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Imperianos celebram retorno do Império Serrano ao Grupo Especial

Imperio Serrano01 1Com o enredo “Lugares de Arlindo”, que homenageou o grandioso sambista Arlindo Cruz, o Império Serrano marcou sua volta ao Grupo Especial. Em meio à euforia de voltar à elite do carnaval, os componentes do Reizinho de Madureira contaram, em entrevista ao site CARNAVALESCO, sobre a emoção deste retorno após alguns anos enfrentando problemas. Confiantes, alguns apostam que a agremiação briga para estar no Sábado das Campeãs.

Ana Cristina Miranda dos Santos, do lar e de 61 anos, contou que desfila no Império Serrano desde criança. Para ela, após tudo que a escola passou na Série Ouro, a agremiação veio para ficar no Grupo Especial.

“Eu estou no Império Serrano desde criança, frequentando a quadra e os ensaios, ainda mais porque moro perto da Serrinha. Há dois anos estou na ala das baianas e é uma ala fenomenal. Nós nos encontramos no Grupo Especial. Nós viemos de alguns dilemas, controvérsias e políticas, mas hoje o Império está no lugar em que ele realmente deve ficar”, disse a torcedora imperiana.

Imperio Serrano03 1Para ela, o retorno do Reizinho de Madureira para a elite do carnaval carioca representou a garra e o bom trabalho da equipe de carnaval e da diretoria da escola de samba. Confiante, Ana Cristina aposta que o Império retornará à Marquês de Sapucaí no Sábado das Campeãs.

“Essa fase representa que nós viemos para ficar. Estamos vindo com toda garra, com uma equipe de carnaval sensacional e um presidente que respeita os componentes. A gente veio com toda garra, porque queremos permanecer nesse grupo. Espero um futuro com tudo de bom e com muito progresso. Caminhos abertos e que Ogum abra os nossos caminhos junto com Exu, dando muita sabedoria para os que estão na direção. Temos certeza que o Império Serrano veio para ficar. Sábado estarei nas campeãs”, contou a componente.

Filha de Silas de Oliveira, um dos grandes nomes da história do Império Serrano, dona Elenice de Oliveira está em seu primeiro ano na velha guarda, já esteve em praticamente todos os segmentos e destacou a importância do retorno na agremiação. Segundo ela, não conseguir acompanhar a evolução rápida das escolas foi um dos problemas que dificultaram a permanência do Reizinho de Madureira na elite do carnaval.

Imperio Serrano04 1“A escola já se encontrou no Grupo Especial. Essa volta representa muita coisa, porque o Império tem uma história muito bonita. O que aconteceu com o Império foi o problema das ‘superescolas’ de samba, que ele não conseguiu acompanhar. Mas, agora, graças a Deus, nós estamos tentando e iremos conseguir”, destacou Elenice.

Para ela, a escola veio para ficar. Dona Elenice também falou sobre a relação de seu pai com a escola de samba da Serrinha e Madureira.

“A expectativa é que viemos para ficar. Eu tenho um orgulho enorme do meu pai, Silas de Oliveira, que fez muitos e sambas por muitos anos. Até hoje os sambas dele são cantados e lembrados aqui. Para mim, é uma história muito forte e temos que ficar”, comentou.

Michele Lorrana, empresária de 32 anos, desfila há três no Império Serrano e veio em cima do abre-alas. Para ela, o sentimento de estar no Grupo Especial é inexplicável. Campeão da Série Ouro de 2022, Michele disse que o Reizinho de Madureira veio para brigar pelo título na elite do carnaval.

Imperio Serrano02 1“Há anos a gente vinha trazendo desfiles atrás desse título e no acesso ao Grupo Especial. Mesmo com pandemia, pós-pandemia, colocamos um desfile para sermos campeãs e esse ano será a mesma coisa: rumo ao título. É uma sensação inexplicável, não dá para descrever. Há tempos a gente vinha tentando isso, então é a sensação de um sonho realizado. A expectativa para o desfile é muito grande, com o coração na boca. O Império veio para ficar”, confiante, disse Michele.

Já para Rojane Francisca, de 68 anos e componente da ala de compositores, o Império Serrano abriu os desfiles deste domingo com chave de ouro. Presente na agremiação desde os 12 anos de idade, Rojane disse estar emocionada com o desfile.

“A escola com certeza voltou ao seu lugar. Estou muito feliz. Esse retorno é uma glória, porque nós passamos por tanta coisa e agora é só alegria. Vamos ficar aqui e não iremos descer mais. Esse lugar é nosso. Os carros estão muito lindos, está tudo muito lindo. Estou muito emocionada, minha mãe até falou para eu ter cuidado com a pressão (risos). A homenagem para o Arlindo foi perfeita e enalteceu ele. Abrimos os desfiles com chave de ouro”, destacou.

Com uma linda homenagem a Arlindo Cruz, o Reizinho de Madureira abriu a primeira noite de desfiles do Grupo Especial carioca.

Baianas do Império Serrano levam a força de São Jorge para a Avenida

imperio serrano desfile 2023 20A ala das baianas do Império Serrano vem como devotas de São Jorge. Suas fantasias tinham referências ao santo, por causa da devoção de Arlindo Cruz. As componentes não sentiram o peso da fantasia, elas puderam girar confortavelmente por toda a Marquês de Sapucaí.

A paleta de cores da fantasia foi com vários tons de verde, além de conter alguns detalhes em dourado. Na Avenida, as saias das desfilantes quando giraram, causaram um belo efeito visual.

Imperio Serrano06Rosângela Santos da Silva, doméstica e seguradora de 66 anos, desfila no Império Serrano há quase 20 anos. Católica, Rosângela veio com toda força e fé de São Jorge para a Passarela do Samba.

“A fantasia está leve, linda (…) Sou muito devota de São Jorge, porque é um santo muito guerreiro. Ele cura doenças, defende a gente nas batalhas, é tudo”, afirmou Rosângela.

Geni Lopes, administradora de 56 anos, é a presidente da ala das baianas do Reizinho de Madureira. A presidente também achou a fantasia confortável. Desfilante da escola há 15 anos, crê na fé dos orixás para que tudo flua bem e o Império Serrano permaneça no Grupo Especial.

Imperio Serrano05“Ogum guerreiro, não é meu povo? Vamos junto com ele. É um enredo que estamos lutando para continuar no Grupo Especial, para dar tudo certo, a escola está bonita, as baianas estão lindas e satisfeitas. Isso que importa”, disse Geni.

Regina Rizzo, jornalista aposentada de 73 anos, desfilou no Império Serrano em 1998 e está retornando esse ano para a escola. O tempo distante se deve a uma outra profissão de Regina: bailarina. Ela se casou e morou na Europa durante anos, mas agora está de volta para brilhar pelo Reizinho de Madureira.

“A fantasia está suave, está tranquila. Eu sou filha de ogum na minha religião (…) Eu sou uma bailarina já aposentada, mas continuo no samba e no carnaval (…) A gente não faz promessa, a gente entrega para Deus, o que for do nosso merecimento, ele entrega nas nossas mãos”, falou Regina.

Freddy Ferreira analisa a bateria do Império Serrano no desfile

A estreia de mestre Vitinho no grupo Especial dirigindo a bateria do Império Serrano foi excelente. Uma boa conjunção sonora foi exibida, aliada a um leque de paradinhas bastante musical, que encantou o público da Marquês de Sapucaí. Uma sonoridade intimamente vinculada ao enredo da escola, com direito a Pagode e pegada africana.

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A cozinha da bateria exibiu um ritmo pautado por uma afinação de surdos particularmente grave, inserida nas características da escola da Serrinha. Marcadores de primeira e segunda foram firmes e precisos. Surdos de terceira deram um balanço invariável, principalmente em paradinhas. Repiques coesos e um naipe de caixas de guerra de qualidade técnica executou a batida rufada peculiar com classe.

A cabeça da bateria contou com os peculiares agogôs imperianos, adicionando um tom metálico precioso ao ritmo da “Sinfônica do Samba”, enquanto seguia as variações melódicas do samba para efetuar sua convenção rítmica. Uma ala de chocalhos de imensa qualidade musical foi percebida, assim como um naipe de cuícas de valor sonoro inegável foi notado. A ala de tamborins tocou de forma chapada um desenho rítmico que consolidou a batida através das nuances da melodia com eficácia e virtude técnica.

A ousada paradinha da cabeça do samba apresentou uma concepção musical diferenciada. Para fugir do lugar comum e exaltar o Pagode, a ideia foi usar os instrumentos da própria bateria do Império tocando fazendo alusão a uma peça presente numa roda de samba (um dos “Lugares de Arlindo”). Repiniques tocaram como se fossem repiques de mão. Chocalho fazendo alusão ao Reco Reco. Cuícas exibiram toque de pagode. Tamborins com alusão a batida na palma da mão na primeira parte e depois fando molho, chamando pro samba. O surdo de primeira marcava, o de segunda imitava o Tantan, com os surdos de terceira funcionando como repique de anel. As execuções durante a pista fluíram com naturalidade, tendo boa receptividade do público.

Após essa paradinha bem elaborada e concebida, por vezes era apresentado um breque que deu dinamismo sonoro à bateria do Império. Demonstrando uma versatilidade rítmica tanto de caixas, quanto de repiques. O arranjo era de elevado grau de dificuldade, mas exibiu uma execução privilegiada durante o desfile.

A bossa de maior extensão musical (mais longa) era iniciada a partir do verso “Numa porção de fé”, terminando no início da primeira do samba. O primeiro trecho do movimento rítmico remeteu a uma paradinha antiga do Império Serrano envolvendo agogôs, mas dessa vez os repiques que conduzem o arranjo, que ainda se aproveita da pressão das marcações. A convenção prossegue permitindo um balanço inconfundível, com ritmistas abaixados, sendo ovacionada de forma calorosa pela plateia. A bossa explorou todos os naipes do ritmo, finalizando com um toque de Candomblé chamado Cabula, conectando à musicalidade da “Sinfônica” com o enredo que explora o sincretismo religioso do homenageado.

Refinados toques para os dois Orixás citados nos refrões foram realizados. Primeiramente um toque para Xangô foi realizado, contando com dança pra lá e pra cá dos ritmistas imperianos, num movimento bem sincronizado e musicalmente encaixado. A finalização envolve um movimento rítmico atrevido, mas bem realizado das terceiras. Já no segundo refrão, a bateria tocou para Ogum. Mais uma vez as marcações exibiram grande virtude sonora, dando pressão à convenção. Um acerto religioso e cultural, altamente vinculado a Arlindo Cruz.

As apresentações nos módulos de julgadores foram impecáveis, limpas e garantindo boa receptividade visual do júri, além da nítida empolgação do público. As exibições na primeira cabine (dupla) e no último módulo ganharam contornos apoteóticos, levando todos que vivenciaram o verdadeiro espetáculo ao delírio. Uma estreia exemplar de mestre Vitinho no grupo Especial no comando da bateria “Sinfônica do Samba” do Império Serrano.

Primeira noite do Especial tem atual campeã, escolas tradicionais, homenagens a ícones do samba e musicalidade baiana

Após acontecer em abril em 2022, a folia voltou ao seu período tradicional no calendário e agora tem o seu momento de maior espera, as apresentações das agremiações que pertencem ao principal grupo do carnaval carioca. Neste domingo, seis escolas vão passar pela Sapucaí buscando retomar uma normalidade na folia, após a pandemia e alguns anos de muita dificuldade por questões financeiras advindas de administração políticas. Império Serrano, Grande Rio, Mocidade, Unidos da Tijuca, Salgueiro e Mangueira querem contrariar a mística que aponta maiores chances de título para as escolas de segunda-feira e conquistar o caneco mais uma vez. A noite vai começar com homenagens a grandes sambistas e ícones da música brasileira: Arlindo Cruz através do Império Serrano, e logo em seguida, Zeca Pagodinho virá na Grande Rio, que busca um bicampeonato após o título inédito no ano passado. Logo depois, a Mocidade vai trazer os discípulos de mestre Vitalino e a arte do Alto do Moura. A sequência tem a Unidos da Tijuca apresentando a Baía de Todos os Santos e o Salgueiro, com estreia de Edson Pereira, propondo uma nova versão do paraíso. A noite vai ser encerrada pela Estação Primeira de Mangueira com toda a musicalidade baiana dos cortejos afros e seu protagonismo feminino. Em 2023, seis escolas voltam no desfile das campeãs e a última colocada será rebaixada para a Série Ouro. Os desfiles terão início às 22h. O site CARNAVALESCO preparou um guia contando mais sobre o que cada agremiação vai trazer para a Sapucaí.

Império Serrano

De volta ao Grupo Especial, a Serrinha abre a primeira noite de desfiles com o enredo “Lugares de Arlindo” que apresenta vida e obra de um dos maiores cantores e compositores do samba e da música brasileira em geral, além de um apaixonado pela Verde e Branca. O enredo desenvolvido pelo carnavalesco Alex de Souza usou o sucesso “O meu lugar” para nortear o desfile que pretende além da homenagem a Arlindo Cruz, inflamar ainda mais o orgulho do imperiano na Sapucaí apresentando um grande baluarte da Serrinha. O desfile vai mostrar todas as facetas musicais de Arlindo, desde o lado romântico, passando por um samba mais divertido, até chegar a uma versão mais engajada, de preocupação social. E por fim, também apresentar a religiosidade do artista, a fé no candomblé, mas também seu jeito ecumênico, encontrando o catolicismo na música dele e outras referências a várias religiões.

Para o retorno ao Especial, o Império Serrano tem novidade no carro de som. O intérprete Ito Melodia faz sua estreia comandando o microfone principal da Serrinha. Na comissão de frente, Júnior Scapin está de volta à escola. Para o primeiro casal, Marlon Flores e Danielle Nascimento foram contratados após ano passado terem desfilado pela União da Ilha. No comando da Sinfônica do Samba, mestre Vitinho permanece após o bom desempenho em 2022 na Série Ouro. A direção de carnaval é de Wilsinho Alves. A obra para este desfile foi composta por Aluísio Machado, Ambrosio Aurélio, Carlitos Beto Br, Carlos Senna, Rubens Gordinho e Sombrinha.

Fique de Olho: A bateria de mestre Vitinho vem preparando muitas bossas, coreografias e outras surpresas para a Sapucaí. A expectativa é de que seja um grande show de ritmo e pirotecnias. A escola também virá bem grande e pretende ser uma das maiores que já abriram o desfile do Grupo Especial. Só no carro abre-alas que trará o padroeiro da escola, São Jorge, serão três chassis acoplados. Ito Melodia vai fazer sua estreia pela Serrinha depois de mais de 20 anos de União da Ilha. E claro, há a expectativa pela participação do homenageado, Arlindo Cruz, no desfile, além de sua esposa a ex porta-bandeira Babi Cruz e o filho, o cantor e compositor Arlindinho.

Grande Rio

Campeã em 2022 encerrando a segunda noite de desfiles, a Grande Rio agora terá o desafio de defender o título inédito na posição de segunda escola da primeira noite. O enredo ” Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, para te ver, para te abraçar, para beber e batucar!” vai trazer mais que a vida e a obra de Zeca Pagodinho. Em formato de crônica, vai encontrar pelo subúrbio carioca e pela Baixada Fluminense lugares que fazem sentido tanto para a vida pessoal do artista quanto para sua obra. Zeca é vizinho da Grande Rio e já havia sido lembrado no carnaval de 2007 quando a escola fez um desfile sobre o município de Duque de Caxias, hoje lugar de moradia e refúgio deste grande sambista. Pelo terceiro ano consecutivo, os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad estão responsáveis pelo carnaval da Grande Rio, até aqui conquistaram um título e um vice-campeonato.

A tricolor de Caxias manteve sua equipe campeã do carnaval passado e segue com mestre Fafá à frente da Invocada, Daniel Werneck e Taciana Couto, como primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, além de Evandro Malandro comandando o carro de som e o casal Hélio e Beth Bejani coreografando a comissão de frente da agremiação. A direção de carnaval segue com Thiago Monteiro. O samba de 2023 foi composto por Arlindinho, Diogo Nogueira, Gusttavo Clarão, Igor Leal, Mingauzinho e Myngal.

Fique de olho: O homenageado do enredo, Zeca Pagodinho, virá no desfile da Grande Rio no último carro da escola, o que deverá ser o ponto alto do desfile e momento de maior comoção do público. Zeca participou do ensaio técnico. O entrosamento entre Evandro Malandro e Mestre Fafá cada vez é mais evidente, a expectativa é que a dupla faça crescer ainda mais o bom samba da Grande Rio para 2023. Com um enredo tão cultural, tão ligado à música, ao samba, e pela grande admiração que Zeca tem no mundo da música, há a expectativa pela participação de diversos cantores e compositores do samba e do partido alto em geral. No ensaio técnico a escola distribuiu cerveja na Sapucaí, o que será que vem para o desfile? As alegorias de Leonardo Bora e Gabriel Haddad prometem seguir impressionando com soluções diferentes e que fogem do lugar comum da folia carnavalesca. A rainha Paola Oliveira é muito ovacionada em todos os eventos da Grande Rio que participa. Expectativa pela fantasia da bela e pela participação do marido Diogo Nogueira no desfile. O cantor é um dos compositores do samba 2023 da Tricolor de Caxias.

Mocidade Independente de Padre Miguel

Tentando apagar o oitavo lugar do ano passado e repleta de novidades, a Mocidade será a terceira escola a desfilar na primeira noite do Grupo Especial apresentando o enredo “Terras de meu céu, estrelas de meu chão” que foi desenvolvido pelo carnavalesco Marcus Ferreira, agora a frente do carnaval da Verde e Branca da Zona Oeste. Depois dos dois últimos desfiles a Mocidade apostar em enredos que tinham uma ligação maior com sua própria história, a ideia para este carnaval é valorizar o legado da obra daqueles considerados por Marcus como os primeiros discípulos de mestre Vitalino, que começaram a colocar a arte figurativa como grande expoente das artes plásticas brasileiras pelo mundo a fora, e dessa forma, levar para a Sapucaí um pouco do que é produzido no Alto do Moura, um vilarejo de Caruaru, em Pernambuco.

Além de Marcus Ferreira, a Mocidade trouxe Nino do Milênio para comandar o microfone oficial da escola e apostou no coreógrafo Paulo Pina para a comissão de frente, fazendo sua estreia no Grupo Especial. Em outros quesitos a escola manteve profissionais que já vem dando certo há alguns anos. Como primeiro casal, Diogo Jesus e Bruna Santos seguem defendendo o pavilhão da Mocidade. Já o mestre Dudu vai completar 11 carnavais à frente da Não Existe Mais Quente. A direção de carnaval é de Marquinho Marino. O samba de 2023 é uma composição de Diego Nicolau, Cabeça Do Ajax, Gigi Da Estiva, Leandro Budegas, Orlando Ambrosio, Richard Valença, W Correa.

Fique de Olho: Marcus Ferreira vai repetir na Mocidade um enredo impregnado de brasilidade, fórmula que deu certo na Viradouro em 2020 quando conquistou o título ao lado de Tarcísio Zanon no enredo sobre as ganhadeiras. O carnavalesco também prometeu durante todo o desfile a utilização de materiais alternativos ao que se costuma usar na folia carnavalesca, trazendo um pouco do Alto do Moura para o desfile. A comissão de frente de Paulo Pina promete grandes surpresas, o coreógrafo fez uma grande apresentação na Porto da Pedra em 2022 na Série Ouro o que lhe rendeu o convite da Mocidade. O samba, se não foi tão aclamado como as obras de 2020 e 2022, tem um formato bastante melódico que se encaixa perfeitamente nas características do estreante intérprete Nino do Milênio, além de casar bastante com um melhor andamento da Não Existe Mais Quente de mestre Dudu.

Unidos da Tijuca

Mordida pelo nono lugar em 2023 e desde 2016 sem voltar nas Campeãs, a Unidos da Tijuca será a quarta escola a desfilar com o enredo “É onda que vai… É onda que vem… Serei a Baía de Todos os Santos a se mirar no samba da minha terra”, que está sendo produzido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos em seu segundo ano na escola do Borel. A Tijuca pretende trazer de forma lúdica a cultura, a história e a musicalidade da Baía de Todos os Santos com a narrativa das próprias águas da baía. Depois da complexa e criativa construção narrativa do enredo sobre o guaraná no carnaval passado, o carnavalesco agora se deslumbra com um enredo que tenta fugir da concepção óbvia chamada de C.E.P e dar vida a toda a multiplicidade cultural da Baía de Todos os Santos, região de muitos encantos naturais do estado da Bahia, mas também da pesca e da população ribeirinha, das lendas e da religiosidade, da música, e das festas.

A dupla de intérpretes Wantuir e Wic, juntos desde o carnaval passado, vão continuar à frente do microfone principal da agremiação, assim como mestre Casagrande, comandante da Pura Cadência desde 2008. Outro que continua no Pavão é o coreógrafo Sérgio Lobato que segue à frente da comissão de frente. Mudanças só no primeiro casal. Matheus André foi promovido a primeiro mestre-sala e vai dançar com Denadir Garcia, que segue como primeira porta-bandeira da Unidos da Tijuca. Fernando Costa é o diretor de carnaval. O samba tem como autores Júlio Alves, Claudio Russo e Tinga.

Fique de Olho: A narrativa implementada pelo carnavalesco Jack Vasconcelos neste enredo promete divertir bastante o público já que de forma lúdica, a própria água da Baía de Todos os Santos vai contar essa história. Matheus André, cria da Tijuca, anteriormente segundo mestre-sala, fará sua estreia no primeiro casal ao lado de Denadir. A bateria de mestre Casagrande vai trazer muitas bossas e paradinhas que vão trazer um pouco da musicalidade baiana para a Sapucaí. Há mais de dez anos, a Pura Cadência só leva notas 10 se contarmos apenas as notas válidas, sem o descarte da mínima. Wantuir e Wic, pai e filha, voltam a cantar o samba da Tijuca juntos depois de serem muito aclamados em 2022. A dupla agora busca a excelência nas notas máximas em harmonia.

Salgueiro

O Salgueiro não fica fora do desfile das campeãs desde 2007. Mas não ganha o título desde 2009. Após o sexto lugar em 2022, a Academia do Samba apostou no carnavalesco Edson Pereira para desenvolver o enredo autoral “Delírios de um paraíso vermelho”. Incomodado com um rumo que o carnaval vem tomando em relação ao julgamento e um certo aprisionamento do fazer criativo da festa, Edson buscou inspiração em João Trinta para formular um enredo que passa muito por essa crítica aos pré-julgamentos, a intolerância, ao apontamento dos erros das outras pessoas, e dessa forma, olhando para alternativas, tentar criar um paraíso salgueirense, não algo perfeito, mas que valoriza o respeito para com o próximo.

Quinta a desfilar, em geral, a escola manteve seus principais quadros: Emerson Dias segue como intérprete principal, agora sem Quinho que teve que se afastar deste carnaval por problemas de saúde. Sidclei Santos e Marcella Alves vão para o seu nono carnaval juntos como mestre-sala e porta-bandeira do Salgueiro, Patrick Carvalho estará responsável mais uma vez pela comissão de frente da Vermelha e Branca, assim como os mestres Guilherme e Gustavo que dão continuidade ao trabalho desenvolvido na Furiosa. A direção de carnaval ficou com Julinho Fonseca. O samba foi composto pelos autores Moisés Santiago, Líbero, Serginho Do Porto, Celino Dias, Aldir Senna, Orlando Ambrosio, Gilmar L Silva e Marquinho Bombeiro.

Fique de olho: A comissão de frente de Patrick Carvalho já foi um show a parte tanto no mini desfile, quanto no ensaio técnico, a expectativa é o sarrafo alto para o desfile por parte do cobiçado coreógrafo do Salgueiro. O carnavalesco Edson Pereira estreante na Academia do Samba prometeu um carnaval grandioso. O carro abre-alas da agremiação deve ser um dos maiores que vão passar pela Sapucaí este ano, se não for o maior, quase 100 metros de comprimento. A rainha de bateria Viviane Araújo vai para o seu primeiro carnaval após ser mãe e promete a simpatia e o samba no pé de sempre. Com um enredo mais lúdico e menos ligado a alguma referência musical, a dupla de mestres Guilherme e Gustavo tiveram mais liberdade para investir na musicalidade do samba e tem realizado nos ensaios nossas bastante entrosadas com a métrica da obra.

Mangueira

A Estação Primeira de Mangueira de presidente nova, Guanayra Firmino, vai encerrar a noite promovendo um encontro bastante esperado pelos mangueirenses já há alguns anos. A Verde e Rosa junto com a Bahia em um enredo afro. “As Áfricas que a Bahia canta” foi desenvolvido pelos estreantes na tradicional agremiação, Annik Salmon e Guilherme Estevão, ambos vindos de carnavais na Série Ouro. A dupla vai levar para a Sapucaí toda a musicalidade baiana através dos Cortejos Afros, enfatizando o lado feminino. Essa cronologia parte ainda do período escravocrata, indo logo depois para um período pós-abolição em que os direitos da mulher e do negro ainda não eram garantidos, inclusive o direito de brincar carnaval. Também será representado o processo de “reafricanização” do carnaval baiano no início com os afoxés e depois com os blocos afros. E por fim, será apresentada a expansão que vem da negritude baiana dentro do carnaval a partir do axé e da musicalidade contemporânea.

Com presidente nova, a escola também renovou seus quadros. No carro de som, Dowglas Diniz, cria da comunidade, vai estar ao lado de Marquinhos Art’Samba que segue para este carnaval. Na bateria entraram os mestres Rodrigo Explosão, que volta ao posto depois de cinco anos, e divide com Taranta Neto o comando da Tem Que Respeitar Meu Tamborim. Na comissão de frente, Cláudia Mota substitui o “Casal Segredo”. Cintya Santos vai dançar ao lado de Matheus Olivério após a aposentadoria de Squel. E a principal já citada é a dupla de carnavalescos Annik e Gui Estevão. A direção de carnaval é de Amauri Wanzeler. O samba tem como autores Lequinho, Paulinho Bandolim, Júnior Fionda, Guilherme Sá e Gabriel Machado.

Fique de olho: Com carnavalescos novos, a Mangueira deve apresentar uma plástica diferente dos últimos anos, ainda mais que é uma parceria que se formou para este carnaval da Mangueira, dois artistas que não haviam trabalhado juntos. Annik e Gui terão a missão de substituir Leandro Vieira, que fez seis carnavais na escola. O samba de Lequinho e Companhia é um dos mais aclamados da safra e já está na boca dos sambistas neste pré-carnaval. Cintya Santos, apelidada de Cintya Furacão viveu grandes momentos na Série Ouro pela Porto da Pedra. Em sua estreia no Especial já vem recebendo muito carinho da comunidade Verde e Rosa. A rainha Evelyn Bastos é sempre um espetáculo à parte por seu samba no pé e engajamento, e sempre vem trajada com alguma personagem importante do enredo. A ministra da cultura Margareth Menezes, que fez uma participação na gravação oficial, confirmou presença no desfile.

Regulamento

De acordo com o regulamento do Carnaval 2023 ficou definido pela Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) que o tempo de duração do desfile de cada escola de samba será de, no mínimo, 60 (sessenta) minutos e, no máximo, 70 (setenta) minutos. As escolas de samba, cuja posição na ordem de desfiles correspondam à numeração par, deverão se concentrar a partir da lateral do setor 01 da Avenida dos desfiles no sentido do edifício “Balança Mas Não Cai”. As escolas de samba, cuja posição na ordem de desfiles correspondam à numeração ímpar, deverão se concentrar a partir do prédio do Juizado de Menores, no sentido dos prédios da Cedae e da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. A primeira escola de samba a desfilar em cada um dos dias de desfiles poderá se concentrar a partir da Área de Armação (Área anterior ao portão de início de desfile.

Outros aspectos importantes a se destacar no regulamento são as obrigatoriedades: número mínimo de 60 baianas; comissão de frente com o mínimo de 10 e máximo de 15 componentes; mínimo de 200 ritmistas agrupados na bateria; mínimo de 04 e o máximo de 06 alegorias, podendo no máximo 01 alegoria acoplada, além do número máximo de 03 tripés, sem contar os elementos cenográficos que eventualmente possam ser apresentados pela Comissão de Frente.

Pelo regulamento de 2023, “qualquer escola de samba do Grupo Especial que não entregar sua prestação de contas, com a devida aprovação, até o mês de agosto de 2022 ficará desclassificada do Grupo Especial da Liesa e, em consequência, será rebaixada para o Grupo de Acesso – Série Ouro da Liga RJ e ali permanecerá até que conquiste o título de campeã, e demonstre já ter concluído o processo de regularização de todas as pendências junto à Liesa e aos órgãos públicos”.

Manual do julgador

Este ano, o júri passou de 45 para 36 membros, com quatro deles para cada quesito (Evolução, Bateria, Harmonia, Comissão de Frente, Fantasia, Enredo, Alegorias e adereços, Mestre-sala e Porta-bandeira). Agora, cada quesito terá quatro notas e não mais cinco. Como já é feito a menor nota de cada quesito será descartada. Os julgadores serão distribuídos em quatro cabines espalhadas ao longo da pista de desfile da Sapucaí. Em cada cabine haverá nove jurados, um de cada quesito. O primeiro módulo localizado abaixo do setor 03 será duplo. A Liesa está se organizando para divulgar as justificativas das notas diferentes de 10 menos de 48 horas após a Apuração, que acontecerá na quarta-feira de Cinzas, dia 22, às 16 horas, na Praça da Apoteose. A expectativa é que os textos estejam liberados na sexta-feira dia 24 de fevereiro.

Com quatro campeões somando 37 títulos, Grupo de Acesso I acontece neste domingo e promete disputa acirrada de pavilhões

Neste domingo, são oito pavilhões disputando duas vagas no Grupo Especial em 2024, e duas serão rebaixadas para o Grupo de Acesso II, pavor para qualquer escola de samba. Pois a disputa é intensa, são quatro campeões de Grupo Especial na briga, Vai-Vai, Nenê de Vila Matilde, Camisa Verde e Branco e X-9. Ainda Colorado do Brás, Pérola Negra, Morro da Casa Verde e Mocidade Unida da Mooca.

São oito escolas na disputa, o começo será às 21 horas, e pela programação, a última entra na pista às 4 horas da manhã. Curiosamente, as quatro primeiras são as tradicionais que já venceram o Grupo Especial, e das oito escolas, apenas a Mocidade Unida da Mooca nunca disputou a elite até o momento.

Segue um giro sobre cada escola como chegam para essa disputa intensa no Sambódromo do Anhembi:

21h00 – Nenê de Vila Matilde

De volta ao Grupo de Acesso I após passagem pela terceira divisão do carnaval, a Nenê de Vila Matilde vai cantar “Faraó-Bahia” e busca o retorno para o Grupo Especial que não disputa desde 2017. Na visita ao barracão da Nenê, o carnavalesco Fábio Gouvêia contou sobre o enredo que estará na pista em entrevista para o site CARNAVALESCO.

“Faraó-Bahia vem do hit de carnaval onde todo mundo imagina que é a música que a Margareth Menezes eternizou, mas que tem um outro lado. Não é só a festa. Ela fala do empoderamento. Vem de encontro do não aos 100 anos de abolição da escravidão. O autor, juntamente com o Olodum, quer algo para ir contra. Não há o que comemorar. O nosso povo não foi liberto. Houve uma falsa história contada. E aí a música vem na contramão, porque antes o carnaval para os negros era só puxar a cordinha. O que mudou com essa abolição? Nada. Nós vivemos uma mordaça social e isso que a música quer dizer. Nós descendemos de reis e rainhas. De deuses do Egito antigo. A música nos empodera e diz que vamos substituir os turbantes por tranças. Vamos colocar as nossas caras nas ruas. O Faraó-Bahia faz isso. Ele pega esse norte sobre essa luta, empoderamento negro e começa a dar espaço para outras ações”.

A campeã onze vezes do carnaval, última vez em 2001, chega no Acesso I com o sonho de retornar a elite logo de cara, a ver como será o trabalho da comunidade da Zona Leste de São Paulo.

Fundação: 1949
Escola madrinha: Portela
Melhor resultado: 11 vezes campeão do Grupo de Especial (último em 2001)
Títulos: Primeira Divisão (1997 e 2000), Segunda Divisão (1994 e 2017), Terceira divisão (1981 e 1987), Quarta divisão (1986)
Último ano: Campeã do Grupo de Acesso II

22h00 – X-9 Paulistana

Com uma homenagem para lenda brasileira, a X-9 Paulista quer voltar ao caminho do Grupo Especial, e cantará: “Dona Ivone Lara, mas quem disse que eu te esqueço?”. Na nossa visita ao barracão da agremiação, o carnavalesco Leno Vidal contou sobre o enredo.

“Abracei porque não tem como não abraçar Ivone Lara no Carnaval. Todo sambista que se preze sabe que falar de Ivone Lara é falar da nossa vida, da nossa história no samba e do Carnaval como um todo. Fomos lá no Rio de Janeiro, a família nos recebeu, Dona Eliana Lara com os filhos e netos, e lançamos de lá o enredo, da casa onde viveu Ivone Lara. Já tínhamos começado a escrever a sinopse e li naquele momento. Eu busquei um fio condutor poético que foi o pássaro tiê, que nos iria acordar com Ivone Lara já no samba como a grande Rainha do Samba, já dentro do Carnaval, e depois começaríamos a fazer o sobrevoos de passagem na vida, na obra e no legado de Ivone Lara”.

A última vez que a escola esteve no Grupo Especial foi em 2020, depois veio a pandemia, e claro, atrapalhou a comunidade. Vale ressaltar que teve mudança de gestões, Mestre Adamastor assumiu e vai implantando um novo ritmo na escola da Zona Norte.

Fundação: 1975
Escola Madrinha: X-9 de Santos
Participações no Grupo Especial: 25 vezes (última 2020) e no Acesso: 12
Melhor resultado: Dois títulos no Grupo Especial em 1997 e 2000
Títulos: Primeira Divisão (1997 e 2000), Segunda Divisão (1994 e 2017), Terceira divisão (1981 e 1987), Quarta divisão (1986)
Último ano: 6º lugar no Grupo de Acesso I

23h00 – Camisa Verde e Branco

A terceira da noite é a tradicional Camisa Verde e Branco cantando “Invisíveis”, e a agremiação da Barra Funda sonha com a retomada do caminho vencedor dos anos. O jovem carnavalesco Renan Ribeiro é quem assume o projeto e com um enredo que tem a cara do Camisa tradicional dos anos 80, e ele nos contou um pouco sobre o enredo.

“O enredo nasce a partir do momento que tenho uma visão que o carnavalesco tem uma função além de cultural, agente de cultura, tem uma função de cronista social, porque marcar o período, e meu jeito de pensar. E estamos passando por um período que questões sociais se esticaram, foram levadas a consequência muitos sérias. E as distorções sociais se tornaram fatores muito evidentes no dia a dia, então baseado no momento político que vivemos e como isso tem interferido no dia a dia, senti a necessidade de falar sobre essas distorções sociais, baseado nos direitos sociais e usando o artigo sexto da constituição. Onde diz que é direito de todo mundo brasileiro, educação, saúde, moradia, trabalho, segurança pública, enfim uma série de direitos, que o estado não cumpre. Dai não falo de governo, de política partidária, falo de política social e daí eu baseado em série de leituras, sociologia, antropologia, faço esses estudos sobre movimentos sociais que buscam fazer as leis serem cumpridas neste vácuo da constituição”.

O Camisa vive sua maior sequência no Grupo de Acesso I, está lá desde 2013 e de 2018 para cá tem tido colocações apenas de meio de tabela, sem grande projeção por acesso. Mas também escapa do rebaixamento. Vale dize que desde 2012 não disputam o Grupo Especial.

Fundação: 1953
Escola Madrinha: Estação Primeira de Mangueira
Participações no Grupo Especial: 36 vezes (última em 2012)
Melhor resultado: 9 vezes campeã do Grupo Especial (1974, 1975, 1976, 1977, 1979, 1989, 1990, 1991 e 1993)
Títulos: 9 vezes na Primeira Divisão, Segunda Divisão (1997) e Cordões (1954, 1968, 1969, 1971)
Último ano: 5º lugar no grupo de Acesso I

00h00 – Vai-Vai

Pela segunda vez no Grupo de Acesso I, o que é uma tortura para a maior campeã do carnaval de São Paulo, o Vai-Vai reeditará um enredo de 2005: “Eu Também Sou Imortal”. Apesar de tudo pronto, só seguir aquele ano, Luiz Robles que é um dos responsáveis pelo projeto da escola em 2023, contou para o site CARNAVALESCO.

“Já tínhamos a sinopse e todo o trabalho de 2005, mas resolvemos mudar tudo. Não descartando tudo totalmente, mas queríamos realmente o zero. Fomos com a cabeça fresca, do zero, sem olhar o que foi feito lá para fazer o novo. Até a sinopse é diferente. Quando você vir o que colocaremos na pista e comparar com o que fizemos em 2005, não tem nada parecido. Não foi nem uma adaptação, colocamos na sinopse o que o samba acaba nos trazendo, ou seja, o que formos cantar você verá na pista, ficará simples de identificar”.

O Vai-Vai contém uma legião de torcedores, é a maior campeã do carnaval de São Paulo, e não é só antigamente, venceu o último em 2015, teve uma fase vencedora recente. Portanto busca o retorno ao grupo na qual quase a vida inteira foi seu lugar.

Fundação: 1930
Melhor resultado: 15 títulos do Grupo Especial
Títulos: Primeira Divisão (1978, 1981, 1982, 1986, 1987, 1988, 1993, 1996, 1998, 1999, 2000, 2001, 2008, 2011 e 2015), Segunda divisão (2020) e Cordão (1934, 1940, 1941, 1942, 1943, 1944, 1947, 1967 e 1970)
Último ano: 14º lugar do grupo Especial

01h00 – Morro da Casa Verde

Mantendo-se no Grupo de Acesso I, o Morro da Casa Verde traz um enredo interativo: “Dynasteia. História, Poder e Nobreza”. Para comandar o projeto, o jovem carnavalesco Danilo Dantas contou sobre o trabalho e até uma mudança para adaptar com a comunidade da Zona Norte.

“Toda mudança gera coisas positivas e negativas. Lógico que tem aqueles que falaram que não é a cara da escola, mas outros acharam que era isso que precisávamos para brigar de vez pelo título. A recepção de início foi de estranheza, mas depois as pessoas entenderam que o enredo fala basicamente de impérios e reinos que formaram a humanidade, passou a ser aceito de uma forma boa. No final fizemos uma mudança no planejamento para poder entrar e encaixar na proposta da escola. Inicialmente não tinha nenhuma dinastia ou ligação africana no enredo. No final, coloquei uma ligação da escola com a sua raiz africana e também uma das dinastias africanas, que é a do Império Mali, que inclusive é a nossa bateria, dando aquele toque de africanidade que faltava no enredo. Fora o samba, que ficou com a cara que o Morro tem”.

O Morro disputou o Grupo Especial pela última vez em 2002, faz um tempinho, e esteve no Acesso II em por três anos, até subir em 2020 e aí veio a pausa da pandemia. Mesmo com tanta gente colocando como potencial rebaixada em 2022, manteve-se e está no sonho de voos maiores neste ano.

Fundação: 1962
Escola Madrinha: Estação Primeira de Mangueira
Participações no Grupo Especial: 9 vezes (última em 2002)
Melhor resultado: 6º lugar no Grupo Especial em 1970
Títulos: Segunda divisão (1971) e Terceira Divisão (1993, 1995, 2005 e 2020)
Último ano: 7º lugar no Grupo de Acesso II

02h00 – Colorado do Brás

A Colorado do Brás foi rebaixada do Grupo Especial para o Acesso, mas foi devido a punição sofrida de um ‘merchandising’ de um componente que usou uma roupa de uma marca, proibido no carnaval. Para retornar ao Grupo Especial, cantará “A Ópera de Um Pierrot”, um dos carnavalescos do projeto, Anselmo Brito nos contou em visita ao barracão.

“A ideia da trama dessa grande ópera do Pierrot é abrir a cortina de uma história romântica e trazer esse romantismo e essa luta pelo amor e pela paixão desses personagens envolvidos para a história da escola. Nós vamos pegar essa história, a difícil paixão entre esse plebeu pela grande princesa, ninguém mais que a Colombina. Nisso, ele faz várias declarações de amor, porque amar vai além de tudo isso, como diz o escritor. O amor é infinito. Em cima dessa frase e desses personagens, a Colorado vai trazer para o seu personagem, o componente, o amor que ele tem pela escola”.

Foram três anos consecutivos no Grupo Especial, a escola é bem tradicional, e conhece o caminho do Grupo de Acesso I, na qual foi vice-campeão em 2018. Com um enredo falando de amor, procura o retorno ao grupo de elite do carnaval.

Fundação: 1975
Escola Madrinha: Estação Primeira de Mangueira
Participações no Grupo Especial: 9 vezes (última em 2002)
Melhor resultado: 11ª lugar no Grupo Especial em 2019
Títulos: Terceira Divisão (1979, 2000 e 2013) e Quinta Divisão (2011)
Último ano: 13º lugar – grupo Especial

03h00 – Pérola Negra

Outra homenagem no Grupo de Especial, e de um nome bem forte da arte e música brasileira, o enredo da Pérola Negra é ”Prepare o seu coração: Jair Rodrigues, Festa para o Rei Negro”. O carnavalesco Cláudio Cebola explicou o que pretende trazer na homenagem ao grande Jair Rodrigues.

“Apesar de outras agremiações terem trazido, sofri um pouco de crítica. Mas Jair Rodrigues não é um intérprete de um enredo só. Ele cabe em vários enredos, tem tantas outras vertentes sendo apresentadas e porque elas cabem em outros enredos. Jair cabe no meu enredo, que na verdade, não vem com a proposta da bibliografia, vem com a discografia do maior intérprete negro da música popular brasileira que foi Jair Rodrigues. E essa vertente discográfica que iremos apresentar na avenida”.

Campeã do Acesso I em 2019, mas rebaixada no Especial em 2020, a Pérola Negra viveu montanha russa de acesso e queda nos últimos anos. Em 2022 ficou com o terceiro lugar no Grupo de Acesso, atrás de Milênio e Independente, neste ano a briga é contra tradições do samba, como ela também é.

Fundação: 1973
Escola Madrinha: Acadêmicos do Salgueiro
Participações no Grupo Especial: 19 vezes (última 2020) e no Acesso: 26
Melhor resultado: 5ª lugar no Grupo Especial em 1976
Títulos: Segunda Divisão (1975, 1989, 2000, 2013 e 2015), Terceira divisão (1974 e 1988)
Último ano: 3º lugar no Grupo de Acesso I

04h00 – Mocidade Unida da Mooca

Fechando a noite, temos a única escola do Grupo de Acesso que ainda não disputou o Grupo Especial de São Paulo. Conhecida como MUM cantará o enredo: “O Santo Negro da Liberdade”. Em conversa com os carnavalescos da escola, contaram sobre a ideia do enredo que vai falar de Chaguinhas, um ativista muito importante na história paulistana.

“Era um personagem que eu tinha ouvido falar muito por alto quando estavam mudando o nome da estação da Liberdade para ‘Japão Liberdade’. Eu li alguma coisa sobre a história do Chaguinhas, mas tudo muito superficial. Quando a gente começou a fazer a pesquisa, já falamos que era esse. Achamos que tinha muito a ver com o que a Mocidade Unida da Mooca tem construído como identidade e é um enredo que está falando sobre a nossa cidade também. Acho que aqui em São Paulo está faltando muito temas que olhe mais para nossa construção enquanto cidade. A gente acaba pegando referência mais de fora”.

Apesar de ter nascido nos anos 80, a MUM ainda não conseguiu chegar à elite, mas ao mesmo tempo é uma escola que vai consolidando seu espaço no carnaval, sempre mostrando bons desfiles e perto do Acesso. Ou seja, sonha com isso, mas terá que driblar a questão da alegoria que foi reconstruída em poucos dias após queda devido ao vento no Terrenão, onde alegorias ficam guardadas.

Fundação: 1987
Escola Madrinha: Mocidade Alegre
Participações no Grupo Especial: Nenhuma, e no acesso duas: 2019 e 2020
Melhor resultado: 4ª lugar no Grupo de Acesso em 2020
Títulos: Terceira divisão (2018), Quarta divisão (2014 e 2016), Quinta divisão (1999) e Sexta divisão (1991)
Último ano: 4º lugar no Grupo de Acesso I

‘Chaguinhas’: O Santo Negro da Liberdade’ é o enredo que a Mocidade Unida da Mooca sonha para conseguir acesso

Continuando com a Série Barracões São Paulo, o site CARNAVALESCO visitou o barracão da Mocidade Unida da Mooca e conheceu o projeto da escola que fecha os desfiles do Acesso I no próximo domingo. A agremiação levará para o Anhembi o enredo “O Santo Negro da Liberdade”, que contará a história de Francisco José das Chagas. O carnavalesco Caio Araújo conversou com a equipe e detalhou o enredo.

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“Era um personagem que eu tinha ouvido falar muito por alto quando estavam mudando o nome da estação da Liberdade para ‘Japão Liberdade’. Eu li alguma coisa sobre a história do Chaguinhas, mas tudo muito superficial. Quando a gente começou a fazer a pesquisa, já falamos que era esse. Achamos que tinha muito a ver com o que a Mocidade Unida da Mooca tem construído como identidade e é um enredo que está falando sobre a nossa cidade também. Acho que aqui em São Paulo está faltando muito temas que olhe mais para nossa construção enquanto cidade. A gente acaba pegando referência mais de fora”,

Pesquisa do enredo

Fazer uma pesquisa abrangente sobre Francisco José das Chagas é uma missão complicada. É um personagem histórico se for conhecer, mas o fato é que é pouco aclamado e reconhecido. Segundo Caio, as conversas foram cruciais para o desenvolvimento do enredo.

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“A pesquisa foi muito difícil porque não existe quase nenhuma publicação em torno do Chaguinhas. O que a gente encontra é justamente um recorte de jornal, onde um deputado vai descrevendo exatamente como foi o dia da execução dele e tem o relato da Unanca, que é uma organização que mantém viva a memória do Chaguinhas e que luta muito pelo tombamento histórico da Capela dos Aflitos. A gente teve muito relato oral, alguns textos que a gente encontra aqui e ali são de autores que falaram sobre o Chaguinhas, mas alguns são até contraditórios. Tem que juntar uma coisa de um lado e de outro para construir a memória. Também construímos um panorama de ver o que a gente vai conseguir encontrar em termos de relatos históricos do que era São Paulo na época do Chaguinhas. A gente encontra relatos e textos sobre o cemitério, como era a vivência na época e fomos construindo uma concha de retalhos para poder ver o que era aquele cenário. E aí baseado no que a gente tinha, conseguimos traçar isso. As ossadas que foram encontradas nessa obra ajudaram muito porque vieram junto com as contas que eram vestígios de guias de orixás. Isso foi ajudando a gente concluir como era a relação da cidade de São Paulo com as religiões de matriz africana naquela época dentro de um bairro preto. A gente tinha muita dúvida se o Chaguinhas tinha essa relação. Então nós buscamos criar essa visão do ontem, do hoje e do que realmente temos de vestígio histórico dele”,

O melhor do desfile

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O carnavalesco disse que a abertura da escola é o principal ponto que o público pode esperar coisas agradáveis de se assistir. “A Mooca está trabalhando em um esforço de levar um desfile equilibrado do começo ao fim, de não ter aquela queda vertiginosa de alegorias no último carro, por exemplo. Mas eu aposto muito na cabeça da escola, na comissão de frente e o abre-alas. A comissão de frente é do Nildo Jaffer, então a gente já sabe que vem um trabalho muito forte pela frente. Está muito bem resolvida coreograficamente, no tripé e nas fantasias. Depois vem nosso casal, ala de baianas e abre-alas. Acho que vai deixar o público de boca aberta”.

A luta da MUM contra o racismo

A agremiação da Mooca sempre tem batido na tecla contra o racismo nos últimos anos. Em todos os enredos sempre tem uma pitada disso. Nos últimos anos, por exemplo, se teve em 2020 a homenagem para Abdias do Nascimento. Em 2022 o tema abordado foi Aruanda. Agora, homenagear José Francisco das Chagas não será diferente, pois ele batalhou pela igual em todas as questões. “Esses enredos chegam pela diretoria da escola. Isso é muito importante para o presidente Rafael Falanga, principalmente. A Mocidade Unida da Mooca leva muito a sério essa coisa de ser uma escola de samba como um todo. Ao mesmo tempo que preserva a cultura do samba muito forte dentro dela, também tem essa coisa de entender o samba enquanto uma organização que tem o poder de educar. A Mooca a gente sabe que é um bairro de tradição branca e italiana, mas a diretoria encara que a escola tem esse poder de levar essas pautas raciais e fazer as pessoas entenderem a importância de falar sobre isso hoje em dia. A gente está falando do samba que é uma herança preta e não podemos falar disso com irresponsabilidade. Acho que o meio que a Mocidade Unida da Mooca encontrou de fazer isso é trazer esses enredos de maneira que a comunidade viva eles o ano inteiro, que não seja uma coisa vazia”.

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Setor 1: “O primeiro setor a gente fala da revolução. Existem relatos em livros dessa revolução que aconteceu em Santos lá em 1821. Só que a gente tomou cuidado porque nosso desfile inteiro é muito carnavalizado. A comissão é uma síntese do enredo e o abre-alas é uma batalha na praia de Santos. A partir disso a gente começa com a execução e todo o processo de transformar o Chaguinhas em um santo popular. Vamos ter todas as manifestações culturais que culminaram para isso e terminamos o setor com carro do altar do Santo Negro, que mistura o candomblé, umbanda e catolicismo”.

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Setor 2: “Depois que o Chaguinhas foi transformando em santo, começa o movimento de transforma a figura dele em resistência. A gente entra na questão histórica, mas também com o Chaguinhas no cotidiano e no que a gente vive hoje em questão de termos de lutas raciais e antirracismo”.

Setor 3: “A gente encerra o desfile com uma procissão. Ao mesmo tempo em que a gente vê essa coisa da manifestação mais política, a gente coloca a manifestação religiosa, porque o Chaguinhas é isso. É uma figura histórica, política e religiosa. No final a gente procura colocar um ponto final dentro de todas essas características que ele carrega”.

Ficha técnica
Três alegorias
1200 componentes
Carnavalesco: Caio Araújo e Willian Tadeu
Diretor de barracão: Diego Falanga e Fabinho Carromeu
Diretor de carnaval: Fabinho Carromeu, Vitor Gabriel e Vanderley Silva
Chefe de ateliê: Eliana Dias

Ativações de marca fazem sucesso com o público do Camarote do King

O que chamou atenção na noite de sábado foram as experiências dos clientes nos espaços de lazer e beleza do camarote. Esse reduto fica no segundo andar do camarote do King e atende homens e mulheres com serviços de barbearia, salão de beleza e até spa para uma massagem. A barbearia fica por conta do Grand Caballero, que está na parceria com o King pelo primeiro ano. Frederico Xavier se disse surpreso em ver um espaço pensado para beleza também dos homens:

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“Um espaço assim é uma valorização pessoal, pois é importante que os homens também se abram para ter uma alta estima elevada. Independente do gênero é importante que as pessoas se sintam bem. Eu acho um diferencial incrível esse zelo com os clientes masculinos e femininos”, relatou.

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O salão de beleza este ano está de cara nova. A Bauny surgiu em 2022, em Mogi das Cruzes (SP), aterrissou na avenida mais animada do planeta, para cuidar dos clientes King. A Marca possui a própria a linha de esmaltes e maquiagem, todos os produtos são veganos e além de maquiar, também hidratam a pele protegem dos raios solares. A head de marketing, Mariana Roncatti, fala da operação da marca no camarote:

“Nós trouxemos seis maquiadoras, três atendendo no salão e outras três itinerantes, que circularam pelo camarote fazendo retoques nas clientes. Só no primeiro dia foram 300 atendimentos. Também trouxemos três mil brindes para serem distribuídos. Usamos mais de 250 tipos de produtos diferentes”, explicou.

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Já conhecido dos outros carnavais do King, o Buddha Spa manteve seu espaço de massagem para atender e dar aquela energizada nos clientes, que vêm aproveitar o camarote. Marconi Osternack já está acostumado a freqüentar camarotes no carnaval e não perde a oportunidade de receber a massagem.

“É a primeira vez que venho ao King, mas sempre que posso, escolho fazer a massagem. Eu começo a curtir a noite e quando o álcool começa a subir, eu paro, vou para a massagem e volto relaxado para curtir o restante da noite. O espaço aqui é ótimo, porque como está no segundo andar e não é virado para a pista, acaba sendo mais silencioso” brincou.

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Outro parceiro que também ganhou casa nova é a Kibon, vizinha do espaço de beleza. O lounge exclusivo está no acesso entre o 2º e o 3º andar. A marca está no camarote pelo terceiro ano. Paulo Bomfim é gerente regional e diz que para este carnaval serão 20 mil picolés.

“Parece muito picolé, mas vai rápido, ainda mais com esse calor esse clima de carnaval, mas o chicabon e Tablito são os queridinhos, acabam logo. A gente começou com um freezer e agora temos um lounge, quando parceria é boa para os dois lados, todo mundo cresce”, explicou.

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Um grupo de 15 pessoas que frequentam o King há 4 anos aproveitou todas as experiências. Eles costumam vir um dia ao desfile do acesso e sempre no dia do desfile da Portela. Beth Ferreira, que lidera o grupo, fala das experiências

“O pessoal gostou tanto, que nem está todo mundo aqui, eles estão espalhados curtindo o camarote, que esse ano está completamente diferente. Já foram na massagem, fizeram cabelo, maquiagem, ganharam até brindes, você acredita?”, brincou.

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No meio da noite, o camarote passou a ter dois Kings, já que o Rei Momo e a corte do Carnaval visitaram o camarote, conheceram o espaço mais moderno e posaram para fotos com os clientes no trono.

Série Barracões SP: Camisa Verde e Branco busca retomada com enredo que dá voz a ‘Invisíveis’

Tradicional escola de samba do carnaval paulista contém nove títulos do Grupo Especial, mas não disputa o mesmo desde 2012. Buscando a retomada para a elite, o Camisa Verde e Branco tem como enredo ‘Invisíveis’, a ideia é trazer vozes que são caladas pela constituição e assim virá no seu conjunto alegórico e de fantasias. É a terceira escola a desfilar no domingo, 19 de fevereiro, no Grupo de Acesso I.

Na visita no barracão do Camisa Verde e Branco, na Fábrica do Samba II, o carnavalesco Renan Ribeiro contou sobre a ideia do enredo em dois momentos: “O enredo nasce a partir do momento que tenho uma visão que o carnavalesco tem uma função além de cultural, agente de cultura, tem uma função de cronista social, porque marcar o período, é meu jeito de pensar. E estamos passando por um período que questões sociais se esticaram, foram levadas a consequência muitos sérias. E as distorções sociais se tornaram fatores muito evidentes no dia a dia, então baseado no momento político que vivemos e como isso tem interferido no dia a dia, senti a necessidade de falar sobre essas distorções sociais, baseado nos direitos sociais e usando o artigo sexto da constituição. Onde diz que é direito de todo mundo brasileiro, educação, saúde, moradia, trabalho, segurança pública, enfim uma série de direitos, que o estado não cumpre. Daí não falo de governo, de política partidária, falo de política social e daí eu baseado em série de leituras, sociologia, antropologia, faço esses estudos sobre movimentos sociais que buscam fazer as leis serem cumpridas nesse vácuo da constituição”.

Complementando sobre o enredo, o jovem carnavalesco do Camisa, reforçou para o site CARNAVALESCO sobre trazer ‘Invisíveis’, apenas um nome no título, mas que diz muito sobre o que irá contar nesta temporada.

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“E Invisíveis nasce baseado em cima de um livro, do escritor Léo Pessoa, que chama ‘Pessoas Invisíveis’, a visão é que o cidadão se torna invisível a partir do momento que algum dos seus direitos não são cumpridos. Então a partir do momento que o Judiciário, que é o guardião da constituição, não cumpre a função de fiscalizar o cumprimento da lei, alguém vai se tornar descoberto, e a partir disso alguém vai se tornar invisível frente a constituição, dai nascem os invisíveis, em pessoas que servem o sistema enraizado nas pessoas. Uma máquina institucionalizada, que desde 1500 vem sendo construído esse modelo social, dos ricos, cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres. O brasileiro vem de geração em geração resistindo a essas distorções sociais, o grande pensamento do enredo invisíveis é o questionamento, tudo é feito em cima de questionamento”.

Nomes importantes estudados e a ideia do enredo

Contextualizando toda a história de seu enredo e através de nomes importantes que aparecerão no desenvolvimento de cada setor do Camisa Verde e Branco no Anhembi. Renan Ribeiro revelou as fontes de estudo e o que pretende abordar neste trabalho.

“No texto falo que o Camisa em 2023 vem perguntar, indagar, questionar e interrogar. Até onde a gente aguenta, até onde isso vai e quantas mais pessoas irão lutar por isso. Com base nas perguntas, a escola vem respondendo quem são esse povo, esses invisíveis, pessoas que nasceram no meio dos invisíveis que conseguiram fazer com que esse direito fosse cumprido. Tenho Irmã Dulce pelo direito à saúde, Paulo Freire na educação, Orlando Villas-Bôas nos direitos dos povos originários, Zilda Arns no direito das crianças, Lélia Gonzalez nas questões raciais, Marielle Franco pela segurança pública e Betinho pela alimentação. Então são tantos brasileiros que nasceram e estiveram com a vida missionada em cumprir suas missões sociais e o enredo nasce a partir disso”.

Curiosidades na pesquisa

Muito estudioso e gosto pelo processo de pesquisa, Renan Ribeiro descobriu situações de personagens da história que se cruzaram em lutas. Formando assim uma ‘trincheira’, nome utilizado pelo carnavalesco do Trevo.

 

“Acabei vendo que várias histórias se cruzam, de várias militâncias, que tenho chamada de trincheiras que se cruzam. A maior delas, para mim, que é o personagem brasileiro, a figura que encerra o desfile é Betinho, que trouxe para mim esse instinto brasileiro missionado de força interna, que apesar de tudo contra todo dia. Que ainda é um país que preza a alegria, não é um povo melancólico, não é um povo que sabe lidar com a tristeza com melancolia. Mesmo tendo sido atacado durante séculos, diariamente ainda tem essa luta. Betinho é uma figura central do enredo, é um símbolo do enredo, ele esteve em todas as lutas, todas as trincheiras, ele talvez seja essa linha que vai amarrando todas essas lutas sociais”.

Alegorias de uma forma visando o público e as cores

Com uma visão que talvez seja um pouco diferente do carnaval atualmente, que visa grandiosidade, tamanho, Renan Ribeiro foca muito no público, e de todos os setores possam acompanhar o seu projeto artístico. Contou um pouco sobre a execução e como virá o Camisa em 2023.

“As alegorias diminuíram em relação ao ano passado, que tivemos um abre-alas com tamanho bem considerável. Neste ano me ocupei em diminuí-las, para tornar as alegorias em uma proporção mais humana. As alegorias do Camisa não tenho focado em tamanho e tenho focado mais em distribuição de pessoas, agregar linguagens artísticas em cima da alegoria com parte plástica, cênica, coreográfica, gosto de misturar isso. Carros são cenários, penso carro alegórico como um cenário deste cortejo que se apresenta no desfile, então parte do princípio que os atores que estão em cima ocupem dessa alegoria de forma a torná-la viva, e mostrar todos os planos dos espectadores, desde a cadeira de pista até a monumental que todo mundo tenha contato com alegoria de forma ampla, degustar de forma plena, a alegoria. Minha preocupação neste ano é focar na questão cenográfica, todos os carros têm essa cara mais cenográfica”.

Em relação às cores que trabalhou, claro, o verde é um que inicia todo o processo. Mas ao longo do desfile vai mudando, e contou como será o estilo do Camisa Verde e Branco no desfile sobre os Invisíveis.

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“Naturalmente se eu fizer o Camisa sem verde, eu morro, mas assim, respeito muito questões identitárias, como ela se vê, se sentir representado, o Camisa Verde ter cara do Camisa Verde. Abertura da escola, gasto todos os meus lápis verdes, tons de verde, na frente. Mas neste ano bem mais, no ano passado usei outras cores, uma paleta mais abrangente, tem no meio do desfile, posso dizer que começa e encerra muito Camisa Verde. Mas no meio tem paletas de cores, outras, até para poder ilustrar a diversidade que tem nas camadas sociais. E daí a representação. Me apego muito a cor, gosto muito de misturar cor, então me atentei muito no meio do desfile em dar essas sensações até por um estudo semiótico que gosto de fazer, com questões cromáticas e as sensações que podem causar no espectador. Então essa minha pré-disposição ficou à vontade para trabalhar no meio. Mas a cara é o Camisa Verde, de verde”.

Ponto chave do desfile

O carnavalesco deu sua opinião sobre os momentos que deve mexer com o público na passagem do Camisa Verde e Branco no desfile de 2023. É sempre um momento complicado, afinal, o artista é quem cria toda a obra, então destacar um momento geralmente mostra que é difícil para o mesmo, mas Renan Ribeiro destacou com tranquilidade os pontos que destaca.

“Temos alguns pontos dentro do desfile que gosto de chamar atenção. Para frente da escola, abertura, forma que o personagem invisível é apresentado, principalmente no abre-alas, onde tenho quantidade de pessoas grandes. Onde tenho um conceito visual diferente do tradicional de abre-alas, é um ponto legal, a quantidade de pessoas e como elas se distribuem dentro do carro e como se tornam vivas. A bateria representando a reforma agrária, é um ponto muito importante para mim. Mas dentro de todo o desfile, até por uma questão de narrativa, a presença de dona Nita Freire, no carro 2, é uma coisa muito marcante e extremamente simbólica para o desfile. Nos seus mais de 90 anos de idade, a predisposição dela, a alegria em participar, perguntar, a curiosidade dela de estar por dentro do projeto. A satisfação de novamente estar falando de Paulo Freire dentro do carnaval, que já foi citado algumas vezes, foi enredo em São Paulo, então acho isso legal. A presença do MST, e do Padre Júlio Lancelotti, torna simbólico isso em um nível de transcender, e de tornar o desfile um manifesto. É isso que quando junta pessoas que são extremamente na luta, isso deixa de ser um desfile, espetáculo e passa ser um manifesto de verdade”.

Renan Ribeiro como carnavalesco

Jovem, Renan Ribeiro começou sua trajetória de carnavalesco em São Paulo, em 2022 assinou o enredo do Camisa junto com Leno Vidal. Mas em 2023 assina todo o projeto. Conquistou títulos no carnaval de Santos, à frente da União Imperial, conquistou os títulos em 2018 e 2019. Contando sobre o seu estilo, o dia a dia no barracão, o carnavalesco do Camisa Verde e Branco relatou.

“Calmo, né Luciano?”, e o Luciano responde ‘posso falar?’. No meio da interação e brincadeira com o diretor do barracão, Renan Ribeiro contou: “Sou muito calmo, paciente, quando tem que chamar atenção, chamo. Mas sem perder a educação, elegância, sou paciente, tenho muita certeza do que estou fazendo. Certeza que não digo nem em questão profissional, de falar que sei muito bem o jeito que estou fazendo o carro, tecido, a cor, nem é essa questão, mas acredito no meu pensamento, meu jeito de fazer, no que acredito ser o papel do carnavalesco, a função e a forma de atuação dele. Acredito cegamente que o caminho é esse, e me dá segurança de dizer que o caminho é por aqui. Agora dentro do projeto, tenho o vício de querer saber tudo, gosto de não ter surpresas, gosto de saber o que está acontecendo na ala, casal, comissão de frente, quero saber, não quero saber só de barracão e fantasia, quero saber tudo, porque penso no espetáculo como conjunto, então gosto de saber de tudo. Profissionalmente seria um carnavalesco enxerido e um profissional paciente, tem que ter”.

Contando setor a setor da escola

Setor 1: “Setor introdutório da escola, o primeiro setor, que na verdade seria uma justificativa do meu TCC, da minha tese, quanto aos invisíveis. Então no setor apresento para o público e júri, que são os invisíveis, como nascem, a quem servem e onde eles vivem, onde eles se encontram na sociedade. Neste setor é onde apresentamos o personagem invisíveis, esse povo invisível”.

Em relação aos outros dois setores, no caso Setor 2 e 3, o carnavalesco Renan Ribeiro vê com olhos diferentes e explicou o contexto.

“A partir dali não tenho divisão de setores, os dois setores de desfile que seria, depois do carro abre alas, não tenho divisão narrativa, é contínuo até o final do desfile. A partir do carro abre-alas, começo a me aprofundar na discussão sociológica, buscando esses heróis que nascem no meio do povo, apresentando e respondendo os questionamentos. Então começo apresentar a bateria que vem atrás do abre-alas e até o último carro, vem respondendo questões sociais, questionando outras tantas coisas. E até o final do desfile, no final, na última alegoria, eu digo até que o desfile do Camisa termina, mas o enredo não acaba. Pois a luta é contínua, eterna, vem mais de 523 anos de brasileiros, e não vai acabar agora”.

“Desfile termina, mas não acaba. Olhar para o futuro, quem é que vai levar daqui para frente. Quantas Marielle’s, Padres Julio’s, quantos Freis Davi, terão que nascer daqui para frente, para a luta continuar. Na mão de quem está o futuro, como será. E o desfile termina com essa pergunta, que não quer calar, como o samba diz ‘até quando a pobreza vai sustentar a riqueza de homens que assolam o país. Então aquele personagem apresentado lá no início do desfile, no final questiona o daqui para frente quem vai cuidar do povo”.

Recado para comunidade

“A maior virtude de uma escola de samba como Camisa Verde e Branco, mais de 100 anos de história dentro do carnaval. Sendo embrião, a sênior do carnaval de São Paulo, a maior virtude dela é que depois de cem anos ainda continuar cumprindo sua função. Não se vende a fórmulas, e a algo carnaval comercial, midiático. Continuar acreditando que enredo tem que contar histórias, nós ainda temos que dar voz às pessoas, escola de samba nasceu para isso, nasce como uma célula de cultura infiltrada dentro das comunidades para dar voz às pessoas marginalizadas, empurradas para fora do centro e dos privilégios sociais. E escolas de samba nascem no início do século com essa função, mais de cem anos depois o Camisa continua nesta trincheira, ainda lutando, e ainda sendo por muitas vezes é invisível dentro no carnaval, tratado como uma escola invisibilidade, não competitiva. Escola desestruturada, com diversos problemas financeiros, isso tudo na visão de um carnaval vendido, que se vendeu a um formato não carnavalesco, e o Camisa só segue na função dele. O que tenho que falar para minha comunidade é dar os parabéns, pois eles acreditam muito que carnaval tem que ser do jeito que carnaval é. O Camisa Verde paga um preço muitíssimo alto por ser o que é e não ter se vendido. O que tenho a falar para a comunidade é que assim, são meus parceiros, sou componentes igual eles são. Esperem o Camisa Verde na sua plenitude no dia 19 de fevereiro, do jeito que tem que ser, com a comunidade com cara de comunidade, escola de samba com cara de escola de samba e se apresentando como escola de samba”.

Abordando um pouco sobre o que comentou acima, Renan Ribeiro em seu espaço livre pediu que o carnaval tenha mudanças: “Acredito que precisa ter um movimento e uma discussão sobre os moldes do carnaval, para não ter uma extinção do carnaval. Vejo hoje, dentro das escolas e de público, um futuro fatídico para escola de samba como foram os corsos, cordões, ranchos, outros movimentos carnavalescos que foram instintos e passaram por um processo de destruição, acredito que o carnaval está tomando esse mesmo rumo, infelizmente. Daí passa a ser uma cultura de segunda ordem, quando no nosso país, sempre foi a nossa maior vitrine cultural para o mundo. E hoje se tornou uma matéria de segunda ordem. Acredito que precisamos sentar e discutir isso daí, como está fazendo e qual rumo está tomando. Sejam as escolas comerciais perdendo os seus clientes, as escolas tradicionais perdendo o seu povo, o movimento que está acontecendo é perigoso, se nem for pensando de forma a escola de samba voltar a ser atrativa e orgânica, estamos fadados ao fracasso e se nem mudar o rumo, o navio está rumo para o iceberg”.

Ficha técnica
Alegorias: 3
Alas: 13
Componentes: 1.000
Diretor de barracão: Luciano Leite
Supervisor de fantasias e atelier: Renan Ribeiro e João Victor Ferro

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