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Com as ‘Cores do Axé’, Império da Tijuca faz desfile leve e sem erros

Por Diogo Sampaio

Ao amanhecer do dia, o Império da Tijuca presenteou o público que permaneceu no Sambódromo após a maratona de desfiles deste segundo dia da Série Ouro com uma apresentação leve e empolgante. Tendo como trunfo um samba que já era muito celebrado no pré-Carnaval, e que teve um alto rendimento na Avenida, a verde e branca do Morro da Formiga teve uma harmonia e uma evolução sem erros, casada com uma parte plástica bem acabada e caprichada nos detalhes. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

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Porém, a falta de impacto da comissão de frente e o alto nível de competitividade entre as escolas do grupo pode ser um empecilho na briga pelo título e o retorno para a elite da folia carioca. Com o enredo “Cores do Axé”, o primeiro Império do samba foi a sétima agremiação a passar pela Marquês de Sapucaí e terminou a sua apresentação com 55 minutos, tempo máximo previsto em regulamento.

Comissão de Frente

Assinada pelo coreógrafo Jardel Augusto Lemos, a comissão de frente do primeiro Império do samba veio representando “As Cores do Sagrado”. Realizada em três atos, a apresentação abria com os orixás Exú e Oxóssi, passava pela essência da arte de Carybé como elo à diversidade cultural e traduzia, em movimentos, as chamadas cores do axé.

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Em um dos momentos de destaque, os 15 componentes, cada um representando uma entidade diferente, formava com suas ferramentas o nome do artista homenageado. Já o encerramento ocorria quando era estendida uma bandeira da escola e bombas de fumaças coloridas eram disparadas.

Apesar de sintetizar bem o enredo, a comissão não gerou impacto no público. Além disso, nas duas primeiras cabines de julgamento, os componentes da comissão demostraram dificuldade para abrir a bandeira, o que pode ser motivo para o desconte de décimos da nota.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Renan Oliveira e Laís Ramos, veio com a fantasia “Orum ayê na Imensidão de Olodumarê”. A proposta do figurino de ambos foi simbolizar a energia da criação divina representada pelos orixás mais velhos. Com uma dança bastante coreografada, os dois realizaram diversos passos em sincronia a letra do samba. Um exemplo era a simulação do toque de um tambor durante o segundo refrão do meio.

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Enredo

Desenvolvido pelos carnavalescos Junior Pernambucano e Ricardo Hessez, o enredo “Cores do Axé” fez uma homenagem ao pintor argentino Carybé. Apaixonado pela cidade de Salvador, na Bahia, o artista expressou em suas obras a cultura local de maneira singular, trazendo elementos do candomblé, do samba e da capoeira em suas pinturas, esculturas e ilustrações. Tais características foram reproduzidas nas fantasias e alegorias de forma clara para que o público, mesmo quem não conhecesse o homenageado, conseguisse identificar e entender o que estava sendo contado.

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Samba-Enredo

O samba-enredo assinado por Samir Trindade, Ricardo Simpatia, Bachini, Julio Pagé, Wagner Zanco, Osmar Fernandes e Almeida Sambista comprovou na pista o motivo de ter sido uma das obras mais elogiadas da safra da Série Ouro no período do pré-Carnaval. A melodia contagiante casada a letra relativamente simples, apesar de trazer algumas palavras do dialeto iorubá, fez com que o samba funcionasse durante a passagem pela Marquês de Sapucaí e auxiliasse na criação de uma atmosfera leve para o desfile.

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Harmonia

Com um bom samba em mãos, o Império da Tijuca soube tirar proveito e alcançou uma das melhores harmonias do segundo dia de desfiles da Série Ouro. De ponta a ponta, era notório o canto forte nas alas. A performance do carro de som, comandando pelo intérprete Daniel Silva, fez a obra contagiar quem estava assistindo, sendo possível perceber pessoas nas frisas e nas arquibancadas cantando junto da escola.

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Evolução

Assim como a harmonia, a evolução foi outro quesito em que o Império da Tijuca não teve erros. Apesar do ritmo mais cadenciado, a escola soube administrar muito bem o tempo de desfile e não precisou correr em momento algum. Somado a isso, o fato das alas terem se apresentado de maneira mais livre, sem a rigidez das fileiras, deu uma leveza para passagem da agremiação.

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Fantasias

A parceria inédita entre Junior Pernambucano e Ricardo Hessez rendeu bons frutos para a parte plástica da verde e branca do Morro da Formiga, especialmente quando o assunto são as fantasias. O conjunto chamou atenção pela clareza na leitura do significado de cada figurino, aliada um bom acabamento das peças e a riqueza de detalhes.

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Entre aquelas que mais se destacaram ao longo da apresentação, a fantasia da bateria, intitulada de “Devotos de Bonfim”, e as baianas, com uma indumentária chamada “Oferendas”, tinham em comum o fato de trazerem ilustrações de Carybé estampadas. Já um ponto negativo do conjunto ficou pela repetição da mesma fórmula no último setor, no qual as alas “Feira dos Objetos de Axé”, “Na Ginga da Capoeira” e “Boêmia” usaram penas artificiais verdes em formato similar no costeiro.

Alegorias e Adereços

Na mesma linha das fantasias, as alegorias do Império da Tijuca se destacaram pelo acabamento bem feito e o esmero nos detalhes. Com o nome de “Risca a Vida na Madeira”, o abre-alas de estética rústica trouxe as cores da escola, o verde e branco, se misturando aos tons amadeirados para lembrar os 27 painéis esculpidos pelo artista Carybé representando os orixás. Uma escultura de Oxóssi veio à frente do carro, junto com vários animais, fazendo toda ligação do axé com o verde das folhas.

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Na sequência do desfile, a segunda alegoria, intitulada “Axé Plantado no Terreiro”, trouxe dois cenários. Na frente, todo o acabamento e delicadeza da orixá Oxum e o predomínio do dourado. Já na parte traseira, a cor azul misturada ao cobre e a presença de elementos para fazer referências a Ogum.

Depois, o tripé “Dois de Fevereiro” fechou em grande estilo o terceiro setor. As duas esculturas de Iemanjá nas laterais, carregando os tradicionais barcos azuis e brancos de oferendas, chamaram a atenção não só pelo primor no acabamento, mas principalmente pela pintura de arte realizada nelas.

Mantendo o mesmo nível dos anteriores, o terceiro carro, chamado “No Altar da Feijoada Emoldurados na Fé”, fechou o quarto e último setor. A alegoria, majoritariamente verde e branca, celebrou o axé das feijoadas de Ogum pela obra de Carybé e pela fé do Império da Tijuca.

Outros Destaques

As baianas do Império da Tijuca roubaram a cena. Além da fantasia de estilo tradicional, com direito a renda branca e pano da costa, as senhoras desfilaram soltas e com uma alegria contagiante. Elas não ficaram presas a fileiras e nem se contiveram nos giros, além de terem mostrado um canto forte.

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Reinando à frente dos ritmistas da “Sinfonia Imperial” desde o Carnaval de 2005, Laynara Teles foi outro destaque da apresentação. Com uma fantasia luxuosa, toda prateada, a beldade demonstrou bastante simpatia ao interagir com o público das frisas e esbanjou samba no pé.

Inocentes encerra desfiles da Série Ouro com destaque para comissão de frente e casal, mas com falhas em acabamento de alegorias

Já era manhã de domingo quando a Inocentes de Belford Roxo cruzou a avenida e encerrou os desfiles da Série Ouro. Mesmo com arquibancadas esvaziadas, a abertura do desfile foi positiva e causou uma boa impressão, a comissão de frente da coreógrafa Juliana Frathane levou para a avenida o mito da criação humana na tradição guarani, com uma dança forte e ótima indumentária, a proposta foi passada de maneira clara. Logo depois, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Machado e Jaçanã Ribeiro, uniu juventude e experiência em uma bela exibição. O principal ponto negativo do desfile foi a falta de acabamento nas alegorias, algumas passaram com forração simples e outras tinham ferragem aparente. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

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Apresentando o enredo “Mulheres de Barro” assinado pelo carnavalesco Lucas Milato, a caçulinha da baixada prestou uma homenagem à cultura das mulheres paneleiras capixabas da região de Goiabeiras Velha, em Vitória, capital do Espírito Santo. A tricolor foi a última agremiação a cruzar a passarela do samba na segunda noite de desfiles da Série Ouro. A escola terminou sua apresentação com 55 minutos.

Comissão de Frente

Coreografada por Juliana Frathane, a comissão de frente da Inocentes foi um dos destaques do desfile, no total, foram com 15 componentes, sendo 14 mulheres e um homem. O figurino representava “O sopro de Tupã” e retratou o mito da criação do homem na tradição guarani, exaltando o barro, elemento do qual são feitas as panelas, como a matéria inicial da existência.

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A comissão foi composta por dois atos, regidos pelo pivô, Deus Tupã, o grande criador. Para auxiliar na encenação, foi utilizado um elemento cenográfico. No primeiro momento, as outras 14 componentes representaram partículas de barro, no processo de criação do primeiro ser humano pelo Deus da mitologia tupi-guarani. Quando Tupã sopra e dá vida ao primeiro ser humano, que foi representado através de uma escultura de mulher, as 14 componentes se transformaram em artesãs indígenas, homenageando as primeiras detentoras dos saberes da cerâmica. Nesse momento, a escultura de uma cobra soltou fumaça, em todos os módulos de julgamento a comissão passou de forma correta e arrancou aplausos do público presente.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Dupla formada para esse carnaval, o primeiro casal Matheus Machado e Jaçanã Ribeiro mostrou já um bom entrosamento e a união da juventude com a experiência se mostrou um acerto. Eles vieram representando a força da natureza sobre o trabalho das paneleiras e a confecção das panelas: os raios de sol que são atores fundamentais na hora da secagem. A dupla optou por um estilo mais clássico da dança, Matheus é um mestre-sala muito expressivo e se destacou pelos movimentos precisos e pela intensidade, o mesmo vale para Jaçana, experiente, a porta-bandeira conduziu o pavilhão com extrema classe. O bom nível de apresentação se manteve o mesmo em todas as cabines de julgamento.

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Harmonia

De volta à escola, o intérprete Thiago Brito conduziu com maestria o carro de som da escola, apesar das arquibancadas esvaziadas, ele conseguiu inflamar a comunidade e por mais que o canto não tenha sido completamente uniforme, as alas driblaram o cansaço e cantaram de forma satisfatória. O destaque ficou por conta da ala de abertura, “Por mãos Pretas”, os componentes, além de cantar com empolgação, balançavam o adereço de mão que compunha o figurino. No geral, a harmonia da escola se mostrou coesa do início ao fim e sem discrepância entre as alas.

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Enredo

O carnavalesco Lucas Milato, em seu segundo ano pela Inocentes, desenvolveu o enredo “Mulheres de Barro”, em homenagem às paneleiras de Goiabeiras. Lucas dividiu a escola em quatro setores, sendo o primeiro “A matéria da criação”, em que toda a ancestralidade índigena na arte de moldar através do barro foi mostrada. O segundo, denominado “A senhora perfeição” começou a desvendar os processos de feitura da panela de barro e apresentou ao público as etapas desse processo, e também os lugares e as memórias que envolvem essas mulheres. no terceiro setor, “As cores das ruas de goiabeiras”, o enredo homenagem à região de Goiabeiras. Para isso, a gente exaltou a cultura da região. Foram vistos os festejos e expressões culturais presentes em Goiabeiras. O quarto e último setor, ”Galpão das paneleiras: a arte brasileira do barro ao barracão”, além de homenagear as Paneleiras de Goiabeiras, ampliou essa homenagem a outras artesãs do Brasil. Foi uma grande ode às artesãs.

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Evolução

Desfilar pela manhã foi um grande desafio para a escola por conta do possível cansaço de seus componentes, porém, a evolução não foi comprometida e a agremiação passou de forma fluida pela avenida, vale destacar que os componentes desfilaram de forma solta e espontânea. O único senão foi o fato da bateria não ter parado para se apresentar no segundo módulo de julgamento.

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Samba-Enredo

O samba composto por Cláudio Russo, Junior Fionda, Fadico, Lequinho, Hugo Bruno, Leandro Thomaz e Altamiro contou de forma clara o enredo apresentado pela escola, a letra seguiu à risca a sinopse. Mesmo sem um momento de explosão, a obra passou de forma satisfatória pela avenida, ainda que a comunidade pudesse cantar com mais vontade. Os trechos da obra que tiveram maior desempenho foram o refrão principal “É na renda, é na palha”, o refrão do meio “É no barreiro do vale do mulembá” e um outro bis na segunda do samba que começava com o “Tambor de Congo”.

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Alegorias e Adereços

A Caçulinha da Baixada levou para a avenida três alegorias, dois tripés e um elemento cenográfico da comissão de frente. No geral, o conjunto visual apresentado pela escola desejou a desejar no acabamento, diferente do último carnaval, o carnavalesco ousou um pouco mais na volumetria das alegorias. Porém, a falta de acabamento mais refinado nos carros comprometeu o bom uso das formas e cores.

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A abertura da escola contou um tripé, chamado “Criadora e criatura”, mostrou a influência indígena que permeia o nascimento das paneleiras, o abre-alas “Saber Ancestral”, exaltou a arte da cerâmica, a segunda alegoria, “Mulheres de Barro – Ensinar e aprender”, representou a comunidade de Goiabeiras e os laços formados entre essas mulheres, a lateral do carro teve falhas e emenda acabou sendo visível. O tripé “Bloco dos Sujos”, foi inspirado nas nostalgias de carnaval das paneleiras. A última alegoria, “O galpão das artesãs”, recriou o espaço conquistado pelas artesãs no fim dos anos 80, a escultura de uma paneleira apresentou falhas evidentes em acabamento e a ferragem estava exposta.

Fantasias

Diferente das alegorias, o conjunto de fantasias que a escola levou para a avenida foi positivo, com soluções interessantes, as alas passaram completas e em sua maioria com bastante volume. Já imaginando que o desfile seria ao amanhecer, o carnavalesco fez um uso de cores interessante. O início da escola foi pautado em tons mais terrosos e a medida que o enredo avançava, as cores mudaram e ganharam mais vida, o carnavalesco utilizou o laranja, o amarelo e o dourado para acender a escola, com a luz do dia, o efeito foi alcançado de forma satisfatória. A volumetria nas fantasias, assim como bom acabamento engrandeceram o conjunto apresentado. Vale destacar a ala de baianas, posicionadas no início do desfile, as senhoras de Belford Roxo representaram artesãs indígenas. Outras alas de extremo bom gosto foram: “Por mãos pretas”, “Pedras do Rio”, “Carnaval capixaba” e “Artesãs do Carnaval”. O destaque negativo ficou por conta do grupo performático que veio atrás do primeiro carro, a fantasia “Barreiro do Vale do Mulembá – extração” era muito simples e destoou do conjunto apresentado pela escola.

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Outros Destaques

A bateria do mestre Juninho realizou bossas que cativaram o público presente, com a fantasia “Ao redor das fogueiras – queima”, os ritmistas puderam se exibir sem problemas e com mobilidade, a rainha Malu Torres representou o fogo e demonstrou muita simpatia à frente da bateria.

Raphael Rodrigues, mestre-sala do Paraíso do Tuiuti foi o responsável por apresentar o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira.

Muito respeitado no mundo do samba, Carlinhos do Salgueiro desfilou pela escola ao lado de um grupo performático, com uma fantasia que remete ao barro, o bailarino e o grupo arrancaram aplausos.

Império da Tijuca canta as “Cores do Axé” e celebra o samba como forma de cura e resistência

Imperio da Tijuca08Sétima escola de samba a desfilar, o Império da Tijuca iniciou a sua passagem pela Sapucaí já com os primeiros raios de sol da manhã de domingo. O enredo “Cores do axé” foi desenvolvido pelos carnavalescos Junior Pernambucano e Ricardo Hessez; e teve a sua inspiração nas pinturas do artista argentino Carybé, que era um verdadeiro apaixonado pela Bahia e a cultura de seu povo.

“O primeiro risco do artista é caminho aberto do axé, onde linhas se encontram feito uma encruzilhada entre tinta e o papel”, já diz a própria sinopse. A agremiação do morro da Formiga exaltou a energia criadora que colore os rumos da vida: o Axé, constante e circular. Segundo o enredo, “A cada embalo da bandeira desfraldada, ecoa pelo vento o Axé da ancestralidade do samba”.

Imperio da Tijuca02 2Regina D’Ogum, 78 anos, desfila no Império desde os 8 anos de idade e estava emocionada durante concentração da escola. “O axé é tudo pra mim”, expôs Regina, que desfilou na ala das baianas com a fantasia “Oferendas”. Ela comentou a importância desse enredo cultural, que serve “Para mostrar para muitas pessoas que são desentendidas o que é cultura, o que é religião. Saber diferenciar uma da outra. Eu sou do axé, feita há 68 anos. E hoje, não só a minha religião, mas também o mundo do samba, é a minha saúde. Se hoje eu tenho energia, agradeço muito estar no mundo do samba, porque isso aqui é uma terapia. Ainda mais durante a pandemia, que eu tive depressão, diabetes… E depois que voltou eu estou outra pessoa, graças ao samba”.

Regina ainda rebate às criticas que muitas pessoas tem feito ao carnaval: “Aqueles que criticam é porque não conhecem… Todos deveriam ter conhecimento de saber o quanto isso aqui ajuda, não só financeiramente, mas em relação a saúde. Muitas idosas que hoje estão aqui, se tem saúde é por causa disso. Porque se a gente depender do INSS, de um posto de saúde a gente morre”.

Imperio da Tijuca05A passita Mariane Caldas, 23 anos, desfila no Império da Tijuca desde 2019 e também enxerga o samba como uma espécie de terapia. “O samba melhora a nossa vida de todas as formas, porque através dele a gente se cura, a gente cura o outro, leva alegria pras pessoas, então pra mim o samba é uma forma de axé e resistência”. Ela ainda completa: “A gente é um povo que tem muita luta, mas também tem muita alegria. Não é só tristeza e dor. A gente, apesar disso tudo, consegue resistir e ser feliz…”. As passistas vieram com uma fantasia branca que representava a “Lavagem do Bonfim”, que ocorre em Salvador, Bahia.

Imperio da Tijuca04Mauro Jorge, 41 anos, é o diretor do naipe de timbal da Sinfonia Imperial, que foi inserido justamente por conta do enredo “Cores do Axé”. Ele falou sobre a emoção de representar os Ogãs, que através do som dos atabaques, formam o ponto de contato entre o Orum (mundo dos deuses) e o Ayê (plano terreno). “A palavra axé tem uma semantica que é inexplicável. Axé é tudo. Principalmente no mundo do samba, no mundo dos negros. Eu que não sou um negro, que não tenho esse corpo retinto, tenho que respeitar toda essa cultura negra. Acho que o axé é isso, e está embutido em tudo que a gente faz no meio do samba. Falar de samba e não falar do axé, não combina”.

Imperio da Tijuca07Chris Essombe, de 30 anos, nasceu em Camarões, no continente africano, cresceu no Canadá e agora mora no Brasil. Para ela, que fez a sua estreia na Sapucaí, o Axé “é uma parte central de tudo, nas energias da ancestralidade. Acho que é muito importante entender essas energias para poder usá-las bem e contribuir com coisas positivas”. Chris ainda complementa: “acho que só as escolas de samba podem passar para as gerações futuras essas pautas, para poder construir um futuro que tem sentido pra todo mundo, com raízes na compreensão do passado”.

Luiza Conceição, 32 anos, é iniciada em uma religião de matriz africana e desfilou na ala 6 “Iaôs”. Ela ressaltou a importância da resistência do samba: “Para permanecer com essa festa, que se mantém até hoje. Só a força de uma comunidade, a resistência e a resiliência da família, do sangue preto”. Ela complementa: “O axé é o sangue que pulsa. Sou filha de Iansã, então está sendo uma grande emoção sair numa ala coreografada de Iaôs, que é a feitura do santo, então é uma honra muito grande. Sem as cores dos orixás a gente não tem nada”.

Luiz Claudio, 38 anos, tambem desfilou pela primeira vez na Sapucaí pela Verde e Branco da Tijuca. Sua fantasia era “O padê abre caminhos”, representando o xirê que se inicia tocando para Exu. Empolgado com o enredo da escola, ele afirmou: “A resistência do samba mais do que nunca tem a ver com o axé, e faz parte da conquista de espaço, importância, força, aceitação…”.

Fotos: desfile da Inocentes de Belford Roxo no Carnaval 2023

Freddy Ferreira analisa a bateria da Inocentes no desfile

A bateria da Inocentes de Belford Roxo fez um bom desfile, sob o comando de mestre Juninho. Um ritmo baseado em simplicidade, que contou com uma bateria pesada, graças a afinação grave da “Cadência da Baixada”.

A cozinha da bateria contou com uma afinação de surdos grave. Marcadores de primeira e segunda tocaram com firmeza. Caixas de guerra corretas e repiques seguros auxiliaram a preencher a sonoridade da parte de trás do ritmo. Surdos de terceira com um balanço privilegiado ajudaram na musicalidade tanto do ritmo, como nas bossas.

A cabeça da bateria da Inocentes exibiu um trabalho de virtude musical da ala de cuícas. Um naipe de chocalhos deu valor sonoro às peças leves. A ala de tamborins executou um desenho rítmico pautado pela melodia do samba da escola de Belford Roxo, dando bom volume à parte da frente do ritmo da “Cadência da Baixada”.

No refrão do meio, uma bossa mostrou sua funcionalidade e eficácia pela pista. Mesmo sendo um arranjo menos rebuscado, sua execução no desfile foi fluída. Depois da paradinha, um breque efetuou dois pares de tapas seguidos (Pá-Pá! Pá-Pá!) durante o verso, “Que a velha paneleira vai batendo a muxinga”. Um acerto musical simples, mas com impacto sonoro, ao fazer uma alusão a batida de panelas ritmadas.

Buscando dar dinamismo sonoro, a escolha foi por virar a bateria da Inocentes na entrada do refrão do meio, o que propiciou fluência entre os naipes. Outra virada também foi percebida antes do refrão principal, o que proporcionou balanço. Nessa virada para o estribilho, agudos (peças leves) e médios (caixas e repiques) tocam em contratempo, demonstrando versatilidade rítmica.

A mais complexa paradinha é iniciada logo depois desse momento, na segunda passada do refrão de baixo. Sua duração durou até meados da cabeça da obra, sendo finalizada após tapas em contratempos, num arranjo com extensão e ousadia.

As apresentações nos módulos de julgadores foram satisfatórias, não sendo evidenciados problemas de dentro da pista. A melhor exibição para julgador ocorreu na última cabine. A bateria da Inocentes de mestre Juninho encerrou o carnaval do grupo de Acesso da Série Ouro da Liga RJ com uma boa atuação.

Dragões da Real 2023: galeria de fotos

Carlinhos do Salgueiro trouxe suas alunas estrangeiras para o desfile da Inocentes

Inocentes02 3Uma figura que não pode faltar no carnaval carioca é o coreógrafo Carlinhos do Salgueiro. Dessa vez, o público pôde vê-lo na Inocentes de Belford Roxo, última escola a desfilar pela Série Ouro, em 2023. O seu grupo performático veio representando o “Barreiro do Vale do Mulembá” e, durante a apresentação, os componentes iam sujando suas roupas brancas de barro.

Um diferencial desta ala é o fato de ser composta por pessoas estrangeiras em sua maioria. É o resultado do método Samba Diva de Carlinhos que ajudou a levar o samba no pé para fora do Brasil. Essa foi a oportunidade de trazer suas pupilas para um desfile carioca.

Inocentes01 3“Hoje é especial porque, há 6 anos atrás, eu fundei a minha técnica ‘Samba Diva’ lá fora e, pela primeira vez, eu vou ter o prazer de trazer as minhas alunas para dançar comigo. A gente vai fazer uma loucura com meu povo e elas”, contou o coreógrafo.

Não houve seleção para escolher as alunas que participaram, bastava querer. No fim, a ala trouxe 70 pessoas vindas de países como Canadá, Austrália, Suécia, França, México, Polônia, Peru e Colômbia.

“Na coreografia, a gente faz alguns passos de samba, com alegria e interação. O principal é que o corpo fala, não precisa de brilho. O fator principal é fazer o corpo falar”, explicou Carlinhos.

Para conciliar o trabalho no Salgueiro e na Inocentes, o dançarino disse que, na primeira, o trabalho começou a ser pensado bem antes. Isso facilitou que as duas concepções fluíssem.

“Eu não posso deixar de vir para a Belford Roxo. É uma escola que me abraçou há muito tempo. Eu adoro o Reginaldo [Gomes, presidente da escola] e o carnavalesco [Lucas Milato]. Eu já desfilei aqui umas quatro vezes. Eu sempre vinha como convidado e levava um grupinho, dessa vez eles oficializaram algo mais artístico”, disse o coreógrafo.

O público tem o próximo encontro marcado com Carlinhos neste domingo. O Salgueiro será a quinta escola a desfilar com o enredo “Delírios de um Paraíso Vermelho”.

Abre-alas da Inocentes destaca a ancestralidade das paneleiras capixabas

Inocentes01 2A Inocentes de Belford Roxo começou seu desfile no amanhecer de domingo com um abre-alas que evocava a ancestralidade das paneleiras capixabas de Goiabeiras, chamado “Saber ancestral”. A escultura de um rosto indígena feminino ficava na frente do carro, que era predominantemente verde. Esculturas grandes de vasos em marrom com padronagens geométricas pretas e brancas tomavam conta do carro e serviram de pedestal para os componentes.

Homens e mulheres representando indígenas reforçavam a origem da cultura das panelas de barro do Espírito Santo. Esse artesanato já data 400 anos. Amelinha Simeão, de 70 anos, desfila há mais de 20 anos na Caçulinha da Baixada e veio no abre-alas.
“É muito importante a escola tratar desse assunto porque fala de uma cultura antiga. Eu acho lindo e maravilhoso fazer esse carnaval com história”, disse a componente que acredita que o enredo trazer essa ancestralidade pode ajudar ao público entender mais a riqueza dos povos originários.

Inocentes03 1O carro ganha volume ao ter como destaque na frente uma esplendor com penas verdes e no ponto mais alto outro esplendor feito com capim dourado. Essa característica chamou atenção de Júlio Pelegrini, de 33 anos, que ratificou a importância falar de mulheres.

“Eu achei o carro bem volumoso e vai fazer bonito na Sapucaí. É um enredo que vem falar do feminino, das mulheres e isso é bem atual”, disse ele em seu 4º desfile pela azul, vermelho e branco.
Roberta Tavares, de 35 anos, está em seu 5º carnaval pela Inocentes. Ela considera importante trazer para o Sambódromo enredos culturais e valorizar a arte e o talento dos povos originários. A homenagem às paneleiras para Roberta é a cara da agremiação.

O abre-alas ganhou mais peso ao vir após um tripé grande com uma estética similar e a ala de baianas que representaram as “artesãs indígenas”.

Águia de Ouro desafia a chuva e leva comissão de frente inspiradora

Sexta escola a desfilar no sábado de carnaval, a Águia de Ouro enfrentou, tal qual em alguns dos ensaios técnicos da agremiação, muita chuva para se apresentar no Sambódromo do Anhembi. As condições climáticas acabaram prejudicando alguns quesitos, é bem verdade, mas a instituição do bairro da Pompeia, na Zona Oeste paulistana, deixou ótimas impressões estéticas, sobretudo no primeiro setor. Com uma comissão de frente marcante, boa execução do samba-enredo e um destaque especial para a Ala das Baianas, a Evolução sentiu a imensa quantidade de água que veio, curiosamente, da temática da escola, que apresentou o enredo “Um Pedaço Do Céu”, exibido em 64 minutos – apenas um antes do prazo regulamentar.  * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

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Enredo 

Quando foi revelado, o enredo da Águia de Ouro causou um misto de curiosidade, dúvida e surpresa. Do que “Um Pedaço Do Céu” trataria, afinal? No fim das contas, para resumir toda a questão, o tema da escola da Zona Oeste paulistana é a busca (e a posterior conquista) de sonhos, utilizando o céu como metáfora para a realização dos mesmos.

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No enredo, logo no primeiro setor, é apresentado uma visão mais lúdica e infantil da criação de sonhos, algo idílico e quase ilusório. O segundo setor traz a luta para realizar os próprios sonhos, toda a absorção de experiência e batalhas vencidas para atingir o objetivo. Já o terceiro mostra as sensações que são vivenciadas por quem busca e por quem realiza os sonhos – muitas vezes iniciados ainda na infância. Por fim, o desfile é encerrado com a tentativa de traduzir o que são os sonhos para diversas culturas, religiões e tradições distintas.

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Um enredo mais subjetivo e abstrato, que não reproduz uma linha cronológica, é um desafio extra para qualquer carnavalesco por conta da filtragem de milhões de informações e referências que cabem em tal temática, além da organização das mesmas e da comunicação de tudo isso para os componentes e público. Em tal quesito, bastante desafiador, o carnavalesco Sidnei França teve atuação inspiradíssima.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Com fantasias quase que inteiramente douradas e representando “O Infinito é a Ilusão do Faz-de-Conta” e desfilando logo após a ala das baianas (a segunda da exibição), João Carlos Camargo e Lyssandra Grooters bailaram para encenar sentimentos tão próprios de crianças, remetendo a seres imaginários e um mundo sem problemas e situações negativas.

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Na avenida, a prática não foi tão simples quanto a teoria aponta. A persistente chuva que não deu trégua um segundo sequer no desfile da Águia transformou a exibição do casal em um desafio bastante destacado. E, em boa parte da avenida, eles tiraram de letra a responsabilidade. Se, no primeiro uma rajada de vento tentou (em vão) tirá-los do prumo, no segundo e no terceiro a dupla teve atuação pouco mais tranquila – “apenas” com chuva e pista molhada.

A coroação da exibição veio, justamente, no terceiro quesito. Extremamente à vontade, João Carlos começou a sambar, como é bastante característico do mestre-sala, no limite do bailado. E, sem se importar com as condições climáticas adversas, ele mostrou um samba no pé apuradíssimo. Vale destacar, também, a extrema sincronia dos dois componentes, capazes de efetuar giros muito próximos um do outro, deixando a dança ainda mais difícil – e extremamente bem executada.

Samba-enredo 

Contando, setor a setor, o desfile, a canção, tal qual o enredo quando foi anunciado, causou surpresa. A melodia, bastante agradável, convidava o ouvinte a refletir, imaginar e sonhar sobre os próprios sonhos de maneira musicada. E, nela, está tudo lá: a “inocência de criança”, “basta acreditar que um novo dia vai raiar” e o “sabor da vitória” – todos os trechos entre aspas, por sinal, foram cantados pelo carro de som e pelos componentes.

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Para que a canção tivesse boa noite na passarela, seria indispensável uma boa condução sob chuva do carro de som da Águia de Ouro. E ela veio: com Serginho do Porto, Douglinhas Aguiar e a reestreia na escola de Chitão Martins, a música embalou muito bem o desfile da agremiação da Pompeia. Também vale destacar as bossas, sempre equilibradas, da Batucada da Pompeia, novamente comandada por um dos grandes baluartes ainda na ativa do carnaval paulistano: Mestre Juca.

Alegoria 

O carro abre-alas teve como destaque uma menina que, como toda e qualquer criança, imagina um mundo utópico, apenas com sentimentos bons e situações favoráveis. E, nesse mundo de faz-de-conta, um mago a ajuda a viver em um reino fascinante, com carrosséis, bailarinas, carruagens e a própria Águia de Ouro. O segundo carro alegórico trouxe o chamado “Céu das Conquistas”, representado artisticamente como o Templo de Hércules. Com o próprio herói grego e as famosas colunas, é fácil identificar a influência grega na peça.

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A terceira alegoria traz outro tipo de céu: o de sensações, com sensações, prazeres e celebrações. E, para representar tais sentimentos, foram escolhidas guloseimas, como bolos, balas, doces diversos e sorvetes. Há, também, um personagem que guia as ações no carro, chamada de Miss Cake. Por fim, o quarto carro representa o céu da eternidade, representado como um templo da saudade, com diversos baluartes do samba paulistano que não estão mais nesse plano – todos eles imortalizados, novamente, pela Águia de Ouro.

Não faltaram bons acabamentos para cada uma das alegorias, que não sentiram o peso da chuva em momento algum e não perderam nenhum tipo de adereço. Chamou atenção, também, a diferença na concepção de cada um deles, como exigia o enredo – e algo que não é tão facilmente alcançável. Vale destacar, também, o doce aroma que saia das alegorias, proporcionando uma sensação imensa de bem estar-para os presentes no Anhembi.

Fantasia 

O começo do desfile da Águia de Ouro teve um conjunto de fantasias fantástico, com acabamentos impecáveis e fantasias bastante luxuosas. Aqui, é importante fazer um especialíssimo destaque: a Ala 02, das Baianas, intitulada  “Bonecas de Pano… A Colorida Inocência da Menina”, era uma das mais bonitas de todo o carnaval paulistano em 2023, com bonecas de pano e material que remetia ao algodão em tons pastéis.

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Após o primeiro setor, entretanto, as fantasias tornaram-se irregulares quanto ao material utilizado. Enquanto algumas seguiam com materiais mais luxuosos, outras tinham opções mais em conta. Tudo, entretanto, de acordo com os protótipos apresentados pela agremiação.

É importante destacar, também, que as fantasias tinham significado simples desde que o espectador compreendesse em qual setor ela foi inserida. A fantasia que, por exemplo, tinha tons escuros e componentes com figurinos que emulavam cintas-ligas e um chicote estava dentro do contexto dos prazeres mais adultos – como o amor ou um grito de gol. Sem tal identificação prévia, ela poderia parecer avulsa no desfile – o que, é bem verdade, não aconteceu.

Harmonia 

Um bom samba conta muito para que os componentes tenham mais vitalidade para cantar. E, ao longo de todo o desfile da Águia de Ouro, a chuva tentou, a todo custo, atrapalhar o quesito. Não conseguiu: o canto foi de boa qualidade e perene durante toda a apresentação – um imenso mérito da comissão de Harmonia da escola.

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É bem verdade que os staff não chamavam muito a atenção dos componentes (leia mais no quesito “Evolução”) quanto ao canto e alinhamento das alas, o que denotava tranquilidade e a sensação de que tudo corria às mil maravilhas. E, de fato, não existe motivo para reclamar de tal segmento da escola.

Evolução 

Primeiros a chegar para o desfile de uma escola de samba, os staff precisam ajeitar absolutamente todos os detalhes para que o show seja perfeito. A Águia de Ouro, que entrou no Anhembi por volta das 05h, certamente teve componentes que chegaram a, no mínimo, oito horas antes do início da apresentação. E, nessas oito horas, cerca de sete foram debaixo de chuva. O cansaço, é claro, bate. E isso ficou refletido na apresentação.

Os staff pouco faziam alertas aos componentes – que, é bem verdade, não precisava de muitos ajustes. Mas, conforme o desfile ia avançando, os desfilantes passaram a se movimentar menos, fazendo dinâmicas muito simples com os braços e pés, prejudicando o quesito.

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Há, entretanto, um mérito indiscutível da escola em tal quesito: o recuo da bateria. Mestre Juca, dos mais experientes diretores de bateria de São Paulo, fez um movimento bastante simples e rápido, entrando no local tão logo fosse possível, por uma fresta mínima. A ala seguinte também não demorou muito tempo para preencher o espaço. Todo o movimento demorou cerca de 65 segundos – tempo irrisório perto de outras coirmãs.

Apesar do tempo mais exíguo para encerrar a apresentação, não houve grande aperto de passo para chegar dentro da cronometragem. É importante destacar que a escola, entretanto, começou a exibição com movimentos mais morosos – e foi, paulatinamente, crescendo.

Comissão de Frente 

Com comissão de frente bastante elaborada, foram três atos encenados pelos bailarinos. No primeiro deles, são, ao todo, sete fantasias distintas, representando personagens com personalidades distintas: uma Menina e seis amigos dela. No segundo, surgem mais dois, com figuras nefastas e com fantasias escuras, que tentam desestabilizar, de alguma forma, a Menina – personagem central da encenação, que busca jogar amarelinha no mundo do faz-de-conta. Por fim, no terceiro, seres celestiais chegam para fazer com que a Menina e os amigos vençam a partida de amarelinha.

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Com uma coreografia bastante longa (a realização inteira dela durou a Arquibancada Monumental inteira, por exemplo), os bailarinos conseguiram divertir e emocionar em um simples jogo de Amarelinha teatralizado – algo raríssimo. Com componentes bastante expressivos, era possível notar pessoas torcendo para que os integrantes em tons mais claros conseguissem levar a Menina à vitória – que, quando acontece, torna-se um momento de muita celebração.

Outros destaques 

Ainda antes do desfile começar, chamou atenção o discurso do presidente da Águia de Ouro, Sidnei Carrioulo. Absolutamente todos que estavam próximos a ele mantinham olhares fixos no mandatário da agremiação. Pouco distante de tal momento, começaram a surgir um adorno bastante agradável: nas cuícas da Batucada da Pompeia, uma águia que movimentava as asas e ficava com os olhos vermelhos chamava atenção de quem passava pelo local.

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A chuva teve papel decisivo no desfile da instituição. Quando a escola fez o Esquenta, o tempo estava seco. Ao começar o desfile, a garoa retornou. Por fim, com cerca de 28m, a chuva começou a cair mais intensamente.

‘Mulheres de Barro- Ensinar e aprender’: Segunda alegoria da Inocentes exalta cultura capixaba

Inocentes04Última escola a desfilar no sábado de carnaval da Série Ouro, a Inocentes de Belford Roxo exaltou as paneleiras de barro de Goiabeiras Velha, em Vitória, no Espírito Santo, através do enredo “Mulheres de Barro”, do carnavalesco Lucas Milato. Muito elogiadas por quem as consome, as comidas feitas em panelas de barra renderam elogios também na ala de baianas da Caçulinha da Baixada, que estavam vestidas de “Artesãs Indígenas”.

Em entrevista ao Site CARNAVALESCO, Vera Lúcia, se recordou com animação das comidas feitas por sua mãe nas panelas de barro. Segundo a moradora de Belford Roxo que está há 10 anos na escola, a prática era um costume entre as mães na época da sua infância.

“A gente quando era mais nova, criança, as mães sempre faziam comida no fogo de lenha, nas panelas de barro. A gente também tinha as tigelas em que a gente comia, era muito gostoso. O Bobó de Camarão feito na panela de barro é sensacional”, recorda a baiana.

Inocentes02 1Pela primeira vez desfilando na Inocentes de Belford Roxo, Glória Mattos concordou convictamente com sua colega de ala. Moradora do Estácio, a estreante elegeu o peixe feito na panela de barro como seu prato favorito. “Eu gostei muito de comer comida feita em panela de barro, é muito bom. Tem muitos anos que eu comi. Minha irmã sempre faz peixe na panela de barro, é meu prato favorito”.

Por fim, a integrante da ala de baianas Érica Barbosa, moradora da Baixada Fluminense, enaltece a qualidade das panelas de barro para melhorar o sabor dos temperos. Para Érica, sua experiência com as panelas de barro foi incrível.

“Já comi, é muito boa a experiência de comer uma comida feita em panela de barro, muito boa mesmo. Panela de Barro é surreal, tudo que faz nela fica bom, tempero completo. O melhor prato é o acarajé, na panela de barro é feito por quem sabe fazer, é tudo de bom”, concluiu.