Presença do Arlindo Cruz emociona o Anhembi, mas falta de acabamento nas alegorias prejudica X-9 Paulistana
Por Matheus Mattos. Fotos: Magaiver Fernandes
Penúltima escola a desfilar na noite, a X-9 Paulistana desfilou com uma presença do público
menor em comparação as escolas anteriores. A presença do homenageado Arlindo Cruz, ao lado de sua família no último setor, surpreendeu e emocionou todos os presentes no Sambódromo. Além do sentimento, o desempenho do samba-enredo e o bailar do casal se destacaram na noite. Falta de acabamento em praticamente todas as alegorias e tripé, evolução confusa e falta de animação nos componentes marcaram negativamente. A entidade encerrou o desfile com 63 minutos.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O casal oficial, Marcus e Lyssandra, fizeram uma homenagem ao continente africano. Berço
das raízes espirituais e culturais no qual Arlindo sempre se orgulhou de fazer parte. Os
guardiões também estavam inseridos nesse contexto. A dupla realizou uma boa apresentação em frente à segunda torre do quesito, com olhar fixado na jurada. O Mestre-sala trouxe um bailado leve, como se deslizasse na avenida. A simpatia é um certo sentimento presente no casal, sendo considerado um dos grandes destaques do carnaval da escola. Foi notado, em frente ao setor C uma queda na intensidade no olhar entre os dois.
Comissão de Frente
Os bailarinos da comissão de frente representaram um drama vivido pelo casal, Arlindo Cruz e Babi Cruz, onde os orixás tomam o corpo dos dois. O tripé “Templo de Oxum” fez referência à mãe do homenageado, Dona Araci, que durante a gravidez foi consagrada ao orixá. Todos os integrantes trouxeram em seu figurino figuras de sacerdotes de Orunmilá, Babalaôs, Orixás e Babalorixás. Os integrantes coadjuvantes da ala realizaram uma coreografia simples, com movimentos repetitivos e poucos criativos. Foi notado também falta de acabamento no tripé, principalmente no rosto da escultura.
Alegorias
Os carros alegóricos da X-9 Paulistana se mostraram simples, modestos, com falhas nos retoques e pouco acabamento nos detalhes. O abre-alas “Devoção e Fé – O Ylê de Ogum convida” trouxe o mesmo letreiro do ano passado, e com pinturas com defeitos no rosto e no braço da maior escultura. Falta de acabamento também nas mãos da escultura da parte de trás.
A segunda alegoria “Das Raízes Africanas para os Palcos do Samba – Sagrado encontro do Baobá com a Tamarineira” mostrou movimentação nas máscaras, porém com tons de tintas diferentes nas ondas. Muitas luzes foram notadas na terceira alegoria que homenageou as escolas de samba do coração, uma grande coroa pra simbolizar o Império Serrano e a presença de uma Águia, retratando a Portela. O mesmo elemento cenográfico estava com a direção torta, onde os componentes acertavam o sentido com frequência. O carro seguinte que fazia uma grande homenagem à favela teve ótima interação humana. A maior surpresa da noite foi a presença do Arlindo Cruz no carro que agradecia o artista, todos os seu familiares vieram ao seu lado.
Evolução
A escola não demonstrou domínio na organização das alas e do andar. Os primeiros setores não tinham um padrão na forma de evoluir, ocasionando o efeito sanfona. A ala 17, coreografada e nomeada como “Polícia e Ladrão”, teve sua coreografia baseada no abuso de poder das autoridades com os moradores da comunidade, se destacando no desfile também.
Harmonia
Os integrantes da harmonia transpareceram um clima de tensão e estresse, onde gritavam com os seus componentes de forma exaustiva para corrigir ou apenas para alerta-lo. Assim como na evolução, os dois primeiros setores também demonstraram desanimação. A
empolgação apareceu no setor seguinte, mas caindo de nível nos dois últimos. O trecho “Favela” era o ápice, onde trazia o integrante pra junto com o carro de som.
Samba-enredo
O intérprete Darlan Alves realizou cacos que pediam a empolgação do folião. A canção teve um desempenho satisfatório, onde os trechos de explosão atraem animação, mas sem perder a melodia que o enredo necessita.
Bateria
A bateria Pulsação Nota Mil, dos mestres Kito e Fábio, trouxeram uma fantasia simples e leve. Os ritmistas vieram fantasiados com uma bata carregando a imagem do artista e calça branca. As diversas bossas não foram usadas, apenas o apagão enquanto a batucada passava no monumental e que surtiu efeito positivo. Destaque para o desenho e execução do surdo de terceira dentro do samba, seguindo a melodia sem perder a ousadia do instrumento.
Fantasias
A escola trouxe fantasias coloridas, volumosas e com detalhes de bom acabamento. Foi notado alguns componentes sofrendo com os adereços de cabeça, constantemente ele ameaçava cair.
Enredo
O enredo fez uma grande homenagem ao músico Arlindo Cruz através de uma linhagem biográfica, começando em seu nascimento e enaltecendo as contribuições consideradas importantes dentro da música. A ancestralidade, fé, as escolas de samba do coração, a favela e o amor foram destacadas no desfile.
Outros destaques
A esposa do homenageado, Babi Cruz, desfilou no começo da escola ao lado do presidente e outros integrantes da direção, voltando para o final da escola quando cruzou a linha da
metade. A ala das baianas também surpreendeu, todas elas trouxeram cores diferentes e com muita simpatia.
Inocentes de Belford abusa da criatividade e faz desfile com destaque para o casal e bateria
Por Diogo Sampaio
Abusando da criatividade e de materiais reciclados, a Inocentes de Belford Roxo apresentou uma plástica diferenciada. Com isso, trouxe um dos seus melhores conjuntos alegóricos entre os seus últimos desfiles da Série A. Com o enredo “O Frasco do Bandoleiro – Baseado num causo com a boca na botija”, a Caçulinha da Baixada realizou a sua apresentação em 55 minutos.
Comissão de Frente
Coreografada por Patrick Carvalho, a comissão de frente da Inocentes de Belford Roxo veio relembrando os filmes que se passam no cangaço brasileiro. Os integrantes vieram fazendo referência em sua caracterização aos dois maiores cangaceiros da história: Lampião e Maria Bonita. A apresentação foi fortemente baseada na dança, como toques de teatralização. O figurino era leve, o que permitia um bailado mais solto e maior liberdade dos movimentos.

A comissão teve boa aceitação do público da Sapucaí, que reagiu bem a sua passagem. No entanto, cometeu erros técnicos. Durante a apresentação para primeira cabine de jurados, no momento da coreografia que um casal de bailarinos ficava ao centro, ela jogou uma parte de seu figurino fora, e objeto ficou na pista. Na segunda cabine de jurados algo similar novamente aconteceu, dessa vez foi logo na chegada da comissão ao módulo, em que um prato que compunha a fantasia de um dos integrantes que representa Lampião, soltou da roupa.
Mestre-sala e porta-bandeira
Remetendo a dois dos personagens mais clássicos do carnaval Pierrô e Colombina, a fantasia do casal de mestre-sala e porta-bandeira da Inocentes, Jaçanã e Peixinho, foi uma das mais belas entre os casais da noite. Nas cores da escola, ele de azul e ela de vermelho, a roupa era ousada por conta da saia da porta-bandeira com a barra mais alta e não se arrastando no chão. Outro ponto que merece destaque, os dois virem sem costeiro.

Mesclando passos da dança tradicional, com alguns momentos coreografados fazendo referência a letra ou melodia do samba, Jaçanã e Peixinho mostraram toda a experiência e cumplicidade oriunda de anos juntos. As respostas entre os dois foram imediatas e sincronizadas. E como destaque da apresentação, é possível citar o movimento de balançar a saia, sem a porta-bandeira rodar ou usar as mãos, ao som da bossa forroziada no verso “pra joia, Maria Bonita” do samba.
Harmonia
A harmonia da tricolor de Belford Roxo foi regular. Os componentes cantaram o samba, mas a difícil letra pode ter atrapalhado. A reação do público da arquibancada foi bem mais fria, em relação à escola anterior Unidos de Padre Miguel, é outro possível fator que pode ter impactado negativamente os componentes da Inocentes.
Evolução

A Inocentes teve uma boa evolução durante todo seu desfile. Em nenhum momento abriu buracos ou mesmos clarões, nem mesmo na entrada e saída da bateria do recuo. Os componentes desfilaram de maneira leve e empolgada nas alas, apesar de muitas delas terem mantido os seus integrantes de maneira rigorosamente enfileirada.
Samba-Enredo
Melódico, poético e com uma letra usando de variações regionais que remetem ao vocábulo nordestino, principalmente do sertão, o samba da Inocentes é uma das obras mais difíceis de ser cantada entre as escolas do grupo. Isso se refletiu na harmonia da agremiação e no desempenho do samba.

Nino do Milênio em seu retorno defendeu o microfone com segurança, e ao contrário de carnavais anteriores, sem exagerar em prolongações de sílabas finais ou firulas no canto. Tal atitude ajudou no melhor funcionamento do samba, mesmo sem ter havido um momento de explosão.
Enredo
Através dos frascos, a Inocentes trouxe um novo olhar sobre o cangaço brasileiro e as suas duas figuras mais lendárias: Lampião e Maria Bonita. Com uma proposta mais complexa, o enredo foi de difícil leitura. Isso impossibilitou uma maior interação entre a escola e o público das arquibancadas. No entanto, a execução cumpriu bem o que foi proposto pelo carnavalesco Marcus Ferreira.
Alegorias e adereços
Com soluções criativas, usando de muitos materiais reaproveitados e reciclados em todo o conjunto, as alegorias da Inocentes foram um dos grandes destaques do desfile. O segundo carro, todo feito em caixotes, foi um dos mais belos a passar pela Sapucaí.

Entretanto, apesar da beleza, o abre-alas passou com o primeiro carro acoplado totalmente apagado. A terceira alegoria destoou esteticamente do restante do conjunto, além de ter passado com falha de acabamento em dois queijos do lado direito do carro.
Fantasias
Assim como as alegorias, as fantasias também se destacaram pelas soluções. No entanto, a chuva pega na concentração atrapalhou o conjunto de algumas alas. Várias baianas passaram com o chapéu caindo ou danificado. A ala 06 “Padim Nosso Que Estás No Céu!”, teve problemas também com a cabeça, sendo uma delas abandonada por um dos componentes em frente ao módulo três de jurado. Adereços de mão de várias alas, feitos de plástico, passaram completamente murchos ou amassados.
Bateria
A bateria comandada pelo mestre Washington Paz, abusou de convenções e bossas durante toda a sua passagem pela Marquês de Sapucaí. Com um figurino leve, os ritmistas evoluíram bem durante o desfile. Um dos melhores momentos ocorreu com a sequência de paradinhas com o ritmo sendo sustentado pelos triângulos, que remetiam a levada do forró.
Outros Destaques
Com cores fortes e formas diferenciadas, o conjunto de fantasias do último setor da Inocentes foi um dos destaques do desfile. A rainha de bateria Thayná Oliveira também brilhou a frente dos ritmistas da cadência da baixada.
Tom Maior encerra primeira noite do Grupo Especial de São Paulo com novo show de Bruno Ribas
Tal qual aconteceu em 2018, coube à Tom Maior a responsabilidade de fechar a primeira noite de desfiles do Grupo Especial de são Paulo em 2019. A agremiação viu o seu intérprete oficial, Bruno Ribas, ser o maior destaque de um desfile que não conseguiu repetir o feito de encantar o Anhembi um ano atrás. A escola cantou pouco e os aspectos plásticos não funcionaram devido ao dia já estar claro, já que a escola sabia desde junho que encerraria a primeira noite. O desfile terminou após 62 minutos e a Tom Maior contou o enredo ‘Penso… logo existo – As interrogações do nosso imaginário em busca do inimaginável’.
Comissão de Frente
A comissão de frente da Tom Maior iniciou a exposição do enredo retratando a primeira questão essencial do homem: “De onde eu vim?”. Para ilustrar esta interrogação, os bailarinos compuseram a dança de abertura com personagens representativos da teoria evolucionista de Charles Darwin, em um diálogo lúdico com a teoria bíblica da criação. Doze bailarinos, divididos em seis personagens, incorporaram uma sintetização onírica de diferentes grandes grupos de seres vivos: aves, répteis e anfíbios, insetos, crustáceos e moluscos, aracnídeos e a flora. A caracterização dos personagens da comissão foi muito bem feita e possuía uma leitura bem fácil. Todos estavam com os rostos maquiados e as cores das fantasias estavam em um interessante contraste. O tripé onde vinha o ovo entretanto poderia estar mais bem acabado.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
A caracterização do casal de mestre-sala e porta-bandeira para representar o surgimento da luz foi feita por meio da contraposição de cores e materiais da fantasia. Uma profusão de penas negras ocupou as extremidades de ambos os figurinos, ao passo que ao centro teve a distribuição de um material plástico (Pet) cujo reflexo sobre o tecido branco acarretava o efeito de brilho e luz. Complementavam a fantasia algumas peças de espelho, presentes nos chapéus de ambos os bailarinos. O destaque especial ficou por conta da maquiagem branca, com lentes de contato, que criaram a impressão de seres fantásticos de luz. A indumentária entretanto não surtiu o efeito desejado, pois mesmo com o dia claro o tempo nublado reduziu a possibilidade de reflexo do sol.
Harmonia
Com o natural cansaço de quem esperou seis escolas até chegar a hora de seu desfile o componente da Tom Maior precisou ser desafiado a cantar. Isso entretanto aconteceu de maneira muito tímida. Apesar do esforço de Bruno Ribas, varias alas não cantavam toda a obra.
Enredo
O enredo da Tom Maior buscou explorar os principais questionamentos do homem, como “De onde viemos?”, “Quem é Deus?”, “Para onde vamos?”. Também mostrou como essa curiosidade e sede de conhecimento molda a relação do ser humano com o mundo, desde mandingas e misticismos, até as grandes invenções trazidas pela mente questionadora dos grandes cientistas. Embora com alguns figurinos bem feitos e de bom gosto não houve uma comunicação clara da proposta de comunicação do enredo.
Evolução
A evolução inicial da escola, da comissão de frente ao carro abre-alas se deu de maneira um pouco travada. Já passava de 30 minutos de desfile e a comissão ainda não havia chegado ao final do desfile. Isso acarretou em uma correria no final da apresentação da escola para evitar que a agremiação estourasse o tempo. Tanto que alguns harmonias de ala perceberam o acelerar da escola e se comunicaram com outros que estavam mais à frente e sugeriram que concluíssem o desfile mais devagar.
Samba-Enredo
Assim como ocorreu no ano passado o intérprete Bruno Ribas foi o grande destaque do desfile. Desfilando já com o dia claro e o Sambódromo vazio, o cantor deu o tom na condução do samba da Tom Maior. Sua capacidade em impulsionar sambas na avenida é algo notável.
Fantasias
Desfilando o tempo todo com o dia claro a Tom Maior optou por um conjunto em cores bastante claras, como branco e prata. Dando um contraste antes do primeiro carro a ala de baianas veio na cor do sol, possibilitando uma abertura no aspecto cromático bem interessante. Após o carro abre-alas a escola entrou em cores mais vibrantes. A ala imediatamente posterior trazia verde, rosa e ouro. O setor seguiu com figurinos em amarelo, laranja. Com o passar do desfile e o sol se intensificando vários materiais passaram a refletir os raios solares.
Alegorias
O abre-alas da escola era totalmente branco e com os Spots de luz mudava de cor. O efeito acabou reduzido pois a escola desfilou o tempo todo com o dia claro. As escamas da serpente do primeiro carro era toda com pratinhos descartáveis. A segunda alegoria era predominantemente ouro e branco. O dragão à frente do carro apresentava problemas de acabamento no pescoço. As samambaias sintéticas coladas na saia do terceiro carro se descolaram e prejudicaram o acabamento da alegoria.
Bateria
A bateria Tom 30 optou por realizar um desfile conservador sem muitas bossas, apenas buscando a sustentação do ritmo. Os ritmistas de mestre Carlão demonstraram entrosamento com o carro de som, comando por Bruno Ribas.
Outros Destaques
A ala de baianas se destacou em um setor predominantemente prata, com uma fantasia em tons de laranja e vermelho para representar o sol. A presidente Luciana esteve o tempo todo incentivando seus componentes e chegou pedir para um harmonia segurar um pouco a evolução da escola, que estava correndo muito no final.
Terceiro carro alegórico da Rocinha destaca personalidades negras do cinema brasileiro
Por Karina Figueiredo
“Tira o preconceito do caminho”. Com um samba-enredo que diz não ao racismo e a outras formas de discriminação, a Acadêmicos da Rocinha levou para avenida o planeta primata, a nobreza à flor da pele negra, as vivências urbanas e o estrelato negro, representado pela menção ao Teatro E
xperimental Negro – companhia brasileira que atuou de 1944 a 1961 – na terceira alegoria. O movimento foi idealizado por Abdias do Nascimento, representante da luta contra a marginalização das populações afrodescendentes.
O carro alegórico apresentou diversas fotos de personalidades brasileiras que compõem o cenário cultural e popular. O ator Milton Gonçalves, que já atuou em mais de 40 novelas, e ainda foi indicado ao Emmy Internacional, foi um dos homenageados. A atriz Cacau Protásio também foi lembrada na alegoria.
“O carro alegórico é uma representação cinematográfica em que o negro vence todo o preconceito e consegue chegar ao seu apogeu. Há inúmeras personalidades ilustradas no carro que são memórias do nosso cinema brasileiro”, afirmou Célio Santos, que acompanha a escola há pouco mais de um ano.
Além da representação de personalidades brasileiras por meio de fotografias, a alegoria também contou com individualidades europeias. “Nosso objetivo é protestar contra o preconceito. Nós lutamos por isso, e essa é a grande proposta da Rocinha. Por isso temos recebemos uma variedade de pessoas de outros países, também representadas no nosso carro”, disse Marcio Lopes, apoiador da escola.
Unidos de Padre Miguel renova o ‘Vale a pena ver de novo’ na Sapucaí
Por Nathália Marsal

Com audiência de último capítulo de novela, a Unidos de Padre Miguel entrou na Avenida, nesta sexta-feira, com muito entusiasmo dos componentes e emoção da arquibancada. O enredo “Qualquer semelhança não terá sido mera coincidência” trouxe para a Avenida elementos e personagens eternizados pela telinha em “O Bem Amado”, “Saramandaia”, “O Espigão” e “Roque Santeiro”.
A história da vida e da obra do autor de novelas Dias Gomes podia ser ouvida no samba-enredo e vista nos detalhes dos carros alegóricos e fantasias de cada componente – apesar das falhas no acabamento.
Integrante da velha guarda, Maria Otávia, de 71 anos, lembra que assistiu quase todas as novelas de Dias Gomes. “É bom relembrar essas novelas que eu gostava tanto e é bom para valorizarmos nossos escritores. Eles não devem ficar apagados. Dias Gomes fazia sucesso porque falava a linguagem do povo.”
Logo à frente, outra ala guardava animados foliões. Um deles, Márcio Bragança, de 63 anos, incorporou o personagem de José Wilker, em “Roque Santeiro”, até no momento de responder às perguntas.
“Dias Gomes foi um marco na história televisiva e acredito que, contando essa história a Unidos de Padre Miguel também faz um marco no carnaval”, defende o morador de Vila Vintém.
Michele Barros, de 36 anos, considera que o escritor deixou um legado para os autores.

“Ele mostrou como vivemos no país e os problemas que têm. Hoje em dia muitos escritores mostram o que estamos passando no mundo”, afirma.
Entre Marias Redondas e Odoricos Paraguaçus, estavam José Simbao, de 67 anos, e Vera Nobre, de 57, fãs da novela “Roque Santeiro”. Vestidos de Sinhozinho Malta e Viúva Porcina, o casal não escondia a felicidade:
“As personagens combinaram conosco porque gostávamos muito da novela. Era uma época boa. Assistimos na TV e, hoje, estamos aqui”, comemora.
Carro do Acadêmicos do Sossego reúne todas as crenças e protesta contra intolerância religiosa
Por Juliana Cardoso
Última a desfilar nesta sexta-feira de carnaval, Acadêmicos do Sossego levou para a avenida o seu manifesto contra a intolerância religiosa. Com o enredo “Não se meta com a minha fé. Eu acredito em quem quiser”, a agremiação de Niterói festejou a diversidade das religiões e a importância do respeito e acolhimento a todas as crenças, passando pelas raízes africanas até as matrizes judaicas e budistas.
O terceiro carro da escola, chamado “Mesquita Universal do Templo do Budalorixá”, reuniu várias religiões em uma mistura que resultava na integração de todas elas. A alegoria era predominantemente dourada, com detalhes em azul, vermelho e rosa. Um enorme Buda veio na dianteira do carro, segurando um destaque em suas mãos. Nas laterais, desenhos que representavam as paredes de um templo, com alguns componentes em cima de queijos. Atrás, duas esculturas com acessórios que remetiam a todas as crenças.
Para os integrantes da escola que se apresentaram no carro, o respeito a todo tipo de culto religioso deve ser praticado. “Nós temos que lutar contra a intolerância religiosa, afinal todos somos irmãos. O enredo é muito oportuno porque questiona isso. Vale a pena matar em nome de Deus? Isso é um absurdo, temos que prezar pela paz”, disse o católico Felipe Nicolau.
Para o cristão Eduardo Ferreira, “Deus é único, mas pode se apresentar de várias formas. Cabe a cada um apenas aceitar as diferenças sem lançar críticas”, opinou.
Além da ideia figurativa do carro, os integrantes da alegoria também compartilharam do sentimento de união das crenças, uma vez que acreditam em diferentes religiões e dividiram a mesma alegoria.
“Sou candomblecista! Infelizmente nosso prefeito não respeita o estado laico, e isso resulta em vários problemas. Mas o carnaval pode agonizar, mas não morrerá, porque somos resistência. Alguns não entendem que Deus é amor e apenas condenam os outros. Você não precisa aceitar nada, mas o respeito deve vir em primeiro lugar, afirmou Rogério Pree.
