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Freddy Ferreira analisa a bateria da Inocentes de Belford Roxo no ensaio técnico

Um bom ensaio da bateria “Cadência da Baixada” da Inocentes de Belford Roxo, no retorno de mestre Washington Paz a agremiação. Um ritmo com andamento confortável e bem equilibrado foi notado.

Mestre Washington, entrando no clima do enredo, dirigiu o ritmo vestido de vendedor de sorvete na praia. Sandálias, bermudão e um sombreiro, trajado como um autêntico camelô praiano carioca, distribuindo picolés pela Avenida.

A parte de trás do ritmo contou com uma boa afinação de surdos, assim como com marcadores de primeira e segunda eficientes. Os surdos de terceira ficaram responsáveis pelo balanço da cozinha da bateria da Inocentes. Uma ala de repiques correta auxiliou no preenchimento da sonoridade dos médios, assim como caixas ressonantes também contribuíram com a musicalidade.

Na cabeça da bateria “Cadência da Baixada”, um naipe de tamborins funcional executou um desenho rítmico simples, baseado na melodia do samba da escola de Belford Roxo. Uma ala de chocalhos com bom volume ajudou junto com cuícas seguras na parte da frente do ritmo.

As bossas da bateria da Inocentes eram todas baseadas nas variações melódicas do samba da escola, utilizando sobretudo tapas ritmados. Como se a sonoridade pedida pela obra da agremiação fosse musicalmente atendida por um ritmo que buscou nuances para se consolidar. Vale ter atenção na execução da bossa mais difícil, a do refrão do meio. Talvez simplificar, tirando o floreio na segunda passada facilite as coisas e deixe o arranjo mais fluído. É possível dizer que as execuções das bossas foram melhorando gradativamente, conforme o ensaio ocorria.

Um bom treino da bateria “Cadência da Baixada”, dirigida por mestre Washington Paz. As execuções de bossas foram melhorando conforme passava o ensaio e os ritmistas se sentiam mais seguros. O único fato a lamentar fica para uma quantidade acima do normal de blusas de apoio nas laterais da bateria, que prejudicava a circulação de quem buscava trabalhar, o que costuma ser incomum no grupo de Acesso. Vale o alerta, já que nas vezes que aglomerava gente atrapalhava inclusive a movimentação dos marcadores com os surdos. Uma bateria da Inocentes que mostrou que se encontra num bom caminho, cada vez mais pronta para seu desfile oficial.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Unidos da Ponte no ensaio técnico

Um ensaio técnico muito bom da bateria da Unidos da Ponte, sob o comando de mestre Branco Ribeiro. Destaque para o equilíbrio presente entre as peças, assim como a boa fluência entre os mais diversos naipes, permitida pela afinação de surdos extremamente diferenciada.

Uma bateria “Ritmo Meritiense” que se exibiu com uma afinação de surdos acima da média. Os marcadores de primeira e segunda foram precisos e firmes durante o cortejo. O balanço dos surdos de terceira esteve consistente, dando bom molho aos graves. Já nos naipes médios, repiques coesos tocaram de modo integrado à caixas de guerra sólidas e ressonantes.

Na cabeça da bateria da Ponte, um naipe de tamborins de alta qualidade técnica executou uma convenção rítmica que pontuava de maneira eficiente as nuances melódicas do belo samba-enredo da escola de São João de Meriti. Uma ala de chocalhos correta ajudou no complemento da sonoridade das peças leves, junto de cuícas sólidas e agogôs funcionais.

Bossas com uma musicalidade irrepreensível foram executadas de maneira funcional, por todos os naipes. Culturalmente é possível dizer que houve um bom gosto musical que garantiu uma sonoridade plenamente vinculada a baianidade, presente no enredo sobre o Dendê. A criação conceitual diferenciada ajudou a driblar a questão de apresentar um ritmo mais próximo da vertente africana, sem deixar de produzir um ritmo de nítido destaque. Menção honrosa para os surdos, que estiveram impecáveis nos arranjos.

A bateria “Ritmo Meritiense” da Unidos da Ponte fez um grande ensaio técnico, comandada por mestre Branco Ribeiro. Êxito musical absoluto do conceito criativo de bossas escolhido, dando ênfase mais a baianidade que a questão afro, posssibilitando uma sonoridade de amplo destaque. Um ritmo que se pautou pelo equilíbrio musical e a boa fluência entre as mais diversas peças.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Em Cima da Hora no ensaio técnico

Um bom ensaio técnico da bateria “Sintonia de Cavalcante” da Em Cima da Hora, sob o comando de mestre Léo Capoeira. Mesmo diante de bossas complexas, é possível dizer que a execução foi sendo aperfeiçoada pela pista, com ritmistas cada vez mais seguros durante o cortejo.

Uma bateria da Em Cima da Hora mais pesada e com uma boa afinação foi percebida. Os marcadores foram precisos, inclusive subindo o ritmo numa nuance rítmica com arranjo envolvendo os surdos, que foi repetido a cada passagem e deu pressão ao momento da largada. O bom balanço dos surdos de terceira foram responsáveis pelo swing do ritmo da “Sintonia de Cavalcante”. Repiques coesos se uniram a um naipe de caixa de guerras correto, garantindo uma consistência eficiente dos médios.

Nas peças leves, um bom naipe de tamborins executou um desenho rítmico simples, baseado na melodia do samba. Uma ala de agogôs correta e um naipe de cuícas sólido também auxiliaram no preenchimento musical da cabeça da bateria da Em Cima da Hora, além de chocalhos com técnica nitidamente acima da média.

Um conjunto de bossas com boa musicalidade e certa complexidade foi exibido, todo criado conceitualmente em cima das variações melódicas do samba da agremiação. Nuances entre os surdos eram feitas de maneira constante na primeira do samba, assim como uma virada mais trabalhada foi exibida de modo ininterrupto na segunda da obra. Algumas paradinhas apresentavam elevado grau de dificuldade, o que acabou garantindo uma execução pela pista que foi melhorando gradualmente.

Um ensaio técnico produtivo, que apresentou uma bateria “Sintonia de Cavalcante” de mestre Léo Capoeira com virtudes musicais. Certamente o treino ajudou muitos ritmistas a firmarem mais as bossas, em execuções de paradinhas que foram melhorando nitidamente pela pista de desfile. Uma bateria da Em Cima da Hora que se exibiu se aperfeiçoando, em busca da sonhada e almejada nota máxima.

Fotos: ensaio técnico da Em Cima da Hora na Sapucaí

Padim Ciço conduz fieis para o desfile da Unidos de Padre Miguel no Carnaval 2024

A Unidos de Padre Miguel apresenta o enredo “O Redentor do Sertão” no Carnaval de 2024. Em um ano especial, no qual Padre Cícero completaria 180 anos, o enredo da escola tem como foco exaltar um dos maiores símbolos de identificação e devoção do povo nordestino, apresentando uma narrativa a partir da visão do imaginário popular sobre a vida do religioso, com grande influência da literatura de cordel.

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Fotos: Diego Mendes/Divulgação UPM

Padre Cícero Romão Batista, conhecido como Padim Ciço, foi um líder religioso e figura importante na cidade de Juazeiro do Norte, no estado do Ceará, Brasil. Nascido em 1844, ele se tornou padre e ganhou grande popularidade devido a relatos de supostos milagres e curas atribuídas a ele, principalmente pelo acontecimento chamado “o milagre da hóstia”, onde, durante uma missa em 1889, acreditou-se que uma hóstia consagrada se transformou em sangue na boca de uma fiel chamada Maria de Araújo. Esse acontecimento contribuiu para sua reputação de homem santo. Ele também desempenhou um papel ativo na vida social e política da região, defendendo os interesses dos mais pobres. Padre Cícero faleceu em 1934, mas sua influência persiste até hoje, com muitos devotos considerando-o um santo e visitando seu túmulo em Juazeiro do Norte.

Toda essa fé invadiu o pavilhão da Unidos de Padre Miguel e, em entrevista concedida ao CARNAVALESCO, tivemos a oportunidade de saber um pouco mais sobre essa devoção tão grande. Jaqueline Santos, responsável pela ala das crianças da escola, abriu seu coração e compartilhou conosco sua linda história de fé e confiança com Padim Ciço:

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“A minha história com o Padim Ciço é bem antiga. Foi na época do diagnóstico. Eu tenho um filho que é autista, na realidade eu tenho dois, mas o meu mais velho tem 19 anos, e na época do diagnóstico dele, ele era uma criança muito complicada e não tinha diagnóstico fechado. Sempre fui devota de Nossa Senhora, mas vi uma reportagem, não vou saber te dizer exatamente, era sobre o Padre Cícero, né, a fé do nordestino e tudo mais, e assim, tudo que eu via dele era de um amor tão grande, era de uma compaixão tão grande com aquele povo todo, que é um povo muito sofrido e as pessoas tinham uma fé tão grande nele que isso me comoveu. E mesmo antes de ver tudo, de saber a história toda, eu já tinha me apaixonado por Padim Ciço, que para mim eu falo que ele é o meu padrinho. E aí na época que fecharam o diagnóstico do meu filho, ele era uma criança muito difícil, muito difícil, e aí eu pedi a Padim Ciço que tomasse conta dele, que me ajudasse nisso. Eu já pedia a Nossa Senhora também, mas pedi a ele que tomasse conta do meu filho, que eu entregava meu filho para ele, para que ele tomasse conta, que melhorasse a cabeça dele, apesar de eu saber o que é o autismo e tudo mais, hoje em dia eu sei muito mais do que naquela época, naquela época para mim ainda era, assim, um mistério, mas hoje em dia o meu filho faz tudo que eu nunca imaginei que ele fizesse, ele tem 19 anos, ele cursou o ensino médio, ele cursou o ensino fundamental, ele cursou o ensino médio normal, numa classe normal, hoje em dia ele já tem a vida dele, como é que eu vou te explicar, uma vida independente, coisas que eu não imaginava que ele fizesse, o meu filho era extremamente agressivo nessa fase de infância, até uns 9 anos de idade mais ou menos, e aí o meu amor só cresceu, e tudo, tudo que eu preciso na minha vida, eu entrego na mão de Padim Ciço, porque assim, para mim, é o meu padrinho, é tudo de bom, digamos assim, falar dele para mim é muito difícil, porque assim, eu me emociono, porque ele é assim, a minha luz”.

A fé e a devoção têm um papel importante na vida das pessoas, são conhecimentos e sentimentos passados de uma geração para outra como parte das tradições familiares. Esses valores espirituais desempenham um papel crucial na formação da identidade e na criação de laços significativos entre pais e filhos. O presidente da Unidos de Padre Miguel, Lenilson Leal, compartilha sua história de devoção ao Padre Cícero, uma conexão que teve início com seu pai nos anos 50, quando este migrou para o Rio de Janeiro, trazendo consigo uma grande devoção pelo padre:

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“Minha ligação com o santinho se deve ao fato do meu saudoso pai ter migrado para o Rio de Janeiro nos anos 50 e com ele a devoção ao santo. Em suas aflições meu pai recorria às orações ao santo e todos nós de casa, crianças, passamos a conhecer a história de Padre Cícero. Trago nas lembranças os momentos delicados, quando meu pai recorria à fé ao Padre Cícero Romão, que era um homem de personalidade forte e meu pai carregava esse perfil do nordestino arretado e ele falava que se inspirava em padre Cícero porque não abaixava a cabeça para ninguém. Por isso, o mesmo foi esquecido pela igreja católica, não deram o devido reconhecimento ao milagre da hóstia Maria. Confesso que carrego em mim essa personalidade”.

O Boi Vermelho da Vila Vintém está determinado a buscar o título de campeã da Série Ouro. Com a direção dos carnavalescos Edson Pereira, Lucas Milato, e do pesquisador Leandro Thomás, a escola pretende iluminar as histórias e relações que conectam o cotidiano do sertanejo às ações e influências atribuídas ao Padre Cícero Romão Batista. A proposta é criar uma apresentação rica em simbolismo e significado, enaltecendo a figura do Padre Cícero e sua importância na vida e na cultura do sertão brasileiro. O enredo, que busca trazer à tona a devoção e a fé, foi recebido como um sinal para os componentes do pavilhão.

“Quando veio, nós teríamos um outro enredo que acabou não sendo, e aí quando veio a ideia de um enredo de Padim Ciço, eu me emocionei de uma forma tão grande, que assim, para mim ali foi a confirmação de tudo, entendeu? De que daria certo, de que esse ano a gente pode confiar, que se for realmente da vontade de Deus, dos santos, esse campeonato é nosso, porque Padre Cícero é amor, é união, que é tudo que a gente tem na UPM. É uma escola que ama os seus componentes, que literalmente ensina a amar o samba, que nos encanta, não tem uma pessoa que chegue perto da gente, mesmo vindo de outra agremiação, que fale assim, cara, o amor pela UPM é diferente, e o Padim Ciço é isso, é esse amor diferente, é essa devoção, porque eu falo assim, tem pessoas, a grande maioria das pessoas da nossa comunidade, são devotas da UPM, porque amam a UPM incondicionalmente. São apaixonadas por tudo que a UPM representa para nossa comunidade, esse enredo veio abrilhantar a história. Veio confirmar tudo que a UPM sempre demonstrou, que é todo o amor, todo o carinho pelo seu componente, é estar ali para o seu componente, o que o componente precisa, é dar apoio, dar ajuda, dar um abraço, a gente está ali para isso, a UPM é isso na vida. Acho que esse enredo veio casar e veio exemplificar, entendeu? Veio dar o exemplo de tudo que a UPM é. A UPM é esse amor, essa devoção, essa coisa que transborda, como a fé das pessoas em Padim Cícero, como a história de Padim Cícero, como transborda amor na história dele, como transborda compaixão na história dele. Então assim, Padre Cícero é isso, e a UPM também é isso. Então assim, digamos que é uma casadinha, é uma dupla de sucesso, Padre Cícero e a UPM. É assim, maravilhoso, é uma confirmação, não só para mim, porque para mim veio como confirmação de tudo aquilo que eu acredito, de toda a minha devoção, de uma vida de 12 anos de devoção, o Padre Cícero que nunca me decepcionou, assim como a UPM nunca me decepcionou. E não decepciona os seus componentes. Mesmo quando a gente vai lá e bate na trave, o amor dos nossos componentes continua. Ninguém desiste, ninguém larga a mão de ninguém, é todo mundo junto o tempo todo, entendeu? Não faz diferença se não nos dão a nossa vitória. O importante é que a gente faz sempre o melhor. Que é mais ou menos como a história de Padim Cícero. Mesmo quando ele foi expulso da igreja, não importou para ele. Ele continuou fazendo o melhor dele, independente do que a igreja dizia. Era o que estava dentro do coração dele, era essa fé que movia ele. E é essa fé, a fé na vitória, que move a UPM”, revelou Jaqueline Santos.

O presidente Lenilson comentou sobre o que podemos esperar do desfile, destacando a tradição da escola em enredos afros e a decisão de explorar um tema diferente neste ano.

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“A UPM é reconhecida no mundo do samba como uma escola forte em enredos afros e o fato desse enredo fugir do tema, vamos poder mostrar que somos uma escola que estamos preparados para continuarmos mostrando grandes carnavais fora do tema afrodescendente, essa foi a base para a escolha do enredo. Estamos preparando um desfile do tamanho da UPM, um desfile que vai mais uma vez impactar o mundo do samba. Temos uma comunidade forte, gritando o samba na ponta da língua e com o desejo enorme de estarmos na elite do carnaval. Temos ciência de nossas responsabilidades e sabemos que o mundo do samba já está nos esperando há muito tempo no especial. Estamos confiantes que esse ano o ‘milagre vem'”.

Lenilson enfatiza a diversidade e a capacidade da escola em brilhar em diferentes temas, destacando a preparação para um desfile que impactará o mundo do samba. A forte identidade da comunidade, o entusiasmo pela escola e o desejo de alcançar a elite do carnaval são elementos que impulsionam a Unidos de Padre Miguel na busca pelo título. A referência ao “milagre vem” sugere a confiança e a esperança da escola em alcançar o sucesso no carnaval.

“O nosso desfile vai ser lindo. As fantasias estão maravilhosas. Os carros estão lindos. A escola está com gás. A gente sempre tem muito gás. A comunidade, vamos ser sinceros, UPM tem um chão que poucas escolas têm. A gente sempre faz um carnaval de nível de grupo especial. Isso não é segredo nem mistério para ninguém. Isso todo mundo sabe, que a gente faz um carnaval de excelência. E nós temos uma coisa que muito, que algumas escolas têm, mas não são todas. Nós temos o amor do nosso componente. Então esse carnaval vai ser grande, vai ser lindo. As fantasias estão lindas. O samba é maravilhoso. O samba cresce de uma tal forma. Vai ser muito lindo. Vai ser assim, um espetáculo. O que vocês podem esperar da UPM esse ano é novamente um espetáculo ainda melhor do que os espetáculos que nós vemos dando todos os anos”, revelou Jaqueline, responsável pela ala das crianças.

O pedido dos componentes da Unidos de Padre Miguel é que Padim Ciço abençoe a escola que almeja o acesso ao grupo especial. Através da fé e também do trabalho árduo de todo o pavilhão, eles esperam que suas orações se realizem.

“Hoje sou devota do padim Cícero após o nosso enredo e tudo que eu venho pedindo a ele graças a Deus tenho recebido. Peço para que tudo caminhe bem em nossos ensaios, nossos trabalhos e que aos poucos com sacrifício estão se concretizando. É só colocar fé que vai, estou muito orgulhosa com nossa diretoria e todos os envolvidos para esse grande espetáculo que é desfilar na Marquês de Sapucaí”, comentou Carminha que se tornou devota depois do enredo, responsável pelo Depto Feminino da escola.

A Unidos de Padre Miguel será a quinta escola a desfilar no sábado de carnaval, 10 de fevereiro, e a prece é por um desfile alegre e emocionante, buscando encantar o público e os jurados durante a apresentação na Marquês de Sapucaí.