de mestre Marcelo.

‘Mulheres de Barro- Ensinar e aprender’: Segunda alegoria da Inocentes exalta cultura capixaba

Inocentes01Última escola a desfilar no sábado de carnaval da Série Ouro, a Inocentes de Belford Roxo exaltou as paneleiras de barro de Goiabeiras Velha, em Vitória, no Espírito Santo, através do enredo “Mulheres de Barro”, do carnavalesco Lucas Milato. A segunda alegoria da escola, intitulada “Mulheres de Barro- Ensinar e aprender”, exaltou a cultura de aprendizado constante, de geração para geração, das paneleiras.

A alegoria, predominantemente em tons de marrom, possuía belos barquinhos em tons de azul na frente, além de uma escultura de uma paneleira. Na cultura das paneleiras, os ensinamentos passados entre avós, irmãs, filhas e netas são formas de manter vivas as suas raízes.

Integrante da alegoria, o morador da Praça Seca Rogério Berner exalta o saber e a cultuias das paneleiras de Goiabeiras Velha. Segundo o ator, a valorização da cultura capixaba é um feito da Inocentes de Belford Roxo e precisa ser acompanhada da valorização das demais culturas dos estados brasileiros.

Inocentes02“A cultura capixaba é importante e bem valorizada, mas a realidade é que nosso povo não valoriza a cultura entre mentes, pois ela precisa ser valorizada em qualquer setor, temos a cultura carioca, nordestina e hoje, temos essa abertura de um trabalho da Inocentes em que você demonstra o trabalho das paneleiras, mulher fantástica que fizeram com que o país crescesse ainda mais”, ressaltou.

Cada dia mais, o carnaval é uma fonte infinita de propagação de cultura e conhecimentos sobre o Brasil. A prova disso é o próprio Rogério Berner. Em sua estreia pela Caçulinha da Baixada, o ator afirma ter conhecido a história das paneleiras através da escola e se encantado logo de cara.

“Eu me apaixonei completamente por esse enredo sobre as paneleiras, a Inocentes de Belford Roxo me mostrou essa história e fez com que eu me apaixonasse. É um samba maravilhoso”, concluiu.

Carro ‘Axé plantado no terreiro’ simboliza fé da Império da Tijuca com Ogum e Oxum

Imprio da Tijuca04O segundo carro da Império da Tijuca, “Axé plantado no terreiro”, simboliza o axé dos terreiros, com a benção de Ogum e Oxum, os padroeiros da escola. A frente do carro é composta por mulheres representando Oxum e atrás estão os homens representando Ogum. A alegoria é dividida nas cores dos orixás.

Na parte de Oxum o carro é dourado e as componentes estão fantasiadas com adereços da mesma cor. As fantasias dos homens são azul e bronze, mesmas cores da parte traseira da alegoria.

A missão de representar Oxum na linha de frente da alegoria foi dada a uma dupla que veio da Bahia: Ludmila Ângelos e Fernanda Dias. Ambas são atrizes e se sentiram muito honradas em representar a entidade na Marquês de Sapucaí.

Imprio da Tijuca03Ludmila, de 37 anos, é do Candomblé. Por esse motivo, a espiritualidade tem um lugar especial em sua vida.

“Desde o princípio da hora que eu acordo, antes de botar o pé no chão eu falo: ‘Deus abençoe meus orixás para que eu possa seguir em frente’ (…) Oxum é a espiritualidade da riqueza, da força, da energia e de toda a fertilidade”, disse Ludmila.

Fernanda, de 46 anos, apesar de não ser batizada no Candomblé, tem uma carinho especial pelas religiões de matriz africana. Sempre quando pode, a atriz está presente em terreiros na Bahia.

“Minha família já tinha uma espiritualidade muito aprofundada, veio passando de geração em geração (…) Eu sou uma simpatizante das religiões de matriz africana. Existem casas que eu frequento, mas eu não sou filha de santo”, falou Fernada.

Carro abre-alas apagado dificulta briga por título da Ilha em desfile com excelência visual

A União da Ilha do Governador pisou na Sapucaí com toda a responsabilidade de mais uma vez ser favorita ao acesso e pela homenagem realizada aos seus 70 anos de história e ao centenário da madrinha Portela. Apesar do excelente trabalho visual do carnavalesco Cahê Rodrigues, o carro abre-alas passou apagado nos dois últimos módulos de julgamento, o que deve gerar despontuação que pode fazer falta em uma eventual título da Série Ouro. A alegoria trazia as cores da escola e as águias, símbolo das duas agremiações. A “Baterilha” de mestre Marcelo Santos foi outro ponto alto da noite e a comissão de frente apresentou bem a ideia da homenagem presente no enredo além de impressionar pela excelência no aspecto visual. Com o enredo “O encontro das águias no Templo de Momo”, a União da Ilha foi a sexta agremiação a desfilar, encerrando sua apresentação com 53 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE 

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Comissão de frente

A comissão de frente de Márcio Moura trouxe um cortejo de arlequins, personagens tradicionais do carnaval, que com piruetas e acrobacias cortejavam um elemento cenográfico que representava o altar da realeza, onde se curvaram diante dos deuses do samba, expressados pela figura do Rei Momo do carnaval de 2022, Wilson Dias. No tripé, Wilson estava sentado em um trono à frente do brasão da Ilha e de um conjunto que remeteu a pequenos barracos como que representando a comunidade insulana.

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Em determinado momento o rei da folia descia e interagia com os arlequins, sambando inclusive. Destaque para a atuação muito expressiva de Wilson e o sorriso destacado no rosto. No primeiro módulo, enquanto sambava, a coroa do Momo chegou a balançar fazendo com que Wilson tivesse que segurar para não correr o risco da queda. Em outros módulos, continuou a impressão de que a coroa talvez estivesse um pouco solta, mas sem gerar nenhum problema concreto para a performance. No ato final, o trono virava e aparecia a presidente de honra da Portela, Tia Surica, reverenciada e aplaudida pelo público.

Ainda no ápice da apresentação uma componente vestida de águia aparecia acima do elemento, enquanto saía fumaça da alegoria e a bandeira das duas escolas homenageadas no enredo apareciam no chão e acima do tripé. No geral uma apresentação bastante pertinente com o enredo, explicativa e com surpresas que deram ao início do desfile o tom da emoção que o carnaval da Ilha propõe. Destaque para o apuro visual das fantasias dos arlequins e do Momo.

LEIA ABAIXO MATÉRIAS ESPECIAIS DO DESFILE
* Com a águia simbolizando a união entre madrinha e afilhada, terceira alegoria da Ilha encerrou o desfile em homenagem à Portela
* Ilha enaltece carnavais antigos enquanto honra a atualidade
* Insulanos comentam importância de homenagem à Portela no seu centenário
* Ilha promove encontro de águias ao pisar na Sapucaí

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Thiaguinho Mendonça e Amanda Poblete, veio logo no primeiro setor atrás da comissão de frente, com a fantasia “enamorados”, representando bailes de máscaras que vieram de Paris para o Brasil envolvidos por um clima de glamour, elegância e desejo. O modelito trazia as cores da escola e era finalizado com uma bonita máscara alada com um bico prolongado trazendo a ideia do símbolo das duas escolas, a águia.

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Na apresentação a dupla apostou em uma coreografia mais tradicional. Já na entrada para a apresentação nos módulos, Amanda apostou em fortes rodopios mas com graças e sutileza. Thiaguinho realizava passos bastante precisos e com bom nível de dificuldade, trazendo na mão um leque que dava um charme a mais na apresentação. A dupla apostou em não pontuar muito a letra do samba, mas em concentrar os passos na aproximação e na delicadeza que a própria fantasia sugeria. No segundo módulo, quando Amanda estendeu o pavilhão para que Thiaguinho pegasse, o mestre-sala teve uma imprecisão, passando um pouco do ponto de pegada, mas ainda assim segurando no minuto final. Outro ponto a se destacar foi uma discreta participação dos guardiões no trecho do samba que cantava “Portela”, quando os componentes erguiam seus estandartes como saudando a homenageada.

Harmonia

A comunidade insulana começou o desfile cantando a obra de uma forma bastante intensa, gerando uma interação com o público e dando a impressão de que seguiria com o nível alto de canto até o final. Mas a partir do meio do desfile e principalmente quando comissão e casal terminaram a apresentação no segundo módulo, o terceiro e quarto setor da agremiação tiveram um desempenho mais irregular. Algumas alas cantavam com mais firmeza, outras menos, ou se limitavam mais a cantar refrões do samba.

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No canto destaque para as alas “lendas e festas das Yabás”, “o encontro” e “foliões mascarados”. Neste quesito, Igor Vianna nada teve de ponto negativo, mostrando segurança, intensidade e correção musical, junto ao seu carro de som, tirando da obra tudo que era possível para o desfile. Na parte de cacos, o cantor também foi bastante sucinto, realizando nos momentos que o samba pedia e o incentivo ao canto dos componentes também não foi exagerado e não poluiu o canto do samba.

Enredo

O enredo “O encontro das águias no Templo de Momo” comemorou os 70 anos da União da Ilha recebendo a Madrinha Portela para festejar o Centenário da da mais antiga e vitoriosa Escola de Samba do Carnaval Carioca. O primeiro setor mostrou uma breve história do carnaval carioca e sua origem nos salões de Paris. Logo depois, a escola trouxe a sua própria origem, a relação da União da Ilha com o Cacuia e sua descendência do futebol. Em seguida, o desfile apresentou, com um pouco mais de nostalgia, um flash de como era o Carnaval Carioca nas ruas e nos salões. Por fim, o desfile encerrou rendendo homenagens ao Centenário da Portela, escola Madrinha. As fantasias apresentaram o enredo de forma satisfatória e a homenagem teve o clima nostálgico e alegre que o tema pedia.

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Evolução

A União da Ilha fez uma evolução sem maiores problemas durante os seus 53 minutos de apresentação, se permitindo a terminar com calma e brincando carnaval o seu desfile. Não houve a apresentação de buracos pela escola durante toda a passagem da pista, com a agremiação compacta, com as alas com bom volume de integrantes e os componentes brincando carnaval em sua maioria. Alas coreografadas só foram percebidas já no último setor como a ala ” águia altaneira” que representava o animal símbolo da Portela.

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Os componentes realizavam uma coreografia leve e tomada pela delicadeza de movimento se aproveitando das grandes, mas leves faixas de tecido que vinham em suas costas. A bateria entrou no recuo com 38 minutos e saiu com 45, em ambos os momentos sem causar prejuízo a evolução com fluência da escola que não teve grandes momentos parada e que no geral viu seus componentes se deslocarem com espontaneidade e alegria.

Samba-enredo

A obra de Noca de Portela e companhia tem uma característica mais doce, melodiosa, quase nostálgica. O refrão “Benção Dindinha” não procurou explodir mas estar na boca do componente de forma dolente, agradável. A letra do samba em sua primeira estrofe fazia alusão a algumas obras famosas da Ilha, também homenageada no enredo, como nos trechos ” a união vem brincar”, “o amanhã”, “domingo” e “o rei mandou festejar”.

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A obra teve um bom rendimento na Avenida, muito pelo andamento agradável colocado pela bateria, mas sem ser tão explosiva e sem contagiar tanto o público que estava do lado de fora da pista. No canto o destaque ficou principalmente para o refrão principal “Benção Dindinha hoje eu quero sambar” e na segunda do samba o trecho que cita a Portela. A segunda do samba parecia ter um rendimento menor em termo de canto, preparando para o refrão principal que era o mais cantado como citado acima.

Fantasias

A União da Ilha apresentou um conjunto de fantasias que apostou inicialmente nas cores da escola insulana, vermelho, branco e azul, em alguns momentos trazendo um pouco do dourado para contrastar e produzir um bonito efeito, como na primeira ala “o grande baile”, que fazia referência aos bailes mascarados. Em um outro momento, no terceiro setor que lembrava os antigos carnavais, a aposta foi no colorido e na utilização de mais cores diferentes dos tons da Tricolor Insulana. No último setor, em uma homenagem mais explícita a Portela, o azul brilhou na paleta de cores, contrastando com cores mais claras como branco e o prata.

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No geral, os figurinos apresentavam um volume expressivo mas sem tornar a roupa pesada para o componente. Os materiais eram de boa qualidade e faziam referência principalmente ao universo dos personagens da folia carnavalesca. Como ponto negativo, é importante citar a ala número 09, “bufões anunciadores” que passou pela Sapucaí sem chapéu. Destaque em termos de apuro visual para a ala de passistas “os grandes bailes” e a ala “foliões mascarados” pelo bonito contratos entre o azul e o rosa em tons mais claros.

Alegorias

O principal calcanhar da Ilha nesse desfile, não pelo apuro visual, que estava de muito bom gosto e com bom acabamento, mas pelo Abre-Alas “O Salão das Águias” que passou apagado pelo segundo e terceiro módulo de julgamento, o que deve gerar a perda de décimos preciosos. A alegoria representou o palco principal da festa para o encontro de Águias guardiãs que defendem os brasões das duas homenageadas e que viram seus ninhos na Avenida. Lindas máscaras aladas completaram a decoração do nobre salão, mas o problema com a iluminação tirou o efeito do olho na cor vermelha que passou bem no primeiro módulo quando a alegoria ainda estava acesa. O carro trouxe as cores da Ilha contrastado com o dourado.

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Destaque também para o tripé “Bar dos Poetas” que fez um tributo a Aroldo Melodia, Aurinho, Franco, entre outros. O elemento era bastante alto e trazia um interessante azul claro. A segunda alegoria ” O carnaval de nossas vidas” , no formato de um casarão secular com arlequins, pierrôs e colombinas, era o carro mais colorido e volumoso em relação a apresentar componentes em diferentes fantasias. As esculturas remetem a personagens do carnaval com facetas hilárias e irreverentes. O ponto alto foi a última alegoria “Obrigado, Madrinha Portela” que trouxe uma grande homenagem a Portela com a Águia mascarada, fantasiada para o grande baile relembrando o carnaval de 1995 da Azul e Branca de Madureira. O animal estava muito bonito, e a iluminação deu um brilho a mais na alegoria que trazia baluartes importantes da Portela.

Outros destaques

A bateria, outro grande destaque da noite insulana, veio de “arlequinados”, representando o personagem carnavalesco e sua roupa tradicional mas com as cores da escola . Mestre Nilo Sérgio, com um terno azul claro, veio ao lado do comandante da Baterilha, mestre Marcelo Santos. A rainha Juliana Souza fez em sua fantasia um tributo a Deise Nunes, que estava no Abre-alas, um dos ícones da beleza do carnaval carioca na década de 1990 que esteve à frente da bateria da União da Ilha.

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O figurino nas cores da escola tinha luzes de led. A ex- porta-bandeira Wilma Nascimento veio no último carro. Elymar Santos veio no segundo carro. No esquenta da União da Ilha, Igor Vianna cantou o samba de 1996, além do aclamadíssimo “Fatumbi”. A velha guarda em um bonito terno de risca de giz na cor azul que representou garbosamente os sambistas que cultivaram as primeiras sementes desta árvore frondosa, a Portela. O carnavalesco Cahê Rodrigues veio no final do desfile cumprimentando o público e com um sorriso no rosto.

Fotos: desfile do Império da Tijuca no Carnaval 2023

Com a águia simbolizando a união entre madrinha e afilhada, terceira alegoria da Ilha encerrou o desfile em homenagem à Portela

Ilha06 1Com o carro “Obrigado, madrinha Portela!”, a União da Ilha do Governador encerrou o desfile que homenageia o centenário da Portela com a mistura de insulanos e portelenses, destacando o encontro das águias – a união entre as duas escolas de samba. Com uma grande águia no topo, a alegoria foi marcada por grandes e históricos nomes da escola de Madureira. Na frente do carro, Noca da Portela, Vilma Nascimento e Jerônimo. No lado direito, velha guarda e convidados portelenses, como a porta-bandeira Lucinha Nobre e, no lado direito, velha guarda e convidados da Ilha.

Em entrevista ao site CARNAVALESCO, os componentes do terceiro carro alegórico falaram sobre a homenagem e a mensagem passada pelo carro alegórico que atravessou a Passarela do samba repleto de histórias vivas do carnaval carioca.

Ilha02 3Wesley Teixeira, servidor público de 47 anos, foi um dos destaques da alegoria que encerrou o desfile da União da Ilha do Governador. Ele explicou o papel do carro dentro do enredo e contou o que acha da homenagem da escola à madrinha.

“No carro eu sou o guardião da águia. Eu acho essa homenagem muito merecida, porque a Portela está fazendo cem anos. É uma escola histórica, tradicional e amada pelos fãs do carnaval. Essa alegoria aqui (terceiro carro) representa essa homenagem, em si, à Portela. Trazemos a águia da Portela, além de personalidades da escola. Aqui é a síntese do enredo. O carro está lindo e perfeito”, disse o destaque do terceiro carro.

Ilha05 2Wesley também falou da importância da mensagem de que as crianças são os guardiões da nova geração de sambistas.

“Temos que fortalecer todas as escolas de base, desde mestre-sala e porta-bandeira e bateria a todos os outros segmentos. É de pequeno que se faz o sucesso lá no futuro”, completou Wesley Silva.

Parte da velha guarda da escola insulana, dona Roseli Vagner, de 59 anos, desfila há 13 na agremiação. Segundo ela, a Portela apoia, de fato, Ilha nesta luta em busca do acesso ao Grupo Especial.

Ilha03 3“A homenagem é maravilhosa, porque a Portela realmente é uma madrinha e abraça a Ilha. Mesmo com a gente na Série Ouro, ela sempre nos incentiva a estar melhor e melhor para voltar ao Grupo Especial. Madrinha é isso aí: segurar no colo e querer que fique bem. Hoje é isso que está acontecendo”, contou a componente da velha guarda.

Roseli acredita que o terceiro carro representa a relação da águia com a velha guarda da escola, fundamental para representar sabedoria e fornecer ensinamentos em qualquer agremiação. Ela também ressaltou a relação da velha guarda com as crianças da escola – futuro do samba.

“Para mim, esse carro representa o encontro da águia da Portela com a velha guarda. Isso é uma coisa muito profunda, porque a velha guarda é a sabedoria de uma escola. O que eu vi no clipe do enredo foi a Portela querendo que a gente volte. Um apoio da madrinha para a gente voltar ao Grupo Especial. As crianças são o futuro do samba e o nosso samba não pode morrer. A nossa velha guarda passa isso para as crianças e isso vai se perpetuando”, enfatizou dona Roseli.

Um dos grandes nomes da Portela, a porta-bandeira Lucinha Nobre desfilou no último carro da União da Ilha. Mesmo com a correria e os preparativos para o desfile da Portela na próxima segunda-feira, ela não pôde deixar de prestigiar a afilhada.

“Essa homenagem representa o encontro das águias. A Ilha é sempre uma escola querida, eu tenho grandes amigos aqui e não tinha como não estar aqui hoje prestigiando a Portela. É o centenário da Portela e tem que ser muito comemorado. Eu dei uma ‘fugida’ entre os ensaios, a troca de roupa e todos os detalhes finais – que não são fáceis – para fazer questão de vir prestigiar a Ilha e a Série Ouro também, porque eu acho muito importante que o sambista que ama carnaval esteja aqui na Série Ouro”, contou Lucinha.

Para ela, o centenário da escola reforça a homenagem recebida. Lucinha lembrou que outras escolas também estão homenageando a agremiação de Madureira e Oswaldo Cruz, como a Caprichosos de Pilares, na Série Prata do carnaval carioca.

“Com certeza o centenário reforça essa homenagem. Na verdade é a primeira comemoração do centenário e segunda-feira tem mais. Além de outras escolas que também estão homenageando o centenário da nossa escola, como a Caprichosos. A gente procura estar presente em todas que nos convidam”, ressaltou.

‘Uma amiga e a nossa afilhada querida’. Para Lucinha, isso que a União da Ilha do Governador representa para a Portela. Ela contou que a relação com a agremiação insulana começou desde pequena, por influência de seus pais. Com esta conexão, a porta-bandeira não poderia deixar de prestigiar a Ilha.

“A Ilha é uma escola amiga. Ela é a nossa afilhada querida e eu torço sempre pela Ilha. Adoro os sambas da Ilha. Quando eu era criança, meus pais eram muito amigos do Franco (compositor da escola). Então, na verdade, a minha primeira relação com a Ilha do Governador começa lá atrás, quando eu ainda era criança e o Franco era o meu médico. Ele foi o cara que eu conheci que mais amava a Ilha. A relação é antiga,mas é a primeira vez que eu desfilo na Ilha. A águia está linda. Se é águia não tem como ficar feia, meu filho (risos)”, revelou a porta-bandeira da Portela.

Com a homenagem à madrinha, a União da Ilha do Governador foi a sexta escola a desfilar no sábado de carnaval da Marquês de Sapucaí.

Baianas do Império da Tijuca fazem devoção ao candomblé e ao samba

Imperio da Tijuca03 1As baianas da Império da Tijuca trouxeram, neste sábado, no seu segundo dia de desfile no Grupo de Acesso, a representação das religiões de matrizes africanas. A fantasia das baianas, ‘As Oferendas de Axé’, representou essas religiões. “É muito axé representar as oferendas, é representada no tipo de tecido, na figura da baiana (que é a mãe do samba) e faz oferenda ao Orixás e, também, sua estampa que traz o desenho das oferendas”, disse Maria Cristina, presidente das baianas na verde e branca.

A fantasia é branca e bordada em detalhes dourados. Tem desenhos de personagens negros em uma faixa colorida com flores. Na cabeça, as baianas utilizam turbantes e chapéus que representam bandejas de oferendas, com frutas.

Imperio da Tijuca01 1Foi o primeiro desfile de Rosi Patrícia, ela estava feliz e nervosa, ao mesmo tempo, por desfilar na Sapucaí. Ela explicou que a maior importância de estar representando as oferendas é representar a religião africana. “É se sentir livre, representar para as pessoas a sua religião e a sua fé. […] A sensação é muito boa, vou rodar muito na avenida”, disse Rosi.

As baianas entraram em um consenso sobre a fantasia: é leve e confortável. “Ela é leve. Esta é leve! Esta. ” afirma Matilde Dias, aposentada, em tom de deboche e rindo. Ela já desfilou onze vezes ao longo da vida e já passou por diversas fantasias. “Só depois que você coloca, que não pode fazer nada. Não pode sentar, não pode fumar, não pode fazer nada. Só ficar balançando assim pra fazer um ventinho”, disse Matilde rindo e balançando sua fantasia.

Imperio da Tijuca02 1A escola foi a penúltima escola a desfilar na Sapucaí. A verde e branca se inspirou nas obras do artista apaixonado pela pela Bahia, Carybé, e utiliza as cores do Axé. As baianas da escola fizeram um gesto de devoção ao candomblé e ao samba.

Águia de Ouro 2023: galeria de fotos

Freddy Ferreira analisa a bateria do Império da Tijuca no desfile

A bateria do Império da Tijuca de mestre Jordan fez um desfile regular. Embora o ritmo produzido tenha sido de evidente qualidade, as apresentações para julgadores poderiam ter sido melhores, principalmente na finalização das bossas executadas. A conjunção sonora da bateria esteve boa, mas a conclusão de arranjos envolvendo o toque de “Machado de Xangô” oscilou pela pista.

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Na parte de trás do ritmo, uma afinação de surdos acima da média foi notada. Marcadores de primeira e segunda ditaram o andamento de forma precisa e segura. Os surdos de terceira deram balanço considerável ao ritmo da “Sinfonia Imperial”, que ainda contou com caixas de guerra de qualidade musical, aliada a repiques consistentes. Na cozinha da bateria também haviam ritmistas com timbal, que auxiliou no preenchimento sonoro, tanto do ritmo, quanto principalmente nos arranjos musicais.

A cabeça da bateria contou com um naipe de cuícas tecnicamente privilegiado, que desenha até em bossas esbanjando qualidade musical. A ala de chocalhos adicionou valor sonoro à parte da frente do ritmo. Assim como os tamborins exibiram bom volume, complementando a sonoridade.

Uma bossa na cabeça do samba deu impacto sonoro à “Sinfonia Imperial”, utilizando a pressão dos surdos e de tapas em conjunto de outros naipes, além do swing das terceiras. Vale menção musical ao toque extremamente envolvente dos ritmistas com timbal, numa construção musical complexa, mas bem realizada.

Um casamento musical dos timbales com o ritmo da escola do morro da Formiga também foi evidenciado na paradinha do final da segunda, que é finalizada durante o refrão principal. Um arranjo musical bem feito e melhor ainda executado.

Como forma de dar dinamismo ao ritmo, foi possível notar uma subida de três um pouco mais elaborada, permitindo fluência entre os naipes após ser executada. Uma nuance rítmica envolvendo os surdos também foi percebida na segunda do samba.

Um solo de timbales atrelou a sonoridade da “Sinfonia Imperial” ao que solicitava tanto o enredo, quanto principalmente a obra da escola. No trecho que se repete após o refrão do meio “Tambor, Ogã” houve um solo dos ritmistas com timbal, após tapas dos tamborins. Sua execução infelizmente se mostrou inconstante pela pista por causa da retomada, pois sem os surdos o ritmo não tinha referência alguma para manter o andamento. Na hora da finalização, fazendo um “Machado de Xangô”, foi possível perceber algumas imprecisões rítmicas. A mesma conclusão era realizada na paradinha do refrão do meio já na segunda do samba. A convenção é iniciada com tapas em conjunto que eram efetuados na primeira passada. Na segunda passada, tamborins e chocalhos ajudam a consolidar o ritmo.

A melhor apresentação da bateria do Império da Tijuca foi no último módulo. É importante ressaltar que, pouco antes de chegar no primeiro módulo de jurados, caixas de som inconstantes e irregulares prejudicaram nitidamente a bateria do Império da Tijuca em uma bossa com solo dos timbales. Os ritmistas se mantiveram concentrados e cantando o samba-enredo, para contornar a sonoridade cambaleante tão próxima de uma cabine. No segundo módulo, uma imprecisão rítmica foi notada na finalização de uma bossa executando um toque conhecido como “Machado de Xangô”. O problema é que isso ocorria após um solo dos timbales, quando a bateria ficava sem a referência do andamento ditado pelos marcadores. Um desfile da “Sinfonia Imperial que poderia ter sido melhor tecnicamente, em frente às cabines de jurados.

Terceiro carro da Império da Tijuca representa o axé da feijoada

Imperio da Tijuca02O último carro do Império da Tijuca, “No altar da feijoada emoldurados na fé” , representa o axé das feijoadas de Ogum pela obra de Caribé e pela fé da Império da Tijuca. Estão presentes na alegoria: a velha guarda e componentes fantasiados com as cores da escola. Além disso, o carro alegórico é bem colorido e tem um São Jorge imponente na frente.

O representante de São Jorge na alegoria foi Nedilson Safo, comerciário de 60 anos. Nedilson sempre frequenta feijoadas de escolas de samba, principalmente da Império da Tijuca.

Imperio da Tijuca03“Os escravizados trouxeram a feijoada da África e está até hoje aqui (…) Ogum é um dos patronos da escola, o santo protetor e também está voltado para a feijoada. Eu me sinto honrado”, disse Nedilson.

José Alberto Matias, aposentado de 72 anos, ocupa o cargo de presidente da velha guarda da Império da Tijuca. Para ele, a ancestralidade da feijoada é o grande valor da feijoada.

“Na minha opinião, a feijoada para sociedade brasileira repercute muito por conta da ancestralidade. Nesse momento que estamos vivendo no nosso país, a ancestralidade é tudo (…) A velha guarda é o início de tudo. Se hoje a escola está aqui, é porque nós demos o primeiro passo”, falou Matias.

Imperio da Tijuca01Lara Lima, educadora física de 53 anos, sempre desfila no carnaval. Esse ano, representando o axé da feijoada, Lara enfatizou o quanto o prato é versátil.

“Todo mundo pode comer feijoada. É uma coisa básica de fazer, dependendo dos ingredientes. Se você tem tudo, você faz uma boa feijoada. Mas, se tem um pouco, você também faz uma boa feijoada (…) É uma satisfação, um respeito pela escola”, expressou Lara.