Sem Crivella, Sossego entra na avenida com imagem de Eduardo Paes no último carro
Por Lucas Gomes
Às vésperas do carnaval, a polêmica sobre apresentar uma escultura semelhante ao prefeito Marcelo Crivella em referência a Exu, marcou os preparativos para o desfile do Acadêmicos do Sossego. A escola, no entanto, optou por não levar a atração para a avenida. A imagem de Eduardo Paes, antecessor do atual gestor do município do Rio de Janeiro e conhecido pela sempre presença nos desfiles da Sapucaí e pelo habitual apoio à LIESA durante sua administração, substituiu a suposta escultura no carro “Não Destrua Meu Terreiro”.
A decisão da escola dividiu as opiniões dos componentes da última alegoria, que além de levar a imagem de Paes, também cruzou a avenida com uma escultura de uma mãe de santo chorosa.
“Eu não concordo. A escultura era uma entidade de umbanda que abre o caminho às pessoas. O Exu dá o caminho. Ele é o caminho. Mas se fizeram alusão a algum político, não me cabe comentar. Mas se havia algum risco de processo, acho que a escola agiu corretamente em optar por não apresentar a escultura”, disse Luis Besuche, que desfile pela agremiação há 35 anos.
Já Augusto Monteiro, um dos fundadores da agremiação e também um dos responsáveis por trazer a escola para o Rio de Janeiro, em 1996, afirmou não ter concordado com a crítica ao prefeito. Por outro lado, entende que a censura também não é o melhor caminho.
“Eu não traria a imagem. Mas não pode medo, e sim por respeito. Então agradeço por não terem feito essa comparação com o prefeito Marcelo Crivella. Mas se a decisão foi tomada por medo de processo, então não acho que deveriam ter censurado a imagem, porque carnaval é crítica, é irreverência. Além de tudo, é um direito de quem dirige a escola”, opinou ele, que desfilou na frente do carro alegórico, no chão.
Entre os destaques dos desfilantes da alegoria, Glória Dilogunhede também comentou a polêmica e lembrou o desrespeito que o carnaval vem sofrendo pelo poder público.
“Na verdade, o carro não seria o Crivella, mas sim um diabo que viria um pouco parecido com ele. No entanto, houve este problema, e o carro não desfilou. Em função disso, a alegoria acabou sendo modificada. Ao mesmo tempo em que o enredo falou de intolerância religiosa, foi vítima da mesma prática”, refletiu Dilogunhede.
Carro Saramandaia encerra desfile da UPM em homenagem a Dias Gomes
Por Larissa Rocha

Já passavam das 3 horas da manhã quando o quarto e último carro da Unidos de Padre Miguel, quinta escola a desfilar na noite desta sexta-feira, entrava na Avenida para encerrar a homenagem a Dias Gomes, um dos maiores autores brasileiros, cujas obras estão até hoje nas nossas memórias.
Intitulado “Na apoteose do absurdo, viva santo Dias” o grandioso carro composto por galos, muitas cores e Dona Redonda já dizia a que veio, era a vez de falar de uma das obras mais lúdicas de Dias Gomes, Saramandaia, que brilhou na teledramaturgia em 1976 e ganhou um remake em 2013. Na trama, a cidade de Bole-bole encontra-se em meio a uma discussão sobre a mudança de nome para Saramandaia, proposta pelos mudancistas. Os tradicionalistas, por outro lado, querem manter o nome.
No carro, cidadãos bole-bolenses como Lobos e Donas Redondas se misturavam a artistas, familiares e amigos de Dias Gomes. Enquanto esperava para subir no carro, Luiz Felipe Borges, marido de Renata Dias Gomes, neta do escritor, se emocionou ao falar sobre o autor.
“Saramandaia foi uma das obras mais importantes dele, e não poderia faltar no desfile. A escola está linda, o João entende a obra do Dias e conseguiu unir isso tudo, está incrível!”, contou.

Lauro Piuma, ator e componente do carro, diz que a alegoria representou o realismo fantástico de Dias Gomes.
“O carro mostrou tudo o que a arte e o mundo lúdico dele representa para nós artistas, a cultura popular brasileira está presente aqui”, apontou.
André Souza, que desfila na UPM há 28 anos, considera a homenagem ao romancista muito justa.
“Ele foi um autor muito importante, por isso devemos homenageá-lo, esse carro acrescenta muito ao desfile, lembro bastante da novela e do sucesso que fez na época, ele merece tudo isso”, celebrou.
Acadêmicos do Sossego substitui Crivella por Eduardo Paes em desfile
Por Philipe Rabelo

Após o fim do desfile, nesta sexta-feira, o presidente da Acadêmicos do Sossego, Wallace Palhares, comemorava o fechamento do portão e esbravejava “estamos aí mais vivos do que nunca, quem achou que ia cair, olha só…”
Durante o pré-carnaval, a escola já tinha ganhado destaque nas redes sociais após a foto de uma escultura de um carro alegórico ter viralizado na web. Uma imagem que parecia fazer referência ao atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella, com pele avermelhada e chifres, em uma menção ao demônio.
O presidente disse que a ideia da escultura apareceu no grupo da diretoria e que a equipe buscava um “anjo da intolerância”.
“Nossa cidade é plural, uma cultura que é conhecida pelo mundo inteiro, precisávamos de uma representação que estivesse fora desse contexto. Colocamos uma figura que pudesse lembrar aquela pessoa que ia para a África evangelizar os africanos. Eu acho que não é por aí, igual fizeram com os nossos indígenas, vieram para cá, botaram uma cruz e tentaram obrigar, acho que não é por aí”, disparou Wallace.

Após o burburinho e o pedido feito pelo advogado Victor Travancas, coordenador de Captação de Recursos do Município, a escultura que parecia com Crivella acabou não entrando no desfile oficial, mas acabou se tornado personagem dos blocos de rua da cidade.
Com um lugar vago no último carro, o demônio deu lugar a uma figura mais serena. A escola trouxe um boneco que se parecia bastante com o ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes. O presidente ao ser questionado sobre as semelhanças foi taxativo “você acha que é o Eduardo Paes? Se fosse seria uma maravilha, ele foi um cara que apoiou muito o samba. Esse é paz e amor purinho”, brincou.
Carro da Santa Cruz faz crítica à prática de blackface em trama da TV Globo exibida na década de 1960
Por Juliana Cardoso
A atriz Ruth de Souza, homenageada pela Acadêmicos de Santa Cruz no primeiro dia de desfiles das escolas da Série A, fez história ao ser a primeira mulher negra a protagonizar uma novela da TV Globo: “A Cabana do Pai Tomás”, exibida entre 1969 e 1970. No entanto, a polêmica escolha de um ator branco para pintar o rosto de preto, a fim de dar vida ao personagem negro que era casado com a escrava Cloé, vivida por Ruth, foi alvo de críticas na época. Em tom de protesto, a agremiação retratou o folhetim em seu terceiro carro, que cruzou a avenida levando o mesmo nome da trama.
Na alegoria da verde de branca da zona oeste carioca, as cabanas da novela foram fielmente reproduzidas ao serem decoradas com palha por todo o carro. Na região superior do carro, havia uma rezadeira segurando folhas de arruda e abençoando toda a avenida. Na dianteira da alegoria, apresentada como a frente de uma carroça, havia uma representação da personagem de Ruth. Mais abaixo, sentados em objetos que lembravam queijos, componentes brancos faziam blackface em protesto ao personagem de Sérgio. Nas laterais, ainda havia desfilantes negros caracterizados de escravos.
Ainda em tom de manifestação, a Santa Cruz se propôs a remediar aquilo que foi considerado um erro histórico pela mídia brasileira na época: a escalação de Sérgio para protagonizar a trama. Seu personagem deixou de ser o destaque e cruzou a avenida na parte inferior do carro alegórico. As estrelas da alegoria, por sua vez, eram integrantes negros, que representavam a maior do elenco do folhetim.
Atrás do carro, a ala “Blackfaces” seguiu com a bandeira de protesto levantada no carro. Nas capas das fantasias dos componentes, eram vistas manchas pretas que remetiam à tinta utilizada na maquiagem feita nos atores brancos que davam vida a personagens negros. Diferentemente dos integrantes do carro, a ala trouxe desfilantes sem caracterização de blackface.
Grupo Especial do Rio de Janeiro começa neste domingo com escolas atrás de vencer tabus
Chegou o momento do maior espetáculo a céu aberto do planeta começar. Neste domingo sete agremiações passam pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí e abrem o Grupo Especial no Carnaval 2019. Os desfiles começam a partir das 21h15 com o Império Serrano. A noite, além de prometer duelo de agremiações que buscam o título do carnaval, promete a luta por várias quebras de tabu.
Depois do Império Serrano, a Viradouro pisa na Sapucaí cercada de expectativas e pode se tornar a primeira escola oriunda do acesso a voltar nas Campeãs depois de 19 anos. A Grande Rio vem na sequência e corre atrás da primeira conquista de sua história. Campeão pela última vez a dez anos, o Salgueiro será a quarta a desfilar, depois de um ano de bastidores muito complicados. A Beija-Flor, atual campeã e última a se sagrar bi (em 2008-09), jamais foi campeã desfilando na primeira noite. A Imperatriz será sexta a desfilar e ostenta o segundo maior jejum dentre aquelas que já venceram o Grupo Especial (não vence desde 2001). A noite será encerrada pela Unidos da Tijuca, justamente a última escola a conquistar o título do Grupo Especial desfilando no domingo de carnaval, a nove anos atrás.
IMPÉRIO SERRANO – O Império Serrano vai evitar o clima piegas e a apelação no enredo ‘O que é, o que é’ de autoria do experiente carnavalesco Paulo Menezes. Em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO no barracão da escola, o artista afirma que ele próprio se tornou um profissional versátil e que o próprio Império possui a subversão em seu DNA histórico. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
VIRADOURO – Não parece, mas a Unidos do Viradouro foi a campeã da Série A em 2018. O título foi o portal para o regresso da vermelha e branca de Niterói ao Grupo Especial. A campeã do Carnaval 1997 pode quebrar três tabus de uma só vez no desfile deste ano, cada um com um grau de dificuldade. O primeiro seria permanecer no grupo, algo que uma escola oriunda do acesso não conquista (sem a necessidade de artimanhas de bastidor) desde 2010, com a União da Ilha. O segundo é voltar ao Sábado das Campeãs, vinda do acesso. Isso não acontece desde 2000, com a Unidos da Tijuca. O terceiro e mais ousado seria conquistar o campeonato, o que jamais aconteceu na história com uma escola vinda da segunda divisão no ano anterior. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
GRANDE RIO – Depois da polêmica virada de mesa que garantiu a Grande Rio na elite do carnaval carioca, a escola optou por fazer um enredo em que abordará a crise na educação brasileira, com direito a um mea-culpa onde a tricolor de Caxias assumirá o erro em ter virado a mesa na Liesa. A dupla de carnavalescos, Renato Lage e Márcia Lage falou ao site CARNAVALESCO sobre a proposta e confirma que a virada já virá no carro abre-alas. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
SALGUEIRO – Em um ano onde os enredos com críticas sociais e políticas dominam o carnaval carioca, o Salgueiro também vai deixar um importante recado no encerramento de seu desfile sobre Xangô no próximo domingo de carnaval. Na história que contará o orixá, em seu último setor, o carnavalesco Alex de Souza usará da característica de Xangô, o orixá da justiça, para criticar o sistema judiciário brasileiro. Alex conversou com a reportagem do CARNAVALESCO sobre o projeto e as dificuldades em se realizar o carnaval deste ano, e confirmou que o último setor do desfile terá uma crítica ao sistema judiciário. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
BEIJA-FLOR – Falar sobre a própria história na avenida é uma tarefa melindrosa. Primeiro porque há o risco de se tornar repetitivo contando algo já visto e segundo por conseguir condensar em um só desfile a rica história de uma agremiação. Por isso, a Beija-Flor de Nilópolis, atual campeã do Grupo Especial, usará a literatura das fábulas de Esopo para retratar em seu desfile o enredo ‘Quem não viu vai ver… as fábulas do Beija-Flor’. Esopo foi um escravo e contador de histórias que viveu Grécia Antiga. As fábulas de Esopo tornaram-se um termo genérico para coleções de fábulas brandas, usualmente envolvendo animais personificados. As histórias remontam uma chance popular para educação moral de crianças hoje. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
IMPERATRIZ – Fora do desfile das campeãs desde o Carnaval 2016 e sem a conquista de um campeonato há 18 carnavais, a Imperatriz romperá com seu estilo estético clássico este ano para tentar voltar aos seus dias de glória. A agremiação apostou na volta de Mário Monteiro e Kaká Monteiro para desenvolver o enredo ‘Me dá um dinheiro aí’. Em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO, Mário admite uma estética diferente e que beberá na fonte do maior campeão do carnaval nos últimos anos, Paulo Barros. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
UNIDOS DA TIJUCA – Dois anos fora das campeãs, algo que não ocorria desde o ano de 2009, fizeram a Unidos da Tijuca realizar mudanças em sua equipe para não somente voltar ao Sábado das Campeãs mas disputar o campeonato, que não vem desde 2014. Para isso dois multi-vencedores foram integrados à comissão de carnaval. Laíla e Fran Sérgio, que empilharam conquistas na Beija-Flor. * SAIBA AQUI COMO SERÁ O DESFILE
Além de enredo da Santa Cruz, Ruth de Souza também será homenageada no cinema
Por Philipe Rabelo

A homenagem da Acadêmicos de Santa Cruz para Ruth de Souza foi além das expectativas. Apesar da chuva, a atriz de 97 anos, veio à frente da escola, no abre alas. Junto dela, segurando um guarda-chuva para proteger a mãe, Daniele Ornelas, também atriz e filha do coração da grande homenageada. Elas se encontraram há mais de 20 anos.
Daniele conversou com o site CARNAVALESCO e apontou sua mãe como uma inspiração para várias gerações de artistas e revelou que está sendo gravado um filme sobre a vida da atriz, intitulado “Diálogos com Ruth de Souza”. A equipe de filmagem acompanhou o desfile e segue acompanhado o dia a dia atriz.
O projeto é dirigido pela cineasta Juliana Vicente, selecionada pelo programa Rumos 2015-2016, do Itaú Cultura. O filme deve chegar às telonas ainda esse ano.

Após cruzar a Avenida, Ruth de Souza foi levada para um camarote. Durante esse trajeto, que durou aproximadamente 10 minutos, a atriz foi parada inúmeras vezes. Vários fãs demonstravam respeito e admiração. As pessoas faziam saudações, mandavam beijos, batiam palmas, faziam selfies e reverências para a eterna Sinhá Moça, papel pelo qual foi indicada ao prêmio de melhor atriz no festival de Veneza, em 1954.
De acordo com Daniele Ornelas, o carnavalesco Cahê Rodrigues já nutria o desejo de desenvolver esse enredo desde 2015.
“O Cahê sempre quis fazer, agora ele conseguiu e foi muito feliz. Se você ouvir o samba, vai ver que realmente narra a história da vida dela toda”, contou.

Cahê Rodrigues falou ao site CARNAVALESCO que apesar da chuva tem certeza da missão cumprida.
“A importância desse enredo é enorme e ela já merecia por tudo o que ela representa para a classe, uma mulher que sempre lutou pelo espaço do negro nas artes com dignidade. Apesar da chuva que atrapalhou a concentração, estou feliz por ter visto ela feliz e ter visto pessoas emocionadas pela homenagem. Todo o meu esforço e dedicação foi para ver a Dona Ruth feliz na Avenida e, eu vi! Pude olhar para ela e vê-la muito emocionada”, comemorou o carnavalesco.
