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Na boca do povo! Salgueiro realiza ensaio tecnicamente perfeito e mostra sua força para brigar pelo título

Por Rafael Soares, Guibsom Romão, Maria Clara, Matheus Morais e fotos de Allan Duffes

O Acadêmicos do Salgueiro foi a terceira e última escola a realizar seu ensaio técnico na noite deste domingo na Sapucaí. E o que se viu foi uma grande apresentação. As arquibancadas e frisas já pulsavam com o esquenta, entoando o icônico samba de 1993, “Peguei um Ita no Norte”, além do samba exaltação do Salgueiro, balançando as bandeirinhas distribuídas pela escola. Logo que o samba-enredo de 2024 começou a ser cantado, a sua força ficou nítida. Uma entrada imponente da agremiação embalada pela obra que é considerada por muitos como a melhor do ano. A harmonia da comunidade salgueirense foi excelente. Um nível de canto muito potente, com grande ápice nos refrões. A evolução se mostrou aguerrida e em ritmo perfeito. Atuações magníficas de Emerson Dias, no microfone principal, e da bateria dos mestres Gustavo e Guilherme, exibindo uma cadência no ponto certo para o desfile da agremiação. A comissão de frente, de Patrick Carvalho, apresentou um belo número, contando até com efeitos especiais, valorizando o sambista presente na avenida. E, como é costumeiro, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidcley e Marcella, deram mais uma aula de bailado, mesmo com a pista molhada pela chuva. Uma escola feliz com seu enredo e samba, e forte para se colocar na disputa pelo título do carnaval. * VEJA FOTOS DO ENSAIO

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O Salgueiro será a terceira agremiação a desfilar na Marquês de Sapucaí no domingo de carnaval. A escola apresentará na avenida o enredo “Hutukara”, de autoria do carnavalesco Edson Pereira, mostrando a cultura yanomami e defendendo os povos originários, além da preservação da Amazônia.

“O Salgueiro mostrou que é muito forte. Nosso time tem o Patrick Carvalho na comissão de frente, Marcella e Sidcley como primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, nossa harmonia que foi a única nota 40 no ano passado, uma evolução de respeito, o carro de som com o Emerson, que é um fera do carnaval. Nossa comunidade veio completa aqui. A gente está muito pronto. Temos o samba do ano e um enredo que é um manifesto em defesa dos povos originários”, disse o diretor de carnaval, Wilsinho Alves.

Comissão de frente

O grupo de bailarinos, entre homens e mulheres, comandados pelo coreógrafo Patrick Carvalho, fez uma apresentação muito interessante no ensaio técnico. Poderia muito bem servir a um desfile oficial de grupo de acesso, o que mostra uma grande valorização do público que acompanhou o treino. Os integrantes estavam vestidos com uma espécie de segunda pele, com pinturas de motivos indígenas. Eles também carregavam cadeiras, disfarçadas com folhagens, como se formassem uma mata ao se agrupar. Um dos bailarinos usava vestes pretas, capuz e uma máscara de caveira. Ele também portava uma arma de brinquedo que soltava fogos frios, representando um agente de queimadas. Os efeitos especiais mexeram bastante com o público. A parte dançada não era muito extensa, mas bem característica dos povos originários, com força e sincronia. Ao final do número, os integrantes se organizavam com as cadeiras de tal modo para revelar letras que formaram a frase “Não nos matem”.

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“O ensaio foi 100%. Tudo que a gente trouxe a gente conseguiu passar para a arquibancada. Esse enredo do Salgueiro é uma mensagem muito linda, quando saiu o enredo eu falei: ‘estou na escola certa, estou com o enredo certo’. Quando saiu o samba eu falei: ‘eu preciso ser campeão do carnaval com isso’. É isso, o samba me impulsiona, a comissão de frente ela foi montada só depois que saiu o samba, porque era muito importante entender o que o samba iria dizer para a gente trazer para a avenida. E eu estudei cada samba, tinha duas comissões de frente em outro samba, nesse samba era essa que a gente vai trazer. Podem esperar uma comissão de frente para tocar o público aqui na avenida. A nossa tecnologia é o vigor, é a verdade. É isso que a gente vai vir fazer no Salgueiro”, citou o coreógrafo.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Apesar da avenida molhada pela chuva forte que caiu logo antes do início do ensaio da escola, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Salgueiro, Sidcley e Marcella, apresentou mais um bailado de alto nível. Mostrando muita segurança e elegância, a dupla realizou uma dança tradicional com alguns poucos momentos coreografados de acordo com o samba. Sorrisos, trocas de olhares, interações e giros perfeitos marcaram o número, que fez uso de um bom espaço da pista. Destaque também para a roupa vermelha dos dois, principalmente para a linda saia de Marcella. Ótima apresentação de um dos melhores casais do carnaval.

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“Eu acho que trabalhar na dificuldade é um ponto de vantagem para gente, eu fiquei muito feliz com o resultado. A gente, eu e o Sidclei, somos uma dupla que a gente acha que nunca está bom e sempre tem que melhorar. De tudo que a gente se propôs a fazer hoje com a dificuldade da chuva e do vento, foi muito bom, muito legal. Mas a gente quer chegar no desfile ainda melhor. Hoje foi mesmo em cima do que a gente se propôs a fazer, legal testar na chuva e entender como é que é, que o movimento dá para gente fazer com chuva, dá sem chuva e acho que agora é aperfeiçoar ainda mais para no dia do desfile estar impecável” , disse a porta-bandeira.

“A gente sempre tem um plano B, um plano C, a gente sempre vem preparado para tudo, a gente ensaia no sol e na chuva. A gente sempre vem preparado, porque no desfile tem dia e tem hora, pode estar chovendo. A gente consegue mudar a coreografia até um dia antes do desfile e se bobear até ali na concentração”, completou o mestre-sala.

Samba-enredo

A obra musical salgueirense teve um excelente rendimento, confirmando toda a expectativa gerada em torno do que é considerado o melhor do carnaval para 2024. Isso se deve, em grande parte, a letra que é bastante forte, traduzindo muito bem o mote do enredo. Mas também da melodia, que com suas bonitas variações, impulsiona ainda mais o canto da comunidade. A atuação exemplar de Emerson Dias e da bateria da escola deram uma grande contribuição para o incrível desempenho do samba.

“O samba explodiu. O carro de som deu um problema no início, mas tínhamos confiança na força do samba. Poucas vezes, vimos o ensaio técnico da forma como foi hoje: o povo cantando muito, Sapucaí explodindo com ‘Ya temí xoa’. Sempre tem o que acrescentar, principalmente no quesito emoção. Sempre tem uma nota ou outra para a gente ajustar. Em um todo, está muito bom. O entrosamento entre carro de som e bateria é perfeito. A gente se fala muito, todos os dias. Tem ensaios que é só a gente, porque é importante o casamento entre canto e bateria. Hoje, tivemos o andamento espetacular do samba”, afirmou o cantor Emerson Dias.

Harmonia

Atuação de gala da comunidade do Salgueiro no ensaio técnico deste domingo. Todas as alas passaram cantando o samba, que estava na ponta da língua, em um volume bem alto. Os refrões, principalmente o de cabeça, se mostraram bem explosivos. A harmonia foi bem uniforme em toda a agremiação durante todo o treino, o que mostra um ótimo trabalho de conjunto. Grande destaque para o desempenho de Emerson Dias e seu carro de som na condução do samba. O intérprete oficial mostrou estar muito à vontade ao entoar a obra, afastando qualquer crítica de que não combinava com seu estilo vocal. Ele exibiu bastante garra, chamando a comunidade a todo momento, impulsionando ainda mais a harmonia.

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Evolução

Outra aula de como se defender um quesito com maestria. A evolução salgueirense foi perfeita do começo ao fim do ensaio. Nenhum tipo de lentidão ou aceleração indevida foi notada. Assim como nenhum espaçamento anormal foi percebido no cortejo. O ritmo foi constante. Os desfilantes mostraram muita potência e alegria para desfilar, defendendo seu enredo e, ao mesmo tempo, brincando seu carnaval com espontaneidade. A escola terminou seu treino dentro do tempo regulamentar com muita tranquilidade.

Outros destaques

Sob o comando dos mestres Gustavo e Guilherme, a bateria Furiosa do Salgueiro teve um grande desempenho no ensaio técnico. Sem perder seu peso característico, os integrantes deram um show de ritmo ao sustentar a obra musical. O andamento perfeito foi encontrado após alguns testes nos ensaios de rua, impulsionando ainda mais o canto e evolução dos componentes. Além disso, foram apresentadas bossas inventivas e de alto nível técnico, perfeitamente executadas e propícias para o samba-enredo da escola.

“Para mim perfeito, perfeito. Se a gente vier assim no dia do desfile eu estarei totalmente satisfeito, totalmente satisfeito. Conseguimos apresentar totalmente o que a gente quer fazer no dia do desfile. Hoje, infelizmente, a gente pegou esse temporal que danificou um pouquinho a afinação, a gente tomou conta ali, mas aí a gente não deixou rolar também para poder não danificar os couros, porque agora faltam vinte dias para o carnaval, então tem que deixar na manutenção tudo certo, tudo no esquema. A gente optou por não mexer nos surdos, desfilamos com eles assim, a afinação caiu, não é o que a gente pretende mostrar, mas de detalhes de ritmo, de bossa e de tudo para mim foi perfeito. Para mim foi perfeito, é só a gente manter para o dia oficial a gente chegar e quebrar tudo mais uma vez. A fantasia da bateria lembra do Bruno e Dom”, revelou mestre Gustavo.

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“A gente teve o problema da chuva. Muita chuva! Mesmo os couros com o plástico, protegidos, a afinação acaba caindo, a gente preferiu não mexer na afinação para não estragar o couro e agora chegar na quadra e tirar todos os couros para ver a situação. E normal, tirando isso tudo foi do jeito que a gente programou. Acho que é seguir, seguir com essa energia, a gente vai continuar trabalhando ritmo, trabalhando as bossas, deixar cada vez mais limpa. Uma bateria com duzentos e setenta ritmistas, a gente sabe que não é fácil. Hoje foi muito bom, mas o dia é o dia, é emoção, é tensão do desfile, sair tudo perfeito, então a gente precisa manter essa energia boa, manter os ensaios, não é porque hoje foi bom, que a gente vai parar e relaxar. Erro, erro, erro a gente não notou, a gente vai seguir trabalhando até o dia oficial”, garantiu mestre Guilherme.

Pixulé e comissão de frente são destaques em ensaio técnico do Tuiuti, mas escola passa com canto dos componentes e evolução irregulares

Por Rafael Soares, Guibsom Romão, Maria Clara, Matheus Morais e fotos de Allan Duffes

O Paraíso do Tuiuti foi a segunda escola de samba a se apresentar no domingo de ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí. A agremiação até teve um bom início, mas infelizmente sofreu com problemas em alguns quesitos ao longo do treino. A harmonia, que teve um desempenho satisfatório no primeiro módulo de jurados, caiu de nível nos dois seguintes. A evolução, que se mostrava correta, se complicou a partir da passagem da bateria pela segunda cabine, quando a escola acelerou o passo de forma desnecessária. A atuação do bom casal de mestre-sala e porta-bandeira, Raphael e Dandara, ficou muito prejudicada pela chuva e pelos ventos fortes. Os destaques ficaram para o desempenho de Pixulé, totalmente à vontade na condução do samba, e para a atuação da bateria de mestre Marcão, que deu um show de ritmo para sustentar a obra musical. Outro ponto positivo foi a apresentação da comissão de frente, que exibiu um número forte e bem ensaiado, além de uma bela caracterização. O Tuiuti precisará corrigir o ritmo de evolução e o nível de canto em seus últimos treinos de rua para mostrar uma melhor apresentação no dia de seu desfile oficial. A agremiação será a quinta escola a desfilar na segunda-feira de carnaval. A agremiação levará para a avenida o enredo “Glória ao almirante negro!”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, contando a história de João Cândido, líder da Revolta da Chibata. * VEJA AQUI FOTOS DO ENSAIO

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Comissão de Frente

Apresentação muito boa dos bailarinos comandados pela dupla de coreógrafos Claudia Mota e Edifranc Alves. O grupo era formado por mulheres, que usavam uma espécie de vestido branco e azul, e também adereços na cabeça com elementos marinhos, além de uma quantidade maior de homens, usando roupas de pescador em azul ou amarelo. A coreografia foi basicamente a mesma que é apresentada nos ensaios de rua da escola. Muita expressividade e força nos movimentos, especialmente dos rapazes, para retratar o período histórico abordado no enredo. Em determinados momentos do samba, algumas meninas foram colocadas em destaque ao serem erguidas por outros integrantes. Principalmente, no ponto em que Iemanjá é citada, quando uma mulher foi levantada e louvada pelos demais. Além disso, os integrantes cantaram com bastante energia o samba.

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“Eu acho que a gente foi um pouco prejudicado em relação ao som, teve um retorno muito ruim da Sapucaí, mas eu acho que isso vem acontecendo com outras escolas também. A gente com a força do canto, a gente superou, mas é uma coisa que tem que resolver, porque se não mantém o canto a gente desanda e aí prejudica. E quando a gente atravessa a rua tem um delay. Tive que parar a comissão um tempo de cantar para a gente poder ouvir se estava certo, mas estava certo e a gente seguiu. A gente está tendo todo o suporte da escola para que façamos um grande desfile. Estamos com uma estrutura esse ano fenomenal e é uma responsabilidade, porque temos que fazer valer tudo isso e Vamos fazer”, disse a coreógrafa Claudia Motta.

Mestre-sala e Porta-bandeira

A apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Paraíso do Tuiuti, Raphael e Dandara, foi muito prejudicada pelas condições climáticas. O chão estava molhado pela chuva e ventava muito. A dupla tentou compensar, mostrando sua elegância e energia ao bailar e interagir, em uma dança tradicional com alguns movimentos coreografados com base no samba-enredo, utilizando um bom espaço da pista. Porém, a bandeira de Dandara enrolou algumas vezes nas apresentações do primeiro e segundo módulos de jurados. Raphael também chegou a sofrer um pequeno desequilíbrio na primeira cabine.

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“Dentro de todas as adversidades que a gente vem encontrando, que a gente encontrou hoje, tinha muito vento, foi difícil, mas a gente conseguiu cumprir tudo que a gente veio ensaiando. É aquilo, é ensaio. Só que a gente ensaiou, dessa vez a gente ensaiou no campo de jogo. Sempre tem alguma coisa que pode melhorar. Agora é sentar, analisar como foi, analisar tudo que foi, para a gente poder melhorar, para poder dar o nosso melhor no dia do desfile”, afirmou o mestre-sala.

Samba-enredo

O rendimento da obra através do canto da comunidade foi satisfatória apenas no início da apresentação. Mesmo com uma atuação muito boa de Pixulé em conjunto ao seu carro de som e bateria de mestre Marcão, o desempenho do samba foi bastante irregular, caindo de nível enquanto a escola passava na avenida. O cantor estava muito seguro e confortável para brincar com a melodia do samba, utilizando a força e qualidade de sua inconfundível voz.

 

Harmonia

A comunidade do Tuiuti mostrou um nível de canto bastante aquém do que se esperava. Apesar de um bom início, a escola não conseguiu manter o desempenho. À medida que o cortejo avançava na pista, se afastando do carro de som, o volume de harmonia caía. As primeiras alas da agremiação chegaram a atravessar o canto em relação aos intérpretes, por dificuldade com o carro de som da Avenida. As alas do meio da escola, mais próximas da bateria, apresentaram um canto um pouco melhor, mas ainda assim abaixo da expectativa. Apenas o refrão principal da obra era cantado com alguma potência, enquanto o restante apresentava um volume baixo. Destaque para a atuação muito boa de Pixulé.

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“Foi uma passagem maravilhosa do samba. A escola está gritando o samba. A gente tem uma diferença aqui de um que é oba-oba e um verdadeiro samba-enredo, que é o do Paraíso do Tuiuti. A gente veio aqui e mostrou um samba-enredo, o qual o povo cantou e isso é maravilhoso. Aguardem o dia do desfile! Não tem o que melhorar, pois o samba vai sozinho por si só. Não tem como você ir para a galera, tentar levantar o público, com o samba do Tuiuti que o povo canta. O povo não pula, ele canta, abre os braços, bate no peito. Isso é gratificante demais. O entrosamento do carro de som com a bateria é perfeito. Entramos no samba e mestre Marcão e eu nos falamos no olho. É um casamento perfeito”, garantiu o cantor.

Evolução

Outro quesito que apresentou problemas na atuação da escola no ensaio técnico. O ritmo da agremiação era bom e correto até a passagem da bateria pelo segundo módulo de jurados. A partir desse momento, os desfilantes apertaram demais o passo, sem qualquer motivo aparente. Isso acabou gerando um pequeno buraco entre a penúltima ala e a velha guarda, que fechava o cortejo. Os diretores de harmonia foram sensatos ao não exigir velocidade dos senhores para cobrir o espaço. Na reta final do ensaio, a bateria precisou evoluir a passos mínimos, durante cerca de 10 minutos, para que a escola terminasse seu treino no tempo adequado. O diretor de carnaval do Tuiuti, André Gonçalves, admitiu o problema e prometeu trabalhar em cima dos erros para que a escola faça um desfile melhor no dia oficial.

“Eu venho esse tempo todo conversando, falando com vocês, que estávamos lapidando pra que pudéssemos chegar aqui e apresentar um belíssimo trabalho. Esse trabalho foi apresentado, a sensação foi incrível e continuaremos com mais dois ensaios pro nosso desfile. Tudo é nossa lapidação, tudo é um grande trabalho sendo feito pra que possamos alcançar o nosso objetivo lá na frente. Ainda tem toques finais, mas passamos super bem, eu consegui ver um público cantando junto com a gente. Isso aí é muito bom, a gente hoje ver o Paraíso do Tuiuti com as pessoas interagindo. Hoje viemos completos, com 2.900 pessoas no chão”.

Outros destaques

A bateria comandada por mestre Marcão costuma ser sempre um ponto positivo da escola. E não foi diferente no ensaio técnico. O grupo apresentou uma ótima cadência para embalar o samba-enredo, facilitando o trabalho de harmonia e evolução da escola. Pena que esses quesitos não acompanharam o nível da bateria. Bossas com certo grau de dificuldade e muito bem encaixadas na obra musical. Grande atuação dos ritmistas da “SuperSom”.

A rainha de bateria, Mayara Lima, também chamou muita atenção, mais uma vez. Ela usava uma roupa azul brilhante e um apetrecho com uma forte luz vermelha, como se fosse um coração. Muito festejada pelo público, a beldade exibiu muita simpatia ao interagir com eles, além de seu samba no pé, sempre muito afiado.

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“É aquilo que a gente vem trabalhando durante esses oito, nove meses, no mesmo andamento, na mesma dicção que a gente está acostumado. Não mudou nada do ano passado para esse ano, do ano passado mudou só o negócio das bossas, duas bossas e o samba, o restante não, é a mesma coisa. E essa rapaziada aí se colocar eles para falar: ‘corre!’, não, não vai correr. É aquilo mesmo, é essa parada aí. Como a gente chama: ‘ó, eu quero subida de Sorriso Maroto’, eles vão lá e colocam Sorriso Maroto. Agora vou sentar com os meus diretores para a gente poder ver o que foi bom, o que não foi, para a gente poder melhorar um pouquinho mais lá na frente. Estamos com um trabalho com cuíca, chocalho e tamborim. A gente está fazendo a parte da marcha que a gente fazia nas caixas, agora a gente está fazendo no tamborim, chocalho, cuíca. Essa dinâmica está legal”, comentou mestre Marcão.

Mocidade começa ensaio técnico na Sapucaí com toda força, mas perde impacto ao sofrer com vento e chuva

Por Allan Duffes, Guibsom Romão, Maria Clara e Matheus Morais

A Mocidade Independente pisou na Sapucaí para o seu segundo ensaio técnico, na noite do último domingo. Recheada de expectativas pela popularidade do samba e badalada com a “Cajufolia”, o que se viu foi uma escola bem mais contida que em ensaios anteriores. Para ajudar a descartar a noite de treino para o desfile, uma apresentação abaixo no canto e a combinação chuva mais vento forte atrapalhou a dança do primeiro casal. A Estrela-Guia da Zona Oeste vai apresentar, no Carnaval 2024, o enredo “Pede caju que dou… Pé de caju que dá”, do carnavalesco Marcus Ferreira.

Que o samba é o xodó da temporada, é um fato. Outro fato é que a obra furou a bolha dos sambistas. É certo também que não param de subir vídeos nas redes sociais de componentes da escola e do público delirando com o samba. Mas, nada disso foi suficiente para o ensaio técnico de domingo. A boa avaliação da apresentação por parte da escola, se deu na parte técnica de quesitos. Mais um fato é que a escola cantou, mas faltou o brilho que pode fazer falta na hora da nota 10.

“Fizemos um ótimo ensaio e tudo o que planejamos para hoje conseguimos executar. As manobras e toda a parte técnica de desfile foi feita, claro que sempre tem ajustes, mas foi colocado em prática tudo o que já é ensaiado na Guilherme da Silveira. Com o som bem melhor, a gente teve a escola toda cantando, junto com o público”, avaliou Sandro de Menezes, diretor de harmonia.

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Estava tudo favorável para a volta triunfante da Mocidade ao Sambódromo. Ela só estava lá, de novo, porque na sua data (7 de janeiro), enfrentou problemas com o carro de som e foi até a Liesa reivindicar novo ensaio. Conseguiu! E quis o destino que justamente a Mocidade testasse o carro de som novo, já que os ensaio de semana passada foram cancelados por conta de uma forte chuva. Deu tudo certo na questão som, pelo menos para ela. A volta do caju estava armada. Porém, grandes expectativas podem gerar falsas frustrações. Para completar, choveu e ventou forte.

Comissão de frente

Uma dança simpática, recheada de bailado brasileiro, com uma pegada de frevo, tropicália e bastante irreverência. A apresentação, foi a mesma do primeiro ensaio no Sambódromo, mas desta vez, faltou inspiração aos bailarinos liderados pelo coreógrafo Paulo Pinna. Decisões tomadas para a apresentação podem não ter sido das mais adequadas. A começar pela iluminação cênica da Avenida. Optou-se por luz direcional no meio da pista, predominantemente por três canhões de luzes frontais. Em alguns atos da dança, os bailarinos ficaram dispostos em formato pirâmide, onde estava apenas uma componente na frente. O que a luz causa? As três primeiras bailarinas ficavam apagadas. Era ora as três primeiras, ora as últimas. O jogo de luz também não acrescentou em nada à apresentação. Bem ao contrário. Choveu, a pista estava molhada e os bailarinos se apresentam descalços. Bem no estilo aldeia de pescadores.

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Mas, o roteiro estava armado: na segunda cabine, um componente escorregou e foi ao chão. Por sorte, foi só um. Faltou gás no canto. Tudo bem que é uma dança forte. O grupo até tentou revezar quem puxaria canto, mas a falta de afinação de uma componente, desconcertou os demais, causando risadas no último módulo de jurados. Em outras oportunidades, como no minidesfile, na Cidade do Samba, e no primeiro ensaio técnico, a mesma apresentação teve brilho, intensidade e muito bom humor. O figurino em tons tropicais conversava bem com o enredo e os adereços de cabeça das meninas com caju era um chame. No trecho “Tarsila pinta a sanha modernista/Tira a tradição da pista/Vai, Debret, chupa essa manga”, o congelamento da dança para formar uma tela de pintura, é uma excelente sacada, mas que passou despercebida na última noite. O talentoso Paulo Pinna pode surpreender o público no desfile oficial.

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“Acho que a chuva deu uma boa caída, atrapalhou um pouco, porque de fato a comissão é um quesito que evolui muito e depende muito da segurança do chão e aqui escorrega muito. Mesmo descalço, algumas pessoas tiraram o sapato, mas ainda assim é um pouco complicado e acaba que isso caí um pouco o rendimento, por segurança mesmo. Sei que no dia caso chova não tem essa opção, mas se a gente puder preservar um pouco a saúde deles, de não se machucar agora a 20 dias do carnaval. No dia não tem como, é a vera e se cair caiu. Mas acho que foi um ensaio bom, tão bom quanto o outro para a gente e é isso, agora dia 12 a gente se encontra. A escola está bem confiante, animada, certa do que ela quer fazer. Virou uma chave muito especial. A escola está incrível, muito diferente do que a gente estava ano passado. A comissão está super entrosada, feliz com a proposta e eu acho que vai ser um belo espetáculo. A Mocidade está para brigar com certeza. A comissão a gente quer trazer o que o enredo pede, resumir o que o enredo pede que é o papel dela mesmo, apresentar a escola e resumir o enredo de uma forma muito alegre, muito sensual, muita divertida que é a cara do Brasil. A gente quer mostrar a nossa verdadeira representatividade, durante anos foi confundida com outras frutas. A gente vai mostrar realmente o que é nosso”, comentou o coreógrafo.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Definitivamente não foi a noite do excelente casal da Mocidade, Diogo Jesus e Bruna Santos. De apresentações fantásticas, ainda bem que foi no ensaio a hora de tudo dar errado. A dança que tem ótimo preenchimento de espaço, um xaxado muito bem aplicado no final da segunda parte, ótimos solos do Diogo e giros magistrais da Bruna, foi ofuscada pelo vento forte. Bruna lutou, foi valente, mas uma rajada de vento enrolou a bandeira no refrão do meio na primeira cabine. No talento, ela contornou a situação, mas a bandeira fugiria do Diogo na segunda cabine, quando a porta-bandeira se apresentou sem o sapato. Na terceira cabine, sem sapato para a Bruna e sem muito vento, o casal fez uma ótima apresentação. A chuva já tinha parado.

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“Foi um ensaio com muita turbulência. Muito vento na Sapucaí, na hora que a gente entrou na primeira cabine o vento estava muito forte. A gente foi no olho a olho ali e fizemos o melhor que a gente pôde. Na segunda e na terceira cabine a gente já conseguiu dominar mais o vento. Foi um ensaio bom. Até porque isso pode acontecer no dia do desfile. A gente teve a sabedoria de ali naquele momento, ser olho a olho e fazer a dança do casal de mestre-sala e porta-bandeira mesmo. Vamos para o desfile agora em busca da nota máxima. No nosso primeiro ensaio técnico nós tivemos sim algumas coisas para melhorar, hoje a gente ainda não sabe porque a nossa coreógrafa como ela fica de fora ela consegue ter mais essa visualização do que a gente que está ali dançando, mas com certeza ela sempre tem alguma coisinha a melhorar. “Pode esperar uma fantasia bem bonita. Linda, muito linda. E na cara do enredo”, disse a porta-bandeira.

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“Tivemos um ensaio que a gente pode dizer que foi 100%. Porque a gente deu 100% da gente. Soubemos trabalhar com as dificuldades e fazer as manobras possíveis. O nosso personal trabalha muito isso com a gente: a exaustão, a dificuldade e a gente conseguiu fatores extras que a gente não consegue dominar tanto que é o vento, a chuva, mas o que a gente pôde a gente dominou e agora trabalhar mais ainda para o desfile. A gente tem uma equipe muito boa, uma equipe muito produtiva também que trabalha no dia a dia com a gente. Vamos trabalhar até o desfile e para chegar no desfile 100%, fazer uma coreografia limpa e bonita para o girar”, completou o mestre-sala.

Evolução

A Mocidade não deixou buracos e não correu. É uma escola de torcida apaixonada e de pessoas que gostam de estar por perto. Mas, o excesso de pessoas em torno das alas, que não são da harmonia, comprime os componentes. São camisas de diretoria, apoio, camisas de enredo que se concentram principalmente em torno da bateria. Pessoas que param em um lado da pista, o carro de som fica em outro lado no segundo recuo e os componentes entram em um funil caótico para chegarem aos setores 10 e 11, onde não é mais interessante aos figurões, tão inoportunos na Sapucaí. No desfile, eles se vestem de camisa de camarotes, mas o assunto aqui é ensaio e a Mocidade foi atrapalhada, principalmente no trecho citado.

“Estou muito feliz. Igualmente ao primeiro ensaio, o público respondeu bem ao samba. Foi muito bacana mesmo. O som melhorou demais. É um teste, mas provavelmente vai dar certo no futuro. Houve algumas oscilações no meio do desfile, mas é normal de um equipamento novo, que pode melhorar. Acho que até vocês conseguiram ouvir melhor o som. Estou muito feliz. Acho que é uma conquista do sambista. O privilégio de nós todos termos um samba tão popularizado como é o caju. Me sinto muito privilegiado de estar fazendo parte desse momento. A gente sempre está buscando o melhor. Tudo acontece conforme a vontade do universo, conforme a energia. A gente sabe também que o público do desfile não é o mesmo que está aqui hoje. Tem essa diferença. Mas é um público que a gente está buscando atingir também. Meu parceiro Bryan, que é o craque do marketing da Mocidade, está junto tentando furar essa bolha ainda mais para que no dia do desfile a gente possa ter tanto sucesso quanto hoje. O Dudu é inexplicável. Essa bateria é incrível demais. Os caras ensaiam pra caramba. Não erram. Andamento perfeito, do início ao fim. A gente trabalha com grandes caras. O Dudu é mais um desses grandes, apesar de muito novo. Filho de mestre Coé. Tem muita raiz de Mocidade e Vila Vintém. Ele sabe o quanto é importante manter as raízes dessa bateria”, contou o intérprete Zé Paulo.

Harmonia

O samba mais badalado do Carnaval 2024 tinha que ter um canto a altura, mas isso não aconteceu. Provavelmente criou-se a ideia de que a Mocidade apresentaria 70 minutos de uma micareta eloquente, de gente pulando e gritando o samba. Como poderia dar errado? Como não seria uma catarse? Não foi. Tão quase sem explicação, quanto o intervalo de mais de 1h entre uma escola e outra, em ensaios técnicos das noites de domingo. Mas, aconteceu a normalidade: explosão no refrão do samba e um canto mais uniforme ao longo da canção. O início do ensaio foi fantástico. O público foi todo com a escola. O que daria errado? Uma pancada de chuva fez com que todo mundo mais se preocupasse em colocar a capa, que com o ensaio da Estrela-Guia. As alas cantaram, mas ficou longe de uma apresentação arrebatadora.

“A escola canta durante todo o samba, mas no refrão acontece uma explosão ainda maior. Se for comparar com outros anos, a escola não canta apenas no refrão, cantamos tudo, mas algumas partes são mais explosivas, devida a proporção que o samba tomou. Estamos atentos a esse movimento, o que torna o trabalho ainda maior, que é passar para o componente a missão da escola cantar como um todo”, explicou o diretor de harmonia Sandro de Menezes.

Samba-enredo

Uma das grandes estrelas da noite o samba da Mocidade, composto por Cabeça do Ajax, Lico Monteiro, Gigi Da Estiva, Orlando Ambrósio, Richard Valença, Marcelo Adnet, Paulinho Mocidade, Diego Nicolau e Cláudio Russo passou pelo Sambódromo aquém das expectativas geradas em torno de um segundo ensaio técnico. O trecho mais cantando foi o refrão principal e a escola precisa se atentar a trechos que são cantados de forma errada por componentes, como o refrão do meio e o tempo da melodia dele. Zé Paulo, o intérprete, sempre de ótimas atuações, hoje não roubou a cena. Mas, na hora da tropicália, o forró imposto pela bateria é sempre um primor. O sacode prometido, vai ficar para o desfile. Com os efeitos das alegorias e das fantasias, eles podem ajudar o público a morder de vez o caju.

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Outros destaques

Que energia das baianas de Padre Miguel. Ventou, choveu e elas gritando o samba, com sorrido no rosto e muita energia. Uma simpatia a saia de cajus e dava para ver a alegria estampada no rosto de cada uma. Outro ponto a destacar é que adereços de mão são cada vez mais funcionais para dar volume ao ensaio e sempre deixam os componentes mais empolgados. Ótima pedida, principalmente, para sambas no estilo da Mocidade.

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A Verde e Branca de Padre Miguel, agora terá mais alguns ensaios em casa para ajustar qualquer problema que a diretoria tenha encontrado no ensaio até o desfile. Na abertura da segunda-feira de carnaval, a Mocidade contará com aproximadamente 3 mil componentes, distribuídos em 25 alas, 5 carros e 3 tripés. O diretor de harmonia contou ao CARNAVALESCO como está a preparação da escola:

“A escola vem trabalhando muito. Sabemos todos os obstáculos que temos para colocar o carnaval na avenida, mas a Mocidade está empenhada e tenho a certeza de que vamos apresentar um grande carnaval para brigar pelas primeiras posições”.

Ainda sobre o ensaio de domingo, as expetativas lá no alto colocaram o público a criar a sensação de que o ensaio não foi o que eles imaginavam. A falsa frustração de uma catarse não ocorrida, não representa que a Mocidade passou muda ou que será duramente penalizada, mas o quesito “emoção” já mostrou sua força muitas vezes.

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“O nosso primeiro ensaio, para mim, já tinha sido 100%, mas a escola decidiu pedir mais um e o bom é que teve mais um ensaio para gente. Eu acho que ensaiar no campo profissional ou oficial é diferente de ensaiar dentro de casa. E o carro de som hoje funcionou, fica fácil a leitura das bossas, de retomadas, diferente do que foi no último ensaio, que não tinha som, a gente ficou um pouco perdido. Feliz pelo momento. Acho que a bateria está no ápice da sua história. E eu fico muito feliz por estar no comando da bateria e ter esse legado aí muito pesado para gente, que é do mestre André, mestre Jorjão, e do meu pai mestre Coé. Se eu não falar dos mestres, eu não sou o mestre Dudu. Eu tenho que falar dos mestres. Eu tenho esse costume já mesmo. Ninguém subiu o salto alto. Eu acho que hoje é só um ensaio, não tem nada demais, mas é bom acertar, né? Ainda bem que hoje foi tudo 100%, mas amanhã eu vou puxar a orelha deles, que é normal, de praxe meu mesmo, e que venha o dia 12, se estamos preparados para esse momento. Eu trabalhei muito nas nossas caixas, que inclusive deu muito resultado, e estou muito focado trabalhando em cima de marcações, afinação, a batida na nossa terceira, a gente não tem bateria desenhada, mas tento manter todo mundo fazendo o mesmo desenho em alguns lugares sempre, eu penso assim: o mesmo instrumento, o único, chamado terceira, que foi criado na Mocidade pelo Tião Miquimba, não tem porque tocar diferente, obviamente que terceira faz sem o desenho, mas tem que ser Mocidade, não tem que ser igual a ninguém. Foi criado aqui, sempre foi tocado assim, estou tentando trabalhar um pouco mais as marcações e também a nossa terceira. Nossa bateria é uma bateria muito esperada. Se eu não botar surpresa, não é a bateria da Mocidade. Pode esperar que vai ter muita coisa boa. A gente imagina que seja caju o tempo todo, mas não é. A surpresa está aí. Aguarde que vocês vão ter um resultado belíssimo”, prometeu mestre Dudu.

Fotos: ensaio técnico do Salgueiro na Sapucaí

Fotos: ensaio técnico do Tuiuti na Sapucaí

Fotos: ensaio técnico da Mocidade na Sapucaí

Freddy Ferreira analisa a bateria do Salgueiro no ensaio técnico

Uma apresentação excelente da bateria “Furiosa” do Acadêmicos do Salgueiro, comandada pelos mestres Guilherme e Gustavo. Um ritmo salgueirense tradicional foi exibido, mas com bossas modernas e altamente casadas com o grande samba da escola branca e encarnada do bairro da Tijuca. O andamento cadenciado pela pista permitiu, além de maior equilíbrio, uma fluência plena entre os diversos naipes.

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Foto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio Carnaval

Na parte de trás do ritmo, uma bateria “Furiosa” com sua afinação característica, mais pesada, foi percebida. Os marcadores de primeira e segunda tocaram com a tradicional firmeza salgueirense, pulsando de forma precisa. Os surdos de terceira deram um balanço único à cozinha do Salgueiro, principalmente nas bossas, onde é possível dizer que se destacaram. Assim como caixas ressonantes e taróis eficientes complementaram a sonoridade dos médios, dando aquele aspecto particularmente furioso ao ritmo do Salgueiro.

Na cabeça da bateria do Salgueiro, uma ala de showcalho de nítida qualidade musical, tocou de forma conectada a um naipe de tamborins de elevada técnica, que exibiu um desenho rítmico plenamente integrado ao belo samba-enredo da Academia. Auxiliando no preenchimento musical das peças leves, um bom naipe de cuícas tocou de forma correta e eficaz.

O conjunto de bossas da bateria do Salgueiro é musicalmente profundo. Algumas complexas e de elevado grau de execução, mas todas exibidas de modo exímio por toda a pista. Os arranjos se basearam na pressão do peso das marcações para consolidar o ritmo, sem contar o luxuoso molho provocado pelos surdos de terceira salgueirenses, que deixaram a concepção musical das bossas moderna e praticamente refinada. Outro naipe que merece ser destacado nas paradinhas é o de caixas, sempre complementando com eficácia a sonoridade e garantindo consistência nas execuções.

Uma grande exibição da bateria do Salgueiro, sob a regência dos mestres Guilherme e Gustavo. Um ensaio para lavar a alma dos salgueirenses. Nem a chuva, que caiu de forma intensa por vezes, foi capaz de abalar o ânimo e a energia dos ritmistas da “Furiosa”, que usaram tal fato como motivação para deixarem seu melhor. Um ritmo plenamente integrado ao que pede a obra da Academia do Samba.

Freddy Ferreira analisa a bateria do Paraíso do Tuiuti no ensaio técnico

Uma apresentação muito boa da bateria do Paraíso do Tuiuti, sob o comando do consagrado mestre Marcão. Um ritmo enxuto, bem equilibrado e bastante equalizado foi exibido. O andamento confortável do ritmo da “Super Som” auxiliou na plena fluência entre os naipes.

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Foto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio Carnaval

Uma cozinha da bateria do Tuiuti muito bem afinada foi notada. Vale frisar que a maceta do surdo de primeira é maior em diâmetro que a das demais escolas, num recurso que teve origem na bateria do Vai Vai. Esse fato específico tem garantido um ressoar mais grave diferenciado dos marcadores de primeira do Tuiuti, que assim como os de segunda, foram firmes e precisos durante o ensaio da escola. Surdos de terceira deram um balanço considerável à parte de trás da bateria da escola de São Cristóvão. Um naipe de caixas de guerra com boa ressonância foi percebido, que junto de repiques coesos e bem integrados, preencheram com consistência a sonoridade da parte traseira do ritmo.

Na cabeça da bateria do Paraíso do Tuiuti, um naipe de chocalhos fabuloso executou seu desenho rítmico com altíssima qualidade técnica. Tudo isso entrelaçado com uma ala de tamborins de nítida virtude musical, que realizou uma convenção que tinha como base o melodioso samba-enredo da agremiação do bairro imperial. Uma boa ala de cuícas também auxiliou no preenchimento da sonoridade da frente do ritmo da “Super Som”.

Bossas altamente musicais e conectadas a melodia do samba foram exibidas. Algumas, inclusive, com elevado grau de dificuldade de execução, mas com exibições impecáveis pela pista. É possível dizer, inclusive, que o leque de bossas com uma sonoridade encantadora trouxe o público para cair dentro do ritmo da bateria do Tuiuti, provocando interações em alguns pontos da pista. A paradinha de maior impacto musical e interativo foi a do solo dos tamborins, com chocalhos, somente com surdo de primeira marcando. Apesar de arriscada por depender muito do som da Avenida, a concepção musical é moderna e atrevida.

Um ensaio técnico que mostrou uma bateria “Super Som” do Tuiuti praticamente pronta para o desfile oficial e sonhando em repetir a pontuação máxima. Um ritmo com limpeza entre os naipes, que garantiu consistência em toda a sonoridade. Mestre Marcão e seus diretores certamente saíram satisfeitos, após um grande treino realizado no campo de jogo.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Mocidade no ensaio técnico

Um ótimo ensaio técnico da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, confirmando a boa fase de mestre Dudu no comando da verde e branca da zona Oeste. Um ritmo conectado ao enredo, com convenções bastante musicais e arranjos com uma concepção invejável, que se mostraram sobretudo funcionais.

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Foto: Sad Coxa/Divulgação Rio Carnaval

Na parte de trás do ritmo, a tradicional afinação de timbres invertidos dos surdos foi percebida. Os marcadores foram precisos e firmes durante todo o ensaio. O balanço envolvente dos surdos de terceira foi notado. A genuína batida de caixas rufada, com acentuação na mão invertida se mostrou em bom nível durante o cortejo. Um naipe de repiques profundamente técnico também auxiliou no preenchimento da sonoridade da cozinha da bateria “Não Existe Mais Quente”.

Já na cabeça da bateria, um naipe de tamborins de elevada técnica tocou de modo interligado a uma ala de chocalhos simplesmente sublime, incluindo a peculiar subida cascavel após a chamada do repique. O desenho rítmico dos tamborins foi pautado pela melodia do samba da Estrela Guia e executado de modo caprichado e uníssono. Uma boa ala de cuícas também ajudou no complemento musical das peças leves, junto de um naipe correto de agogôs de duas campanas (bocas).

As bossas independentes se aproveitavam das nuances da melodia para consolidar seu ritmo. A levada nordestina no arranjo musical do refrão que antecede o principal se mostrou eficiente, produzindo uma sonoridade impecável, além de dançante. Outra paradinha que cativou o público e recebeu certa ovação, foi a do final do refrão do meio, em que os ritmistas se abaixavam e subiam de forma progressiva, conforme executavam a batida chapada junto da variação na melodia do samba da Mocidade. Além de culturalmente atrelado ao enredo, o leque de bossas da bateria NEMQ se provou funcional na prática, sendo bem apresentado e bastante apreciado pelos presentes.

A bateria da Mocidade fez um ótimo ensaio técnico, repleto de êxitos musicais e interações populares. Uma sonoridade culturalmente interligada ao tema da agremiação sobre o Caju foi apresentada, com um notável equilíbrio entre os naipes, além de uma fluidez rítmica, proporcionada pela boa distinção entre os diversos timbres. Mestre Dudu, seus diretores e ritmistas têm motivos de sobra para voltarem para Padre Miguel felizes com o desempenho da bateria e esperançosos para repetirem a nota máxima do carnaval passado.