Depois de quase 50 anos sem abordar um enredo afro, a Imperatriz Leopoldinense traz para o Carnaval de 2025 a história preservada pelo Itã, que narra a visita de Oxalá ao reino de Oyó com o objetivo de encontrar Xangô. Em uma entrevista ao site CARNAVALESCO, o diretor executivo da escola, João Drumond, e o diretor de carnaval, André Bonatte, compartilharam suas perspectivas sobre esse momento significativo para a escola ao atender ao pedido da comunidade com esse enredo, enfatizaram o compromisso da Imperatriz Leopoldinense em representar e homenagear a cultura afro-brasileira de forma autêntica e respeitosa, discutiram o novo formato dos desfiles, como ele pode impactar a competição e contaram sobre a disputa de samba da Imperatriz.

Foto: Maria Clara Marcelo/CARNAVALESCO

João Drumond revelou sua perspectiva sobre o significado especial desse momento para a Imperatriz, que após quase meio século, escolheu um enredo afro para o próximo Carnaval. Ele destacou a importância dessa escolha em atender a um pedido da comunidade e desafiou críticas que sugeriam que esse enredo não seria característico da escola. Para João, a Imperatriz sempre foi conhecida por contar histórias, mas muitas vezes essas histórias eram centradas em narrativas eurocêntricas e que contar uma história africana não descaracteriza a essência da escola, mas sim a enriquece, expandindo seus horizontes e oferecendo uma visão mais diversificada e inclusiva do mundo.

“É muito tempo, meio século quase e para mim é muito importante. Eu acho que a Imperatriz está atendendo um pedido da comunidade. Eu ouvi muitos comentários na rede social que a Imperatriz, esse ano, vai levar um enredo que não é a cara da Imperatriz para a Avenida e eu discordo profundamente desse tipo de comentário, porque a Imperatriz é uma escola conhecida por contar histórias. Durante muito tempo, nos anos 90, 2000, a Imperatriz era conhecida como uma escola que contava histórias de cortes europeias, uma visão eurocentrista do que aconteceu no passado. E a Imperatriz, esse ano, vai contar uma história, só que vai contar uma história sobre a ótica e a visão de uma corte africana e eu não vejo nenhuma descaracterização da essência da Imperatriz, pelo contrário. Acho que é muito importante a Imperatriz levar para Avenida uma história tão linda, tão bonita, com um significado tão grande, com uma marca forte de religiosidade inserida no contexto e que o público muitas vezes não conhece. Acho que ajuda a desconstruir muita coisa e eu acho que leva uma mensagem tão bonita para as pessoas que eu, enfim, eu me sinto muito feliz e muito orgulhoso de ver esse enredo na Imperatriz”, disse João.

Leandro Vieira revela detalhes do enredo afro-religioso da Imperatriz e diz que ouviu o desejo da comunidade

Para André Bonatte também é muito importante a Imperatriz abordar um enredo afro no Carnaval de 2025 depois de uma longa ausência da escola nesse tipo de temática e que por mais que todos os enredos tenham elementos de africanidade, a Imperatriz não explorava diretamente a religiosidade africana há muito tempo, o que gerava um anseio na comunidade por esse tipo de enredo. O diretor de carnaval reconheceu que a decisão de abraçar essa ideia veio de encontro aos desejos da comunidade e fortaleceu os laços entre a escola e seus membros. Ele destacou a importância de reconhecer a singularidade de cada enredo afro, combatendo a ideia de que todos são iguais, e ressaltou que o carnaval de 2025 será uma oportunidade para celebrar e aprender sobre a diversidade da cultura africana.

“Eu acho que é importante ressaltar isso, sempre tenho falado que a Imperatriz tem toda a propriedade para fazer um enredo nesse sentido, porque é muito tempo que a escola não leva a religiosidade africana para a avenida. Eu sempre pontuo que a Imperatriz não fazia enredo afro, todo enredo tem um pouco de africanidade, porque a gente não pode entender um desfile de escola de samba apenas pelo discurso do samba ou pelo próprio enredo, são várias as linguagens. O samba é africano, o gingar da passista é africano, o rodar da baiana é africano, o ritmo da bateria é africano. Não existe escola de samba sem africanidade. Mas a temática de realidade africana, a Imperatriz já não apresenta muito tempo, então existia um certo anseio da comunidade em trazer esse enredo e isso veio vagando aí nos últimos anos e a coisa não se concretizou e o Leandro resolveu abraçar essa ideia, então acho que corresponde esse desejo da comunidade e isso vem reforçando, acho que esse laço que vai se estreitando cada vez mais entre a escola e sua comunidade. Eu acho que a grande vantagem que a gente tem com esse enredo é no primeiro momento de entender que a nossa comunidade está feliz com ele, e a segunda coisa que eu acho que é importante que a gente defenda em termos de discurso é justamente a ir contra o discurso que diz que enredo africano é tudo igual, porque isso a gente está criando o quê? A gente está generalizando algo que tem sua singularidade, eu percebo que 2025 vai ser uma grande aula de África na avenida, já que a maioria das escolas estão caminhando por essa estrada. Eu acho que a gente vai ter uma grande aula de africanidade e isso nos dá sentimento de pertencimento, de saber quem nós somos. E as escolas têm aí que ser parabenizadas por ter a coragem, eu acho, de quase que todas estarem abraçando essa causa”, enfatizou André.

O diretor de carnaval também explicou que a escolha do enredo afro pela Imperatriz não foi influenciada pela tendência das outras escolas de optarem por temas semelhantes nos últimos anos. Pelo contrário, a decisão foi baseada no desejo interno da comunidade e no direcionamento artístico do carnavalesco.

Voz imponente do samba! Imperatriz Leopoldinense denuncia PL1904 como um retrocesso nos direitos das mulheres

“Eu acho que pelo contrário, porque justamente nos anos anteriores a gente tinha uma questão de, vamos por um caminho diferente já que tem muita gente indo por esse caminho, vamos tentar diferente. Eu acho que não foi isso que definiu o caminho da Imperatriz, eu acho que definiu o caminho da Imperatriz foi o desejo da comunidade e o desejo do carnavalesco. No sentido de agora, é o momento da gente fazer. Não houve uma pressão extra ou externa, vamos dizer assim, para que isso acontecesse”.

O diretor executivo, João Drumond, comentou sobre a sua visão positiva em relação ao novo formato do carnaval, com três dias de desfiles e o fechamento dos envelopes das notas no fim de cada escola. Ele mencionou que essa foi uma decisão tomada coletivamente pelas 12 escolas e que, portanto, espera que seja benéfica para todas elas.

Quanto ao julgamento, ele mencionou que a mudança também foi amplamente apoiada, o que aumenta sua confiança de que o novo sistema será justo e eficaz. João expressou sua esperança de que todas as escolas que apresentarem bons espetáculos sejam bem avaliadas, independentemente do dia em que desfilem. E demonstrou ansiedade e otimismo em relação ao futuro do carnaval, afirmando que acredita que será o maior de todos os tempos.

Confira a sinopse do enredo da Imperatriz Leopoldinense para o Carnaval 2025

“A primeira coisa que tem que ser dita é a seguinte, foi uma decisão tomada por 12 escolas. Se 12 escolas votaram a favor da mudança para os três dias, é claro que eu acho que vai ser bom para as escolas. Em relação ao julgamento, também foi uma decisão praticamente unânime. Espero e acredito que vai ser bom para gente. Eu acredito que, independente da escola que desfile no domingo, na segunda e na terça, as escolas que apresentarem bons espetáculos vão ser bem avaliadas. Essa é a esperança e em relação a se vai dar certo ou não vai, eu também acredito que vai dar muito certo. Então, assim, estou muito ansioso. Acho que vai ser o maior carnaval de todos os tempos. Espero que a Imperatriz também possa fazer o maior desfile de todos os tempos”, expressou João.

Já André destacou que é difícil avaliar completamente os impactos dos três dias de desfiles antes de vivenciá-los. No entanto, ele compartilhou sua perspectiva positiva como folião, ressaltando o aumento da experiência carnavalesca com mais um dia de desfiles. Em termos de competição, ele reconheceu a necessidade de vivenciar os três dias de desfiles para ter uma compreensão mais precisa de como isso afetará a disputa entre as escolas. Quanto ao fechamento das notas no fim de cada escola, ele deu apoio à medida, destacando que ela proporciona uma avaliação mais imparcial por parte dos jurados, sem influências externas entre os dias de desfiles.

“Eu não tenho como avaliar o que são três dias de desfile ainda, porque eu acho que nem eu e nem ninguém, porque eu acho que a gente tem que acreditar. Eu acho que a gente precisa acreditar que vai ser bom. Eu acho ótimo como folião, eu tinha dois, agora eu tenho três, então como folião eu acho ótimo, mas em termos de disputa, em termos de desfile, eu acho que a gente ainda precisa viver isso para a gente ter um olhar mais assertivo da coisa. Com relação ao fechamento de nota eu acho ótimo, porque essa coisa de você julgar num dia e estar vulnerável ao jornal, à imprensa, porque o jurado viu o desfile, mas ele vai para outro e ele tem outras informações que não foi a informação que ele necessariamente viu na frente dele E eu acho que isso pode pesar, quem diz que não? Acho que essa coisa dele avaliar aquilo que ele viu sem influências externas, eu acho que é um ponto super, super favorável para o desfile e para o carnaval”, disse André.