Por Gustavo Lima e Fábio Martins
A Mocidade Alegre definiu no último domingo o samba-enredo para o Carnaval 2024. A escola, que recebeu a final com quatro obras, escolheu o samba 10 como campeão. Com a quadra lotada, todas as torcidas fizeram muita festa e mostraram forte canto nas apresentações, mas o vencedor, que subiu no palco por último, deu um show à parte. A impressão é que a comunidade inteira da ‘Morada’ abraçou a obra e carregou até a vitória. A presidente Solange Cruz anunciou o samba fazendo alguns agradecimentos e, logo após, cantou o primeiro verso do refrão para o intérprete Igor Sorriso dar continuidade junto com a sua ala musical. É uma samba-enredo com característica melódica jogada no alto. Refrões e versos explosivos que não tem como deixar ninguém parado, principalmente o principal, tendo rimas fáceis que, com certeza, causam a facilidade no canto. Fazem parte da parceria os seguintes compositores: Biro Biro, Turko, Gui Cruz, Rafa do Cavaco, Minuetto, João Osasco, Imperial, Maradona, Portuga, Fabio Souza, Daniel Katar e Vitor Gabriel.
Felicidade com o resultado
A presidente Solange Cruz mostrou total contentamento com a escolha feita pela agremiação. “Eu estou muito feliz. Foi o que a escola queria. A gente tem um trabalho muito árduo e é muito ruim fazer duas eliminatórias. Somos acostumados a fazer mais e sou amante disso, mas é uma coisa que não dá mais para fazer tanto. O processo de escolha é totalmente diferente, tem que prestar atenção não só na torcida. Nós temos de ver o que o samba está dizendo ou não. A gente tem uma votação interna quinta-feira aqui onde a ala musical canta os sambas e tem a votação”, explicou.
Solange frisou que sempre que a Mocidade define os seus sambas, há mudanças para se adequar ao que a escola quer. E desta vez não será diferente. A partir desta segunda-feira, a agremiação já irá trabalhar em cima dessas alterações. “Toda vez que ganha um samba a gente faz ajustes. Quando entram os sambas para a final, o departamento cultural já começa a analisar. É natural. Hoje mudou o critério de julgamento, a gente tem que acompanhar. Tem aquela coisa de rima rica, rima pobre, enfim, tem várias coisinhas que a gente tem que se atentar”, comentou.
Não era novidade para ninguém que a parceria vencedora tinha grande favoritismo. Perguntada sobre a questão de definição, a mandatária explicou que isso foi deixado de lado e tudo foi escolhido exatamente no dia da final. “Na realidade eu não faço esse tipo de situação. A escola tem que participar. Não tem essa de ‘a presidente decidiu e está decidido’. Eu dependo deles para entrar na avenida. Nunca foi assim e nem será. Nós somos uma escola de samba e eu só sou porta-voz dela. A comunidade tem peso grande nessa escolha, inclusive na votação”, completou.
Uma nova vitória
O compositor Imperial, que é ‘multicampeão’ na Mocidade Alegre, contou a sensação de vencer mais um samba na agremiação. Para ele, o sentimento de vencer na escola do coração é diferente. “Eu falo que ganhar na escola do coração é como se fosse o primeiro. Esse foi o meu oitavo na história. Mas parece o primeiro. Parece que eu voltei lá em 2002 para a disputa do Carnaval de 2003. É tudo muito intenso. Eu falo que aqui é onde eu me tornei compositor, aprendi a fazer versos, criar melodia. Foi tudo nesse chão. Então quando a gente ganha é como se encontrasse com aquela criança e adolescente que fui algum dia”, contou.
O escritor falou que a parceria é de longa data e tudo é muito ‘brigado’, pois existem muitos torcedores da Mocidade Alegre dentro dela. Isso faz com que tenha algumas discussões. “Na verdade, nós fizemos cerca de seis encontros para esse samba. Foi tudo muito tranquilo. É claro que acaba sendo bem brigado, porque têm muitos torcedores da Mocidade, assim como eu. Metade deles são da escola. Todo mundo quer linha a linha a melhor letra e melodia e isso acaba tendo algumas discussões, mas sempre voltado para o melhor. Acho que a gente acertou”, afirmou.
Sobre o favoritismo nas eliminatórias, Imperial pregou cautela e enalteceu a sua própria parceria, e também disse que foram muito felizes na elaboração da melodia do samba. “Eu acho que deve ser muito ao enredo. É muito elaborado. Pede muito detalhismo e eu creio que conseguimos encontrar um caminho muito bom. Principalmente, uma coisa que a gente explorou e foi debate nosso, foi o fato de que, quando entrasse nas partes das regiões do Brasil, trazer esse regionalismo para a melodia. Tentamos trazer isso na parte do jangadeiro e quando fala do Nordeste e Amazônia no ‘baque virado’ e congada. Fomos muito felizes. Conseguimos traduzir em melodia aquilo que a letra tinha de cada região”, completou.
Trio do triunfo
Os compositores Gui Cruz e os famosos renomados gêmeos Rodolfo e Rodrigo Minuetto, conversaram juntos com o CARNAVALESCO. Diferente de Imperial, que falou da parte técnica do samba, o trio quis optar pelo emocional e o sentimento da vitória. “Uma disputa muito difícil, Mocidade Alegre tem uma das maiores disputas de samba-enredo do carnaval de São Paulo e do Brasil. A gente se envolve muito, emocionalmente, de trabalho, é muita gente envolvida, conseguimos graças a Deus construir uma grande família que trabalha em prol da Mocidade Alegre. Pois estamos muitos anos de samba, muitos anos juntos, fizemos uma conta hoje, na parceria, os únicos sambas dos últimos anos, que não tinham compositores, se não me engano era 2007. Então de 2003 para cá, a nossa parceria tem representantes no samba campeão da Mocidade Alegre. Para a gente só por isso, já tem um teor a mais de emoção, pois realmente nos envolvemos, choramos, brigamos, amamos, fazemos tudo que dá para fazer. Pois a Mocidade Alegre é a emoção da nossa vida, sem dúvida nenhuma”, disse Gui.
Emocionado e agradecido, Rodrigo completa: “Meu Deus do céu, essa rapaziada maravilhosa, eu e meu irmão (Rodolfo Minuetto) estamos de volta para a parceria. No ano passado não estivemos juntos. Voltamos, e estou muito feliz. Estamos juntos, felicidade, ganhamos mais um samba na Mocidade, é a mesma emoção desde o primeiro ano que pisamos no palco da Mocidade em 2012. Muito feliz, não tenho nem palavras para agradecer”, declarou.
Para finalizar, o irmão Rodolfo disse que a importância da quadra se faz necessária sempre em uma eliminatória de escola de samba. “Não tenho nem mais e nem menos para colocar o que a galera falou. O trabalho não só da construção do samba, como da gravação. Acho que o mais importante que as escolas de samba precisam resgatar, está se perdendo, claro que não sabemos os formatos. A disputa do samba-enredo é cara, mas a quadra é importante para a disputa. Aqui mostra a diferença. Às vezes no CD é uma coisa, mas na quadra você sente a energia de verdade do samba, tocando com a bateria, com a quantidade de galera e você sente de verdade o que vai ser na avenida. E é isso que deixo o recado, que as escolas de samba voltem a fazer a disputa de samba de uma forma diferente, não sei como ainda, mas que faça na quadra e o povo sente a energia”, acrescentou.
Reforço para o desfile
Para o carnavalesco Jorge Silveira, a obra escolhida foi analisada positivamente desde a primeira audição e, segundo o próprio, ajuda bastante a entender o tema da agremiação. “É um momento especial, porque é a oportunidade de escolher o hino que vai nos conduzir. Desde a primeira oportunidade a gente sentia que podia crescer na quadra e de fato foi o que aconteceu. Ele nos ajuda muito a traduzir o enredo. Ele vem carregado de celebração e de responsabilidade, porque a gente entra no Carnaval competindo com 14 escolas, que são as 13, além da própria Mocidade Alegre”, disse.
Mário de Andrade é uma figura ligada a cidade de São Paulo e a ideia de Jorge é colocar o escritor viajando pelo Brasil. Segundo o artista, o samba representa muito bem o que a figura principal do enredo quer. “Ele me ajuda muito a partir de agora a mostrar para o público qual Brasil é esse de Mário de Andrade que a gente vai apresentar. Vamos falar basicamente da experiência dele passeando pelo território nacional e como ele coletou as vivências naturais do nosso país”, afirmou.
O profissional também deu a sua opinião sobre o processo de escolha. Contou da democracia que a escola tem e a unanimidade entre os votos. “Sobre o peso do carnavalesco, a Mocidade Alegre é muito democrática. Quem decide o samba é a direção de carnaval, carnavalesco, carro de som, mestre de bateria. Todo mundo se reúne e chega a um consenso para ver o que é melhor. Esse ano foi até fácil. Uma votação unânime. E agora é trabalhar”, finalizou.
Características e mudanças
O diretor de carnaval, Júnior Dentista, falou sobre as características do samba, como ele é para cima e a estratégia de escolher pela posição do desfile. “É um samba para cima. A Mocidade é campeã, nos colocamos no topo. Isso é difícil e para se manter é pior ainda. A gente vem com um samba mais cadenciado nos últimos anos. Nós somos a terceira escola a desfilar no sábado e queria mais explosão, pegada e esse samba tem um refrão de meio muito bom, uma segunda parte inteligentíssima, a primeira é uma poesia, a comunidade gostou e vamos trabalhar para ser bicampeão”, declarou.
Júnior confirmou a posição dada pela presidente e disse que vão mudar algumas palavras para ajustar, visto que o julgamento é bastante rigoroso. “Amanhã nós já temos reunião para corrigir palavras de erro, conjugação. Hoje o critério de julgamento é muito criterioso. Essa semana inteira nós vamos fazer ajustes necessários para ir ao estúdio gravar na semana que vem”, completou.
Início dos ensaios
O diretor de bateria da ‘Ritmo Puro’, mestre Sombra, opinou sobre o samba e também falou da importância dos ajustes que irão ocorrer. “Escolhemos uma ótima obra mais uma vez. Agora vamos para os ajustes necessários que a gente sempre faz e vamos trabalhar. É um samba bom, valente e vamos encaixar o que podemos da bateria para honrar uma escola que acabou de ser a campeã. Não parece, mas o tempo é curto. Teremos ensaios de bateria às quartas e domingo é o geral com a comunidade e time de canto”, contou.
Samba com a cara da escola
Igor Sorriso, intérprete oficial da agremiação, disse que é um samba com a cara da Mocidade Alegre e pode fazer a escola levar outro caneco para casa. “A Mocidade Alegre é uma escola de samba que gosta de disputa, de concurso de samba-enredo, e ficamos felizes de ver a quadra cheia e o povo feliz. Foi uma escolha satisfatória, um samba com DNA da Mocidade Alegre, que tem a sua alegria, a sua emoção. É um samba que pode conduzir bem nosso caminho para o bicampeonato”, afirmou.
O cantor falou da importância que é ensaiar, encaixar com a bateria e carro de som. Segundo a voz oficial, o trabalho começa nesta segunda. “Foi o primeiro contato cantando ele como hino oficial, claro que faremos alguns ajustes, sempre é válido a gente buscar fazer a obra se encaixar com bateria, time de canto, então vamos trabalhar isso sim. Vamos dormir hoje, fugir do frio, e amanhã já retoma esse trabalho aí, rumo ao carnaval”, completou.