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Fechando a safra de enredos, Império de Casa Verde homenageará Fafá de Belém

O Império de Casa Verde apresentou na noite de sábado o seu enredo para o Carnaval 2024. A divulgação foi feita em formato de show para convidados e transmissão ao vivo no canal do YouTube da escola. Com isso, a agremiação da Zona Norte fecha a safra de enredos que serão apresentados na avenida no ano que vem. Agora, todas têm os seus temas e já estão dando os próximos passos para a folia acontecer.

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Fotos: Fábio Martins/CARNAVALESCO

A apresentação contou com uma grande estrutura. Em sua quadra, o Império montou sistemas de iluminações para abrilhantar o show que estava por vir na live, que fora comandada pelos artistas Ailton Graça e Adriana Lessa. O intérprete oficial, Tinga, cantou sambas históricos da escola e, após, o carnavalesco Leandro Barboza explicou o enredo – “Fafá, a Cabocla Mística em rituais da Floresta”.

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“Eu já tenho esse enredo desde 2017. Está guardado há muito tempo. A parceria com o Tiago Freitas, que é o meu enredista, ganhou uma proporção imensa. Ele descobriu caminhos, trocamos ideias e essa dupla tem dado tão certo que a gente almoça e dorme pensando neste trabalho. A gente conseguiu um caminho muito legal. É um grande sonho, tenho certeza que a comunidade vai abraçar e espero um Carnaval muito bom. A gente vem com o luxo do Império e vai ser show de bola. Hoje estamos com um projeto fechado, mas pode ser que amanhã ou depois a gente acrescente mais alguma coisa. É importante deixar registrado que desde o ano passado, nós pensamos muito em conjunto para deixar o trabalho redondo. É isso que a galera está vendo na avenida”, explicou o carnavalesco, Leandro Barboza.

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Toda homenagem é pouca para grandes nomes como Fafá de Belém. Porém, em alguns casos, se vê muitos enredos de artistas que apenas cedem o nome e a figura para a escola desenvolver o tema. No entanto, Leandro disse que Fafá de Belém estará o tempo todo junto com o Império de Casa Verde, participando ativamente das discussões sobre como levar a imagem dela para o Anhembi. “Eu tenho certeza que essa entrega será gigantesca. A gente tem controlado a Fafá durante esse um mês que estamos para lançar o enredo. Ela é uma mulher de muita energia e está desde o primeiro momento querendo trabalhar. Ela não é só mais uma personagem que a escola está contando. A Fafá está dentro do Império participando do projeto, envolvida com a comunidade e, como ela disse, toda folga dela, estará aqui no Império”, contou.

Em 2023, o enredo “Império dos Tambores” foi um sucesso com a comunidade e levou a escola a fazer um grande desfile, conquistando a terceira colocação. O tema também foi de autoria do carnavalesco. Devido a isso, Leandro falou sobre a confiança que a diretoria da agremiação está depositando no trabalho dele. “Hoje eu fiz até um agradecimento ao presidente para mostrar o quanto eu sou grato a ele. Porque foi uma história construída de degrau a degrau. Eu cheguei em 2016 como assessor do Jorge Freitas e foi toda uma caminhada. Agora eu tenho todo esse apoio. Então o Império está na frente, em primeiro lugar, entre as propostas. A parceria se estabeleceu”, comentou.

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Trabalho de pesquisa

Tiago Freitas, enredista e ‘braço direito’ do carnavalesco Leandro Barboza, contou como foi feita a pesquisa para desenvolver a sinopse do enredo. Também falou da emoção por ser da Amazônia, região norte do Brasil, assim como Fafá de Belém. “Eu sou da Amazônia. É muito forte e especial trabalhar com esse enredo. Fafá desde nosso primeiro encontro nos encantou como uma forte entidade mística da floresta. A história dela tem diversas vertentes desses elementos encantados da mata e ela conduz a Império por caminhos de rituais. Ela leva o Tigre e a comunidade através disso. Fafá é a cabocla que quando canta faz a floresta renascer mais forte. Quando ela olhou o enredo, logo, os desenhos, ela se reconheceu e isso é muito importante”, contou.

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Carnavalesco Leandro Barboza

Tiago falou um pouco dos bastidores. Junto com Leandro, teve a oportunidade de visitar a homenageada na casa dela e mostrar todo o projeto e, segundo o profissional, na leitura da sinopse houve uma emoção muito grande. “A gente fez a leitura na casa dela e ela chorou. Depois nos abraçou, ficou emocionada e não retocou. Disse para mim: ‘você me sentiu’. A Fafá sentiu a escola, mora em São Paulo e sempre vai estar presente. Quando ela foi escolhida para ser o enredo disse que ‘agora eu entendi porque São Paulo me escolheu e não o Rio’. Eu moro aqui, tenho casa, minha filha nasceu aqui e tinha que ser nessa cidade. Então tem essa mística. A Fafá tinha um sonho de ser enredo e nos revelou isso. Quando chegamos com a proposta, ela nem hesitou”, declarou.

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Anteriormente, o carnavalesco contou sobre a parceria com o enredista e, desta vez, Tiago falou como vem dando certo trabalhar juntamente de Leandro. “A gente teve uma parceria de sucesso no ‘Império dos Tambores’ e queremos repetir isso ou fazer algo melhor, sendo na parte de sambas, fantasias e de todo o processo até o dia que vai para a avenida. É um processo de parceria muito legal. Eu aprendo muito com o Leandro e nós temos muitas trocas. A gente vive e respira o Império todos os dias. Nós queremos o campeonato e Fafá também quer”, completou.

Encontro do tema e os próximos passos

O diretor de carnaval, Tiguês, revelou que o enredo já circulava na escola há algum tempo. Também enalteceu o trabalho de Leandro e a busca pelo título. “Na verdade, essa história falando de Fafá de Belém já é presente no Império há uns dois anos. No ano passado optamos por falar em um enredo afro, e aí o Leandro teve uma ideia genial de não fazer simplesmente algo biográfico e transformar a história dela em uma lenda, em algo que fosse diferente, que não fosse biográfico o tempo todo. Então, criou-se essa lenda, essa magia toda em torno da cabocla mística, para trazermos a avenida, e acredito que acertamos. Uma figura ímpar, pessoa que representa não só na parte musical, mas o engajamento político e religioso, transitando em todas as religiões. E sobre a pista, podem esperar muito luxo e um carnaval com samba empolgante. Pretendemos também fazer um grande espetáculo no Anhembi baseado nos novos critérios de julgamento. Nós somos a penúltima escola a desfilar, sexta escola do sábado de carnaval e estamos empolgados. Mas se Deus quiser, desta vez, vamos levar o troféu de primeiro lugar”, disse.

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Diretor de carnaval, Tiguês

Como dito anteriormente, em 2023 o samba-enredo do Império foi um dos melhores do Carnaval paulistano, inclusive vencendo o prêmio Estrela do Carnaval do site CARNAVALESCO. Sobre o próximo hino, o diretor contou que será feito da mesma forma. “Por encomenda, não teremos eliminatórias. Agora, já a partir de segunda-feira começamos a construção. Temos uma ideia mais ou menos da linha que vamos levar. E esperamos repetir o sucesso do ano passado, do samba de 2023, foi um grande sucesso, o mais aclamado do Carnaval de São Paulo e esperamos repetir essa mística através de Fafá de Belém”, opinou.

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Batucada para 2024

Outro quesito sucesso foi a bateria ‘Barcelona do Samba’, regida por mestre Zoinho. É uma das batucadas referências do carnaval paulistano e, com o samba de 2023, teve um desempenho melhor ainda. Talvez o mais satisfatório desde quando Zoinho assumiu. Para 2024, o diretor de bateria se mostrou bastante empolgado com o tema. “Enredo muito bom, uma homenagem para uma pessoa que fez muito pela música, pelo MPB, cantora de sucesso. Tem uma história de vida bonita, e a gente fica muito feliz de homenageá-la, e é o seguinte: a partir de hoje começamos a fazer nosso projeto, carnaval 2024. Em termos de samba, de criação, de ritmo, de tudo. É um enredo que nos dá a possibilidade de fazer vários ritmos, coisas, um enredo que abre caminho e portas. Estamos tranquilos e nosso objetivo é trabalhar bastante, fazer um grande desfile novamente”, disse.

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Zoinho disse que já vem ensaiando, mas disse que é muito cedo para encaixar algo do enredo dentro da bateria. “É muito cedo, preciso esperar vir o samba, entendeu? A hora que o samba chegar, começamos a trabalhar em cima do ritmo. Estou ensaiando, bateria ensaia toda segunda-feira, mas assim, agora vou começar a trabalhar em cima do ritmo, samba, estou esperando o samba. A expectativa é grande, vamos ver o que vai dar, vem novidade por aí, 2024 promete”, finalizou.

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O Império de Casa Verde será a sexta escola a desfilar no sábado de Carnaval.

Arranco divulga enredo e sinopse para o Carnaval 2024

O Arranco apresentou neste sábado seu enredo para o Carnaval 2024. Com a intenção de criar um enredo afetuoso, carnavalizado e contar as histórias do seu lugar, a escola celebra a doutora Nise e o Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira que segue pulsando seu legado. O título é “Nise – reimaginação da loucura”, que será desenvolvido pelo carnavalesco Nícolas Gonçalves.

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Carnavalesco: Nícolas Gonçalves, Designer: Marcos Alany e Obra: Fernando Diniz

“Esta extraordinária mulher brasileira é mundialmente reconhecida pelo papel revolucionário que desempenhou no campo da saúde mental. Sua psiquiatria rebelde centrada no afeto ecoou do Engenho de Dentro para o mundo! A homenagem é construída através de uma narrativa poética, um conto ficcional em que a própria Nise viaja no espaço-tempo em três quadros pintados pela história. Em breve divulgaremos acerca da disputa de samba bem como seu formato”, informou o Arranco.

Confira abaixo a sinopse do enredo

Sou uma médica que aposta no poder da criatividade e tenho coragem para navegar contra a corrente. Por não conviver com gente ajuizada, sempre acreditei que para mudar a realidade é preciso se indignar e se contagiar. Certa vez ouvi que as imagens tomam a alma da pessoa. O mundo é um infinito de imagens e toda imagem é um infinito de mundos. Digo então a vocês: toda pessoa é um infinito de mundos. Não pretendo dar conta de toda a loucura do mundo, afinal nenhuma ciência é capaz de compreender a imensidão do universo de cada um. Mas a arte tem o poder de expressar as imagens que nos habitam. Acredito que é preciso imaginar: mostrar a imagem. A arte mostra a imagem e essa é a fonte para a existência de outros mundos. É preciso reimaginar! Assim, pelas asas da invenção, retorno ao Engenho de Dentro e caminho pelo Instituto que recebeu meu nome para analisar três telas pintadas pela história.

Diante das ruínas de um tempo passado, no primeiro quadro observo a mitológica figura do Caos: a imagem de um mundo de horror e brutalidade. Ela representa a razão que não abraça as diferenças, sustentada pelas metálicas grades que limitam a capacidade de criação, existência e liberdade. É um mundo que provoca traumas. Quando o ego é estilhaçado em inúmeros cacos que não se juntam mais, a aprisionadora razão costuma desumanizar a vida. Mas entre atritos e choques de pensamentos, surge o arqui-inimigo do violento Caos: a mitológica figura do Afeto! Ela traz consigo uma legião de rebeldes que lutam para fraturar a realidade que impõe um único modo de enxergar a vida. Movidos pelo ideal de que o Afeto pode desligar as máquinas da dor, decretam: “não aperto!”. Tal como um dia eu mesma fiz. Quebram-se os cadeados, caem os muros, triunfam as ocupações de uma revolução. Manicômio nunca mais! As imagens de novos mundos são possíveis pela loucura de se rebelar contra um sistema.

Ao circular pelas salas do Museu, encontro no segundo quadro a produção de outras consciências. O espaço imaginário constrói o espaço da realidade. A tela em branco é como uma janela que dá vista aos conflitos que se dão no inconsciente: é um território a ser habitado pelas mais diversas mitologias. Acredito na abstração como um ponto de tranquilidade e refúgio. Distanciando-se das traumáticas figurações do Caos, abstrair é tentar dar forma à linguagem dos Cosmos. De início, avisto linhas avulsas, traços retos e curvos pincelados como improvisações sobre as tramas. Me interesso também em ver as formas, os contornos de uma geometria sensível que aproxima a razão e a emoção. Os rabiscos performam as influências do mundo externo e as vivências internas que se transformam através de cores que preenchem gradativamente a tela. Na circulação dos saberes, os estilhaços são reorganizados em outras disposições. Cada parte, redesenhada e colorida, é composta em círculos que encontram outros círculos para formar uma singular ordenação cósmica. Vejo a mandala que resulta da busca por uma nova unidade. Cada mandala é o alvorecer do desejo de se reintegrar na existência de um outro mundo.

Pelas ruas do Parque, analiso o terceiro quadro como um emblemático panorama que salta para fora da moldura: a alegria da socialização! A arte, em seu papel de fixar significados, torna reais os universos imaginados. Como na ilusão da avenida, a vida é toda imaginação. Assim como eu, milhares de rebeldes reimaginaram a saúde mental. Para os caretas, fugir da realidade construída por eles sempre será loucura. É nessa ousadia que nos unimos para a criação de imagens afetivas do mundo em que queremos conviver. Nesta tela que é o presente, ouço os ecos de uma “Insandecida” batucada que me conduzem a uma “Loucura Suburbana” que transforma fantasias em realidade. Entre paetês e tamborins, vibra uma comunidade que é todo afeto: toca, canta, samba e me
recorda de um saudoso “sonho meu”. Nosso chão dá lugar aos cosmos da folia. Em um bloco carnavalesco que celebra a vida sem preconceitos, saímos em cortejo pelas ruas do Engenho de Dentro até cairmos nos embalos de um Arranco que é todo amor. Pela loucura da mitologia de Momo [afinal, que maravilhosa loucura escrever um texto como se fosse a própria Nise da Silveira], fica a provocação dos artistas: e se reimaginássemos o ano todo?

Carnavalesco: Nícolas Gonçalves
Texto: Cleiton Almeida
Pesquisa: Cleiton Almeida, Lana Cristina, Mauro Cordeiro, Nícolas Gonçalves

Presidente: Tatiana Alves
Vice-Presidente: Dona Diná
Presidente de Honra: Antônio Carlos Junior

CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL. Nise da Silveira: a revolução pelo afeto. [Catálogo de exposição]. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2021.
DA SILVEIRA, Nise. Imagens do inconsciente: com 271 ilustrações. Editora Vozes Limitada, 2017.
DA SILVEIRA, Nise. Jung: vida e obra. Paz e Terra, 2006.
DA SILVEIRA, Nise. O mundo das imagens. Editora Ática, 1992.
NISE da Silveira – Posfácio: Imagens do Inconsciente. [Documentário]. Direção de Leon Hirszman, 1984-2014. 1 vídeo (80min).
STEIN, Murray. Jung: o mapa da alma. Editora Cultrix, 2004.

‘A gente não quer só patrocinar o carnaval e garantir o seu fomento. É importante ampliar esse movimento de escuta’, diz secretária de Cultura do Estado

Na tarde da última sexta-feira, ocorreu mais uma ação protagonizada pelo poder público para discutir o fomento e a importância do carnaval para a economia do estado do Rio de Janeiro. O seminário “Samba e Carnaval: A Economia que move um Estado”, realizado pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro (Sececrj), reuniu lideranças e sambistas do carnaval fluminense na Biblioteca Parque Estadual, no Centro da cidade do Rio.

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Foto: Raphael Lacerda/CARNAVALESCO

A mesa de abertura do evento contou com a participação da secretária da pasta, Danielle Barros; do presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro; presidente da Associação das Escolas Mirins do Rio de Janeiro (Aesm-Rio), Edson Marinho; presidente da Superliga, Pedro Silva; presidente da Federação da Indústria Criativa Cultural do Carnaval do Estado do Rio de Janeiro (Ficcerj) e assessor especial da Sececrj, Sergio Firmino e o presidente da Comissão de Estudos e Conflitos Jurídicos do Carnaval da OAB-RJ, Dr. André Vasserstein.

A secretária Danielle Barros destacou a importância de políticas públicas que auxiliem os espetáculos da Passarela do Samba, do carnaval de rua e de outros grupos culturais presentes no estado.

“Essa ação se torna urgente. Sem dúvida, o nosso carnaval tem a sua grande marca, que é o que fazemos na Marquês de Sapucaí. Mas enquanto Secretaria de Cultura e Economia Criativa, sabemos que o movimento do carnaval não se resume ao movimento da Avenida. A gente também tem o carnaval no interior do estado e um movimento muito forte na Baixada Fluminense. Também existe o carnaval de rua, que são os nossos blocos, que enquanto está acontecendo o espetáculo da Sapucaí, realizam um outro movimento de carnaval, que dialoga com uma outra linguagem e é complementar ao carnaval da Sapucaí”, ressaltou a secretária.

De acordo com o relatório “Carnaval de Dados”, o espetáculo deste ano movimentou, somente na economia da capital fluminense, R$ 4 bilhões, 12,5% maior que em 2020 . Danielle falou sobre a importância da maior festa popular do mundo para diversos setores do estado.

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Perlingeiro e a secretária Danielle Barros

“O carnaval é um espetáculo de luz, cores e som que encanta os nossos olhos. Mas ele não é só isso: também é um movimento de fortalecimento econômico que gera renda, emprego, fortalece o turismo e traz dinheiro. Por isso, tudo o que a gente faz pelo carnaval não é uma despesa, é um investimento. A gente não quer só patrocinar o carnaval e garantir o seu fomento. Para nós é importante participar e ampliar esse movimento de escuta”, comentou.

Entre os anos de 2020 e 2023 o poder público realizou aportes que totalizam mais de R$ 56 milhões para o carnaval. Com a entrada dos repasses para o orçamento do estado e propostas de fomento, como o Projeto de Lei 331/2023 – que propõe a criação de uma verba para incentivar os desfiles da Intendente Magalhães e do Sambódromo – além do possível apoio do Governo Federal, a quantia anual recebida para os sambistas deve ser ainda maior comparada aos anos anteriores.

Há 40 anos locutor da elite do carnaval carioca e atual presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa), Jorge Perlingeiro ressaltou o grande alcance e impacto que os desfiles do Grupo Especial trazem para o estado. Para Perlingeiro, a integração entre diferentes setores do Poder Público e carnavalescos já deveria ter ocorrido anteriormente.

“Há muito tempo isso já deveria ter acontecido. Havia um distanciamento muito grande com o poder público. Ninguém é grande sozinho. Nós nos sentimos agora um pouco mais amparados. Sabemos o quanto de renda a gente traz para a cidade do Rio de Janeiro. Foram R$ 5 bilhões em impostos que nós geramos para a cidade neste carnaval, onde batemos todos os recordes possíveis de se imaginar. Na Marquês de Sapucaí, só no Sábado das Campeãs, recebemos 120 mil pessoas”, disse o presidente da Liesa.

Com gastos que vão desde a montagem e iluminação da Passarela do Samba até o reforço da segurança, o presidente da Liga revelou que a despesa do último carnaval, somente na preparação da Sapucaí, foi de R$ 37,5 milhões. Por conta do custo elevado, ele afirmou que não é possível que os sambistas arquem com tudo sozinhos. Perlingeiro também comentou sobre a movimentação feita no Congresso Nacional pela Frente Parlamentar em Defesa do Samba e do Carnaval.

“Nós não somos grandes o suficiente para não ter a necessidade do Poder Público ao nosso lado. A iniciativa privada não consegue bancar os nossos custos. Só para vocês terem uma ideia, a Liga pagou neste ano para a montagem da Sapucaí R$ 37,5 milhões. Não pensem que é fácil fazer carnaval. Neste carnaval a Liga completa 40 anos e vamos fazer um belíssimo carnaval. Hoje já melhorou muito e já temos a certeza que não estamos desamparados. Temos o apoio da prefeitura, agora o do estado e, Graças a Deus, também estamos caminhando para o apoio do Governo Federal. Daí a gente vai conseguir fazer um carnaval com dignidade, onde as escolas poderão apresentar um conteúdo muito maior do que já foi visto até hoje”, disse Perlingeiro.

Presidente da Superliga, Pedro Silva, assim como na audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) no último dia 20 de junho, enfatizou a falta de recursos vivenciada pelas escolas da Intendente Magalhães.

“Não se faz cultura sem o apoio de políticas públicas. Nos últimos quatro anos eu tenho viajado o Brasil para conhecer outras praças de carnaval – Porto Alegre, Brasília, o Norte do país – e todas elas só acontecem graças ao apoio de políticas públicas. A SuperLiga tem 78 escolas de samba e é a maior liga do mundo. É uma referência muito grande, mas a gente sofre com algo que precisamos mudar, que é a questão da verba. A gente tem uma verba pequena, então quando trazemos aqui para a economia criativa, fazemos duas definições: é o fomento à cultura, mas também temos que ressaltar a criatividade do sambista em fazer carnaval com pouco dinheiro”, comentou Pedro.

“Nós precisamos de políticas públicas, porque a gente não tem o apelo da iniciativa privada. Não conseguimos o apelo para ter um patrocínio, de exposição de marca. É muito difícil fazer carnaval em ligas inferiores, mas a cobrança é a mesma. Precisamos criar uma valorização das escolas da Intendente Magalhães. Falo em nome da Intendente porque a instituição que defendo, mas também temos os blocos e as demais ligas. No mundo inteiro quem faz carnaval somos nós, toda referência de samba que temos em outros países são de brasileiros que estão lá fomentando a nossa cultura. Quem tem que cuidar somos nós. Só vamos conseguir resultados estando unidos”, completou.

Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa, o seminário é permanente e a expectativa é que outra edição seja realizada nos próximos três meses.

Visitas à Casa do Carnaval da Bahia crescem quase 70% em comparação com ano passado

Condensar e contar a história de música, dança, folia e cultura da maior festa popular de rua do mundo não é uma tarefa fácil, mas a Casa do Carnaval da Bahia, em Salvador, consegue fazê-lo com maestria. De janeiro a maio deste ano, o espaço já recebeu mais de 28 mil turistas, um crescimento de 68% em relação ao mesmo período do ano passado. Mais da metade vem de outros estados do país, mas o número de visitantes baianos também tem crescido.

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Foto: Jefferson Peixoto/Secom

Este ano, dias antes do início do Carnaval de Salvador, o museu atingiu um recorde de público, mais de 1.300 pessoas em um único dia. Romilson Vieira Selles, 24 anos, é mediador do museu há quase e dois anos, o mais antigo no local. Para ele, ter batido esse recorde é um representativo da qualidade e dedicação envolvidos na criação e manutenção da Casa do Carnaval. “Na alta estação, geralmente temos de 100 a 300 visitantes por dia aqui. Então, do nada, esse número cresce em mil pessoas, ficamos muito impressionados”, conta. No período do Carnaval, o museu funcionou em esquema especial. A Casa do Carnaval funciona das 10 às 18h, de terça a domingo. A entrada é R$ 20 (inteira) e R$10 (meia), residentes de Salvador também pagam meia.

Só este ano, cerca de 10 mil baianos já visitaram a Casa do Carnaval, um aumento de 43% em relação a 2022. Para Romilson, o crescimento é reflexo de uma busca por conhecer a própria cultura. “Cada vez mais, esse espaço tem se tornado mais um espaço para quem é de Salvador, quem é da Bahia. Não que não fosse antes, até porque não houve nenhuma mudança, mas a gente percebe uma maior procura, acho que até pela sensação de pertencimento mesmo, de identificação com a própria cultura”, refletiu.

Estrutura – Inaugurado em 2018, o primeiro museu do Carnaval no Brasil promove uma experiência única da história da folia, por meio de conteúdos audiovisuais e interativos, abordando desde a origem da festa, nos entrudos lusitanos do século XVIII, passando pelas alterações e proibições elitistas sofridas, até a criação do trio elétrico (brevemente, fobica) em 1950 e o crescimento exponencial da festa, que, hoje em dia, atrai mais de 2,7 milhões de pessoas, nos sete circuitos principais, durante os dias de festa.

Localizada na Praça Ramos de Queiroz, no Pelourinho, a Casa do Carnaval está a poucos metros do Terreiro de Jesus e da Praça Castro Alves, locais icônicos para o Carnaval de Salvador. Administrado pela Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador (Secult), tem curadoria do artista e designer baiano Gringo Cardia, juntamente com o reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), professor doutor Paulo Miguez, especialista em Cultura e Carnaval da Bahia, além de um amplo grupo de artistas e pesquisadores como Jonga Cunha e Bete Capinan.

O espaço tem dois pavilhões expositivos, com mais de três horas de conteúdo audiovisual relacionados à festa. No térreo, as salas “Origens do Carnaval” e “Criatividade e Ritmos do Carnaval” contam a história e evolução do carnaval narradas por artistas que criaram e foram criados pela festa. Na sala de entrada fica a biblioteca da Casal do Carnaval. O acervo conta com nomes como Zélia Gattai, Juarez Paraíso, Carybé, Nelson Cadena e J. Cunha, que também assina os painéis fixados na parede e do teto da entrada.

O titular da Secult, Pedro Tourinho, aponta a importância de espaços culturais de memória como a Casa do Carnaval, que refletem a representação e identificação de um povo. “É um espaço que perpassa a história de uma festa não só de Salvador, mas da Bahia, e que mostra personagens e momentos que são intrinsecamente relacionados à folia. No primeiro museu do Carnaval do país, é contado o surgimento dos trios elétricos, os caminhos que os blocos afro trilharam para se fortalecer e ganhar o devido lugar de destaque e poder, passando pelo fortalecimento de ritmos afro-baianos como o samba-reggae, o axé e o pagode na história da festa baiana”, destacou.

“O espaço cultural também adentra nos pormenores da gestão da festa, desde a atuação do poder público até os trabalhadores informais, que têm uma atuação crucial na movimentação da economia da festa”, completou o titular da Secult.

Experiências temáticas – Na sala “Origem”, brilhantes máscaras carnavalescas, bonecos pierrôs e uma escultura topográfica de Salvador contextualizam a história que está sendo contada nas telas. Já na “Criatividade e Ritmos do Carnaval”, os conteúdos abordam especificidades do Carnaval, como o trio elétrico, os blocos afro, a exportação do carnaval para o mundo e os diversos ritmos que compõem o a festa.

Também há um espaço para Carnaval do interior, como em Jacobina e Maragogipe, e a Micareta, além de um painel exclusivo dedicado aos artistas que têm construído visualmente e artisticamente o carnaval, como Juarez Paraíso, Manoel Araújo, Bel Borba, J. Cunha e Alberto Pitta. Para acessar o conteúdo audiovisual do museu e ter a experiência completa, ao visitante é dado um dispositivo móvel e fones de ouvido, que permitem sincronizar o conteúdo a ser apresentado nas telas.

No segundo pavimento do museu está o Cinema Interativo, onde os visitantes podem dançar e tocar as músicas que são apresentadas nas telas. Nas salas A e B, o objetivo é que as pessoas conheçam mais sobre artistas, afoxés e blocos de trio. Cantoras como Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Baby do Brasil falam do Ilê, Olodum, Harmonia, Psirico e bandas como Eva, Jamil, Cheiro de Amor. Na outra sala, Carlinhos Brown, Antônio e Camila Pitanga e Xandy vão falar de artistas como Luiz Caldas e Igor Kannário e de Asa de Águia e Chiclete com Banana.

Carnaval de muitas origens – No museu, a história do Carnaval da Bahia é contada por diversas vozes, de Moraes Moreira a Saulo, passando por Margareth Menezes e Claudia Leitte, estendendo a narração a artistas plásticos natos do carnaval como Alberto Pitta. O cantor Gerônimo é quem inicia o percurso histórico da folia momesca, narrando os primórdios da festa, ainda na época do Brasil Colônia e Império, com os entrudos lusitanos que tomavam as ruas.

Márcia Short conta como acontecia o carnaval da elite, e Alberto Pitta fala do nascimento dos afoxés, no século XIX, com referências diretas à ancestralidade e ao candomblé, com os toques de agogôs e atabaques. O artista também traz a reestruturação do carnaval do povo, que tinha sido proibido pelas autoridades a pedido da elite, que não suportava o caráter popular da festa.

Os primórdios da festa são contados pelo cantor Gerônimo, que descreve como acontecia os entrudos lusitanos do Brasil Colônia e Império, festa de rua que acontecia na época da Quarema e que foi proibida, pois o alvoroço e agonia da celebração, que incluía guerra de água perfumada em às vezes, malcheirosa, desagradavam a elite. A festa, então, sofre influência do Carnaval francês, apoiado pelas autoridades e pela elite, uma proposta “refinada” para os privilegiados que ocorria em teatros e clubes. Gradativamente, nos anos 20 do século passado, cortejos dos clubes sociais começaram a invadir a Rua Chile. Desfilando fantasiados em bondes que passavam na rua, esses cortejos tinham um objetivo: exibir o luxo dos ocupantes.

Mas o Carnaval popular não ficou apagado nesse meio tempo. É a voz grave do artista plástico Alberto Pitta, criador do bloco Cortejo Afro e um dos maiores artistas visuais envolvidos no Carnaval de Salvador, que narra o trajeto dos afoxés do século XIX e o carnaval popular. No final de 1800, a contragosto das forças policiais, o Carnaval de Salvador, construído pelo povo negro já se destacava. Fortalecidas pelo som de atabaques e agogôs, agremiações carnavalescas populares, negras e indígenas começaram a ser fundadas.

Com a rua Chile ocupada pela elite, os afoxés e o povo cortejavam em fila indiana por locais como o Terreiro de Jesus e a Baixa dos Sapateiros. A ligação direta com os terreiros de candomblé e a evidência da ancestralidade levaram os afoxés a serem proibidos por uma portaria, em 1905, só voltando a serem permitidos quase uma década depois.

Já na virada para a década de 50, eventos importantes colaboraram para o fortalecimento do carnaval de rua de Salvador. Ainda na sala Origem, um protagonismo merecido é dado à Praça Castro Alves. O trecho entre o final da Avenida Sete de Setembro e o início da rua Chile, marca, em 1950, o início do que se tornou a maior festa de rua do mundo. Inspirados no fervor que a apresentação do grupo de frevo “Vassourinha” causou nos foliões, Adolfo Antônio do Nascimento (Dodô) e Osmar Álvares Macedo invadem a rua Chile a bordo da Fobica, um Ford 1929 equipado com oito caixas de som, tocando marchinhas no ‘pau elétrico’, instrumento que tinham criado na década de 40 e que se tornaria a guitarra baiana. No ano seguinte, a dupla convida Temístocles Neto e nasce o Trio Elétrico.

Tendo o carnaval carioca como inspiração, em Salvador, nos anos 50, começa o movimento de escolas de samba. O enredo dessa fase da folia é narrado por Mariene de Castro. O auge das escolas de samba soteropolitanas é nas décadas de 60 e 70, tendo em seus enredos temas como a Bahia, Caymmi, Jorge Amado e Mãe Menininha do Gantois. Despontam grandes nomes do samba baiano como Batatinha, Nelson Rufino, Roque Ferreira e Edil Pacheco. Os blocos “de índio” da década de 60, como os Apaches do Tororó e Caciques do Garcia, atraíam a juventude. Inspirados nos filmes de velho-oeste americanos, saíam pintados em cores específicas para identificação e se intitulavam silks, pele vermelha e comanches.

Em 49, nasce o maior afoxé do mundo, Filhos de Gandhy, inspirado nos ideais de paz do nacionalista indiano. Tendo Oxalá como patrono, o Ghandy já foi reconhecido pelo Guiness Book como o maior afoxé do mundo, e colaborou na reestruturação do carnaval popular que vai passar a ter, cada vez mais, manifestações de candomblé e da cultura afro-baiana. Nos anos seguinte, afoxés como Filhos do Congo e Filhas de Olorum se juntaram aos cortejos do carnaval, tendo o número de afoxés crescido desde então.

Na segunda sala, “Criatividade e Ritmos do Carnaval”, a riqueza visual da festa, as mudanças que aconteceram no trio elétrico e na folia nestes mais de 80 anos, a micareta e o Carnaval no interior do estado e as expansões da festa a nível internacional são contados por vozes como Ivete Sangalo, Regina Casé e Carla Visi. Além do conteúdo audiovisual, a sala tem um acervo de figurinos icônicos usados por cantores da música baiana como Daniela Mercury, Carla Perez e Luiz Caldas.

A salvação do povo brasileiro – Um dos painéis é dedicado inteiramente ao trio elétrico, protagonista do Carnaval de Salvador. Quem conta a história e evolução ninguém mais ninguém menos do que Moraes Moreira, primeiro cantor a subir num trio, o de Dodô e Osmar, em 1970. Antes disso, só música instrumental saía pelas caixas de som do trio. Os anos que se sucedem consolidam o casamento cantor+trio que se mantém até hoje. Os Novos Baianos, com Baby, Paulinho Boca e Pepeu Gomes e Luiz Caldas no trio Tapajós.

Os grandes artistas que criavam e projetavam os trios também têm seu espaço de destaque. Orlando Tapajós, que hoje, nomeia um dos circuitos da folia, cria a “‘Caetanave” em 1972, uma homenagem a Caetano Veloso, que voltava do exílio em Londres na época da ditadura militar. É neste momento que Caetano declara que “o trio elétrico é a salvação do povo brasileiro”. Nos anos 80, Pedrinho da Rocha também se destaca pelos designs de trios e dos abadás dos blocos, que ganharam mais força com bandas como Eva, Chiclete e, posteriormente, Asa de Águia.

Ainda na década de 70, uma força pungente da ancestralidade baiana surge na festa, os blocos Afro. Em 1975, desfila pela primeira vez, o mais belo dos belos, Ilê Aiyê. Desfilando o tema de Paulinho Camafeu, a partir daquele Carnaval, todos passariam a saber “que bloco é esse”.

A emergência dos blocos Afro está diretamente ligada aos movimentos diaspóricos Black Power, os Panteras Negras nos EUA e a independência de países africanos na década de 60 como Costa do Marfim, Benin, Somália e Nigéria. Os tambores do Olodum começam a ressoar nas ladeiras do Pelourinho em 79, criando um movimento único com as coreografias dos percussionistas. Em Itapuã nasce o Malê Debalê, com o nome inspirado nos negros mulçumanos que lutaram na Revolta dos Malês. Surgem também O Muzenza do Reggae, o Bankoma e, posteriormente, Didá, formada unicamente por mulheres.

Para além da festa na capital, o museu também conta a história da festa em cidades do interior como Maragogipe, Juazeiro e na Praia do Forte, onde ainda há a tradição dos “caretas”, inclusive, com oficinas de moldagem de máscaras carnavalescas. A Micareta, que nasceu em Salvador, no início dos anos 20 como uma alternativa ao Carnaval, que passou por um rápido declínio, hoje é forte em cidades do interior como Feira de Santana e Jacobina. “Os Cão de Jacobina”, desde os anos 40, contam a história da batalha entre o bem e o mal, com homens pintados de preto e chifres remetendo ao diabo numa luta com o anjo São Miguel.

No vasto mundo cultural, musical e de tradição que é o Carnaval da Bahia, a Casa do Carnaval, com um acervo denso, promove uma experiência única pela história e evolução da festa. Mais que um equipamento cultural, a Casa do Carnaval é um espaço de pertencimento dos baianos e foliões, que conta as diversas faces da sua história e de todos os elementos que a constituíram para ser, hoje, a maior festa de rua do mundo, arrastando milhões de pessoas anualmente.

União da Ilha 2024: samba da parceria de Cleiton

Compositor: Cleiton

Dos céus com encantos de doum
Misterios, sagrados, orixa menino
Dos ibejis, o irmão iluminado
Lições aprendidas veio contar
Pra findar a maldade, que nos faz chorar
Örun aiyé axé
Alegria, alegria, brincadeira noite e dia
Meu black, respeitar
Pretinhas o melhor que há
É essa infancia, que nos ensina
Em cada lar uma menina, amora
Nesse encontro, correm espalhando amor
Entre as vielas, o morro alegre sonha
É preciso cuidar, é esse o futuro
Com a proteção de obatalá

Traz aê, é cantiga de ciranda
Traz a magia que a ilha vem cantar
Gira-gira, bate bola, dentro e fora da escola
Tem docuça no olhar

Nesses versos encontra-se um caminho
Lutar ainda é necessidade
Livres, não estou sozinho na busca da felicidade
Pérolas negras, Jovelina, Lucinda e Conceição
Ciata, Carolina, apontam a direção
Zumbi dos palmares, seu destino não foi em vão
14.532 é lei contra o racismo e discriminação

Mãe Africa, a deusa terra que nos criou
Trancou o mundo em mil tons de cor
Nos deu a força de um baobá
Tambores que vibram por igualdade
Tenho orgulho de quem eu sou

União da Ilha 2024: samba da parceria de Jaú

Compositores: Jaú, Willy do Valle, Wanderlei Novidade, Bonfim Lopes, Valdir Sá, Luizinho das Camisas e Filipe Zizou

Voz preta
Inocência e Pureza
Resistência de origem verdadeira
Cultura, grito da cor
No terreiro de Orun, essência nagô
Oh Doum.. Luz de coragem contra a dor
Oh Doum… Sabedoria e amor
Tão linda doce amora
Raiz de negritude natural
Sonha, encanta, brinca e sorri
Beleza de herança ancestral

O encanto de Ciata Gera a força de um encontro
A união de Ibejis é sangue de quilombo
O ensino é o elo, E a voz da esperança
A ilha é consciência pelo olhar de uma criança

Cura… Neste mundo de grilhões
Vencer “mitos” e padrões pra igualdade encontrar
A ternura é a força, a doçura a verdade
Pretitude é semente onde pisa nascerá
“Poder” Black é sentimento de “Dandaras” e “zumbis”
Nas favelas de um país levantam pra sonhar
Saravá, no aye tem baobá
A pele tem Feitiço no “couro”
E Alma da matriz desse lugar

Na gira de Erê tem magia
Os heróis de uma raça a história vêm contar
A mensagem da União.. da Ilha
Faz o preconceito se calar

União da Ilha 2024: samba da parceria de Ginho

Compositores: Ginho, Serginho Versado, Silvana Aleixo, Lena Aires, Henrique Moreno, Newtinho Felipe, Maurício Pito, Marcelo Nunes, Fábio Jelleya e Matheus Nassar

Salve a ibejada!
Que só por travessura fez clarão.
No céu encantado do orun,
lá vem o menino brincalhão!
Se ele quer um doce, dou um, dou um…
Chegou doum!
Só o amor vence o preconceito!
Pra toda fe… Axé! Respeito!
E vira emoção no aiyê.
Um canto passeia no ar… Então ele sorri!
Amora, luz e querer…
Linda princesa a embalar
o mundo em sua abayomi.

Nosso sangue tem a mesma cor, vamos nos abraçar.
Os meus cachinhos vão te envolver.
Minha forca emana do tambor. É tempo de amar!
Foi deus quem fez eu e você!

Vamos espalhar as sementes,
empoderar nossa gente..
Negro é lindo, sim senhor!
Basta! Resistir é dever!
Soltar o “black” e prender
a maldade e a dor.
Alma de áfrica, coração de criança,
quanto mais preta a herança
fica mais doce viver.
Somos a união, “mil tons” de dandaras.
O grito que não cala, da ancestralidade:
Igualdade!
A minha ilha é criança a sonhar
Pra transformar esse país.
Da pele preta, eu sou.
Respeita a minha cor!
Eu só quero é ser feliz!

União da Ilha 2024: samba da parceria de Noca da Portela

Compositores: Noca da Portela, Almir da Ilha, Ciraninho, Queiroga, Milton Carvalho, Playmobil, Rafael Carvalho, Marcelo Martins, REP e Marcinho M2

Oxalá! Abre caminhos Doum vai passar
Sorrindo e florindo o Orum a cantar
Amora… o teu olhar tem o poder da inocência
A tua pele tem a cor da resistência
Pro mundo amadurecer
Preto Velho mandingueiro
Alumia o terreiro
Assenta a Ibejada no Aiyê

Hoje à noite é de Luar
Luar Luar
Vamos juntos cirandar… (Oyá Oyá)
Ubuntu na avenida
As crianças vêm brincar

Gira girou a roda gigante da vida
Sou a mãe África de Ogum e lemanjá
Um arco íris de “mil tons” cobriu favelas
ao ler Lucindas semeei um Baobá
Axé… ergue o punho e solta a voz
Essa luta é de todos nós
As correntes vão quebrar
Sagrada “União”
“Encanto” de Erê
Ensina o meu Brasil a caminhar

Olorum traz a força do amor
Alabê firma um ponto no tambor
Eu sou a Ilha, Quilombo de bamba!
Respeite a negritude do meu samba!

Tijuca 2024: samba da parceria de Léo de Souza

Compositores: Léo de Souza, Almir, Domin Moreno, Duda Ascensão, Milton Carvalho, Diego do Caju

AO SOM DA LIRA DE ORFEU VOU ALÉM MAR
EMBARCADO NA EMOÇÃO
MEU DESTINO É TE ENCONTRAR
ACHEI OFIUSSA, FADO DE CIÚME E TRAIÇÃO,
ONDE A RAINHA SERPENTE
ERGUEU OLISSPO IMPONENTE
EM HONRA AO HERÓI ODISSEU
EM NOME DE UM AMOR ARDENTE
QUE PARTIU SEU CORAÇÃO
LENDÁRIA RIQUEZA ESCONDIDA
POR SEUS CAVALOS DE FÃO
O OURO E A PRATA DE OFIR
QUE O REI SALOMÃO COBIÇAVA POSSUIR

NA IDADE DO BRONZE, DOS CELTAS AS CRENÇAS PAGÃS,
CULTOS, MAGIAS À DIVINDADE ADORAÇÃO,
AS CEPAS DE VINHO NOS VALES A CELEBRAÇÃO,
REFÚGIO DE POVOS SEM REINO SEM CLÃ,

VI BATALHAS SANGRENTAS, LIBERDADE FERIDA
O IMPÉRIOS E DOMINAÇÃO
O HERÓI DEVOLVE A GLÓRIA PERDIDA
PORTAS ABERTAS UMA NOVA INVASÃO
OS MOUROS TROUXERAM CULTURA
MOLDAVAM A SUA ESTRUTURA
MIL ANOS DE UM LEGADO SEM IGUAL
FORJARAM O SOBERANO PORTUGAL
NAVEGAR É PRECISO VELAS AO MAR
OUÇO A VOZ DO JUÍZO NA GANÂNCIA EM CONQUISTAR
SEDAS E ESPECIARIAS, RIQUEZAS CUSTE O QUE CUSTAR
A VERA CRUZ É A BELA PINDORAMA QUE VOU APORTAR
HOJE MEU SAMBA SE MISTURA AO FADO
NESSE CENÁRIO DE REAL BELEZA
MINHA ALMA E SUA ALMA
SÃO PORTUGUESAS COM CERTEZA!

A TIJUCA VEM EM ROMARIA
TODAS AS CRENÇAS SE UNEM EM ORAÇÃO
O MEU BOREL CANTA COM FÉ E DEVOÇÃO
QUE SEJA ABENÇOADO UM NOVO DIA