O Paraíso do Tuiuti celebrou o Dia da Consciência Negra, na última segunda-feira, com muito samba. Ainda durante a tarde, a agremiação abriu as portas de sua quadra para realizar mais uma edição da tradicional feijoada. O evento, que contou com a participação das coirmãs Unidos da Tijuca e Porto da Pedra, terminou no período da noite e foi seguido pelo ensaio de rua da escola. O treino ao ar livre, que é o quarto da temporada para o Carnaval de 2024, contou com um número reduzido de pessoas em comparação com as segundas-feiras anteriores. A largada foi dada já por volta das 23h, com a agremiação concluindo o percurso no início da madrugada desta terça-feira. Os principais segmentos estiveram presentes e o hino oficial voltou a ter um ótimo rendimento, graças a performance segura do intérprete Pixulé e ao espetáculo promovido pela bateria “Super Som”.

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Fotos: Diogo Sampaio/CARNAVALESCO

“A gente está lapidando um trabalho. Hoje conseguimos ter um resultado bem melhor que o da semana passada. Isso mostra que estamos evoluindo. Os esforços tão surtindo efeito. A comunidade, por exemplo, cantou muito mais. Então, a tendência agora é só essa. É só aperfeiçoar. Lapidar o que dá errado. Aqui na rua é para isso. Os ensaios servem justamente para errar, corrigir e acertar. Quanto ao contingente, tivemos um problema que foi a chuva. Então, muitos componentes ficaram com receio de sair de casa, pegar um alagamento e de repente enfrentar algum problema no meio do caminho. Mesmo assim, considero que tivemos um bom efetivo aqui de componentes, de pessoas, e que o treino foi bastante positivo”, avaliou o diretor de carnaval do Tuiuti, André Gonçalves, em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO após a conclusão do ensaio.

No ano que vem, o Paraíso do Tuiuti será a quinta escola a cruzar o Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda-feira de Carnaval, dia 12 de fevereiro, pelo Grupo Especial. Na ocasião, a azul e amarela do bairro de São Cristóvão apresentará o enredo “Glória ao Almirante Negro!”, uma homenagem ao marinheiro João Cândido, que atuou na liderança da Revolta da Chibata. O desenvolvimento do tema é do carnavalesco Jack Vasconcelos.

Comissão de frente

O quarto ensaio de rua da Paraíso do Tuiuti foi mais uma vez aberto pela comissão de frente assinada pelos coreógrafos Cláudia Mota e Edifranc Alves. A apresentação, especialmente elaborada para os treinos no Campo de São Cristóvão, contou com um contingente maior que os das últimas semanas, tendo sido formada dessa vez por três mulheres e dez homens. Apesar desse aumento no número de integrantes, a coreografia seguiu a mesma, possuindo como marca a teatralização em cima da letra do samba e os passos bem definidos, executados com bastante sincronia. Novamente, a performance teve como ápice o momento em que uma das integrantes era erguida para o alto e, em seguida, se jogava de costas, sendo amparada por outros componentes.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane, apostou em uma apresentação que mesclou o bailado tradicional com passos coreografados. A dupla, que veio com um figurino predominante em tons de amarelo, teve uma dança marcada pela intensidade e por momentos de bastante velocidade, traços característicos na trajetória de ambos. Os giros foram uma constante ao longo da performance, assim como a sincronia entre eles. Aliás, o entrosamento foi um ponto alto. No terceiro trabalho consecutivo juntos como defensores do pavilhão principal da agremiação, os dois demonstraram ter uma conexão forte, com movimentos precisos, gestos elegantes e troca de olhares constantes.

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Samba-enredo

Após apresentar uma queda de rendimento na semana anterior, a obra composta por Cláudio Russo, Moacyr Luz, Gustavo Clarão, Júlio Alves, Alessandro Falcão, Pier Ubertini e W Correia voltou a ter um bom desempenho nesse quarto ensaio de rua da Paraíso do Tuiuti. A performance do intérprete Pixulé no microfone principal foi fundamental para isso. Seguro e confortável no comando do carro de som, o cantor oficial soube conduzir o samba melodioso de uma forma vibrante e potente, mantendo essa pegada do início ao fim do treino. Além dele, a bateria “Super Som” foi outro fator importante para que o hino não tivesse uma queda ou ficasse arrastado no decorrer de uma hora e 15 minutos de apresentação no Campo de São Cristóvão. Em mais uma noite inspirada, os ritmistas liderados pelo mestre Marcão agitaram os componentes e os espectadores presentes no local, através da realização de bossas e de nuances que deram um brilho a mais ao já belo desenho melódico da composição.

Harmonia

O bom desempenho do samba-enredo refletiu positivamente na performance do quesito nesse quarto treino a céu aberto da Paraíso do Tuiuti. Mesmo com um contingente menor, muito por conta do feriado do Dia da Consciência Negra e da ameaça de chuva para a noite de segunda-feira, os componentes que marcaram presença no Campo de São Cristóvão não fizeram feio no canto. Os dois refrões tiveram ótimo rendimento durante toda a passagem da escola, sendo entoados com força pelos desfilantes. A subida para o refrão principal, “Salve o Almirante Negro/Que faz de um samba enredo/Imortal!”, e o falso refrão que antecede o do meio, “Ôôô A Casa Grande não sustenta temporais/Ôôô Veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais”, também se saíram bem e foram cantados com afinco. Já outras partes da obra deixaram a sensação de que podem ter um funcionamento melhor. É o caso, por exemplo, dos trechos “O mar com as ondas de prata/Escondia no escuro a chibata/Desde o tempo do cruel contratador”, presente na primeira estrofe, e “O luto dos tumbeiros/A dor de antigas naus/Um novo cativeiro/Mais uma pá de cau”, oriundo da segunda estrofe, que foram cantados apenas de forma tímida e com um baixo volume. Em relação às alas em si, o destaque ficou para a segunda e a terceira que mostraram estar com a letra na ponta da língua e cantaram com muita vontade o hino oficial por completo, se sobressaindo as demais justamente pela garra e animação.

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Evolução

Apesar de não terem ocorrido falhas graves ao decorrer do ensaio da noite dessa segunda-feira, a evolução da Paraíso do Tuiuti é um ponto que merece atenção. A escola teve um ritmo lento durante a passagem pelo Campo de São Cristóvão e abriu alguns pequenos clarões, que foram rapidamente corrigidos, nos momentos de deslocamento após as paradas dos segmentos nas cabines simuladas de jurados. Nas alas em si, sem o calor excessivo da semana anterior, foi possível observar os componentes desfilando com maior empolgação. Eles vieram sem lugares marcados ou fileiras rígidas, o que permitiu que brincassem e evoluíssem de maneira mais solta. Vale destacar que, por estratégia da agremiação, não houve o recuo da bateria, que veio encerrando a apresentação da azul e amarela.

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Bateria

A “Super Som” seguiu a tendência das últimas semanas e novamente foi o grande destaque desse quarto ensaio da Paraíso do Tuiuti no Campo de São Cristóvão. Os ritmistas liderados por mestre Marcão, junto do carro de som comandado pelo intérprete Pixulé, foram os responsáveis por ajudar o samba melodioso da escola a ter uma performance empolgante ao longo de uma hora e 15 minutos de treino. Diferente do que vinha sendo apresentado nessa temporada na rua, a bateria dessa vez explorou mais o ritmo como um todo e executou menos vezes as bossas e nuances que estão sendo preparadas. O andamento também foi um pouco mais acelerado em comparação às segundas-feiras anteriores, sendo adotado 143 BPM (batidas por minuto). Em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, Marcão pontuou que o momento é de experimentar e enalteceu a importância desses testes ao ar livre na hora de aprimorar o que já vem sendo desenvolvido desde julho, visando justamente o desfile oficial do ano que vem.

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“Gostei para caramba do ensaio, achei muito bom. O trabalho, como um todo, está progredindo. Toda segunda-feira, a gente aproveita esse espaço para testar e depois fazer a nossa avaliação, justamente para tentar identificar o que funciona, o que é bom, o que é ruim e o que pode melhorar. Também acompanhamos de perto o andamento, verificando toda hora se não caiu ou se subiu. Nesse treino de hoje, por exemplo, desde o momento que a gente largou até o final, foi a mesma coisa, o mesmo patamar, graças a Deus. O nosso samba é muito melódico, tanto que buscamos explorar isso através das nuances que fazemos dentro do ritmo. É algo bem legal. E estamos realmente experimentando. É claro que tem muita água para rolar e cada vez vamos evoluindo mais. Tem segunda-feira que fica ruim, tem segunda-feira que fica bom, faz parte do processo. Estamos ajeitando ainda, tem uma bossa para poder deixar ela bem equalizada, essa daí do paradão que fica só o surdo está um espetáculo, então realmente é um exercício de ir tirando e colocando. É tipo jogo de xadrez, onde a gente tira a peça daqui, move para ali e, daqui a pouco, dá o xeque-mate. É isso”, relatou o comandante da “Super Som”.

Outros destaques

Além da bateria “Super Som”, outra constante quando se trata de destaque em ensaio de rua da Paraíso do Tuiuti é a rainha Mayara Lima. A beldade é um verdadeiro acontecimento. Pode fazer chuva ou sol que a quantidade de pessoas que se aglomeram nas calçadas para vê-la passar é sempre de se impressionar. Todas as vezes os olhares e as câmeras ficam atentos, só no aguardo de registrar mais um show de samba no pé. E, na noite dessa segunda-feira, não foi diferente. Com short amarelo e uma blusa toda com pedrarias, Mayara esbanjou beleza, simpatia e muito gingado, fazendo questão de atender os apelos do público e interagir com os ritmistas através da dança sincronizada com as batidas.