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Componentes da Portela vibram com águia do desfile de 2024

Portela Esp04 002A águia da Portela é um símbolo marcante não só para a Portela, mas também para todo o Carnaval, sua importância reside na representação da força, da nobreza e da tradição da escola, além de simbolizar a identidade cultural e a história do samba. A presença da águia nos desfiles e eventos da Portela reforça a conexão da escola com suas raízes e com o povo brasileiro. Além disso, a águia é frequentemente associada à liberdade e ao poder, agregando um significado ainda mais profundo à sua representação na cultura da Portela.

Em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO, alguns componentes do pavilhão expressaram suas emoções ao se depararem pela primeira vez com a águia na concentração, o que acharam da alegoria e suas expectativas para esse carnaval.

Portela Esp04 007Viviane Costa Moura de 43 anos, desfila na Portela desde os seus 15 anos e contou a importância da águia e o ritual que elafaz todo ano antes de entrar na Avenida: “Eu achei que está maravilhosa, eu cheguei aqui e tive uma crise de choro, é linda, a Portela, ela toda África, faz todo o sentido. Isso aqui está lindo, traduz completamente o livro. E é lindo a gente resgatar tudo isso pelo carnaval, pela força que o carnaval tem, pela relevância que a Portela tem para a sociedade, para o Carnaval Carioca. Eu cheguei aqui, eu desfilo, sei lá, desde os 15 anos, eu cheguei aqui chorando e liguei para minha mãe que também é Portela da vida inteira. E a gente chorou junto. Esse ano eu estou na penúltima ala, estou na Paz e Amor. Eu venho na águia antes de me posicionar porque eu chego aqui na concentração todo ano e venho pedir bênção à águia e depois eu vou para pensar e começar o meu desfile, vai ser lindo.”

No desfile de 2024 a Águia veio em uma alegoria que era possível ver as costelas da cobra, como grandes marfins, que levavam em seu interior os soldados daomeanos em escultura de bronze (típica arte do Benin). Ladeando estão também os cavaleiros do reino iorubano. O Iroco surgiu em meio a este reino, como quem resiste e persiste. Suas raízes se transformaram nas cobras que representaram Dan (a cobra sagrada da família Jeje) e no alto de seus galhos o espírito da Águia. Este espírito veio protegendo as imagens de Ibêjis, que se apresentaram em meio aos galhos e o tronco da árvore. Vemos também os para-sóis, os mesmos usados pelos nobres do Benin, que massacraram e perseguiram os cultuadores dos voduns. Voduns que são representados por seus símbolos, principalmente de animais, que estão em toda a base da alegoria.

Portela Esp04 004“Eu achei que ela está muito bonita, ela está diferente, não só pela palha, mas a estampa, as raízes na ponta da asa dela. É algo que todo portelense espera, o momento de ver a Águia e saber como é que a Águia vai ficar. E, graças a Deus, os meninos arrasaram. É o grande momento da Portela, só de ver eu já estou emocionada, quando começar o barulho, então, a gente começa a chorar. As expectativas para esse carnaval estão grandes, a escola está muito bonita, todas as fantasias, todos os carros. Eu acho que é para lavar a alma do portelense depois do último desfile. Eu estou na escola desde 2009, quando eu comecei a desfilar mesmo pela aula das crianças, mas eu estou na escola mesmo com a minha mãe desde que eu nasci, desfilei com a minha mãe na barriga, no caso.” Alexandra Cruz Martins de 24 anos, componente da ala dos Voduns, dos irmãos de nascimento.

Mariana Tavares de 40 anos, presidente de ala e componente da Tabajara do Samba comentou sobre a inovação na Águia, o bom trabalho dos carnavalescos e como o Carnaval de 2024 é o respiro que a Portela precisa: “A Águia está diferente de tudo o que eu já vi na Portela nesses últimos anos. Os carnavalescos foram muito felizes na escolha desse enredo. Acho que a Portela estava precisando desse respiro depois do desfile conturbado de 2023. Eu estou muito feliz desfilo pelo pavilhão há 15 anos. Eu estou ansiosa, porque quando é escola do coração a gente fica mais ansioso, mas ao mesmo tempo que eu estou ansiosa, eu estou muito feliz, é uma sensação de dever cumprido. Além da bateria, eu sou presidente de ala também. Então a gente está bem animado e bem apreensivo, mas vai dar tudo certo.“

Sabrina Sato desfila na Vila Isabel com look icônico representando a corrente sanguínea

Sabrina Sato, rainha de bateria da Unidos de Vila Isabel, é a Corrente Sanguínea que alimenta o nosso corpo e faz o nosso coração pulsar! Em perfeita harmonia com a bateria da Vila Isabel, que vem simbolizando o coração, na segunda noite do Carnaval do Rio de Janeiro.

Desenvolvida por Henrique Filho, a fantasia de Sabrina Sato é uma verdadeira obra de arte com cristais que percorrem seu corpo. Ela simboliza o fluxo de sangue, tornando-o uma representação viva e pulsante do funcionamento do corpo humano.

A pulsante e cadenciada batida do coração não só nos confere vida, mas também dá significado às nossas emoções. Representando amor, alegria e todas as nuances da experiência humana, o coração concentra as nossas sensações.

Com samba-enredo intitulado “Gbalá – Viagem ao Templo da Criação”, a Vila Isabel chega ao desfile da Sapucaí com a missão de fazer todos acreditarem que um mundo melhor é possível. Reeditando um samba de Martinho da Vila de 1993, a Vila aposta numa mensagem positiva para fazer a galera da arquibancada vibrar com uma letra que fala de esperança.

Aposta em uma dupla de jovens artistas encanta componentes da Portela

Portela Esp03 004Trazendo André Rodrigues e Antônio Gonzaga como seus carnavalescos para 2024, a Portela apostou em renovação. Após contar com nomes como Alexandre Louzada, Paulo Barros e o casal Renato e Márcia Lage em seus últimos anos, a Majestade do Samba foi atrás de novos nomes para realizar o carnaval de 2024, onde trouxe o enredo “Um defeito de cor”, baseado no romance de Ana Maria Gonçalves, que conta a saga de Luíza Mahin. O trabalho dos dois carnavalescos foi elogiado na concentração pelos desfilantes, que gostaram do ar renovado da escola.

Portela Esp03 002Luciane Mourão desfila há cinco anos na escola, e gostou da temática do enredo e da forma que ele foi traduzido nos carros e fantasias: “É falar de ancestralidade, é falar do poder do povo preto, dentro de uma sociedade ainda tão racista. Então a Portela vem, homenageando esse povo preto, reconhecendo quem foram os nossos verdadeiros heróis, e trouxe um carro maravilhoso lotado de mulheres negras. Eu tenho que só agradecer a minha escola por essa oportunidade de participar dessa história, da história desse desfile, desse carnaval”. Ela gostou da reinvenção que a escola se permitiu com os novos carnavalescos e com o enredo: “A gente sai da mesmice, de repente nem é tão importante tantas cores, se a gente tem que retratar o que verdadeiramente é o enredo”.

Portela Esp03 003Henrique Vieira, de quarenta anos, que desfilou pela primeira vez na Águia de Madureira, adorou o trabalho dos carnavalescos, acreditando que é necessária a renovação dos artistas que fazem o carnaval: “Eu, como sempre, admirei a Portela. Para mim está tudo lindo, tudo mais que perfeito. E eu tenho certeza que vai fazer um belo desfile. As alegorias, a história, toda que está sendo contada, falando de Luiza Mahin, Luís Gama, tudo perfeito”.

Portela Esp03 001Leonardo Soares, de vinte e oito anos, desfilou quando criança por muitos anos na escola mirim Filhos da Águia, fez agora o primeiro desfile na escola na escola mãe, explicou o que ele enxergou com o trabalho dos carnavalescos: “O pavilhão tá sempre acima de tudo, dentro de uma escola de samba. E eu acho que o trabalho do André e do Toninho reconheceram o que a Portela é, de tradição. O que é passar desfilando pela Portela, fazer um carnaval de uma escola desse tamanho. A única centenária do carnaval, a maior campeã do carnaval. E conseguiram traduzir isso no enredo, na fantasia, nas alegorias”. Ele que veio no abre-alas, gostou muito da estética trazida por Antônio e André: “Eu achei muito bonito, esperava justamente essa riqueza de detalhes. E eu acredito que o trabalho dos dois carnavalescos, pelos últimos trabalhos que eles tiveram, conseguiram se complementar e trazer um trabalho que ainda assim colocasse a Portela e a estética da escola, aquilo que o portelense gosta de estar acostumado, que é trazer a questão da tradição, do afeto como primeiro plano. Então acho que super casou a proposta do enredo com a escola”.

“Está tudo dentro do conceito da escola, então para mim está tudo impecável, está lindo, maravilhoso, está perfeito. Eu sou um amante da cultura africana, da África, e tudo que traz esse tema para mim eu acho incrível, então mais uma vez eu digo, para mim está impecável, dentro do contexto, está maravilhoso. Foram meses de muito trabalho, mas está lindo, perfeito”, comentou Igor Walterson, de trinta e três, que voltou a desfilar este ano. Ele acredita que a renovação de talentos é boa para o carnaval, dando espaço para que outros carnavalescos possam mostrar suas artes: “Tem espaço para todos, então é sempre bom renovar, inovar, eu acho incrível e dando espaço para pessoas que podem mostrar o seu trabalho como esse que está vindo na Portela”.

Portela: fotos do desfile no Carnaval 2024

Com samba na boca do povo e brasilidade na veia, Mocidade realiza desfile vibrante, com destaque para canto da comunidade

Por Luan Costa e fotos de Nelson Malfacini

A Mocidade Independente de Padre Miguel foi a primeira a escola a pisar na avenida na segunda noite de desfiles do Grupo Especial. A verde e branca da Zona Oestou entrou na avenida embalada pelo samba que caiu nas graças do povo, desde as primeiras passadas, ele mostrou que seria o grande protagonista do desfile e foi conduzido de forma espetacular por Zé Paulo, que incendiou a avenida. A apresentação exuberante da bateria “Não existe mais quente” também contribuiu para o desempenho da obra. Apresentações vibrantes da comissão de frente e do casal de mestre-sala e porta-bandeira também foram fundamentais para o bom desfile da escola. Porém, alguns sinais de alerta podem comprometer o sonho da escola de ficar nas melhores posições na classificação final, o principal deles foi a evolução incostante durante todo o cortejo.

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Apresentando o enredo “Pede caju que dou… Pé de caju que dá!”, desenvolvido pelo carnavalesco Marcus Ferreira, a verde e branca da Zona Oeste levou para a avenida história da fruta do cajueiro, suas lendas e curiosidades junto ao povo brasileiro. A agremiação terminou sua apresentação com 70 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente coreografada por Paulo Pinna foi intitulada “Eu quero um lote, saboroso e carnudo!”, a proposta apresentada buscou dar ao caju caju, o protagonismo brasileiro, foi utilizado a figura de Carmen Miranda para questionar a escolha da banana como símbolo nacional.

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A coreografia utilizou um tripé – em que foi possível ver caixas cenográficas (como lotes de frutos, e daí o título do grupamento de entrada) em que, primeiramente, foi desfilado o ícone historicamente consagrado – a banana, ao longo da movimentação extremamente envolvente, o caju passou a triunfar na cena e se assumiu símbolo nacional. O início da apresentação foi no chão, a coreografia alegre e sensual deixou o público vidrado, o fundo foi preenchido por quatro blocos luminosos. A troca de componentes ocorreu em cima do elemento cênico, lá, a banana foi destronada e deu lugar ao caju. O ápice da apresentação foi quando a Carmen Miranda surgiu na arquibancada, o efeito mexeu com o público.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Mocidade, Diogo de Jesus e Bruna Santos, vestiram a fantasia “Yes, nós temos caju”, a fantasia simulou um caleidoscópio, sobretudo, no momento em Bruna girava, à medida que a dupla se apresentava, o público se envolveu e acompanhou atentamente. A dupla, que a cada ano mostra mais entrosamento, passou pela avenida esbanjando a habitual garra e vibração, extremamente expressiva, a porta-bandeira cantou o samba do início ao fim. A força dos giros de Bruna, assim como o riscado de Diogo foram precisos. O único senão ficou por pequeno detalhe na apresentação da dupla no setor seis, quando a bandeira enroscou no talabarte, rapidamente Bruna contornou a situação.

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Enredo

O enredo “Pede caju que dou… Pé de caju que dá!” foi desenvolvido pelo carnavalesco Marcus Ferreira, o artista levou para a avenida um resgate da sensualidade do brasileira através do enredo sobre o Caju, ele optou por dividir o enredo em cinco setores, sendo eles: “Carne de Caju”, nele foi apresentado o caju (como se ele dissesse “olha eu aqui!”), este brasileiríssimo, a partir de visões/movimentos artísticos do século XX presentes no imaginário coletivo como síntese nacional. O segundo, “Anarcadium Occidentale”, mostrou o caju como “menina dos olhos” antes mesmo de o Brasil ser Brasil e também depois das invasões estrangeiras, o terceiro, “Caju-Rei”, mostrou as árvores extraordinárias que expõem o quanto o caju é um “rei” do torrão verde e amarelo – chão forte, lendas, polêmicas e sabedoria oral.

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No quarto setor, “Mosaicaju”, mostrou como o caju está mergulhado na vida cotidiana brasileira, em aspectos do dia a dia. No fim, o caju e a Mocidade foram retratados como ícones de um gigante país que se olha no espelho e percebe o óbvio: é filho das riquezas do chão e vendedor de prazeres tropicais a céu aberto. Apesar de ser sugerido como um enredo popular, a compreensão do mesmo não foi imediata, a leitura não era clara para quem não estava com o roteiro de desfiles em mãos.

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Alegorias e Adereços

O conjunto alegórico da verde e branca contou com cinco alegorias e três tripés. No geral, a escola não apresentou graves problemas de acabamento, mas alternou teve altos e baixos, tendo como grande destaque a iluminação caprichada.

Na abertura foi apresentado o tripé “Caju Balangandã”, na sequência, o abre-alas “O pecado é devorar” passou pela avenida com muita luz e homenageou cantores do movimento tropicalista como Rita Lee, Gil e Caetano. A tripé, “Que não fique pra semente nem um tasco de mordida”, foi predominantemente verde e as esculturas de grandes cobras passaram com ótimo acabamento. o carro “Tupiniquim caju fruit company – um quiprocó! Virou guerra assumida.”, teve cajus estampados nas caravelas.

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O terceiro carro, “Bosque dos ‘polvos’ sagrados em terras onde tamanho é documento.”, foi uma dos que se destacaram no desfile, o público foi transportado para o fundo do mar e mais uma vez o trabalho de iluminação merece destaque. As últimas alegorias passaram pela avenida com mais simplicidade, mas sem perder o brilho.

Fantasias

O conjunto de fantasias da escola teve a volumetria e paleta de cores como grandes protagonistas, a maioria das alas passou pela avenida com esplendores grandes, mas que não atrapalharam a harmonia dos componentes. O verde e branco permeou todo o desfile, assim como cores mais quentes. Como destaque, vale citar a ala dois, “Breviário do Tropicalismo”, ala oito, “Aracayus – Paraíso Verde das aves” e 13, “Arco e Flecha de Mulungu”.

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Harmonia

A apresentação da Mocidade na noite desta noite foi avassaladora no quesito harmonia, embalada pelo samba-enredo que caiu no gosto popular, a comunidade pisou na avenida disposta a mostrar as qualidades de sua obra. Desde as primeiras alas, até às últimas, o canto foi exuberante, até mesmo alas com fantasias mais pesadas e volumosas cantaram com empolgação, como a ala sete, “Os Olhos de Tamandaré”.

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As alas passaram pela avenida de forma alegre, sensual e vibrante, a presença do intérprete Zé Paulo no carro de som foi parte fundamental para que o conjunto harmônico da escola se destacasse, a vontade, o cantor se entregou do início ao fim. A bateria “Não existe mais quente” também passou pela avenida com extrema segurança, inúmeras bossas foram apresentadas, a principal delas uma paradinha no refrão principal para que o canto da escola se sobressaísse.

Samba-Enredo

A obra de autoria dos compositores Paulinho Mocidade, Diego Nicolau, Cláudio Russo, Richard Valença, Marcelo Adnet, Orlando Ambrósio, Gigi da Estiva, Lico Monteiro e Cabeça do Ajax foi o grande protagonista do desfile apresentado pela verde e branca. O samba possui uma melodia bem moleca, sensual e brejeira, e contagiou a escola desde as primeiras passadas. Letra também possui fácil entendimento, além dos componentes, o público embarcou no delírio febril e fez com que a Sapucaí vivesse uma espécie de catarse. O refrão principal teve grande destaque, sendo cantado com extremo vigor por todos.

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Evolução

A evolução foi quesito mais frágil da Mocidade durante esta noite, o cortejo se mostrou inconstante durante todo o tempo, o principal motivo foi o abre-alas que teve dificuldades para acoplar no início do desfile e mais dificuldade ainda na saída, quando precisou ser serrado para conseguir ir para dispersão. Tudo isso fez com que o início do desfile fosse lento, com algumas alas muito tempo paradas em frente aos módulos de julgamento, com a saída da alegoria, a escola apressou o passou, no fim, a correria foi maior e por pouco a escola não estourou o tempo.

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Outros Destaques

A rainha de bateria Fabíola de Andrade passou pela avenida esbanjando simpatia, em sua estreia à frente da “Não existe mais quente”, a esposa de Rogério de Andrade, patrono da escola, representou em sua fantasia a Cunhã-poranga Jacira. Outro destaque da escola foi Jojo Todynho, cria da Zona Oeste, ela desfilou sob aplausos do público.

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Ritmistas da Portela representaram a liberdade

Portela Esp02 003A Portela contou a história da luta negra no Brasil e derramou afeto revelando conquistas do povo negro brasileiro, sobretudo, de cada mulher negra desse país ao encontro de raízes do imaginário da mãe Luíza Mahim e de seu filho Luíz Gama. A fantasia dos ritmistas da Tabajara do Samba foi a representação da riqueza maior, a liberdade, através do ouro de Oxum. O figurino em tons de ouro e preto era adornado com espelhos, referência ao Abebé carregado pela entidade. Uma espécie de corda dourada em laço na parte de trás da cabeça dialoga com a obra Oxum, da artista Nádia Taquary, presente na exposição “Um Defeito de Cor”.

“A fantasia, ela está muito luxuosa. Eu acho até que, falando pelos outros ritmistas, correspondeu mais do que a expectativa que a gente esperava. Veio muito bonita, está muito luxuosa e eu tenho certeza do impacto dela. É uma fantasia leve, que não atrapalhou uma pequena coreografia na hora das boças. A gente espera que a gente consiga os 40 pontos, ajude a escola a voltar no sábado, de preferência como a Campeã, porque é isso que a gente está esperando aqui”, comentou Adriana da Silva de 43 anos.

Portela Esp02 006Cristiano Gonzalez de apenas 12 anos, desfilou pela segunda vez com a Tabajara do Samba e não conteve sua emoção ao compartilhar um pouco sobre esse momento para o site CARNAVALESCO: “É a minha segunda vez desfilando na bateria, no Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela e eu estou muito ansioso, só tenho 12 anos e, ao mesmo tempo, também estou muito feliz pela minha escola, eu quero trazer o título para minha escola, para gente continuar no Grupo Especial, ficar em primeiro lugar, porque até então nós temos 22 vezes, nossa estrela está lá no céu. Então, isso que eu tenho para falar, estou muito ansioso e esse ano dá Portela. A fantasia está muito bonita, não está tão quente, está leve, está muito confortável e eu só queria agradecer mesmo estamos representando Oxum, todo o ouro de Oxum.”

A vestimenta luxuosa da bateria foi inspirada em uma história onde Agontimé, buscando mais forças para o culto vodun, reconheceu em Kehinde o vodun de Dúrójaiyé. Ele presenteou Kehinde com uma estátua de Oxum em madeira, para que a deusa da fertilidade pudesse encontrar terrenos férteis. Mais tarde, Kehinde pensou em rifar o presente, pois muitas pessoas estavam interessadas nele. Porém, ao tentar entregá-lo, uma cobra apareceu, fazendo Kehinde arremessar a estátua para se proteger. Foi então que ela percebeu que dentro da estátua havia ouro, o que representava uma possibilidade de liberdade. A cobra foi interpretada como um sinal de Dan, abençoando a união de duas mulheres que praticavam o culto vodun e perpetuariam esse ritual ancestral.

“A fantasia veio muito leve e muito confortável, eu acho que a Portela encontrou a fantasia ideal para todos os ritimistas. A expectativa é que a Portela faça um grande carnaval e venha Campeã, eu já desfilo aqui há 6 anos, é muita emoção”, contou Leonardo de 38 anos.

Baianas da Portela vieram com encontro feminino diante do mar

Portela Esp01 004As baianas da Portela vieram trajadas de Manto Azul, uma representação do abraço entre Iemanjá e Dúrójaiyé, avó de Kehindé, a mãe de Luiz Gama, que atuou como narrador do enredo da Azul e Branca de Madureira neste ano. Esse abraço feminino representa o encanto de quando a mãe de Gama viu o mar pela primeira vez em Uidá.

Com um figurino leve, a fantasia em tons de azul e branco, contou com escamas ao longo do manto, as saias com estampas africanas, junto de uma rede, colares, a cabeça com turbante branco e grandes brincos, onde acima veio um tecido azul caindo, com a coroa de Iemanjá, também representada com um espelho carregado pelas baianas.

Portela Esp01 001Jane Carla, responsável pela ala adorou a fantasia: “Achei bem original e bem leve. Gostei muito da roupa esse ano. Mas a diferença que eu mais gostei nela é o peso. Eu sou baiana desde criança, e baiana, por ser uma ala volumosa, uma ala de senhora, ela não tem que ter um peso de 50 quilos. Ela tem que ser maleável e graças a Deus essa baiana é bem maleável”.

Jaciara Souza, de quarenta e cinco anos, mais conhecida como Neném, gostou da leveza trazia na fantasia: “Está maravilhoso, vou brincar muito, leve, gostoso e tudo de bom nessa roupa hoje, está ótimo, muito bom. Está tudo ótimo, estou uma criança que eu já sou”. Para ela, que já é baiana há muitos anos, o destaque da fantasia é a saia: “Está muito leve, está bom de brincar, leve, está adorando, está muito lindo, gostei muito.

Portela Esp01 003Leila Regina, baiana desde 2015, adorou a leveza trazida para as senhoras, destacando isso na rede vinda na fantasia, além de um elogio para a saia: “Eu achei bonita, achei linda, tá muito bonita, não tá pesada, tá mais leve. Ano passado também tava leve, esse ano tá leve. Achei ela toda bonita, a saia tá linda. Tem uma rede aqui, é leve, é rede mesmo. Bem, bem, bem leve”.

Talita Oliveira, de quarenta e três anos, desfila há sete como baiana da Portela, e amou a fantasia: “Achei que tá muito lindo, além de leve algo bem tranquilo pra gente passar na avenida e muito linda as cores, todo o visual”. Ela gostou da temática religiosa e da representação de Iemanjá trazida pela fantasia: “Iemanjá é o todo. Essas escamas que vêm aqui do lado, aqui atrás. Atrás, se você ver o detalhe, tem os peixes, a cabeça nossa está muito bonita, é o colar muito ouro, tem um espelho que vem representando a iemanjá. Então tudo isso eu acho que remete a essa mãe, que é o que representa ala das baianas”.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Mocidade no desfile

Um desfile muito bom da bateria “Não Existe Mais Quente” (NEMQ) da Mocidade, comandada por mestre Dudu. Uma boa conjunção sonora foi apresentada, permitida graças ao equilíbrio entre os naipes e ao andamento confortável adotado. Um leque de paradinhas de muito encaixe musical forneceu inúmeras possibilidades sonoras, além de boas execuções.

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Uma bateria NEMQ com sua autêntica afinação invertida de surdos foi notada. Marcadores de primeira e de segunda tocaram com firmeza e precisão. O balanço genuíno dos surdos de terceira esteve envolvente por toda a pista. Uma ala de repiques de incrível nível técnico se exibiu em conjunto com um naipe de caixas de guerra com boa ressonância, além de sua tradicional batida com acentuação na mão invertida, gerando um molho peculiar que amparou os demais naipes da bateria da Estrela Guia.

Na parte da frente do ritmo da verde e branca da zona Oeste, uma ala de cuícas ajudou na sonoridade da cabeça da bateria da Mocidade. Um naipe simplesmente primoroso de chocalhos tocou de modo entrelaçado com uma ala de tamborins de nítida virtude musical. É possível dizer que o entrosamento extremamente acima da média entre tamborins e chocalhos foi um dos pontos altos das peças leves. Em meio ao ritmo, agogôs de duas campanas (bocas) foram corretos, adicionando um tom metálico a um ritmo que tem culturalmente predominância do timbre grave. Na primeira fila da bateria ainda vieram duas zabumbas e dois triângulos, ajudando no ritmo e nos arranjos musicais com levada nordestina.

Bossas completamente integradas ao divertido samba-enredo da Mocidade demostraram a boa versatilidade rítmica da bateria. Todas pautadas pela variações melódicas da obra independente, consolidando o ritmo através das nuances, garantindo assim uma musicalidade bem intuitiva. Paradinhas que utilizavam tapas em conjunto de diversos naipes exibiram a conexão musical plena. A interação popular foi garantida tanto ao largar o refrão principal para o público para fazer a bossa 7, quanto pela paradinha em que os ritmistas se abaixavam no final do refrão do meio, para a realização de uma subida com progressão dinâmica, elevando o volume conforme levantavam. Garantiu ovação popular, além de boa receptividade do júri.

A apresentação na primeira cabine (módulo duplo) foi excepcional. Foi possível lançar duas vezes o leque de bossas, além de garantir a fluência entre as peças. Na segunda cabine (módulo 3), mais uma grande apresentação foi realizada. No último julgador, mesmo com tempo próximo do limite, uma bossa foi exibida em mais uma apresentação segura, garantindo um grande desfile à bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel, dirigida por mestre Dudu.

Mocidade Independente: fotos do desfile no Carnaval 2024

Após três enredos mais sérios, Mocidade muda a narrativa e deixa o povo provar

Mocidade Esp04 001Os últimos três enredos da Mocidade Independente de Padre Miguel, foram com narrativas fortes e densas. A homenagem a maior torcedora da escola, Elza Soares, com o enredo “Elza Deusa Soares”, em 2020, o cortejo ao orixá Oxossi, em 2022, com “Batuque ao Caçador” e no ano passado com o enredo “Terra de Meu Céu, Estrelas de Meu Chão” em homenagem ao artesão Mestre Vitalino. Para 2024, a escola da Zona Oeste entra na avenida cantando sobre uma fruta, o caju.

Para além do samba-enredo chiclete, com uma letra cheia de duplos sentidos e que viralizou, o enredo por si só é de fácil compreensão e transmitiu muita alegria e leveza para a escola, destoando totalmente dos três últimos enredos que a escola apresentou.

Mocidade Esp04 002Em entrevista ao site CARNAVALESCO, componentes da Mocidade contaram o que acharam dessa mudança notável de narrativa por parte da escola e se aprovam ou não.

“É ótimo, eu gosto, porque é importante a gente trazer discussões políticas para o carnaval, mas também é importante ter a leveza do caju, por exemplo. Essa coisa da tropicália é bacana, a gente tem que compensar, um pouquinho lá de político, um pouquinho aqui de alegria e leveza. O ponto é sempre mesclar, esse ano a gente vem para a Sapucaí com muita alegria, muita vontade de cantar, dançar, foi ótimo. Deu o que falar e está dando o que falar”, contou a assistente social Gisele Mota, de 37, que desfila há mais de 20 na Mocidade.

Na sinopse do enredo, a escola defende que a escolha do tema tem sua gênese no comprometimento com a felicidade dos que vão consumi-lo, por conta disso, a Mocidade entra na Sapucaí cantando o caju e deixando o povo provar.

Para a chilena, Sandra Gordon, de 52 anos, que desfila na Mocidade desde 2005, é importante ser leve e falar sério no samba.

Mocidade Esp04 003“Trazer um enredo alegre é uma ideia maravilhosa, porque a Mocidade é isso, é frescura, é uma coisa mais solta. Sempre foi assim. Eu não desfilei há muitos anos atrás, mas os antigos enredos eram isso. A escola vem assim alegre, colorida, leve, cheirosa, como caju. Mas eu acho que os outros enredos anteriores não eram sério, era vida, biografia, era diferente, era outro peso. Essa história do caju é maravilhosa, assim como a da Elza e de Oxóssi foi. Só que era uma biografia e o outro era homenagem, não tem uma coisa pesada, é a vida”, disse a chilena.

A Patrícia Ditaí, de 51 anos, bióloga que chegou a plantar caju com a Mocidade, disse que o enredo do caju é um encontro da Mocidade com a sua essência mais pura e original.

“Essa mudança de narrativa é algo fantástico, isso aqui mexe com os brios do chão da escola. A Mocidade é isso, essa leveza, essa sacanagem. A gente resgata com esse enredo do caju, uma Mocidade que estava meio adormecida. Eu super acredito nesse desfile, eu acho que a gente vai arrasar. Os enredos da Elza e de Oxóssi, foram enredos incríveis, foram desfiles sensacionais. Mas acredito que temos que mesclar mesmo. A Mocidade tem essa coisa da tropicália, tem essa coisa de Fernando Pinto, que tinha toda essa bossa. Isso aqui é um resgate da escola, que é único. É um reencontro da Mocidade com ela mesma”, disse a bióloga.