Início Site Página 136

São Lucas comemora desfile sobre o Ijexá e aguarda mais um resultado positivo

Primeira a desfilar na noite do grupo de Acesso 1 do carnaval paulistano, a Unidos de São Lucas trouxe o ritmo do Ijexá para avenida. A escola da Zona Leste que vem de 3 acessos seguidos nos últimos carnavais fez um belo desfile que empolgou sua comunidade. A tônica ao final da apresentação era de comemoração e muita expectativa por um bom resultado na apuração.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

Adriano Freitas, Presidente da São Lucas

“A gente que vem aí há pelo menos uns três anos brigando para ser notada entre as maiores de São Paulo. A gente está trabalhando muito. O acesso 1 ele é praticamente o terceiro dia de especial, então a gente tem que trabalhar muito. A gente vem trabalhando muito para se manter nesse grupo e daí pra frente a gente vai se estruturando, porque a gente sabe que até agora a gente teve um bom pé mas pra chegar lá. E não é só ter um bom pé, tem que ter um bom pé e a pisada firme, e a gente está querendo firmar essa pisada pra quando chegarmos lá fazer história”. E continuou.

SaoLucas2025 et 9
Foto: Fábio Martins

“Estamos vindo de uma semana que deu muita trave, muita coisa que estava tudo certo e aí tivemos alguns probleminhas, mas eu acho que o ponto alto foi ver a minha comunidade passando feliz e cantando, podendo dar e receber aquilo que eles querem. Alegria. Eu sabia que nós íamos chegar, nós íamos passar. Estava preocupado com as surpresas que o dia podia nos oferecer, até porque a gente está sujeito a isso. Mas eu estava confiante no meu pessoal, a família que eu tenho aí é uma família muito unida, é um pelo outro, e eu sabia que tudo daria certo. É a sensação de dever cumprido, independente do resultado que for vir, nós estamos fazendo o que foi proposto para a comunidade há quatro anos atrás, quando nós assumimos a gestão dizendo que nós íamos fazer uma escola competitiva, uma escola de portas abertas para a comunidade e uma escola viva. E é o que vem acontecendo. São de três para quatro anos de gestão, dois acessos como campeão e um como vice. Então isso já mostra que as coisas estão caminhando da forma correta”.

Erich Sorriso, Mestre-sala da São Lucas

“Hoje a gente completa nove meses de ensaio. A gente fez, além dos específicos, dois ensaios gerais. E acredito que a gente conseguiu fazer aquilo que a gente vem ensaiando. A gente conseguiu fazer a nossa coreografia completa, conseuimos se olhar. Agora eu espero o resultado, mas a gente está feliz por tudo que a gente superou, por a gente estar aqui e é isso, feliz. Feliz com a nossa passagem”.

SaoLucas2025 et PrimeiroCasal
Foto: Fábio Martins

Vitória Devonne, porta-bandeira da São Lucas

“Foi um desafio e tanto, mas a gente conseguiu executar aquilo que a gente estava ensaiando com êxito. Graças a Deus, aos nossos orixás, correu tudo bem, tudo certo, tudo dentro da forma que a gente esperava”.

Mestre de bateria Andrew Vinícius, da São Lucas

SaoLucas2025 et MestreAndrew
Foto: Fábio Martins

“A bateria veio muito confiante hoje. Acertamos os detalhes que faltavam. A gente vem ensaiando desde março e acho que é por isso que as coisas vêm evoluindo constantemente. E é isso aí, é ensaiar, ensaiar para chegar no dia e fazer o máximo da excelência possível”.

Jonathan Santos, coreógrafo da Comissão de Frente da Unidos de São Lucas

“Saiu muito melhor do que eu esperava porque esse elenco aqui é muito forte, é muito potente. Nos ensaios a gente se concentrou em poder fazer o alinhamento, a coreografia, mas hoje sinceramente a gente se preocupou em representar a força da nossa escola, mas principalmente da Zona Leste. Então a gente obviamente trouxe movimentos afros, representou um pouco do que significa o ijexá, mas mais do que isso, a gente representou e trouxe essa força. E pra mim o que mais me contagiou foi o público vindo junto com a gente. A cada grito, a cada passo, a cada olhar, a cada letra cantada desse samba enredo, do nosso samba enredo, o público vinha junto. Então, pra mim, não tem outro destino, senão um grupo especial”.

SaoLucas2025 et InterpreteTucaMaia
Foto: Fábio Martins

Tuka Maia, intérprete da São Lucas

“A expectativa foi das melhores. A gente viu o resultado hoje. Todo mundo cantando esse samba maravilhoso e com certeza era um dos sambas mais esperados do carnaval de São Paulo. E todo mundo viu o resultado. Samba maravilhoso. O desfile maravilhoso que a escola fez. E todo mundo cantando. A expectativa é das melhores, se Deus quiser, se papai nos abençoar, a gente vai conseguir esse título”.

Fernando Dias, Carnavalesco da São Lucas

“Eu fiz o que eu gostaria de ter feito e fiz muito bem feito. Foi muita luta mas nós conseguimos chegar aqui. Sem luta não há vitória. Então eu só tenho a agradecer a Deus e aos orixás, a Oxum ao ijexá por esse trabalho maravilhoso que eles me proporcionaram”.

SaoLucas2025 et SegundoCarro
Foto: Fábio Martins

Vanderley, diretor de carnaval da São Lucas

“Essa reta final foi muito conturbada pra gente, muito difícil. É uma escola que tá crescendo muito rápido, e aí a gente precisa tapar alguns buracos na caixa d’água às vezes. E nessa reta final a escola mostrou que é muito unida. Botamos essa escola na avenida, então tudo que a gente fez aqui hoje foi o que a gente planejou, foi o que a gente almejou e principalmente acho que a gente tem que reforçar essa união que a São Lucas está mostrando desde esses últimos resultados e principalmente o que a gente fez na pista hoje. Estou muito satisfeito”.

Independente Tricolor 2025: galeria de fotos do desfile

Mocidade Unida da Mooca realiza desfile completo em todos os quesitos

A Mocidade Unida da Mooca pode enfim sonhar com o acesso para o Grupo Especial. Após bater na trave tantos anos, a escola da zona leste de São Paulo executou um desfile seguro em todos os quesitos e entra forte na briga pelas duas primeiras colocações que dão o sucesso necessário para a vaga ao Grupo Especial. Todo o conjunto de quesitos engrandeceram a apresentação da Mooca na pista, mas há de se destacar a riqueza plástica das alegorias e o canto da comunidade. Os três carros mostraram esculturas indígenas com muitos detalhes e faces realistas. Repetindo o sucesso dos ensaios técnicos, o canto da Mocidade ecoou forte no Anhembi, provando que o lema de “escola que canta, ganha” pode virar realidade.
Comissão de frente
MocidadeUnidaMooca2025 Comissao 2
Fotos: Fábio Martins
A ala, coreografada por Sabrina Cassimiro, foi nomeada como “Tupis, Levantai-vos”, desfilou com três personagens, sendo o Marét (principal do elenco) e o povo Tupi, que completava toda a comissão. Todos estavam vestidos com fantasias na cor chumbo. Toda a coreografia mostrava a força do enredo, com os bailarinos soltando altos gritos. O elemento alegórico era bastante usado também, tendo uma divisão de elenco no chão e em cima dele.
Mestre-sala e porta-bandeira
O casal com a fantasia de “Nosso Quinhão! Mooca é Território Indígena”, realizou uma apresentação com uma coreografia empolgante e criativa. As expressões faciais do Jefferson somando ao sorriso de Karina mostrou a ambiguidade e elegância que a dupla, que está há um tempo junta, possui. Os giros e movimentos obrigatórios foram bem executados, provando a sincronia que há entre o casal.
MocidadeUnidaMooca2025 PrimeiroCasal
Fotos: Fábio Martins
Enredo
Assinado pelo carnavalesco Renan Ribeiro, é um tema questionador. O homenageado Ailton Krenak é usado como figura para um enredo indígena. Nele, há outros tópicos, como a introdução da palavra Mooca (Moo-oca-y), como sinônimo de resgate à natureza. Krenak foi um escritor muito complexo, e três setores seria pouco para contar a sua história, mas a narrativa foi bem amarrada pelo carnavalesco Renan Ribeiro. Vale destacar as alegorias, que expressou momentos diferentes do enredo e provou a grandeza dele. O abre-alas passou com a grandeza da natureza, com o mar e o rio sendo exaltados. Após, uma alegoria ‘mais forte’, representando a guerra contra o invasor, que é muito bem cantado no refrão do meio. Fechando o desfile, o último carro alegórico foi para a pista com uma criativa imagem de um indígena pintado com a bandeira do Brasil.
Alegorias
O primeiro carro representou o “Encontro das águas”. Uma alegoria toda azul duas esculturas realistas de indígena. Para representar ainda mais as águas, bolhas de sabão voavam da alegoria, além de leds azuis.
MocidadeUnidaMooca2025 AbreAlas
Fotos: Fábio Martins
A segunda alegoria desfilou tendo como significado “Hey, Há, Hey! O Grito de Guerra Contra o Invasor e o Resgate Ancestral”, dando realmente um um tom mais forte no desfile.
MocidadeUnidaMooca2025 30
Fotos: Fábio Martins
A última alegoria simbolizou a “FLORESTANIA – OLHOS PARA O NOVO MUNDO”. Este carro foi o mais brasileiro visto no desfile, tendo a escultura de um indígena com uma bandeira do Brasil no rosto, mostrando que pode se unir.
Fantasias
MocidadeUnidaMooca2025 16
Fotos: Fábio Martins
As vestimentas da escola foram adequadas ao enredo. Não houve requinte nos materiais, mas a agremiação da zona leste passou o suficiente para o que as estratégias do Acesso 1 pede. Também nãp havia peso, e isso permitiu todos desfilarem soltos.
Harmonia
O samba de 2025 da MUM tem uma melodia combativa e pegou com a comunidade. Os componentes da escola repetiram o sucesso dos ensaios técnicos e ‘gritaram’ o samba-enredo da agremiação. O canto da Mooca foi um dos destaques do desfile e a comunidade merece atenção especial neste quesito, pois juntando os três grupos, talvez seja a escola que melhor cantou.
Samba-enredo
MocidadeUnidaMooca2025 InterpreteEmersonDias
Fotos: Fábio Martins
O carro de som, liderado pelos intérpretes Emerson Dias e Gui Cruz, conduziram o samba-enredo com um grande desempenho. Se a escola teve destaque no canto e evolução, se, dúvidas dá para colocar na conta dos cantores e apoios. Emerson Dias estreou com o pé direito e o Gui Cruz, na sua volta, fez um belo complemento ao renomado intérprete carioca.
MocidadeUnidaMooca2025 InterpreteGuiCruz
Fotos: Fábio Martins
Evolução
O andamento do desfile no início chamou atenção pela demora. Não houve erro, mas foi sentido que a escola esteve bastante parada na concentração. Entretanto, na pista, a evolução foi satisfatória. Os componentes desfilaram de acordo com o ritmo do samba e da bateria, ou seja, em uma pegada forte. Como citado na harmonia, os integrantes ‘gritaram’ a obra e, assim, as expressões corporais acompanharam este fato.
MocidadeUnidaMooca2025 14
Fotos: Fábio Martins
Outros destaques
A bateria “Chapa Quente”, vestida de “Marets – Espíritos Ancestrais”, teve ótimo desempenho ao lado dos intérpretes Emerson Dias e Gui Cruz. A batucada realizou bossas ao longo da avenida, além de pontos estratégicos. Destaque para a participação dos repiques, que se sobressaíram nos ‘breques’.
A ala das baianas dançou como “Watu – O Senhor Rio Doce”.

Quarto carro da UPM relembra exílio forçado de Iyá Nassô e provoca debate sobre intolerância religiosa

A Unidos de Padre Miguel desfilou na noite desse domingo na Marquês de Sapucaí com o enredo “Egbé Iyá Nassô”, sobre aquela que é responsável pela fundação do primeiro terreiro de candomblé do Brasil, em Salvador, na Bahia. O quarto carro da escola relembrou a imposição do exílio à sacerdotisa após a Revolta dos Malês, composta majoritariamente por escravizados muçulmanos.

carro 4 upm

 

“Durante a Revolta dos Malês, Iyá Nassô se oferece como moeda de troca para que não perseguissem os seguidores de seu terreiro. Ela volta para a África, cumprindo a promessa dela. Tem uma encenação na próxima ala dessa luta entre os soldados e os Malês e no carro também. Nós temos uma escultura da Iyá Nassô, abraçando seus filhos, representando toda essa acolhida que ela fez, essa coisa afetiva de mãe que ela era. Ela era uma líder política também, uma mulher à frente de seu tempo”, explicou o integrante da equipe de criação do desfile Alex Carvalho, de 25 anos.

Suzel upm

Fundindo a arquitetura islâmica com a estética afro, exibindo escrituras em árabe, o carro foi aprovado pelos desfilantes que nele vieram. Nesse sentido, a professora de educação física e ialorixá Suzel Rodrigues, o advogado Luiz Fernando Silva e o gerente de lojas Tom Garcez refletiram sobre a histórica perseguição às religiões de matriz africana no Brasil.

“Iyá sofreu esse exílio, nessa revolta. Aí ela teve que voltar para a África. Logo depois, ela retornou a Salvador e hoje a gente vem representando ela. O que me chama atenção na estética desse carro é Xangô, é o atabaque. Que o atabaque toca e o orixá responde”, disse Suzel, de 60 anos, há mais de 10 anos na UPM.

“Eu já vi muito enredo bacana nessa escola, mas igual a esse me emocionou. Eu fui iniciado quando morava na Vila Vintém. Eu era um garoto de 12 anos de idade e hoje sou um homem adulto falando da minha religiosidade. Pela primeira vez, um carnavalesco está apresentando na avenida a origem do candomblé no Brasil”, enalteceu Luiz Fernando, de 52 anos, que desfila pela UPM desde 2007.

Tom upm

“Num mundo de tanta intolerância religiosa, você tem um enredo de matriz africana que prega o amor. O amor tem que prevalecer. As pessoas têm que respeitar a fé das outras. Para uns, amém; para outros, axé. Eu sou evangélico. A minha família toda é. Eu tenho muito orgulho de hoje vir cantando Iyá Nassô e dizer não à intolerância religiosa e sim ao amor”, finalizou o gerente de lojas Tom Garcez, de 55 anos de idade e 33 anos de avenida, em sua primeira vez pela UPM.

Samba levanta público em desfile com evolução irretocável da Unidos de São Lucas

A Unidos de São Lucas abriu os desfiles deste domingo pelo Grupo de Acesso 1 de São Paulo no carnaval de 2025. No retorno da escola para a segunda divisão da folia paulistana, o animado samba levantou o público e animou os desfilantes que evoluíram muito bem durante todo o cortejo, encerrado após 55 minutos. A comunidade da Zona Leste se apresentou com o enredo “Ijexá”, assinado pelo carnavalesco Fernando Dias.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

Comissão de Frente 

SaoLucas2025 et ComissaoDeFrente
Foto: Fábio Martins

Coreografada por Jonathan Santos, a comissão de frente da São Lucas foi intitulada “Os Guardiões de Ijexá” e se apresentou ao longo de duas passagens do samba e fez uso de um tripé que representou a “Morada de Exu”. Na apresentação, os componentes mostraram a celebração feita pelos guardiões após vitórias obtidas em batalhas, que ocorria através do ritmo do Ijexá. Os guerreiros fazem oferendas ao protagonista da coreografia, Exu, que abriu os caminhos para que o som dos tambores, tocado em cima do tripé, possam chegar à regente Oxum como forma de gratidão à dádiva concedida por Olorum. A coreografia foi animada e reproduz bem os elementos da proposta, com destaque especial para a irreverente representação de Exu e o momento do batuque de tambores em cima do tripé. O único elemento que preocupa é quanto ao acabamento da própria alegoria, em que uma das duas tiras finas penduradas enroscou com o vento em outras estruturas – causando uma falha de uniformidade.

Mestre-sala e Porta-bandeira

SaoLucas2025 et PrimeiroCasal
Foto: Fábio Martins

O primeiro casal da São Lucas, formado por Erich Sorriso e Victoria Devonne, se apresentou representando o “Rei e Rainha de Ijexá”. O casal cumpriu com todas as obrigatoriedades do quesito com exatidão, realizando uma coreografia animada dentro da proposta do enredo.

Enredo 

O enredo da São Lucas retratou a origem do Ijexá, que é um ritmo africano que nasceu da celebração pelas glórias obtidas em batalhas por guerreiros de um Reino iorubá de mesmo nome, fruto de uma dádiva concedida por Olorum, o Deus da Criação. O Ijexá era entoado com a abertura dos trabalhos através de oferendas a Exu para agradecer à Oxum as vitórias alcançadas. O desfile mostrou como esse ritmo se espalhou por diferentes tribos africanas e se tornou parte de suas culturas, chegando ao Brasil na época da Diáspora Africana e se disseminando pelo país pelas casas de candomblé, ganhando as ruas no carnaval de Salvador através do Afoxé Filhos de Gandhy. O ritmo se tornou patrimônio nacional por conta da sua capacidade de se espalhar por diferentes culturas, sendo executado em festas por todo país, desde o maracatu de Pernambuco até o Bumba-Meu-Boi do Maranhão. Um enredo de leitura muito fácil por todas as alegorias e fantasias do desfile da escola ao longo da Avenida, com riqueza de detalhes contribuindo para uma transmissão cultural satisfatória. Certamente um dos pontos positivos do desfile da São Lucas.

SaoLucas2025 et 9
Foto: Fábio Martins

Alegorias 

A São Lucas apresentou um conjunto alegórico formado por três carros e um tripé, que veio no começo do desfile chamado “Ijexá em Monumento”. O Abre-alas, intitulado “Templo Natural de Oxum”, faz referência uma floresta localizada na África que se tornou um templo simbólico dos Reinos que existiram na época para o culto à Orixá, onde o ritmo do Ijexá era tocado nos rituais.

SaoLucas2025 et AbreAlas
Foto: Fábio Martins

O segundo carro representou o “Cortejo Preto em Salvador”, mostrando como os africanos trazidos ao Brasil na Diáspora usavam dos festejos cristãos para celebrar a própria fé através do Ijexá. A última alegoria, “Movimento multicultural”, exaltou as diferentes manifestações culturais que incorporaram o ritmo em suas danças, além dos grandes artistas que compuseram músicas embaladas pelo Ijexá. A representação dos elementos propostos na Avenida contribuíram para a narrativa do desfile com exatidão, mas algumas irregularidades de acabamento observadas podem levar os jurados a interpretarem como falhas.

Fantasias  

SaoLucas2025 et 15
Foto: Fábio Martins

As fantasias da São Lucas se encarregaram de conduzir a narrativa do enredo entre as propostas das alegorias. O primeiro setor focou em vestimentas representando a cultura africana e suas tribos, enquanto no segundo setor as referências foram da chegada dos povos africanos ao Brasil e a influência do ritmo nos festejos de Salvador, e o último setor, a parte com mais alas do desfile, celebrou as diferentes culturas brasileiras que incorporaram o Ijexá. A leitura das fantasias dentro do enredo foi muito fácil, enriquecendo a contribuição cultural do desfile da São Lucas, mas as falhas de acabamento observadas pelas alas, principalmente da primeira, que soltou muitas tiras finas pela pista, podem prejudicar a avaliação do quesito.

Harmonia 

O canto da comunidade da São Lucas foi outro ponto positivo do desfile. As alas estavam cantando muito animadas, embaladas pelo bom samba da escola. Os componentes do terceiro setor estavam especialmente animados, aferindo uma notável crescente por toda a Avenida. Atuação clássica do canto forte das escolas da Zona Leste.

Samba-enredo 

SaoLucas2025 et InterpreteTucaMaia
Foto: Fábio Martins

A obra que conduziu o desfile da São Lucas é assinada por Bruno Leite e Ricardinho Olaria, e na Avenida o samba foi defendido pelo intérprete Tuca Maia. As passagens da letra são bem claras em dividir o desfile em três diferentes setores através da primeira parte, refrão do meio e segunda do samba. Na Avenida, o samba teve um grande desempenho, favorecido pela qualidade do conjunto da obra e a interpretação de alto nível da ala musical liderada por Tuca Maia, conseguindo levantar o público logo no primeiro desfile da noite. Mais um ponto positivo do desfile da escola.

Evolução 

SaoLucas2025 et 13
Foto: Fábio Martins

Tecnicamente falando, a São Lucas teve um desempenho irretocável. A fluidez pela Avenida foi constante, com um recuo de bateria bem-executado e com liberdade para os desfilantes brincarem o carnaval pelas alas. O fechar dos portões aos 55 minutos, exato meio-termo entre tempo mínimo e máximo de desfile, apenas crava quão boa foi a evolução da escola no desfile.

Outros destaques 

Fantasiados em referência ao Afoxé Filhos de Gandhy, os ritmistas da “Bateria USL” trouxeram no desfile uma pegada digna do ritmo africano difundido pelo Brasil através do Ijexá. A rainha Pepita também embalou o público demonstrando muito samba no pé.

Mocidade Unida da Mooca 2025: galeria de fotos do desfile

Sob cuidados de Cahê Rodrigues, Amazônia é o tema da decoração do Camarote King neste Carnaval

O carnavalesco Cahê Rodrigues é o responsável por assinar a decoração do Camarote King em 2025. Neste ano, o espaço tem como tema a maior floresta do mundo: a Amazônia.

Todos os detalhes, da decoração à culinária, foram cuidadosamente pensados pela equipe. Logo na entrada, a riqueza de plantas e a escultura de um indígena dão luz ao DNA e à diversidade cultural brasileira. Cahê explicou como surgiu o convite para desenvolver o trabalho.

cahe king

“Quem conhece a minha história com o King sabe a relação de amizade que tenho com a família. Eles sabem do meu envolvimento com o festival de Parintins. Existia um projeto criado por uma outra equipe e fui chamado para trazer isso à realidade. Conseguimos encontrar caminhos práticos para trazer o cliente para dentro desse conceito da Amazônia – do verde, da planta, do som e dos bichos. Acredito que conseguimos apresentar um trabalho de qualidade, desde a entrada com esse índio lindo e a natureza linda”, contou o carnavalesco.

O artista também destacou os pontos que mais gostou no projeto de 2025. Logo na entrada, uma diversidade de plantas compõe a parede externa do camarote. Cahê assina a decoração do tradicional trono do King desde 2018. Neste ano, o assento ganhou a escultura de duas araras azuis, que dão ênfase à fauna amazônica.

“Gosto muito da abertura. Ela está muito impactante com esse índio em cima acompanhado do painel de led de fundo, já trazendo essa riqueza da Amazônia. A entrada do camarote já é um convite para essa imersão que você vai viver aqui dentro do camarote”, explicou.

Ao todo, são 2.600 metros quadrados de camarote, com três andares climatizados e 100% de acessibilidade. Cerca de 2.500 foliões marcam presença em cada um dos seis dias de desfiles na Passarela do Samba.

karen king

E a decoração não é a única novidade do King no Carnaval de 2025. A empresária e apresentadora Karen Lopes, de 46 anos, é a nova musa do camarote. Apaixonada pela folia, ela é musa da Grande Rio há nove anos. Frequentadora assídua do King, ficou encantada com a inclusão e a acessibilidade do espaço no carnaval deste ano.

Me sinto honrada, porque sou ‘40 mais’, não sou mais uma garotinha. Estar aqui, onde muitas meninas mais novas já estiveram, é um prazer. Foi um presente. Eu frequento o camarote do King desde sempre. Para mim, realmente, é o melhor camarote da Sapucaí. Aqui, você tem autoatendimento, é bem tratado, a comida é maravilhosa e a limpeza é feita o tempo inteiro. O projeto de acessibilidade também está incrível. É um ambiente familiar”, comentou Karen.

Além de ser conhecida como musa, Karen viralizou nas redes sociais no início do ano devido à semelhança com a rainha de bateria do Salgueiro, Viviane Araújo. Apesar de discordar, ela fica feliz com a comparação.

“Foi muito louco. A Viviane é um ícone no nosso Carnaval. É uma mulher guerreira, que está há anos no Carnaval e que passa na Avenida transmitindo toda uma energia para essa galera. Eu me sinto super lisonjeada, porque, realmente, ela é a rainha das rainhas. Mas, particularmente, não me acho parecida com ela. Mas é um privilégio, porque sou super fã e acho a Viviane maravilhosa”, afirmou.

Abre-alas da UPM celebra a força de Iyá Nassô e da religiosidade de matriz africana

A Unidos de Padre Miguel foi a primeira escola a se apresentar na noite desse domingo, inaugurando o Grupo Especial. A escola, que ganhou a segunda divisão da disputa em 2024, obtendo acesso à competição principal em 2025, homenageou a sacerdotisa do candomblé Iyá Nassô, responsável pela fundação do primeiro terreiro no Brasil, em Salvador.

“A Iyá Nassô é responsável por trazer o candomblé da África, uma das três. Ela fundou a primeira casa de candomblé no Brasil, lá na Barroquinha, na Casa Branca. A gente também traz essa questão de hoje a Vila Vintém ser um terreiro, uma terra de macumbeiro, como o próprio samba fala. Como esse candomblé que ela funda gera frutos, raízes por todo o Brasil, hoje também a Vila Vintém é um terreiro, uma descendência dessa casa branca fundada lá na Bahia”, disse o integrante da equipe de criação carnavalesca Alex Carvalho, de 25 anos.

Alex Carvalho

Todo em dourado, com detalhes em marrom e vermelho, o carro abre-alas da escola trouxe, de forma imponente, a representatividade da religião de matriz africana para a avenida.

“O abre-alas representa o reino de Oyó. Ele traz toda essa imponência de Xangô, com muitos machados, leões, muito dourado, com cores quentes, muita palha, do jeito que Xangô merece ser representado, tendo toda essa ancestralidade africana na sua estética”, comentou Alex.

“O boi vermelho, símbolo da escola, traz imponência pela primeira vez com o corpo todo. Ele sempre veio só com a cabeça, agora ele vem com a cabeça e o corpo. O nosso objetivo é tocar o torcedor da União de Padre Miguel com essa o movimento. Ele vai sair fumaça, o efeito especial para que a gente possa conquistar o torcedor, o jurado e toda a Marquês de Sapucaí”, complementou.

A proposta do abre-alas foi abraçada pela comunidade da vermelho e branco da Vila Vintém. Destaques do carro relataram ao CARNAVALESCO a emoção de desfilar na primeira alegoria da escola.

“O abre-alas representa a riqueza do reino de Xangô. Cada um de nós estamos representando os guardiões e toda a riqueza do reino. Você vê em tons dourado aqui no carro a realeza, a riqueza. Eu, que não sou pertencente às religiões de matriz africana, acho interessante essa questão do enredo e da constituição também do nosso povo brasileiro. Diversas culturas fizeram crescer todo o nosso país”, defendeu o engenheiro e arquiteto Luiz Antônio Almeida, de 51 anos, em sua trceira vez na UPM.

Luiz Antonio

“O abre-alas é a cabeça da escola, mostra força, mostra energia, para o que que ela veio. Somos 12 homens, 12 negros, 12 xangôs. A UPM está com muita garra, muita vontade desse ano porque é o ano que finalmente subimos para o Grupo Especial”, compartilhou o cabeleireiro e maquiador Robertto Elias, de 38 anos, que desfila há seis na UPM.

Robertto

“É muito emocionante, é uma honra vir num carro tão importante para escola e representar a realeza de Xangô. É muito especial para mim, que venho pela primeira vez na escola, ter uma representatividade tão grande num carro tão importante que é o abre-alas. Eu desejo toda a felicidade dentro da Sapucaí, que a gente possa brincar, se divertir e que a UPM faça um ótimo desfile. Eu não tenho dúvidas que ela vai fazer”, finalizou a administradora Mariana Santana, de 33 anos.

Mariana

Ala Sociedade Secreta: espiritualidade e resistência no desfile da UPM

O enredo da UPM narra a fundação do terreiro Casa Branca do Engenho Velho, considerado o primeiro terreiro de candomblé Ketú no Brasil. Surgido na primeira metade do século XIX, durante a escravização, ele foi palco de diversas táticas de resistência contra a intolerância religiosa.

Sobre essas táticas de resistência, a ala 9, chamada “Sociedades Secretas” apresentou em suas fantasias adornadas em palhas e tons terrosos, dando a essência de grupos que cobriam os ritos religiosos afro brasileiros com seus mantos de resistência e espiritualidade. Na fantasia, o manto é representado por asas de fé em tons terrosos, cujas sociedades secretas eram guardiãs de negras e negros escravizados, oferecendo-lhes refúgio espiritual, resistência e proteção contra todas as adversidades.

Torcedora da escola e cria da comunidade, Raiane Silva está há mais de dez anos na escola e muito emocionada em estar presente na volta da UPM no Grupo Especial.

“É uma emoção muito grande, porque a gente veio lá do acesso por anos, sempre batendo na trave, e agora estamos desfilando de novo no especial, que é algo muito importante para a gente. A minha ala se chama Sociedade Secreta, que fala de resistência, ajuda mútua entre os negros na época da escravização, tem uma mensagem muito forte e muito importante para nós mesmos e para o nosso conhecimento”, disse a professora de 28 anos, que desfila há 12 pela escola.

image0 1

Em família, a mãe de Raiana falou da influência religiosa que a fantasia da ala apresenta.

“Desfilo há mais de dez anos e nossa, a emoção é muito grande porque nesses dez anos a gente vem batendo na trave muitas vezes e quando a gente conseguiu subir, foi uma emoção muito grande, muito grande mesmo. Ainda mais com essa fantasia grandona, representando toda emoção e grandiosidade da UPM. Com esse enredo perfeito que fala da nossa ancestralidade, a gente que é do candomblé vemos que a escola vem falando da nossa história mesmo. Vila Vintém é terra de macumbeiro”, disse Flávia dos Santos, costureira de 49 anos.

image2 1

Vindo no terceiro setor, chamado “Candomblé da Barroquinha”, a ala simbolizou homens e mulheres pertencentes a sociedades secretas, que além de ajudar Iyá Nassô na perseverança do candomblé, moldaram a história religiosa e política baiana da época.

“Tudo isso aqui é muito especial e muito importante, porque após muitos anos que a UPM vem tentando, finalmente consegue adquirir o lugar no especial, o lugar merecido. E estou muito ansioso, porque ela promete muito, ela se empenhou muito para estar no lugar onde ela está. E eu acho que ela vai entregar um belo desfile. Ainda mais com essa fantasia incrível. Perfeita em todos os detalhes, somos a Sociedade Secreta. É a ala dos Refugiados, que fugiram das revoltas, que fugiram da monarquia inglesa, se encaixando muito bem no enredo, que é bem interessante, traz uma proposta bem diferente, e é pura macumba, puro suco de macumba, então vem muita coisa boa”, declarou o promotor de vendas Gabriel Alves, de 20 anos, morador de Bangu que estreou na UPM.

image3 2

A ala “Sociedade Secreta” não apenas encantou pela riqueza dos detalhes em suas fantasias, mas também trouxe à avenida a força da resistência e da ancestralidade. O enredo da UPM resgata a história de luta do candomblé, reforçando sua importância cultural e espiritual. A volta ao Grupo Especial marcou não só um triunfo da escola, mas também a celebração da tradição afro-brasileira

Guardiãs Ílarìs: A ancestralidade das baianas da UPM brilha na Avenida

A ala das baianas da Unidos de Padre Miguel abriu o desfile do Boi da Zona Oeste neste domingo. A escola trouxe o enredo “Egbé Iyá Nassô”, que narra a trajetória de perseverança e bravura de Iyá Nassô, fundadora do primeiro terreiro de candomblé Ketú no Brasil. Para homenagear essa grande líder religiosa, a UPM escolheu a ala mais maternal do carnaval: as baianas, representantes de mulheres fortes de axé.

Chamada de “Guardiãs Ílarìs”, a ala representou as cuidadoras, guardiãs, servas, guerreiras do Império de Oyó, berço de Iyá Nassô, a grande homenageada do enredo! As Ílarìs eram aquelas que prestavam todos os serviços no Reino.

Para a candomblecista Jussara Alves, de 64 anos e descendente de Iyá Nassô na linhagem da religião, a emoção é imensa. Pois, estreando como baiana no carnaval, ela descobriu depois de entrar na ala, que o enredo seria sobre sua casa matriz do candomblé, a Casa Branca do Engenho Velho e sua matriarca.

“Não consigo não me emocionar em estar nessa homenagem a minha avó de santo, Iyá Nassô, a primeira Oxum da Bahia, sou das águas do Engenho Velho da Casa Branca, sou filha de santo de Luciano de Xangô,  de Duque de Caxias e tem muita gente da minha nação do meu axé, que eu não fui apresentada, mas eu sei que eles estão aqui lá na avenida para poder abrir o Carnaval da UPM, então é a minha raiz na Sapucaí. Eu gosto da escola porque eu tive um namorado que ele desfilava na UPM, mas nunca tive a oportunidade de desfilar. Esse ano eu já ia desfilar antes, mas quando eu soube do enredo, eu gostei mais ainda, pois vem falando do meu axé. Eu tenho muito orgulho da minha religião, tenho muito orgulho de ser candomblecista, tenho muito orgulho de ser de axé. Sou uma mulher de Ogum e meu pai Xangô e meu pai Oxalá me dão tudo que eu preciso, então nada mais justo do que eu desfilar hoje os homenageando”, disse Jussara Alves, técnica de enfermagem com lágrimas nos olhos ao falar de sua fé e devoção.

image4 1

Desfilando há mais de dez anos como baiana pela Unidos de Padre Miguel, a Jaqueline Duarte, é só sorrisos ao estar presente na volta da escola para o Grupo Especial.

“Estar com a minha escola é uma honra sempre, ainda mais na tão sonhada volta ao Grupo Especial. É uma emoção muito grande, ainda mais com esse enredo tão potente, mesmo eu não sabendo muito sobre essas questões religiosas, sei que é muito importante falar disso. A nossa fantasia é linda, vamos representar grandes mulheres guerreiras, que é o que as baianas são”, afirmou Jaqueline, de 29 anos.

image6 1

“Sou baiana há 25 anos, cinco só na UPM. Que além de nos dar esse presente lindo de fantasia, nos deu a oportunidade de abrir o desfile dela como primeira ala. Nós somos uma ala de pessoas mais velhas, então é importante ter a ancestralidade das mulheres da UPM abrindo essa homenagem, a gente vem com muita garra, independente de idade, a gente está aqui pelo amor ao nosso pavilhão”, disse a enfermeira Ironita Velásquez, de 62 anos.

image2

“Voltar ao Grupo Especial é um sonho que todo mundo espera por esses anos todos, isso é um sonho de anos e anos E hoje estamos concluindo esse sonho. Hoje temos a responsabilidade de abrir a nossa escola e mostrar na avenida para o público o que é esse sonho de estar aqui e representar essa figura maravilhosa que foi Iyá Nassô”, contou a professora Rosane Neves, de 62 anos.

image3 1

A mineira Isabela Nunes, que torce para a Vila Isabel, foi convidada para ser baiana também na UPM esse ano e não resistiu ao convite.

“Foi um convite irrecusável, sou baiana da Vila Isabel, mas estar aqui com a UPM neste momento tão importante para ela é muito emocionante. Não entendo muito bem o assunto do enredo, mas é a cara da escola e extremamente necessário falar de religião nesse país tão intolerante”, disse a auxiliar administrativa de 40 anos.

image11 1

Com isso, as baianas representaram a importância das mulheres no Palácio de Oyó. E falando em importância é impossível não falar do quão importante é a volta da UPM ao Grupo Especial e da relevância das tradicionais baianas, mulheres anciãs e grandes mães das escolas de samba, abrirem esse desfile tão feminino, empoderado e maternal.