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Série Barracões: Bangu retrata diáspora africana com estética clean

Por Diogo Sampaio

Guardião da memória, que traz na oralidade os saberes de um povo. Sua figura, tão ligada às tradições africanas, é testemunha de todo acontecimento. Através de histórias, transmite as vivências dos antepassados para as gerações futuras. O Griô é quem nos levará, ao longo do desfile da Unidos de Bangu em 2020, a olhar para o passado, como fonte de ensinamentos, para entender o presente e jogar luz sobre o futuro. O enredo “Memórias de um Griô: a diáspora africana numa idade nada moderna e muito menos contemporânea” irá narrar à história do continente africano, desde seu primeiro habitante até a chegada do europeu, que colonizou as terras e escravizou os nativos, criando males que perduram até os dias de hoje, como a desigualdade e o preconceito.

“O que seria ‘Memórias de um Griô’? É a memória que ele passa, que ele tem guardado de tudo que já foi passado para ele pelos seus antepassados, e de tudo que ele já viveu também. Então assim, ele pega e conta a sua história, que é a história de um povo como um todo. E o mais bonito disso é que se trata de um enredo que traz uma lição para a gente levar pro dia a dia: a gente nunca sabe de tudo. A gente sempre está aprendendo alguma coisa. É um enredo que vai fazer refletir um pouco sobre a própria vida”, defendeu o carnavalesco Bruno Rocha.

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Bruno desenvolve o carnaval da Unidos de Bangu desde o final do passado. O artista chegou à agremiação tendo a missão de dar prosseguimento ao trabalho iniciado pela dupla de carnavalescos Rodrigo Marques e Guilherme Diniz, que regressava para vermelha e branca da Zona Oeste após dois anos.

“Recebi o convite dia 05 de outubro. Logo de imediato, na primeira reunião com toda direção e com a presidência, pedi todo o material que já tinha pronto, para que pudesse começar a desenvolver o trabalho. Estudei qual era a realidade da escola e até aonde poderia ir, depois me coloquei no lugar dos meninos que eram carnavalescos, o Guilherme e o Rodrigo, para que pudesse seguir uma linha. Tive que tentar pensar o que eles estavam pensando, para poder não me perder e saber como tocar o projeto”, relatou para a reportagem do site CARNAVALESCO.

Da Intendente para Sapucaí

Além de marcar sua estreia na escola, o desfile de 2020 da Bangu será o primeiro trabalho de Bruno Rocha na Marquês de Sapucaí. O jovem carnavalesco, que iniciou sua trajetória nos barracões como aderecista no Cubango, traz em seu currículo uma vasta experiência na Intendente Magalhães. Algo que, segundo ele, o ajudou a superar as dificuldades encontradas para construir o carnaval deste ano.

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“A gente que está na Intendente Magalhães sonha em chegar na Série A, mas quando chega e se depara com a realidade só pensa assim: ‘Nossa, não é um sonho, é quase um pesadelo’. Quando você se vê em meio de tantas dificuldades, acaba perdido e sem saber direito o quê fazer, mas mesmo assim é obrigado a tocar o barco. E é nessa hora, que entra o lado bom da história. Foram oito anos de Intendente Magalhães. Lá, a situação é bem menos favorável do que estar em uma Série A. A estrutura é bem mais inferior, o trabalho é muito mais difícil… Aqui a gente tem trabalho dobrado, ao quadrado, ao cubo, mas na Intendente Magalhães é muito mais complicado, porque você não tem um barracão. É praticamente um único galpão onde você tem que dividir o mesmo espaço com mais cinquenta, sessenta escolas. Não tem uma estrutura boa de poder chegar na loja e falar assim: ‘eu quero esse tecido, aquele tecido, esse galão, esse aviamento…’. Você começa a recorrer as escolas da Marquês de Sapucaí, tanto algumas da série A e outras do Grupo Especial, para poder ver se arrecada algum tipo de fantasia, que dali você tira um galão, tira um tecido, uma ferragem, e já começa a diminuir um pouco os custos. Então, eu pego essa experiência, essa vivência e começo a colocar aqui, hoje, na Bangu, na Série A”, afirmou.

Soluções para vencer a falta de verba

Bruno contou ainda que, devido à ausência do repasse de verba da Prefeitura do Rio, uma das soluções encontradas para conseguir pôr o carnaval da Unidos de Bangu na rua foi a utilização de muitos materiais reciclados do dia a dia para confeccionar fantasias e alegorias. Todavia, o artista destacou também que não abriu mão do uso de materiais mais tradicionais da festa e da temática do desfile.

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“Por ser um enredo afro, não tem como você não usar certos tipos de materiais como a palha, a esteira, as argolinhas de madeira… Não tem como você fugir desses, mas você consegue adaptar outros tipos de materiais que tem um custo inferior e que possam acrescentar no trabalho. Então, vamos ter decorações com rolinhos de jornal, que eu acredito que isso ainda não foi visto na Sapucaí; com pregador de roupa, garfinho de madeira, espátulas de sorvete, marmitex… São alguns tipos de materiais que a gente vai adaptando e que vai dar um grande efeito na Avenida”, explanou.

E mesmo diante das dificuldades financeiras, Bruno Rocha assegurou que a mais antiga da Zona Oeste irá manter o padrão de grandiosidade de esculturas e volumetria dos carros apresentados no último carnaval. Ele ressaltou ainda a continuidade no uso de artifícios como as movimentações.

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“Os carros da Bangu vão vir bem grandes, com direito a bonecos de Parintins e muito movimento. Vai ser uma escola que eu acredito que vai impactar bastante na Avenida. Foi até um pedido da própria agremiação, para que não se perdesse um trabalho que já vem sendo feito nesse período que ela se encontra na Sapucaí, de ter carros com movimentos, bonecos de Parintins, esculturas grandes… Então eu continuo seguindo essa linha”, contou.

‘Uma Bangu mais clean’, promete carnavalesco

Porém, apesar do tamanho permanecer, a proposta estética do desfile como um todo será outra em comparação aos carnavais passados da escola. Para o site CARNAVALESCO, Bruno disse que evitou o excesso de informações em alegorias e fantasias, além de ter optado por fugir um pouco da plástica típica da temática africana.

“Sou um carnavalesco que tem uma estética de um carnaval mais limpo, que você olhe e já consiga identificar. Venho nesse trabalho com uma pegada mais cenográfica. No último carro, por exemplo, vão vir plantas naturais, flores naturais, por que como eu vou representar um Candomblé? Então, tenho que trazer todos os elementos que remetam ao Candomblé: plantas, flores, comidas. Outro exemplo: o carro dois é um navio negreiro em que vão vir pessoas acorrentadas, fazendo encenação. Resumindo, podem esperar um carnaval mais limpo e uma Bangu diferente do que passou esses últimos anos na Avenida. Uma Bangu mais clean, porém não pobre, mas sim rica e bem objetiva no que ela quer passar para o público”, garantiu o artista.

Pressão por resultados

Desde o campeonato da Série B em 2017, a Unidos de Bangu vive uma fase de ascensão. A vermelha e branca da Zona Oeste conseguiu se firmar na Série A e no último carnaval alcançou sua melhor colocação desde então: um oitavo lugar. Ao ser questionado pela reportagem do site CARNAVALESCO acerca de alguma cobrança interna da escola por resultados, Bruno afirmou não existir.

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“Eu não sinto pressão da escola, não sinto pressão da comunidade, não sinto pressão da diretoria. Eu sinto a minha própria pressão. Por ser a minha estreia, tenho o dever e a obrigação de fazer um trabalho que vá chamar atenção, porque não é só um benefício para Bruno Rocha, o carnavalesco, mas sim um benefício para agremiação, que pode sim ascender mais um degrau ou até mesmo, quem sabe, brigar pelo título”, declarou.

Entenda o desfile

Terceira agremiação a desfilar no sábado de carnaval, a Unidos de Bangu levará para Marquês de Sapucaí cerca de 1700 componentes, além de 18 alas, três alegorias (sendo o abre-alas acoplado), um tripé e um pé de passagem. O enredo “Memórias de um Griô: a diáspora africana numa idade nada moderna e muito menos contemporânea” será desenvolvido pela vermelha e branca através de três setores, como explana o carnavalesco Bruno Rocha:

Setor 1: “O primeiro setor traz toda a riqueza natural, que é justamente a fauna, a flora, as tribos africanas… Como o regulamento exigiu que agora fosse só três alegorias e um tripé, tivemos que reduzir um pouco e adaptar duas estéticas em uma. Então, o abre alas vem trazendo uma savana e vem trazendo uma tribo também. Podem esperar uma entrada bem quente, com uma pegada bem forte e cores bem acentuadas”.

Setor 2: “O segundo setor é a parte dos comércios. Nesse trecho destacamos o grande comércio de tecido, de especiarias, de metais, entre outros”.

Setor 3: “A gente fecha com o setor glórias e honras, que traz a libertação através da religião, a conquista de poder aqui no Brasil cultuar a sua crença. Então, trazemos o Candomblé e encerramos com a fé, que é fundamental”.

Carnaval Capixaba: Griots africanos irão conduzir o desfile da Unidos de Jucutuquara

Por Vinicius Vasconcelos

Dez desfiles separam a Jucutuquara do lugar mais alto do pódio do carnaval de Vitória. Para uma escola que já foi tetracampeã (2006, 2007, 2008 e 2009), isso é quase uma eternidade. Na intenção de voltar a conquistar boas colocações a agremiação contratou Jorge Mayko e Vanderson César. A dupla caiu nas graças do público nos últimos quatro carnavais, isso devido so bom gosto e a facilidade que tem de transformar o pouco em muito, tendo em vista que estavam numa escola de pouco poder aquisitivo e no grupo de acesso.

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Com o título de “Griot”, o enredo da escola propõe uma reflexão sobre uma África do passado, do presente e do futuro. Como conta Vanderson César.

“O enredo surgiu de duas necessidades. Uma que eu e o Jorge tínhamos a vontade fazer uma temática africana, mas que primasse pela questão artística e estética africana. A escola também tinha esse desejo, com isso juntamos as duas ideias que existiam e assim surgiu o Griot. Algumas figuras que permeiam todos os setores estão diretamente ligados a questão da representatividade africana. É justamente uma das principais mensagens desse tema. Onde o negro é o protagonista e conta sua própria história. Essas figuras são centrais e são pinceladas em todos os momentos, nós não abrimos mão disto”.

Estreante no grupo especial ao lado de Jorge, Vanderson afirma que as mudanças favorecem a dupla. Porém, as responsabilidades também são muito maiores.

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“É um mundo totalmente avesso. Uma escola muito maior, com responsabilidades maiores, comunidade maior que nos cobra desde o primeiro dia que chegamos. Talvez seja uma das comunidades que esteja mais ativa no carnaval e sentimos isso na pele. A recepção foi incrível e está sendo muito gratificante”, explicou.

Segundo o carnavalesco, os anos no grupo de acesso serviram de estrutura para aprender a criar o “plano A”, mas ter sempre o “B” e “C” guardado para hora da necessidade.

“Nós temos o costume de quando projetamos o carnaval já pensamos em algo realizável, que vá sair do papel. Quando setorizamos ala a ala já temos os pontos que podem ser modificados. Levaremos para a avenida 90% do projeto inicial. A estrutura que a Unidos de Jucutuquara nos fornece é muito maior. Isso para o trabalho do carnavalesco é muito importante. Temos barracão de alegorias só nosso. Claro que existe a crise, mas damos o nosso jeito. A oferta de material que temos aqui é muito grande, mas a demanda também é muito maior”, explicou.

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Ao ser questionado sobre uma possível renovação, Vanderson contou que os contratos só serão revistos após a eleição da Jucutuquara que acontece depois o desfile.

“Eu e Jorge temos uma conexão muito legal, nossa amizade vem de fora do carnaval. Isso agrega muito na nossa sintonia e maneira de pensar desfile. Quanto a renovação dependemos das eleições futuras, mas nós planejamos ficar aqui se a escola estiver satisfeita com nosso trabalho”, finalizou.

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Griot na África e toda a importância para o continente. A preservação de saberes, costumes e memórias, com a importância da ancestralidade.

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O Griot é tem novo significado após o momento da diáspora. Será passado, presente e futuro. Griot com produção artística voltada a relembrar o passado com uma memória de África. Homenagens a personagens como Mercedes Baptista, que mistura a dança do Orixá com ballet clássico, ao Ile Aiyê, bloco que resgata toda ancestralidade negra.

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Griot do cotidiano apresenta o presente. Setor é encerrado pela produção artística da juventude negra nas favelas, o movimento hip-hop, samba e grafite.

Setor 4

Os Griots que sonharam com o futuro. Toda produção artística voltada a projetar um futuro melhor. O desfile é finalizado com uma metáfora a Wakanda, nação africana que nunca foi colonizada por isso é extremamente desenvolvida. Fecharemos o ciclo. Projetando o futuro com o olhar para o passado.

Presidente da Liga-SP fala no ‘Entrevistão’ sobre a mudança do dia das campeãs e regulamento de 2020

Por Gustavo Lima

Paulo Sérgio Ferreira, Serginho, é o atual presidente da Liga das Escolas de Samba de
São Paulo, o gestor irá para o décimo primeiro carnaval a frente da principal entidade do carnaval paulistano, tendo seu mandato válido até julho de 2021. Ele conversou com a equipe do CARNAVALESCO para a série “Entrevistão”, e contou sobre algumas melhorias que pretende fazer na estrutura do Sambódromo do Anhembi, mas que ainda depende da privatização ou não para poder realizar. Também prevê a Fábrica do Samba I pronta no mês de outubro.

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Por que a decisão de chamar a imprensa para uma plenária sobre regulamento de carnaval?

“Eu acho que a Liga está fazendo um papel não de transparência para que não fique só aqui dentro da casa, mas que realmente passe não só para os veículos de comunicação, mas também para os admiradores, o sambista que gosta do carnaval e ele tire as suas dúvidas também dentro do julgamento. De repente, ele está vendo a apuração, vem uma nota e pelo menos ele vai ter alguma noção dos critérios, das mudanças e que a escola não foi penalizada à toa, todo material que a escola pegou é o mesmo que foi para o julgador, então nós estamos falando a mesma língua. O carnaval de São Paulo está dando um pulo maior, acho que a gente realmente precisa que o carnaval seja julgado da melhor maneira possível, isso vai engrandecer bastante o espetáculo, independente da escola que vai ganhar, e a agremiação que faça o melhor carnaval seja merecedora do título”.

A Liga está em uma evolutiva, apresentando muitas propostas para o crescimento do carnaval. Já tem algumas ideias que possam melhorar ainda mais?

“Eu acho que nós precisamos manter um pouco a nossa cultura. Provavelmente, a gente vai tentar cada vez mais que não se mude critério e nem regulamento durante dois anos, mas às vezes algumas condições também de avenida fazem a gente mudar essas questões. Nós não somos donos da razão, procuramos entender o carnaval da melhor maneira possível, e essas mudanças são só feitas dentro do que acontece, dentro das modernizações, novidades e inovações que está acontecendo dentro da pista”.

Qual foi o motivo de mudar para sábado os desfiles das campeãs?

“Na realidade é uma luta imensa que a Liga está tentando há anos e conseguimos a liberação da Rede Globo. Sexta-feira para nós é um dia útil aqui na capital, toda sexta-feira é caótica, é terrível na questão do trânsito. A pessoa trabalha o dia inteiro, chega em casa tarde e muitas vezes não vai ter vontade nenhuma de ir para avenida assistir os desfiles. A mudança maior é pra que realmente a gente consiga atrair um número maior de público colocando os desfiles das campeãs no sábado”.

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Na questão estrutural do Sambódromo do Anhembi, você pensa em alguma mudança ou reforma?

“Nós dependemos muito da ação de privatização ou não, ainda tem esse impasse do governo e enquanto tiver essa discussão, fica mais difícil, mas nós gostaríamos muito de mexer na iluminação do Sambódromo. É um dos sonhos nossos, e também a questão das cabines e torres de julgadores, é outro sonho nosso tirar aquelas torres de jurados. Queremos mexer na iluminação para que o espetáculo ganhe uma cara mais de show no dia dos desfiles”.

Existe algum projeto de ação popular para os preços dos ingressos?

“Na realidade nós temos há cinco anos o mesmo valor, a Liga está até subsidiando alguns valores. Nós estamos segurando os valores dos ingressos, mas os fornecedores não estão segurando os trabalhos deles . Não está previsto nenhuma ação, e só de manter o preço realmente já é um ganho para o sambista e para as pessoas que vão frequentar o Sambódromo”.

Há alguma previsão para conclusão das obras da Fábrica do Samba?

“A previsão é pra outubro, a gente tem as eleições, mas a licitação já saiu. Nós temos mais um mês para a abertura dos envelopes, é uma obra que se chegar rapidamente, se conclui em cinco meses já em 80%. A promessa é que realmente no mandato do prefeito a obra seja concluída, porque o mais difícil é ter a verba, mas o valor já está concluído”.

Terá transmissão para os desfiles do acesso e campeãs?

“Nós estamos negociando com algumas emissoras, mas se não tivermos sucesso, nós vamos fazer pelos canais da Liga. Todos estão acompanhando os ensaios técnicos nas redes sociais, estão gostando e nós vamos tentar dar uma aprimorada para que a gente tenha uma qualidade melhor no dia dos desfiles em questão de transmissão”.

Barracões: União da Ilha aposta em alegorias opulentas e desfile interativo para sonhar alto

É senso comum que o desfile de 2019 da União da Ilha merecia um resultado melhor. Mesmo assim a escola julgou ser necessário fazer uma mudança radical em seu estilo de fazer carnaval. Laíla foi contratado para ser um espécie de CEO artístico e sua principal mudança está justamente no DNA de desfiles que consagraram a escola. Ele montou uma comissão de carnaval com os experientes Fran Sérgio e Cahê Rodrigues, mesclados com os jovens Anderson Netto, Allan Barbosa, Larissa Pereira e Felipe Costa. Eles são oriundos da escola mirim Cavalinhos Marinhos da Ilha. E o recado que será dado na avenida é cristalino: esqueçam as características estéticas históricas da União da Ilha.

Cahê falou que a mudança no DNA estético da Ilha para este carnaval será o grande diferencial do desfile de 2020 da escola.

“O mais interessante e diferente desse carnaval é a Ilha deixar um pouco de lado sua marca histórica e preocupada com o momento que o país vive, leva uma mensagem forte para a avenida. Uma temática crítica, que adota um caminho de crônica. Esteticamente também é bem diferente do DNA da escola. Acredito que será um choque para todos ao verem a escola cruzando a avenida. O componente vai vestir uma roupa diferente. As alegorias tem um volume diferente. São grandes cenários e a movimentação humana é muito importante. Serão responsáveis por contar histórias em cima dessas alegorias. O grande barato dessa pesquisa foi ter a presença de quatro jovens apaixonados pela Ilha, que integram nossa comissão. Eles colocam muito do torcedor, a preocupação deles em trazer soluções, acabou agregando à nossa criação”, explica.

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Fran Sérgio aborda o aspecto crítico do enredo. Ele deixa claro que quem for para o desfile da Ilha esperando irreverência ou galhofa vai ter uma surpresa. A crítica não é engraçada, mas sim séria.

“É uma crítica incisiva, não é lúdica. O enredo da Ilha está acontecendo. É menos irreverente e mais sério, mas com uma certa leveza, pois é a Ilha. Todo dia vemos na televisão as encruzilhadas da vida. Para carnavalizar, a gente foi para o original, como o enredo pedia. As alas são personagens. O médico, professor, camelô. Carnavalizamos o personagem e o resultado ficou interessante. É uma Ilha diferente, pomposa, grande”, alerta.

‘Enredo nasceu no coração do Laíla’

Cahê Rodrigues foi contratado para formar dupla com Fran Sérgio e os jovens da comissão. Ele explica que o enredo foi sugerido pelo próprio Laíla. Segundo o artista a vivência do diretor de carnaval na infância e juventude em comunidades carentes foi o fator que fez o enredo acontecer.

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“A ideia nasce no coração do Laíla. Quando cheguei aqui já havia um desenho de ideias. Ele colocou para nós as experiências dele de vida em uma comunidade. Ele descreveu para a gente, fomos captando e a comissão se juntou para colocar no papel um projeto baseado nesses relatos. Dessa maneira nasceu o nosso enredo. O título também é dele. O maior desafio foi tentar desvendar a mente dele. A partir do pedido dele e através das condições da escola, criamos esse tema. A Ilha não terá luxo, plumas em fantasias. O nosso caminho é mais teatral, tanto nos carros quanto nos figurinos. É um carnaval de alegorias suntuosas, no sentido do tamanho. Teremos os atos que o Laíla gosta, principalmente nos carros. Para mim tem sido uma experiência nova trabalhar ao lado dele. O Laíla é um dirigente que luta pelo artista. Isso nos traz muita segurança e evita certos desgastes pra o carnavalesco”, conta Cahê.

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Fran Sérgio comentou com a nossa reportagem outra inovação trazida por Laíla para o desfile da escola em 2020 que deu o que falar. A falta de uma sinopse nos primeiros meses de projeto. Somente agora com a virada do ano que o texto do enredo da Ilha foi conhecido.

“Essa foi uma proposta do Laíla, antigamente era assim. Mas isso foi permitido pelo fator desse enredo. Eu e Cahê fomos em comunidade e trazíamos o tempo todo sucatas para montar o nosso carnaval. Eu achei muito positivo construir esse texto no final do processo. O enredo é assim e essa história deu certo por isso”, avalia.

Mulher negra gestante será fio condutor

Uma jovem mulher, negra e grávida, moradora de uma comunidade. Esse é o perfil da personagem criada para ser o fio condutor do desfile da Ilha em 2020. Fran Sérgio explica que a decisão se deu devido ao fato de a Ilha possuir muitas componentes mulheres. Ele diz que o enredo é uma mensagem necessária mediante aquilo que o Brasil passa e deixou claro que não há qualquer traço de semelhança com a Beija-Flor.

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“Não tem nada da pegada da Beija-Flor de 2018. É outra visão. É mais direto, original. É um carnaval que eu nunca fiz, uma virada estética na minha carreira. O espírito desse carnaval é tudo aquilo que a gente passa no dia a dia. O que estamos passando no carnaval nos joga para esse tipo de temática. As dificuldades são muito grandes, o apoio é quase zero. É bem inerente a tudo que estamos vivendo, todas as escolas. É triste mas necessário. Como a condutora é uma mulher negra, pobre, da favela, a participação feminina permeia todo o enredo. A Ilha tem muita mulher como componente. O tempo inteiro essa mulher se faz presente de várias formas”, explica.

Cahê reforça que a presença dos componentes da Ilha terá papl decisivo no funcionamento do desfile. Segundo ele o sucesso da apresentação da escola no domingo de carnaval passa diretamente pela atuação dos componentes no desfile.

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“A grande estrela desse carnaval é o componente. A força e a atitude deles é que poderá ser o diferencial. Por isso o Laíla acabou com qualquer ala comercial e até as composições serão doadas. Todo esse gigantismo precisa das pessoas para tudo acontecer”.

Comissão mescla experiência e juventude

Dentre as muitas criações bem sucedidas de Laíla nesses 50 anos de carnaval certamente uma delas é a comissão de carnaval. Um grupo de artistas divide o projeto. Foi assim que ele mudou o patamar da Beija-Flor e é dessa maneira que ele pensa a estrutura artística da Ilha. A união de quatro jovens com dois consagrados carnavalescos, tudo coordenado por ele.

“É uma comissão diferente das que eu já trabalhei. Os meninos são cria da escola, e trabalham na escola mirim. Estão começando, nunca tinham entrando em um barracão. Estamos passando nossa experiência, eu, Cahê e o Laíla. Está sendo muito gratificante e o casamento está muito bom. Hoje temos uma escola bem feliz. A equipe de barracão da Ilha é fantástica. Entre o Cahê e eu não há divisão de funções. O projeto é concebido a quatro mãos e tanto ele quanto eu entramos nesse consenso, com o Laíla coordenando tudo. No fim é um somatório”, explica Fran Sérgio.

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Cahê Rodrigues aposta na cabeça da escola para impactar público e jurados. Ele fala sobre o desafio que é para o artista conseguir agradar a comissão julgadora e o público que está em casa e também na avenida.

“Nunca será possível agradar a todos. O carnaval é essa magia de tudo acontecer na hora, por mais que você tenha projeções. Eu confio muito na entrada da Ilha. Da comissão de frente ao abre-alas as pessoas irão se identificar. Ali tem a síntese do nosso enredo e s pessoas irão se ver. Temos um desfile com momentos e temas muito necessários, que precisam ser mostrados, uma vez que falamos das dificuldades dos moradores de comunidade e um final que mesmo em meio a todas essas mazelas, o ser-humano se reconstrói, busca novos caminhos e fechamos com uma mensagem para cima, aí sim com a cara da Ilha”.

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Com recursos escassos e sem previsão de chegada de subvenção pública, Cahê elogia a postura do presidente Djalma Falcão, que não poupou esforços segundo ele para não mexer em nada do projeto original.

“Eu não sei como o Djalma está fazendo mas tem se mostrado um presidente muito parceiro. Até agora não recebemos um não. Tudo que foi proposto está sendo feito. A escultura, o movimento, o grosso já foi feito. Agora como a escola buscou esses recursos, o presidente está sendo um super-herói. Ninguém teve salário atrasado, o barracão não parou um segundo. A ordem agora é finalizar. Reciclamos bastante material do ano passado. Nosso enredo permite. Nosso abre-alas tem muita coisa de doação da comunidade, funcionários, a própria comissão. Mas tudo que nós criamos está dentro do orçamento”, disse.

Conheça o desfile

A União da Ilha irá desfilar com 32 alas, 05 alegorias e 02 tripés. O carnavalesco Fran Sérgio explica aos internautas do site CARNAVALESCO como será o desenvolvimento do desfile da tricolor insulana.

Abertura – As Encruzilhadas da Vida

“O enredo fala de tudo que passamos para ter uma vida melhor, não somente na comunidade. Os caminhos que encontramos na vida para melhorar, a busca por um emprego, eventuais dificuldades”.

Setor 1 – Entre becos, ruas e vielas

“Trazemos a comunidade carente. A condutora do enredo é uma grávida negra, ela está nessa abertura. Como vai ser o futuro desse filho com tudo que está acontecendo no Rio, nessa cidade tão abandonada? Ela conversa com um poderoso. ‘Senhor estou aqui, o que vou fazer?’. Nosso abre-alas é acoplado, com encenações daquilo que acontece no dia-dia da favela”

Setor 2 – A sorte está lançada

“Ela começa a contar, minha gente trabalha, acorda cedo, antes do sol levantar. O brasileiro, o carioca está lutando por dias melhores. O povo está sempre buscando a solução, construindo esse país”.

Setor 3 – Salve-se quem puder

“Ela questiona: meu filho não vai ter escola, não vai ter hospital se ficar doente? Não tem segurança, desemprego, como eu vou fazer? Ela está sempre nessa conversa com um poderoso, um patrão, alguém que tem o poder de resolver seus problemas”.

Setor 4 – Terra de Deus dará

“A gente fala realmente que o povo está largado, abandonado. A hipocrisia e a ganância dos poderosos”.

Setor 5 – Hoje é o dia da comunidade

“A única coisa que salva o ser-humano é a solidariedade. Encerramos com a festa na favela, vamos mostrar tudo o que tem de bom nas comunidades. É uma mensagem de esperança que fecha o nosso desfile”.

A União da Ilha do Governador será a sexta escola a desfilar no domingo de carnaval com o enredo ‘Nas encruzilhadas da vida, entre becos, ruas e vielas, a sorte está lançada: Salve-se quem puder!’.

Unidos da Tijuca promove último ensaio de rua nesta quinta-feira

A partir de 21h desta quinta-feira todos os segmentos e integrantes de alas da comunidade da Unidos da Tijuca estarão cantando pela última vez, no ensaio de rua, o samba criado para contar o enredo que abordará a temática Arquitetura e Urbanismo no desfile da escola. O ensaio acontece na Via D, localizada atrás da quadra da agremiação.

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Durante aproximadamente 72 minutos, os tijucanos apaixonados, entoarão os versos do hino de 2020 a plenos pulmões, incentivados pelo público que sempre acompanha o treino. Cerca de 3.500 componentes irão evoluir sob o comando da equipe de Harmonia.

A Unidos da Tijuca será a quarta escola a desfilar na segunda de carnaval do Grupo Especial com o enredo “Onde Moram Os Sonhos” de desenvolvimento do carnavalesco Paulo Barros.

Último fim de semana antes do carnaval será repleto de atrações na Portela

A Portela preparou uma programação especial para o último fim de semana antes do carnaval. Encerrando a temporada de ensaios com escolas coirmãs, a Azul e Branco receberá o Salgueiro nesta sexta-feira, a partir das 21h, no Sextou Portela. Ritmistas, intérpretes, passistas, baianas e outros segmentos vão se apresentar ao som de sambas-enredos clássicos e do hino da Portela para o desfile, “Guajupiá, Terra Sem Males”. Os ingressos custam R$ 20.

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No sábado, a maior campeã do carnaval promoverá a Maratona da Folia, reunindo o Império Serrano, o bloco Cacique de Ramos e o cantor Marquinhos Sensação em 12 horas de festa. A abertura será com o grupo Samba dos Crias. A entrada é R$ 20. Quem for fantasiado estará concorrendo a um par de convites para o Camarote Portela, na Marquês de Sapucaí, para os desfiles do domingo de carnaval.

Para quem gosta de uma autêntica roda de samba, a dica é o Quintal da Portela, neste domingo, a partir das 14h, com Serginho Procópio, Luciano Bom Cabelo e novos talentos do samba carioca. O público entra de graça até as 16h. Depois deste horário paga apenas R$ 10.

A programação será encerrada com o último ensaio de rua da Portela, na Estrada Intendente Magalhães, a partir das 18h. A concentração acontece na UPA de Madureira.

A Portela fica na Rua Clara Nunes 81, em Madureira. O telefone para mais informações é 3217-0983.

Da Tijuca para Niterói: Carlinhos Salgueiro vai ser destaque na Série A

Acostumado a brilhar na Sapucaí, Carlinhos do Salgueiro está, literalmente, se reinventando neste Carnaval. Após passar os últimos anos interpretando personagens emblemáticos nos desfiles da vermelha e branca, o coreógrafo, que este ano virá sambando à frente de seus dançarinos, está motivado e recebeu aceitar o convite para desfilar na Série A defendendo as bandeiras de duas agremiações de Niterói: Acadêmicos do Cubango e Acadêmicos do Sossego.

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“Eu estou muito motivado e feliz por terem se lembrado de mim. É um desafio para mim porque estou tendo que conciliar tudo sem deixar de atender os meus compromissos com o Salgueiro. Já estive na Cubango, que é uma escola muito querida e voltar será um prazer. Já na Sossego, estou empolgadíssimo pois será um desfile de muitas surpresas”, adianta o coreógrafo que pretende participar do ensaio das escolas no próximo domingo, na Amaral Peixoto.

Para suportar a maratona deste ano, Carlinhos vem se preparando há quatro meses com treinamento aeróbico, além de uma dieta especial e aulas de samba.

“Estou sempre cuidando de todo mundo e acabei me descuidando de mim então resolvi me dedicar 100% a este personagem que vou interpretar: o sambista Carlinhos. Estou sendo muito disciplinado em tudo para fazer jus aos convites que vieram. Sou muito detalhista e exigente com meu trabalho e acho que o público merece, até mesmo pelo carinho com que me tratam, ver um grande show na Avenida. Aviso que não vou vir sambando só na frente dos jurados não, quero sambar do início ao fim”, revela o coreógrafo.

Beija-Flor marca seus últimos ensaios antes do desfile de 2020

Cada vez mais perto de cruzar a Sapucaí no Carnaval de 2020, a Beija-Flor de Nilópolis reúne novamente sua comunidade para seu ensaio de quadra nesta quinta, 13, a partir das 21h. Na sede da azul e branco, ninguém fica parado ao som do intérprete Neguinho da Beija-Flor e da bateria dos mestres Rodney e Plínio.

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São presenças confirmadas, além da comunidade nilopolitana, a rainha de bateria Raíssa de Oliveira e o casal de mestre-sala e porta-bandeira Claudinho e Selminha Sorriso. Em 2020, a Beija-Flor conta o enredo ‘’Se essa rua fosse minha’’, desenvolvido pelos carnavalescos Alexandre Louzada e Cid Carvalho. A Beija-Flor será a última a desfilar na Segunda-feira de folia.

Serviço:
Ensaio na Quadra da Beija-Flor de Nilópolis
Data: Dia 13 de fevereiro, quinta-feira
Horário: A partir das 21h
Atrações: Ensaio geral rumo ao Carnaval de 2020
Preço: R$ 20 (entrada) | Camarote para (15 pessoas) R$ 1,5 mil
Local: Quadra da Beija-Flor de Nilópolis – Rua Pracinha Wallace Paes Leme, 1025, Nilópolis
Informações: (21) 3743-0340/ 21 99086-8047
Maiores de 18 anos