O menino que via os carros na concentração com o pai e só assistia os desfiles pela televisão se tornou o experiente cantor e compositor de mais de cem sambas enredo. Nascido no Rio de Janeiro, em 1982, morador de São Gonçalo, com uma família sem grandes referências no samba, Diego Nicolau, hoje, intérprete oficial da Unidos de Padre Miguel, teve que se virar sozinho para conseguir se inserir no universo do carnaval, pelo qual a paixão crescia desde cedo mesmo que o acompanhando de longe.

“Eu não sou de uma família de sambistas, mas o carnaval me conquistou e era algo que eu aguardava durante todo ano: o lançamento dos sambas enredo e o desfile, obviamente. Na época, não existia os ensaios técnicos na Sapucaí e como minha família não era do samba eu também não ia nos ensaios de quadra. Fui crescendo e as influências eram os desfiles apenas. Não era um cara que frequentava ensaio, nada disso. Depois comecei a frequentar por conta própria, já adolescente para adulto, e aí, em determinado momento, eu resolvi compor um samba enredo, na época na Acadêmicos do Cubango, em 2003. Eu tinha 21 anos, e aí, juntei mais três amigos e a gente concorreu, e, para a nossa surpresa, o samba foi muito bem, chegou na final, teve apoio do Mestre Jorjão, saudoso mestre Jorjão, mestre de bateria da Cubango na época, e dali eu comecei a pegar confiança, fui fazendo mais sambas, até que dois anos depois eu venci pela primeira vez” lembra Diego.

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O samba vencedor foi “Na magia da Escrita, a Viagem do saber” produzido para o Carnaval 2006 da Acadêmicos do Cubango, interpretado no desfile pela voz de Tiãozinho Cruz que convidou Diego Nicolau par integrar o carro de som da agremiação naquele ano. Ali iniciava a trajetória de Diego como cantor, mesmo que ainda no grupo de apoio. No Rio, além da Unidos de Padre Miguel, o sambista também esteve à frente do carro de som, como intérprete oficial, na Renascer, Viradouro e União de Jacarepaguá.

Quando começou a fazer sambas, Diego Nicolau, tinha, em alguns compositores renomados, as influências e inspirações para a carreira. O menino que admirava grandes nomes da composição de sambas enredo, anos depois, conquistou o direito de se tornar colega destes artistas.

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“Como influência, nessa questão de carreira de compositor, são aqueles caras que ganhavam muito samba na época, a mim em especial, o Gustavo Clarão, foi uma influência imensa, é até hoje. E André Diniz, Claudio Russo, o Lequinho. Hoje, graças a Deus, eu fiz samba com todos eles, como a vida é engraçada! Acho que o que me toca mais no Carnaval é justamente essa paixão que o carnaval desperta nas pessoas. É algo cultural, algo que acrescenta às pessoas, e ao mesmo tempo tem essa paixão. Claro, que não tanto hoje em dia como era antigamente, mas é quase que obrigação pelo carioca, ter uma escola de samba e um time de futebol. Então, essa paixão, essa emoção que um desfile de escola de samba causa nas pessoas e nos sambistas é algo que também toca muito o meu coração” entende o cantor.

Formado em Educação Física desde 2002, Diego deixou de lado o direito de exercer a profissão e hoje se dedica inteiramente ao samba cantando e compondo obras para diversas agremiações do Brasil. Só de sambas que assinou foram mais de sessenta. Contando aqueles em que participou, mas não colocou nome, as composições passam de cem. Diego Nicolau, hoje, é figurinha fácil em finais de samba por todo o país e consegue juntar trabalho e paixão.

“O que me fez estar inserido no carnaval, sem dúvida nenhuma, foi essa questão de identificação, de ritmo, de batida, de bateria, uma música sendo cantada ao mesmo tempo por tanta gente, dentro e fora da pista. Acho que como eu sou um cara que sempre gostou tanto de música, essa foi uma questão preponderante para que eu quisesse estar inserido no mundo do carnaval e, por fim, foi determinante para que fosse me levando nessa seara como profissão. O Carnaval para mim hoje é profissão, além de ser um amor, tem toda a questão passional. O carnaval mudou minha vida neste sentido, me trouxe para a cultura, me fez descobrir uma profissão, me fez descobrir um dom, o dom de escrever, o dom de cantar, o dom da arte, de ser um artista. Isso foi o carnaval que me apresentou. E, de toda forma, acabou mudando minha vida completamente. Eu fiz faculdade e trabalhei seis meses em uma área e o carnaval me levou, me arrebatou, e graças a Deus estamos aí agradecendo sempre as oportunidades” explica Nicolau.

Diego chegou na Unidos de Padre Miguel para o Carnaval 2020 e tenta agregar com seu talento para a Vermelha e Branca da Zona Oeste conseguir o tão sonhado acesso que tem batido na trave nos últimos anos. Mais experiente, o intérprete deseja ajudar novos talentos a realizar seus sonhos dentro do carnaval como ele mesmo realizou. E, por fim, também almeja que o sambista receba o respeito que merece.

“Eu torço muito para que no Rio de Janeiro, nunca mais tenhamos um prefeito, um governo, que não entenda o quão é importante o carnaval para a cidade. Essa é a expectativa que eu tenho para todos nós, sambistas, para um grande grupo que depende do carnaval para viver, para botar comida em casa, para botar material escolar na mochila do filho e para tudo na vida. Todos nós que somos profissionais, do que ganha menos, ao que ganha mais, todos nós precisamos do respeito da gestão pública com o carnaval. O carnaval para o Rio é sagrado, não pode ser mexido. Então, eu aguardo e espero muito que a gente só tenha governantes que entendam a importância do carnaval para a cidade, para o estado, para o Brasil. Eu me vejo também inserido nesta questão, que eu possa contribuir com os meus sambas, com o meu canto, que eu possa ajudar a revelar novos talentos, também, tendo essa liderança como intérprete oficial, e, enfim, dar sequência a carreira. No final, eu espero, que o carnaval obtenha o tempo todo o respeito que ele merece” completa Diego Nicolau.

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