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Freddy Ferreira analisa a bateria da Mocidade no Carnaval 2025

Um grande desfile da bateria “Não Existe Mais Quente” (NEMQ) da Mocidade Independente de Padre Miguel, sob o comando de mestre Dudu. Um ritmo equilibrado, cadenciado e com ótima fluência entre os naipes foi exibido. Impressionante a adesão popular ao conjunto de bossas musicais da bateria da Estrela Guia. Uma sonoridade bastante identitária foi produzida, com características inegavelmente genuínas.

Na cozinha da bateria da verde e branca da zona oeste, uma tradicional afinação invertida de surdos foi percebida. Marcadores de primeira e segunda tocaram de forma segura. O balanço inconfundível dos surdos de terceira teve destaque entre os graves. Repiques de imensa técnica musical tocaram juntos de um naipe de caixas de guerra ressonante, com sua autêntica batida com acentuação na mão fraca, com sua levada clássica.

Na cabeça da bateria “NEMQ”, uma ala de tamborins de imensa virtude musical executou uma convenção bem construída, seguindo as acentuações do melodioso samba independente. Um naipe de chocalhos cascavel bastante técnico deu brilho à sonoridade das peças leves. Assim como cuícas seguras auxiliaram na musicalidade da parte da frente do ritmo. Agogôs de duas campanas (bocas) deram bom balanço com seu toque contínuo, adicionando um tilintar metálico a uma bateria com emissão de frequência sonora mais puxada para o timbre grave.

Um conjunto de bossas bastante musical e dançante foi apresentado. Todas levando em conta as variações melódicas da obra para consolidar o ritmo. A construção bem elaborada da cabeça do samba exibiu uma musicalidade destacada, sendo bem recebida pela plateia. Levando o público ao delírio, antes desse arranjo mestre Dudu zerava a bateria deixando o estribilho sendo cantado em coro por desfilantes e presentes. Um leque de bossas que de tão eficiente, simplesmente levantou a Avenida por onde passou.

Um desfile grandioso da bateria “NEMQ” da Mocidade Independente, dirigida por mestre Dudu. Um ritmo autêntico, tradicional e com bossas que caíram no gosto popular foi exibido. Muito bonita a recepção calorosa do público a histórica bateria da Mocidade nos setores finais da Sapucaí. A apresentação do último módulo ganhou contornos apoteóticos, com direito a aplausos sincopados dos presentes, além de uma ovação popular tocante após um desfile certamente capaz de lavar a alma de diretores e ritmistas.

Portela Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Grande Rio Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Paraíso do Tuiuti Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Maria, Maria… É preciso ter sonho sempre: a força feminina e a ancestralidade na Ala das Baianas da Portela

A Portela trouxe um enredo emocionante, homenageando Milton Nascimento e sua icônica canção Maria, Maria, que celebra a força e a resiliência das mulheres. A ala das baianas, um dos pilares da escola, traduziu essa homenagem em cores, símbolos e histórias que reforçam a ancestralidade, a coletividade e a espiritualidade feminina.

Giane Carla, de 59 anos, presidente da ala há 25 anos, nasceu e cresceu dentro da Portela. Para ela, a ala das baianas é a materialização da força da mulher cantada por Milton. “A fantasia carrega elementos religiosos como véus, ostensórios e estandartes, que representam a fé e a espiritualidade das mulheres. O catolicismo, o espiritismo, a crença em algo maior está presente em cada detalhe”, explicou. As saias das baianas estamparam fotos das mulheres que compõem a ala. “É uma forma de honrar aquelas que vieram antes de nós e mostrar que somos parte de uma grande família”, disse Giane, emocionada ao falar do legado familiar que carrega. Sua madrinha foi cunhada de Paulo da Portela, e sua mãe era passista. “A [ala da] baiana é minha história, minha vida”, completou.

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Luciana Divina, 52 anos, desfila há 40 anos como baiana e há 5 na Portela, compartilha da mesma emoção. Para ela, a música Maria, Maria é um retrato das mulheres da ala. “Somos mães, filhas, tias, sobrinhas, cada uma com sua história de luta e superação. Renascemos todos os dias, nos reinventamos, e isso é o que nos torna fortes”, afirmou. Os elementos religiosos nas fantasias, como os véus e estandartes, simbolizam a fé e a esperança que movem essas mulheres. “Acreditamos que sempre vai melhorar, que o amor vai vencer. Maria, da Bíblia, foi uma mulher simples, mas fez a diferença. Assim somos nós, as Marias da Portela”, disse Luciana.

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A presença das fotos das mulheres nas fantasias é um dos pontos mais marcantes da homenagem. Luciana foi uma das baianas homenageadas na fantasia. “Desfilar com a minha foto na fantasia é uma honra. Minhas colegas também carregam as fotos de outras mulheres da ala. É uma representatividade pura, um reconhecimento da nossa luta e da nossa história”, comentou Luciana. Essa conexão com o enredo de Milton Nascimento é ainda mais profunda pela gestão da ala, que passa de geração em geração. Giane Carla, que herdou o cargo de sua madrinha, já pensa no futuro: “Quando eu não puder mais, minha filha ou neta estará aqui. A Portela é uma escola família, uma escola de mulheres fortes”.

A ala das baianas da Portela é um símbolo de resistência, fé e união. Neste Carnaval, elas mostraram ao mundo que, como na canção de Milton, é preciso ter sonho sempre. E, para as Marias da Portela, o sonho é manter viva a chama da ancestralidade, da coletividade e da força feminina.

Mocidade Independente Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Força, Magia e Santa Maldita Euforia, Ala dos Passistas da Portela retrata a chegada da exuberância negra à romaria em desfile que homenageia Milton Nascimento

A ala dos passistas da Portela, sob a supervisão de Nilce Fran, é um exemplo claro de como a dança vai além do entretenimento. Ela carrega consigo um significado profundo, refletindo a força ancestral dos negros, a resiliência dos passistas e a celebração da cultura afro-brasileira. O trabalho de Nilce Fran é, sem dúvida, fundamental para a construção dessa narrativa que se reflete nas coreografias e nos movimentos dos passistas. A conexão com as origens da cultura negra e a homenagem a artistas que representam esse universo tornam a ala um verdadeiro ato de resistência e afirmação cultural.

‘’Esse enredo de Milton Nascimento, ele  funcionou desde que ele foi apresentado. Nós estamos falando aqui do povo preto, do povo de luta, de um homem próspero, que lutou e que conseguiu. A proposta da Portela em 2025 é realmente fortalecer a nossa fé, fortalecer a nossa luta, mostrar essa trajetória e que como diz o samba, quem acredita na vida, não deixa de amar, só o amor constrói e que nós podemos com força, com energia positiva, espiritualidade, nós podemos’’, declara Nilce.

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No contexto da Portela, a ala é mais do que um espetáculo visual, é uma forma de exaltar a ancestralidade negra, resgatar suas origens e, ao mesmo tempo, celebrar a modernidade do samba com movimento que faz referência a uma luta contínua e transformadora.

‘’Os negros eles dançavam para expressar alegria e a dança do samba é isso. A dança do samba é um ato de amor, de expressão, de energia e força. É muito importante. Eu sou passista e coordeno há 25 anos a ala de passista da Portela, mas sempre fui passista, sambista, mulata e a energia do samba fortalece a nossa alma. E o orgulho da cultura negra nessa folia, o carnaval, os desfiles de escola de samba, nesse cenário grandioso no maior espetáculo a céu aberto do Planeta, nós somos o que queremos’’, diz a coordenadora da ala de passistas da Portela.

Nilce Fran, que é responsável pela coordenação da ala, tem se dedicado a transmitir aos passistas a importância dessa conexão com a cultura negra. Para ela, a dança vai muito além da técnica: é um resgate de uma memória histórica e um compromisso com a preservação da herança cultural dos negros no Brasil.

‘’A ala de passista na Portela se conecta com o enredo o ano todo, a gente tem uma coordenadora que faz a gente estudar sobre o enredo, faz a gente cantar o samba porque é muito bom. Nós, não só sambamos, mas também sabemos aquilo que a escola está falando e eu acho que essa conexão da escola com o enredo, do passista com o enredo vai ser muito bom para trazer o nosso título para a Madureira e o Oswaldo Cruz’’ diz João, mais conhecido como João Sorriso, passista da Portela há 6 anos

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‘’O segmento passista é de resistência que até hoje a gente luta por tanta coisa e raça também porque a gente luta bastante, a gente ensaia muitos compromissos com a Portela e eu acho que se junta mesmo, a raça com a resistência e cabe muito com o que nós viemos representar hoje com a nossa fantasia. E quando a emoção de desfilar levando a euforia, o orgulho da cultura negra na Sapucaí. A emoção é muito grande, falar de Milton tem sido muito importante e muito significativo, vai ser um desfile belíssimo, a gente vai chegar trazendo a euforia, trazendo a raça, trazendo a samba no pé e trazer esse título’’, afirma Juliana Antunes, de 32 anos, auxiliar administrativo passista da ala da Portela há 7 anos.

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A ala dos passistas prestou uma homenagem emocionante a dois ícones da cultura negra brasileira: Clementina de Jesus e Grande Otelo. Clementina, com sua voz inconfundível, é uma referência do samba e da música popular brasileira, e sua história é um exemplo de resistência no cenário musical, dominado por homens e brancos. Grande Otelo, foi um dos maiores artistas do cinema nacional, um negro talentoso que quebrou barreiras e se fez presente no imaginário popular, trazendo um protagonismo muitas vezes negado aos negros na história do Brasil.

‘’Nós estamos aqui para isso, para através de Milton Nascimento, esse gênio, esse mago da arte e da cultura. Através dele, nós estamos mostrando ao mundo essa força e como não trazer nomes como Grande Otelo, Clementina, Ivone Lara e tantos outros nomes? Eu que sou dessa geração, cresci e vi as coisas acontecerem e tenho certeza de que quando se trouxe todos esses nomes, foi para dizer que, estamos de mãos dadas, construímos essa história e vamos sempre fazer parte dela de sermos reverenciados’’, relata a coordenadora Nilce.

Os passistas, com seus passos marcantes, não apenas recriaram os ritmos e a energia do samba, mas também trouxeram para o sambódromo o espírito e a luta desses artistas. Clementina e Grande Otelo, através da homenagem na dança, se tornaram símbolos da resistência negra no palco da Portela, sendo lembrados por sua contribuição para o fortalecimento da cultura afro-brasileira.

A passista Mara Oliveira,  que desfila na escola há 6 anos e também é professora de samba, diz que ‘’é mais um grande nome, mais um ano que a gente está levando uma grande história e sempre parece que é o primeiro desfile, é sempre a mesma emoção. Eu costumo dizer que eu estou vivendo meu sonho, ainda nos tempos de hoje, apesar de ter bastante tempo de ala, eu ainda estou vivendo o meu sonho e  parece sempre que é a primeira vez’’.

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O figurino dos passistas é em referência a elementos africanos para simbolizar os corpos negros que começavam a se juntar à procissão. Palhas, búzios, contas e outros materiais fazem parte da fantasia.

A ala dos passistas da Portela, sob a liderança de Nilce Fran, segue firmemente com a missão de transmitir, através da dança, a força e a beleza da cultura negra. Eles são, em sua essência, a personificação da resistência e da celebração da negritude, honrando suas raízes e mantendo viva a chama da ancestralidade.

 

Segundo carro da Grande Rio explora a fertilidade e a potência criadora dos igapós

A Grande Rio foi a terceira escola a se apresentar na última noite de desfiles do Grupo Especial carioca, na Marquês de Sapucaí, na madrugada de terça para quarta. Parte do enredo “Pororocas Parawaras – as Águas dos meus Encantos nas Contas dos Curimbós”, a segunda alegoria, denominada “Quem é de Barro, no Igapó, é Caruana”, representou as áreas alagadas da Floresta Amazônica. O carro reverenciou a pajelança paraense, na qual o manguezal é cultuado como símbolo de vida e fertilidade, ao mesmo tempo que explorou o barro enquanto matéria-prima da cerâmica local.

“Eu sou candomblecista, então para mim essa questão da origem do barro já começa do princípio, porque minha religião acredita que nós fomos também feitos do barro. Várias culturas têm essa questão da vida através do barro, de sermos moldados, de ganharmos o sopro da vida. Para mim, é uma honra. É maravilhoso vir num carro como esse”, compartilhou o cabeleireiro Rafael Henrique Mesquita, de 40 anos, dos quais 24 desfilou na Grande Rio.

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“É um simbolismo que faz sentido, a vida vindo do barro, da água, do igapó. É uma coisa boa resgatar isso aí para o resto do país”, disse o engenheiro Charlie Souza, de 50 anos. O Carnaval de 2025 foi o décimo-quinto de Charlie na Grande Rio.

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“Nos ensaios quando eu estava entrando e eu vi subirem as bandeiras do Pará, é uma emoção que eu não sei te descrever. É algo realmente que ultrapassa a nossa consciência. É algo fantástico. Esse segundo carro também fala da cerâmica marajoara. Eu fui nascida e criada no lugar chamado Icoaraci, que tem a Feira do Paracuri, um dos maiores centros de cerâmica marajoara, artesanato marajoara do Pará. Para mim, tem um gostinho ainda mais especial”, dividiu a cirurgiã plástica Jaqueline Rodrigues, de 36 anos, em seu segundo desfile na Grande Rio.

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Em 2025, a Grande Rio contou a história de três princesas turcas que naufragaram em um rio paraense e viraram entidades cultuadas atualmente no tambor de mina, religião afro-indígena praticada no Norte. O enredo foi patrocinado pelo governo do estado do Pará no maior acordo financeiro da história do Carnaval carioca (15 milhões de reais). O governador Helder Barbalho esteve presente.

“O enredo é ótimo. É um enredo muito rico, com muita história para contar, muita riqueza, encantamento. É um enredo que dá muita liberdade para criar, imaginar. É o mais rico que tem entre as escolas aqui presentes”, afirmou Charlie.

“É um enredo que traz muito desse sincretismo religioso, essa miscigenação que a Amazônia tem. A Amazônia não é só a cultura indígena, ela é o caboclo, ela é a mistura do branco com negro, ela é a mistura do branco com o índio. O enredo traz muito disso. Essa lenda das três turcas que são encantadas por vodum e abraçadas nas águas do Pará é o sincretismo. Quem vem do Pará sabe que o Pará é cultura, Pará é riqueza, Pará é uma mistura, é uma coisa linda. O Pará dá tema de samba-enredo para o resto da vida”, enalteceu Jaqueline.

“É um enredo bem inteligente. A escola soube fazer a manipulação desse enredo, soube trazer a riqueza do enredo de uma forma bem simples e de uma forma forte. A gente está aí para ganhar, para competir realmente. A escola tá linda, tá bem explicativa”, pontuou Rafael.

Com um enredo didático e criativo, com alegorias e fantasias bem acabadas, os foliões projetaram um grande desfile, mirando na vitória.

“Todo ano é a mesma emoção: eu choro, não adianta. É minha escola de coração. É uma sensação diferente. A gente vem para dar o nome mesmo, para fazer acontecer. Por amor mesmo a escola”, declarou-se Rafael.

“A expectativa, em primeiro lugar, é que dê tudo certo; que Nossa Senhora de Nazaré abençoe Caxias, abençoe a Grande Rio; que o desfile seja maravilhoso, que ocorra tudo como tem que ocorrer; e que a Grande Rio possa trazer o campeonato para gente”, encerrou Jaqueline.

A águia da Portela: símbolo de fé, paixão e identidade no Carnaval Carioca

A Águia não é apenas o símbolo da Portela, mas uma entidade que guia, protege e inspira a comunidade portelense. Em 2025, a maior campeã do carnaval carioca homenageou o cantor e compositor Milton Nascimento, em uma procissão que celebrou a travessia da vida e a conexão entre a música e a identidade portelense. A Águia, como sempre, abriu o cortejo, levando consigo a fé, a paixão e os sonhos de milhares de componentes rumo ao “altar do sol”.

A Águia como guia espiritual

Para Carla Guedes, de 50 anos, componente da Portela, a Águia é mais do que um símbolo: é a alma portelense materializada. “A Águia mexe com o coração, com a mente, alimenta o nosso amor pela Portela. Quando a vejo, sinto esperança. Ela tem alma. O som que ela emana parece entrar pela minha boca e chegar direto ao coração”, disse ela, emocionada. Carla descreve a Águia como uma “estrela guia”, que conduz os portelenses em sua jornada rumo ao sol, representado por Milton Nascimento. “Ela nos protege, nos orienta e nos leva ao encontro do sol, que é o Milton”, concluiu.

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A força da tradição

Lucks Matheus, de 26 anos, passista da Portela há 18 anos, vê na Águia a força e a identidade da escola. “A Águia é o nosso símbolo maior. Cada detalhe dela representa a nossa força”, afirmou. Para ele, desfilar ao lado da Águia é carregar os anseios do povo portelense até o altar do sol. “É um sentimento fora do normal. Este ano, homenageamos uma pessoa viva, o que torna tudo ainda mais especial. Você sente a emoção de quem está sendo homenageado, e isso é mágico”, declarou.

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A conexão com a identidade portelense

Iaraci Gomes Bastos, de 60 anos, integrante da ala 3, reforça a ideia de que a Águia é o coração da Portela. “A Águia é tudo. É o símbolo que nos une, que nos faz vibrar”, disse ela. Iaraci destaca a conexão entre o cortejo em homenagem a Milton Nascimento e a identidade da escola. “Milton é a cara da Portela. Ele é maravilhoso, excepcional. Quem não gosta dele? Ele representa a nossa fé, a nossa criatividade”, declarou.

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A emoção de desfilar com a Águia

Roberta Sá, cantora e portelense, define a Águia como um símbolo de liberdade e garra. “O povo portelense é um povo de muita paixão, e a Águia representa isso perfeitamente”, afirmou. Para ela, homenagear Milton Nascimento em um desfile da Portela é unir duas paixões da música brasileira. “Milton é um patrimônio cultural, assim como a Portela. Juntar essas duas forças é algo histórico, que representa a fé e a criatividade do povo brasileiro”, afirmou.

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A jornada rumo ao Sol

O desfile da Portela em 2025 foi uma celebração da vida, da música e da identidade portelense. A Águia, como sempre, lidera o cortejo, guiando os componentes em sua travessia rumo ao sol. Para os portelenses, a Águia não é apenas um símbolo, mas uma presença viva que inspira, protege e conduz.

A emoção foi unânime. “É vontade de chorar, de sorrir, de gritar ‘Milton, a gente tá chegando!'”, disse Carla Guedes. “Madureira está chegando para colocar Milton no trono, para dizer que ele é o sol”, concluiu. E, enquanto a Águia sobrevoou a avenida, o coração de cada portelense bateu mais forte, celebrando a fé, a paixão e a identidade que os une.

Ala de Passistas do Paraíso do Tuiuti adota figurino agênero e celebra a inclusão no Carnaval

No Carnaval de 2025, uma das grandes inovações da escola de samba foi a criação de figurinos agêneros para sua ala de passistas. A ideia foi ousada e desafiou as normas tradicionais, ao apresentar um figurino único e sem distinções entre passistas masculinos e femininos. O conceito por trás dessa escolha não é apenas estético, mas também uma poderosa mensagem de inclusão e igualdade de gênero.

‘’Eu gostei da ideia, entra também dentro do enredo da história, creio que para te  todas as pessoas terem a consciência e mesmo não fazendo parte da bandeira, é importante apoiar e dar força a essa bandeira e as situações que infelizmente as pessoas trans passam, sobre essa parte triste, mas a gente vai estar entrando aqui na avenida com toda força de Xica Manicongo, esse encanto’’, diz o ator e passista da agremiação, Vitor Marcelo, de 21 anos.

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Para os passistas, a experiência de vestir um figurino sem gênero foi uma verdadeira quebra de paradigmas. Diversos membros da ala destacaram como a roupa trouxe não só conforto, mas também uma sensação de empoderamento, já que não havia mais a expectativa de se alinhar a um modelo de beleza ou comportamento preestabelecido.

“Me surpreendeu! É bem colorida trazendo muita diversidade, achei leve e a gente vem mostrando um colorido, mostrando o quanto Xica é colorida’’, declara Marcela, de 16 anos e componente do Paraíso do Tuiuti há 5 anos.

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Já a passista veterana, considera que o figurino agênero representa uma mudança necessária. “Eu achei ela maravilhosa, super confortável. Adorei muito as cores, estão belíssimas. Está muito linda e não tem que distinguir as coisas, está muito bonita, é o que a gente pediu’’, afirma Soraia, de 40 anos, e está de volta como passista da escola há 2 anos.

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O figurino das passistas intitulado de ‘’Caboclada’’, remete à Xica enjuremada, quando conheceu a ancestralidade indígenas e conheceu com os caboclos e caboclas a ciência das folhas sagradas, sendo idealizado para ser agênero. Em tons vibrantes de azul, amarelo, laranja e verde, é revestido de penas nos braços, miçangas no pescoço e a cabeça com flores azuis nas laterais.

O enredo da escola de samba deste ano, que aborda a liberdade de expressão, o respeito às diferenças e a luta contra os preconceitos, se encaixa perfeitamente com a ideia de um figurino agênero. O carnavalesco da escola, Marcos Souza, explica que a escolha do traje reflete o momento atual da sociedade e a necessidade de transformar a festa popular em um espaço mais inclusivo.

A escolha de um figurino agênero, sem dúvida, marca um novo capítulo na história do Carnaval. Em um momento em que questões relacionadas à identidade de gênero ganham cada vez mais relevância, a escola de samba está mostrando que é possível abraçar a diversidade e fazer com que todos se sintam parte da grande festa popular.

‘’Achei uma ideia super legal do carnavalesco. Foi uma criatividade boa dele, a qual o sexo masculino e feminino pudesse estar bem representado e ninguém se sentir menosprezado porque hoje em dia no mundo que a gente vive, a gente LGBT, a gente enfrenta muito o preconceito. Por isso eu achei uma ideia bem bacana. Eu fiquei muito feliz com o enredo porque a gente hoje em dia vive em um mundo em que muitas pessoas, na verdade se sentem discriminadas e enfrentam muitas coisas, então foi uma inovação, porque acredito que nenhuma outra escola pudesse estar fazendo nesse enredo e eu tô feliz por isso’’, finaliza Jonathan Silva, de 27 anos, passista da escola.

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