A Mocidade Independente escolheu uma das mulheres mais ilustres do bairro de Padre Miguel para homenagear no carnaval de 2020. “Elza Deusa Soares” é o titulo do enredo que narra a trajetória da cantora que se tornou porta-voz da luta contra opressões como o racismo, o machismo e a lgbtfobia. Aos 89 anos de idade, a cantora se mantém ativa em sua carreira artística, lançando discos e fazendo shows.
A ala 24 foi batizada de “Alvo – Não é bala perdida, é bala autografada”, fazendo alusão ao caso da menina Agatha, atingida por um tiro enquanto voltava pra casa, no Complexo do Alemão. A fantasia trouxe a cabeça do componente envolvida por um alvo vermelho e amarelo. Na parte de baixo, um tecido preto e branco com barracos desenhados, mostrando que os moradores das comunidades tem sido alvo principal da violência urbana.
Junior Romano, de 45, se mostrou empolgado com o enredo.
“Estava mais que na hora da Mocidade trazer essa bela história da mulher negra e guerreira nascida na Vintém”.
A Ala 25, “Canto de luta – Porta-voz LGBT” falava sobre a força da voz de Elza ecoando contra todo o preconceito e a violência sofrida pela comunidade LGBT. O figurino era brilhante e colorido, com predomínio da cor amarela. Estrelas rosas davam um toque especial na fantasia, que ainda contava com um escudo representando a resistência LGBT. “Elza é nossa. Elza é da Vila Vintém, assim como eu. Ela está a altura da Mocidade”, confessou Kelly Fermont, de 50 anos, que sai na escola há mais de dez anos.
A ala seguinte se chamava “Canto de Resistência – Porta-Voz das mulheres”, que mostrou como a cantora se tornou instrumento de denúncia diante dos casos de violência contra as mulheres. O figurino era preto e dourado, fazendo referência ao cabelo black power, que se tornou marca da cantora. No peito do componentes, um punho cerrado em rosa simbolizando o feminismo presente nas músicas de Elza. E na cabeça, uma boca aberta com a palavra “Basta” saindo de dentro. Vânia Estela, 45 anos, sendo 30 só de Mocidade, classificou sua fantasia como “A resistência da mulher brasileira, que luta, quer vencer”.
Na ala 27 “Canto que Reverbera – A carne mais barata não está mais de graça”, fez uma relação direta com a música ‘A Carne’, lançada por Elza em 2002. A roupa era uma caixa de som preta e cinza, com vários barracos coloridos e um punho negro cerrado na cabeça dos componentes.
Cléber Luis, de 40 anos, contextualizou sua vestimenta.
“Nossa ala vem falando sobre a favela, aonde Elza foi a resistência negra”. Ele ainda exalta a escolha do enredo deste carnaval. “Foi um excelente samba escolhido a dedo. Ela merece. Nascida e criada dentro da Vila Vintém, dentro da comunidade”.