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Morre Carlinhos Maracanã, ex-presidente da Portela e fundador da Liesa

O ex-presidente da Portela, Carlos Teixeira Martins, o Carlinhos Maracanã, faleceu na madrugada desta sexta-feira, aos 93 anos. Sócio benemérito e membro nato do Conselho Deliberativo da agremiação, Carlinhos estava internado desde o início da semana no Hospital Casa, no Rio Comprido. A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos. O ex-dirigente sofria de mal de Alzheimer. O horário e local do enterro ainda serão informados pela família.

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Nascido em Portugal, Carlinhos Maracanã foi diretor do Madureira Esporte Clube antes ter contato com o samba. Convidado pelo lendário Natal da Portela, passou a frequentar a Portela na década de 1960. Em 1972, assumiu a presidência da Azul e Branco.

O início da sua gestão foi marcada pela construção da nova sede da escola, o Portelão, na Rua Arruda Câmara, que anos depois passaria a se chamar Rua Clara Nunes. Em 1984, Carlinhos integrou o grupo de fundadores da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa). Seu último carnaval à frente da Portela foi em 2004. Anos depois, virou patrono da coirmã Estácio de Sá.

Carlos Teixeira Martins deixa a mulher, dona Uyara, uma filha e dois netos.

O presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães, o vice-presidente Fábio Pavão e toda a diretoria da escola lamentam o falecimento de Carlinhos Maracanã e se solidarizam com seus familiares e amigos neste momento de luto.

Pérola Negra leva muita gente e mostra organização em seu segundo ensaio técnico no Anhembi

Por Gustavo Lima

O Pérola Negra realizou seu segundo e último ensaio técnico na noite desta quinta-feira no Sambódromo do Anhembi. O treino foi marcado pela ótima exibição da comissão de frente e a harmonia satisfatória da escola, também pelo fato de a agremiação estar numerosa, apesar de o ensaio ter sido no meio da semana. A “Joia Rara” do samba terminou seu treino com muita festa dos componentes, que estão celebrando a volta ao Grupo Especial depois de três anos na divisão inferior.

“Hoje deu uma boa melhorada, conseguimos ajustar o tempo, os movimentos, e pelo menos na minha opinião, eu acho que foi bem melhor do que o primeiro. O fato de a escola estar sendo cotada na parte de baixo só me fortalece, meu carnaval está muito bonito, e não é porque eu acabei de sair do Acesso, que obrigatoriamente eu vou voltar. Eu vou permanecer no Especial, se Deus quiser”, declarou a presidente Sheila Mônaco.

Samba-Enredo

O samba do Pérola Negra se destaca por sua letra. Pode não ser o samba do ano, mas é muito bem interpretado por Daniel Collete, que está indo para seu vigésimo carnaval em São Paulo, como também explica de uma forma acertada o enredo da escola, tem uma fácil leitura, além do fato de que a obra teve uma assimilação clara por parte dos componentes, que estão cantando forte seu hino para 2020.

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“Papai do céu ajudou dessa vez, quer dizer, ajudou das duas vezes e eu prefiro assim, das adversidades a gente tirar o melhor. E eu acho que da outra vez lavou tudo pra hoje vir esse mar de gente em uma quinta-feira, amanhã é dia de trabalho, o paulistano não libera de jeito nenhum seu cotidiano e liberou hoje pra ensaiar no Pérola. Mais uma vez, a escola se postou bem na avenida, entrou bem, saiu bem, alguma coisa ou outra a gente vai ter que arrumar, é óbvio que é um ensaio, e a gente vai conversar e se ajustar. Quem me conhece sabe muito bem que eu gosto de trabalhar com as adversidades, essa atual gestão do Pérola pegou a escola com uma dívida alta, fizemos um carnaval digno em 2018, mais que digno em 2019, até que subimos sendo candidata a cair, e eu prefiro que continue achando assim (sobre terminar na parte inferior da tabela)”, disse o intérprete oficial Daniel Collete.

Bateria

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A bateria de mestre Neninho optou por um andamento alto e abusou das bossas, que foram executadas em praticamente todas as passagens do samba. As caixas ditam o ritmo da bateria e é dominante em todos os arranjos, com destaques para as bossas do refrão do meio e dos três últimos versos do samba.

“Melhorou em relação ao primeiro ensaio, temos que vir em constante evolução. No primeiro ensaio, como a gente tem muitos arranjos, um ou outro não estava preparado pra pista, trabalhamos em cima deles, fizemos um ensaio só de bateria aqui no Anhembi, ajustamos e eu pedi pra ser um ensaio 100% hoje, e a meu ver e dos diretores, alcançamos esse 100%. Desde que eu me conheço como mestre de bateria, quando não era obrigatório fazer arranjo, eu sempre apresentei pro espetáculo. Eu aprendi que além dos jurados, temos que fazer espetáculo, não tivemos que nos adaptar a esse modo, mas em relação ao critério está tudo certo, a gente vai colocar ritmo pra escola pulsar e as bossas para os jurados ouvirem, com 8, 16 ou mais compassos. Abrir os desfiles no sábado é muita pressão, é um horário nobre, não desmerecendo a sexta, mas lutamos pra isso e queríamos isso. A pressão é muito grande, ainda mais que têm baterias muito boas que vem depois de nós. Vamos tentar deixar o chão bem quente pra eles passarem e fazerem o melhor deles também”, concluiu o mestre Neninho, diretor de bateria da agremiação.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

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O casal do Pérola Negra havia sofrido no primeiro ensaio com a forte chuva, o que impossibilitou a prática da evolução desejada, mas neste ensaio, a dupla passou com a pista em boas condições, evoluíram bem e tiveram uma apresentação segura. O casal foi fantasiado de dourado e predominou o bailado intercalado com a coreografia em sua apresentação.

Harmonia

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A escola passou muito bem nesse quesito, a comunidade teve um desempenho satisfatório em todos os setores. As alas eram orientadas o tempo todo pelos seus coordenadores e harmonias, onde fizeram os componentes cantarem o samba com clareza. Destaque para a ala dos ciganos, que cantaram muito forte, além de fazerem uma coreografia que dá um efeito especial na ala, até pelas vestimentas, roupas coloridas que se movimentavam muito.

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Evolução

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Apesar de o ensaio ter sido realizado no meio da semana, a escola levou muita gente para o Anhembi, aparentemente ainda mais do que no primeiro. O Pérola Negra apostou em muito em alas coreografadas. No geral, o desempenho no quesito foi seguro, não houve presença de buracos e nem espaçamento entre as alas.

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Comissão de Frente

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Foi o quesito destaque da noite. Os componentes estavam vestidos com roupa de exército, mostrando muito sincronismo e repertório em sua apresentação, dançando como ciganos e fazendo a coreografia de forma compacta. A ala usou um tripé, onde os componentes se alternavam para fazer a apresentação teatral sendo intercalada com a coreografia citada acima.

Vigário Geral faz ensaio de bateria com direito a ‘paradona’ e presença dos segmentos

Por Victor Amancio

Nesta quinta-feira, a agremiação recém chegada na Série A, o Vigário Geral realizou seu ensaio de bateria no Setor 11 da Marquês de Sapucaí. Fazendo uma paradona e bossas criativas, a bateria fez um bom ensaio mostrando estar preparada para o desfile oficial. Durante a paradona, a rainha, Egili, entra e samba no meio dos ritmistas que em coreografia abrem a bateria para sua passagem. Bossas e convenções bem realizadas animaram o ensaio da escola. Outro destaque vai para o intérprete Tem-Tem Jr que está confiante e entrosado com o samba.

“Esse ensaio aqui foi muito importante devido as dificuldades que enfrentamos. Posso dizer que não tenho 200 ritmista, tenho na verdade 200 amigos. Somos muito mais que uma bateria, somos uma família. Esse ensaio para mim é muito importante. Não estamos 100% ainda, estamos 90% e temos mais dois ensaios para fazer e acertar tudo para chegarmos no desfile prontos. O andamento vai ser 146 BPM (batidas por minuto), vou levar duas bossas, um break e um paradão”, explicou o mestre Luygui.

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Vídeos e fotos: Estácio na Cidade do Samba

 

De olho nos quesitos: o que os jurados puniram em harmonia nos últimos cinco anos

    Segundo o manual do julgador, distribuído pela Liesa aos jurados e divulgado em seu site oficial na internet, no quesito harmonia deve-se observar “a perfeita igualdade do canto do samba-enredo, pelos componentes da escola, em consonância com o puxador e a manutenção de sua tonalidade; o canto do samba-enredo, pela totalidade da escola e a harmonia do samba”. Mas o que de fato tem feito as escolas do Grupo Especial perderem pontos neste quesito tão importante para um bom desfile?

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    Em busca dessa resposta o site CARNAVALESCO apresenta um nova série de reportagens, totalmente baseada em um levantamento nas própria justificativas dos últimos cinco anos. ‘De olho nos quesitos’ procura apontar onde, na opinião da comissão julgadora, as escolas precisam estar atentas, os erros mais comuns apontados por aqueles que têm a responsabilidade de dar notas.

    No quesito harmonia, especificamente falando, há uma tendência de se julgar o carro de som e não apenas o canto da escola. Muitos dirigentes especialistas no quesito reclamam dessa forma de se julgar o quesito, mas o fato é que o desempenho dos intérpretes, seus apoios, a equipe de cordas e até a bateria estão sob os olhares dos julgadores do quesito, segundo as justificativas dos últimos cinco carnavais.

    As penalidades mais comuns apontadas em justificativas são o desencontro entre o canto da escola e o dos intérpretes, junto com a bateria; o excesso de cacos e palavras de empolgação emitidos pelos intérpretes oficiais e andamentos de bateria inadequados que prejudicam o entendimento daquilo que se é cantado.

    De fato, segundo as justificativas, os intérpretes se encontram na marca do pênalti. Usando formas de linguagem diferentes, em praticamente todos os anos pesquisados há punições em cima dos cacos dos intérpretes. Foi o que justificou o julgador Humberto Fajardo em 2015, para punir o desfile da Unidos da Tijuca com uma nota 9,8: “A execução excessiva de ornamentos (cacos) por parte do intérprete principal, prejudicou a execução do samba”.

    O desempenho da bateria é muito importante para a sustentação da parte musical de um desfile. E o quesito harmonia tem tido muita atenção em um dos temas mais debatidos por mestres e sambistas: o andamento adotado por algumas baterias. Em 2016 a Grande Rio perdeu pontos preciosos, segundo os julgadores, por andamento acelerado demais. O mesmo Humberto Fajardo alertou ao aplicar um 9,9: “o andamento acelerado prejudicou a execução do canto”. Fajardo repetiu a punição, desta vez para a Imperatriz Leopoldinense em 2017, também 9,9: “a execução do canto pela escola foi prejudicado pelo andamento acelerado”.

    O carro de som é um dos aspectos mais complexos do desfile. Primeiro por não depender apenas da escola o seu bom desempenho, uma vez que a empresa contratada para realizar o som da avenida é alvo de severas críticas. A equalização mal feita pode colocar todo um trabalho no lixo. Já foram justificadas algumas vezes que as vozes principais ou estavam muito mais altas ou muito mais baixas que as auxiliares e também o inverso. As cordas são outro crasso problema. Elas foram alvo de justificativas sete vezes desde 2015. Isso representa que a cada 40 justificativas em harmonia uma é em cima de problemas de cordas. Como justificou neste ano Deborah Levy, ao aplicar um 9,9 à Vila Isabel: “houve alguns momentos de embolação na base, devido ao excesso de desenhos dos cavacos, violões e tamborins, causando ‘polirritmias'”.

    Aspectos mais citados pelos jurados em harmonia desde 2015:

    – Falta de sincronia entre o canto do carro de som, da escola e a bateria;
    – andamento excessivamente acelerado da bateria, prejudicando o canto;
    – irregularidade no canto, com alas cantando muito mais que outras;
    – excesso de cacos emitidos pelos intérpretes;
    – equalização mal feita no carro de som, acarretando desencontros entre cantores, cordas e o canto dos componentes.

    Penúltimo ranking dos sambas mais ouvidos do Especial: Mocidade segue líder e passa de 100 mil audições

    O site CARNAVALESCO divulga a penúltima lista dos sambas-enredo mais ouvidos do Grupo Especial para o Carnaval de 2020. A contagem segue o link de cada samba. A última lista será divulgada no dia 19 de fevereiro.

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    1 – Mocidade: 104.367 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    2 – Beija-Flor: 85.968 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    3 – Mangueira: 85.823 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    4 – Salgueiro: 72.816 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    5 – Portela: 72.751 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    6 – Paraíso do Tuiuti: 66.421 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    7 – Viradouro: 66.218 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    8 – Grande Rio: 65.954 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    9 – Vila Isabel: 61.427 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    10 – Unidos da Tijuca: 52.855 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    11 – União da Ilha: 43.962 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    12 – São Clemente: 41.038 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    13 – Estácio de Sá: 29.187 audições (CLIQUE AQUI PARA OUVIR O SAMBA)

    Economista da FGV escreve artigo sobre a importância do carnaval para o Rio de Janeiro

      Por Marcel Balassiano (Economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas – FGV IBRE)

      O carnaval brasileiro, das diferentes cidades em que ocorre, pode ser analisado sob diversas óticas. Carnaval é cultura, carnaval é festa, carnaval é entretenimento, carnaval é turismo, e sim, carnaval também é economia!! No Rio de Janeiro, há centenas de blocos nas ruas (foram quase 500 em 2019, e mais de 600 em 2018) atingindo um número de mais de cinco milhões de pessoas; e os desfiles das escolas de samba, considerado por muitos como “o maior espetáculo da terra”!! Sobre a economia do carnaval relativo às escolas de samba que vou tratar nesse artigo.

      Para aqueles menos acostumados com o “mundo do samba”, podem pensar que o carnaval acontece somente em fevereiro (ou março, dependendo do ano). Mas não, durante o ano inteiro ocorrem etapas e eventos que chegam, finalmente no ápice, que é o desfile na Marquês de Sapucaí. Durante o ano inteiro, milhares de ferreiros, costureiras, artistas plásticos, pessoal da faxina, segurança, carnavalescos, cantores, entre diversas outras funções, trabalham nos barracões e quadras das escolas de samba. Na etapa inicial, da concepção do enredo, com historiadores, jornalistas, até a confecção prática das fantasias e carros alegóricos, muito dinheiro é movimentado e emprego gerado por esse importante setor da economia.

      Segundo dados da Riotur, o carnaval passado movimentou R$ 3,8 bilhões na economia do Rio de Janeiro, com mais de um milhão e meio de turistas na cidade, com uma ocupação da rede hoteleira de mais de 90% durante o período carnavalesco. Claro que muitos desses turistas que vêm para o Rio no carnaval não assistem aos desfiles, ficam somente nos blocos mesmo. Mas, grande parte dessa imagem turística de carnaval do Rio, veio por causa das escolas de samba, muito tradicionais, com décadas de história. E, na média, os turistas que vem para o Rio assistir aos desfiles gastam mais dinheiro na cidade do que o turista médio de bloco.

      Na edição de 2019 da revista “Ensaio Geral – Informativo Oficial da LIESA”, há uma seção chamada de “A força do carnaval carioca”. Lá consta uma série de importantes números sobre o impacto econômico (direto e indireto) do carnaval carioca na economia do Rio de Janeiro, de uma pesquisa da FGV a pedido do Ministério do Turismo, com dados de 2018. Os impactos diretos são hospedagem, alimentação e bebidas, transporte local, passeios e atrativos e compras. Já os indiretos, são indústria fornecedora de insumos, treinamento, imobiliário, hospitais, entretenimento e logística. O impacto na economia foi de R$ 3,0 bilhões (R$ 3,8 bilhões em 2019), com a criação de mais de 70 mil postos de trabalho, gerando uma arrecadação de impostos de R$ 179 milhões, sendo R$ 77 milhões de ISS para o Rio de Janeiro. Entre os turistas, 88% foram brasileiros, com uma permanência média de 6,6 dias, e gastando R$ 280,32 por dia, em média. Já os 12% de estrangeiros, ficaram mais dias, gastando mais também (7,7 dias, com gasto médio de R$ 334,01 por dia).

      Mas não é só isso, já que as dezenas de escolas de samba, componentes dos diferentes grupos (Especial, Série A e demais grupos…), realizam ensaios comerciais semanalmente, além dos ensaios gratuitos nas ruas perto das suas comunidades. Fazendo uma conta simples, e pegando somente as 13 escolas do Grupo Especial, há mais de vinte ensaios (entre os comerciais e gratuitos) por semana, atingindo milhares de pessoas. Por exemplo, no ensaio de rua do Salgueiro, na Rua Maxwell, que ocorre toda quinta-feira: na rua, por causa do ensaio, centenas de pessoas vão até lá (e não iriam, caso não houvesse esse evento), comem e bebem nos restaurantes, bares e lanchonetes na região, movimentando a economia formal. Além disso, a economia informal também é afetada, com os ambulantes vendendo cerveja, refrigerante, pipoca para as pessoas. E há ensaios gratuitos em diversos locais do Rio de Janeiro, inclusive na Zona Sul, com a São Clemente.

      Os ensaios técnicos, gratuitos no Sambódromo, que levavam um público de dezenas de milhares de pessoas para assistir à uma espécie de “prévia” do desfile, que ocorreu por mais de 15 anos ininterruptos, não aconteceu em 2018, voltando (numa versão menor do que já foi no passado) em 2019, e não ocorrerá novamente esse ano. Já os desfiles das escolas de samba de São Paulo estão tendo mais de um mês de ensaios técnicos no Sambódromo do Anhembi. Ou seja, os ensaios, sejam os comerciais (pagos), ou os de graça, na rua ou no Sambódromo (quando ainda existiam), ajudam a movimentar (e muito) a economia, seja formal ou informal, da cidade do Rio de Janeiro e das outras cidades que têm escolas de samba nos principais grupos (Nilópolis, Caxias, Niterói, São Gonçalo…).

      Sobre os trabalhadores informais, que são aqueles sem carteira assinada, somados aos conta-própria e empregadores sem CNPJ e trabalhador familiar auxiliar, há no momento mais de 40 milhões de brasileiros nessa situação, segundo dados da Pnad Contínua do IBGE. Apesar da informalidade não ser o ideal, essas pessoas estão numa situação melhor do que os quase 20 milhões de brasileiros que estão desocupados, desalentados (que desistiram de procurar emprego) e aquelas pessoas que realizaram busca efetiva por trabalho, mas não se encontravam disponíveis para trabalhar na semana de referência, por diversos motivos (estudo, saúde, gravidez, entre outros). No Estado do Rio de Janeiro, há três milhões de trabalhadores fluminenses na informalidade, além de 1,9 milhões no somatório de pessoas desocupadas, desalentadas e pessoas que realizaram busca por trabalho, mas não se encontravam disponíveis para trabalhar. Essa é a pior consequência da forte recessão que o país passou entre 2014 e 2016, somada a uma recuperação lenta e gradual da economia desde 2017.

      Assim como no futebol, diversas escolas de samba também têm programas de sócio-torcedor. Apesar desses programas ainda serem iniciantes, precisarem de muitas melhorias, e muitos não terem “decolado” como vários do futebol, é uma medida extremamente importante para a melhoria da saúde financeira das escolas, principalmente para o futuro. Salgueiro, Portela, Mocidade, entre outras escolas, possuem programas para seus sócios, com diferentes benefícios.

      Outra medida importante, também ainda no início, e que já deu muito certo em alguns clubes de futebol, por exemplo, é o crowdfunding (financiamento coletivo). Para o carnaval 2020, a Mangueira lançou esse projeto. O Fluminense é um caso de sucesso em crowdfunding, já tendo feito sete nos últimos anos, tendo o torcedor tricolor ajudado a pagar festas de aniversário do clube, livros de excelente qualidade, medalhas, bustos, entre outros atrativos. A decisão da Mangueira de fazer esse financiamento coletivo foi excepcional, e tomara que outras escolas também “copiem” esse modelo para os próximos carnavais. Alguns ajustes, claro, precisam ser feitos, mas esse conceito do torcedor poder ajudar a escola, e receber um “prêmio” por isso, é uma ideia muito boa. E, quanto mais exclusivo for, maior é a experiência do torcedor. Como “não existe almoço grátis”, quanto mais exclusiva for a experiência, maior será a contribuição do apoiador, o que é positivo para ambos os lados, tanto para a escola, quanto para o torcedor. Por exemplo, o Fluminense já disponibilizou como uma das “recompensas” poder jogar uma partida de futebol com ex-jogadores do clube, no centenário Estádio Manoel Schwartz, em Laranjeiras. Na cota mais alta desse projeto da verde e rosa, o colaborador recebe, entre outras recompensas, uma bandeira oficial de desfile da Mangueira autografada pelo Mestre Sala e a Porta Bandeira.

      Tanto os programas de sócio-torcedor, quanto o crowdfunding, tem o conceito de aproximar mais o torcedor da escola, contribuindo (financeiramente) para a escola, e recebendo benefícios e / ou experiências exclusivas. Ainda há um caminho muito longo para isso deslanchar no meio do carnaval, mas projetos desse tipo bem feitos têm potenciais enormes, e que são benéficos tanto para a escola quanto para os torcedores. Claro que os números, tanto de torcedor, quanto de dinheiro envolvido, são muito distintos entre o futebol e o carnaval. Porém, o “mundo do samba” pode aprender muito, nesse quesito, com algumas medidas de sucesso já implementadas em alguns clubes de futebol.

      De uns anos para cá, e cada vez mais, o Sambódromo tem recebido grandes camarotes, com festas muito famosas, para um público mais jovem, e com ingressos individuais e por dia custando mil, dois mil reais, ou até mais. Claramente, a maior parte dessas pessoas não faz parte de um público originário do carnaval. Eles estão lá não pelo Salgueiro, Mangueira, Beija-Flor, Portela, mas sim pela night, bebidas, shows, pessoas que vão estar lá. Mas isso não é um problema, pelo contrário, acho bastante positivo, pois traz um público “novo” e “diferente” para o Sambódromo, que pode até depois se interessar mais pelo carnaval, e ajuda a movimentar, mais uma vez, a economia do “maior espetáculo da terra”. Esse público, formado por cariocas e não cariocas, de mais alto poder aquisitivo, ao invés de ir para os camarotes do carnaval de Salvador, por exemplo, ou viajar para o Sul do Brasil, ou para fora do país, vai curtir as nights em pleno Sambódromo, e ainda pode dar uma espiada, na frisa ou na janela do camarote, enquanto que uma escola de samba evoluí pela Marquês de Sapucaí.

      Muitos participantes de grandes eventos, e o Brasil sediou recentemente vários deles, não são necessariamente fãs do show ou esporte específico, mas vão pelo evento, e pela experiência, de uma maneira geral. No Rock in Rio, por exemplo, o Roberto Medina afirmou em entrevista ao jornal “O Globo” no final do ano passado que “a marca se mantém porque a ideia do evento não é lembrar da música ou do artista e, sim, da experiência. Esse foi o conceito desde que surgiu o Rock in Rio. Por isso, tinha que ser mais que uma banda cantando. O evento está se tornando um parque de atrações”. Isso também ocorre nos megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo ou Olimpíadas, onde pessoas que nem se interessam por futebol ou esportes, foram assistir alguma partida no estádio na Copa de 2014 ou em alguma arena nos Jogos Olímpicos de 2016.

      E, como a estrutura montada por esses grandes camarotes é enorme, muito boa, e, conseguindo maximizar os dias, há camarotes que conseguem fazer seis eventos no Sambódromo, durante o carnaval, em dias com desfile ou sem desfile. Começando na sexta e sábado de carnaval, com os desfiles da Série A, passando por domingo e segunda, os grandes dias e mais caros, com os desfiles do Grupo Especial. Na quarta-feira de cinzas, dia da apuração, há algumas feijoadas nos camarotes. E, finalmente, encerrando a festa no Sábado das Campeãs! Claro que, para quem gosta de assistir aos desfiles completos, de todas as escolas, é melhor ficar na frisa, na arquibancada, ou num camarote “mais  tranquilo” do que nesses “camarotes-night”, mas há público para todos os gostos e bolsos!

      A importância das escolas de samba é enorme, pois elas representam, no mundo, o Rio de Janeiro, e o Brasil! No réveillon, de Copacabana, e das outras localidades do Rio de Janeiro, há shows das baterias das escolas de samba. Na abertura e no encerramento das Olimpíadas Rio 2016, houve shows também das baterias. Além disso, muitas escolas de samba também têm diversos projetos sociais, como Beija-Flor, Mangueira, Portela, Salgueiro, entre outras. Então, claro que as escolas de samba têm que ser auto-sustentáveis, conseguir receitas próprias com shows, eventos nas quadras, direito de transmissão da televisão, investir mais nos programas de sócio-torcedor, crowdfunding, entre outras medidas, e a maior parte de dinheiro privado. Porém, o dinheiro público municipal que  era destinado para as escolas era tão ínfimo (R$ 2 milhões por escola do grupo especial, que depois foi cortado pela metade, até finalmente não ter mais nada), frente ao orçamento do município (receita de mais de R$ 25 bilhões), e com o grande retorno (econômico, social, cultural) que o carnaval gera, que chega a ser decepcionante a recente pesquisa do Datafolha que mostrou que mais de 60% da população carioca é favorável ao corte de verbas para o carnaval. O retorno econômico pode ser visto nesses bilhões de reais gerados pelo carnaval, além da geração de milhares de empregos. O retorno social, nos programas sociais das escolas, principalmente para crianças, mas também para as comunidades de uma maneira geral. O retorno cultural, já que carnaval também é cultura.

      Então, em resumo, o carnaval gera um impacto próximo de R$ 4 bilhões na economia do Rio de Janeiro, atraindo milhões de turistas, com uma ocupação praticamente completa dos hotéis, arrecadando quase R$ 200 milhões de impostos, e gerando dezenas de milhares de empregos (70 mil, em 2018). Números esses que não deveriam ser ignorados pelas autoridades públicas.

      Claro que esse artigo não abrange toda a cadeia econômica do carnaval, nem das escolas de samba. Aqui há somente alguns motivos para mostrar a (grande) importância do carnaval das escolas de samba para a economia do Rio de Janeiro. Bom carnaval para todos!!

      Casal da Vila Isabel prepara apresentação inspirada em elementos de grandes espetáculos de dança

      A abertura do desfile da Vila Isabel sobre Brasília, a capital federal, incluirá não apenas um abre-alas de grandes proporções — já aguardado anualmente pelo torcedor da escola — como também o bailado do casal de mestre-sala e porta-bandeira Raphael Rodrigues e Denadir Garcia, cuja apresentação encontra inspiração em elementos de grandes espetáculos de dança. No terceiro ano trabalhando juntos, a dupla conta com auxílio da coreógrafa Ana Formigheri.

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      “Raphael e Denadir são um casal com alguma maturidade. O carnaval tem pessoas novas e cheias de talento vindo aí, mas eles se encaixam numa categoria de pessoas que já estão escrevendo sua história há um tempo. No ano passado, além da dança dos dois, funcionou muito bem o entrosamento que criamos entre a coreografia deles e os guardiões que selecionamos. No desfile deste ano, faremos isso com um pouquinho mais de ousadia”, explica Ana, que é coreógrafa do casal desde 2018 e atua há uma década na área.

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      Os guardiões que desfilam com Raphael e Denadir são um grupo de componentes responsável por garantir a segurança do casal, impedindo que curiosos se aproximem do pavilhão enquanto ele cruza a Avenida carregado pela porta-bandeira. A essência da defesa da bandeira segue a cargo do mestre-sala, mas o conjunto de componentes assume a função de guardar todo o perímetro no qual eles dançam em frente à cabine de jurados. Trata-se de uma tarefa das mais nobres, incorporada inclusive no enredo: guardiões desfilam muito bem fantasiados, a exemplo do próprio casal, e ajudam a contar a história proposta pela agremiação.

      “A função do guardião também é abrilhantar a dança, sem interferir ou atrapalhar. Os jurados costumam assistir cenas de espetáculos maravilhosos, como os do Theatro Municipal, em que há toda uma composição cenográfica. E nós podemos proporcionar isso no Sambódromo, criando uma moldura formada por guardiões que compõe a cena do casal. Na minha coreografia, tudo é pensado e nada é por acaso”, afirma Ana Formigheri.

      Casal fez amizade com time

      Amigos há 25 anos, Raphael e Denadir têm muita proximidade e a utilizam para beneficiar o próprio entrosamento no trabalho. Eles têm criado um laço semelhante com seus guardiões na Vila Isabel. Na temporada passada, a escola fez uma audição para selecionar quem teria a honra de acompanhá-los na Passarela do Samba. Agora, o grupo criado em 2019 irá repetir a experiência, cercando o casal de cuidados e afeto — o que já tem acontecido desde a temporada de ensaios.

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      “É muito bom criar um grupo de guardiões. Criamos amizades e, entre os nossos, existem até pessoas que já estiveram com cada um de nós em outros momentos importantes da vida. Eles têm um papel muito importante de proteção para que nada nos atrapalhe e ajudam a deixar a apresentação mais bela”, defende Denadir.

      O mestre-sala segue a companheira de dança e também exalta a presença dos guardiões no desfile. Para ele, o grupo ajuda a escola a eliminar preocupações.

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      “Acontece muito de alguém na pista acabar atrapalhando o casal. Os guardiões garantem menos uma dor de cabeça para a equipe de Harmonia da escola ao proteger nossa dança. Tudo é muito explicado e ensaiado para que não tenha erro. Eles desfilam muito concentrados”,diz Raphael.

      Segunda escola a desfilar na noite da Segunda-Feira de Carnaval, a Vila Isabel apresentará o enredo “Gigante pela própria natureza, Jaçanã e um índio chamado Brasil”, desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira.

      Concorra a par de ingresso para Feijoada Bon Vivant! neste domingo com show de Diogo Nogueira

      Os fãs de carnaval podem concorrer a um par de ingressos para a Feijoada Bon Vivant!, que acontece neste domingo, no no Varandão Bistrô do Grand Mercure Riocentr, com show de Diogo Nogueira. Para concorrer é só responder abaixo a pergunta no espaço para comentários deste post.

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      Por que a feijoada é o prato que melhor representa o samba e o carnaval? A equipe do site CARNAVALESCO irá definir a resposta vencedora e o resultado será divulgado na sexta-feira. O transporte até o local da feijoada e o consumo de bebidas na feijoada é de responsabilidade do vencedor.

      Entrevistão com Serginho do Porto, cantor da Estácio: ‘o carnaval de São Paulo pode superar o do Rio’

      Serginho do Porto é um dos mais experientes intérpretes do carnaval. Com 25 anos de carreira e passagens por gigantes do carnaval do Rio de Janeiro e São Paulo, ele conversou com o CARNAVALESCO pra a série ‘Entrevistão’. Ex-vice-presidente do Águia de Ouro, ele alerta que o carnaval de São Paulo pode superar o do Rio de Janeiro. Diz ainda que os desfiles de 2009, pela Estácio e de 1998, pela Unidos da Tijuca, foram as maiores injustiças que ele viveu no carnaval.

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      Qual o melhor samba que você cantou na Estácio?

      “Eu cantei alguns sambas marcantes aqui. Cachoeira de Macacu em 2003 foi muito forte. O carnaval não era muito bom mas a comunidade estava aguerrida. Em 2002 a homenagem ao jornal O Dia, debaixo de chuva. O Cristo Negro em 2019 não posso deixar de citar. E a Chita Bacana em 2009 que para mim foi uma das maiores injustiças que vivi”.

      Como surgiu seu grito de guerra?

      “Todos sabem que sou cria da Ponte. Tanto que virei na última alegoria deles no desfile desse ano. Toda vez que a Ponte subia de grupo eu dizia ‘eu gosto assim, agora é pra valer’. Em 1983 estávamos no Especial e acabou caindo. Mas acabamos ficando. Em 1984 acabamos rebaixados. Em 1985 homenageamos o próprio samba. Desde essa época acabou ficando como uma marca minha”.

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      O que você sentiu quando cantou o samba da Tijuca sobre o Vasco? E o que sente quando ouve a torcida cantar nos jogos?

      “No desfile da Tijuca quando comecei a cantar o alusivo, a arquibancada toda começou a cantar ‘Vasco’. Fiquei muito emocionado. Mas aprendi com os grandes intérpretes a manter a frieza nesses momentos. A nossa responsabilidade é imensa. Éramos apenas eu e mais três cantando a avenida toda. Ali foi outra injustiça”.

      Aquele desfile foi penalizado injustamente?

      “A Tijuca desfilou linda, todo mundo cantando. Não entendo aquele rebaixamento. Talvez, o enredo, dividido entre o homem e o clube”.

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      Hoje, como você analisa o trio de cantores formado pelo Salgueiro?

      “Foi muito importante para a minha carreira. Foi um período glorioso. Cantar ao lado do Quinho me ensinou muito. É um ídolo de qualquer cantor. E o Leonardo tocou comigo, um profissional grandioso. Ali unimos a fome com a vontade de comer. O que sempre gostei de fazer foi cantar. E foi o que eu fiz ali. Eram três cantores”.

      Por que saiu do Salgueiro? 

      “Foi uma decisão em conjunto. Todo trabalho que tinha sido feito já havia seu patamar maior. Eu achava melhor respirar outros ares, não era mais o que eu queria. A escola também compreendeu isso e a vida seguiu”.

      O que você pensa sobre a presença de cantores mulheres no carro de som e assumindo o posto de principal?

      “Eu tenho duas meninas maravilhosas aqui. A Tati, além de cantar com a gente, ela faz dublagem, ninguém sabe que é ela ali. Acho que para cantar na frente, como foi Eliana de Lima, Dinorá da Bahia, Samanta, que cantou comigo em São Paulo, mas é preciso um entendimento se for mais de um. Vejo como muito proveitoso a voz feminina. Isso só valoriza o samba”.

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      Você comandou a Águia de Ouro e hoje São Paulo virou referência. Acredita ser possível passar o Rio?

      “Pode sim. E vou falar a você: é extremamente organizado. Uma semana antes do carnaval os carros estão todos na baia. O Rio é muito mais turístico, em São Paulo é mais comunitário, as pessoas choram. Fui muito feliz de fazer parte do Águia de Ouro. Torço para que a escola ganhe um título. Em 2013 batemos na trave”.

      E o que é melhor em São Paulo do que no Rio?

      “Primeiro, todos os grupos possuem barracão. Segundo, as alegorias saem com uma semana de antecedência. Sabemos que aqui não temos espaço. A infraestrutura em São Paulo é muito melhor. Como carioca e sambista me entristeço muito com a gestão do prefeito, que desdenha das escolas e do carnaval. O carnaval é um patrimônio. Isso aqui se enche de turistas. Temos agremiações gigantes. Isso tudo faz com que o nosso desfile seja o maior espetáculo da terra. São Paulo tem mais estrutura”.