Por Maria Clara Marcelo e Matheus Morais
A Estação Primeira de Mangueira concluiu seu último ensaio de rua na noite de quinta-feira. A escola demonstrou domínio profundo do samba que embala o enredo em homenagem a Alcione, além de uma harmonia bem preparada para o ensaio técnico na Marquês de Sapucaí.
A verde e rosa desfilará como a quarta escola na segunda-feira de Carnaval, em 12 de fevereiro e para o Carnaval de 2024, apresentará o enredo “A Negra Voz do Amanhã”, dos carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon, explorando a história de vida e a carreira musical de Alcione, destacando sua representatividade negra e feminina, seus sucessos, e a criação da Mangueira do Amanhã, escola mirim da comunidade.
Comissão de frente
A comissão de frente, comandada pelos coreógrafos Lucas Maciel e Karina Dias, conduziu uma dança vigorosa, em sintonia com a proposta do enredo. Foi uma performance centrada nas passagens do samba-enredo, incorporando coreografias distintas que refletiam os estilos musicais mencionados, os integrantes pontuavam seus movimentos, destacando algumas partes como no trecho “e vai provar que o samba é primo do jazz”, observavam-se passos mais alinhados com o ritmo norte-americano.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Matheus Olivério e Cintya Santos, reconhecidos como o ‘casal furacão’, realizaram mais uma excelente apresentação. Cintya, com sua energia contagiante, e Matheus, com sua elegância, demonstraram uma dança repleta de sintonia e entrosamento, mantendo a correção nos passos e preservando a tradicionalidade do bailado de um casal de mestre-sala e porta-bandeira durante todo ensaio.
Harmonia
A Estação Primeira de Mangueira impressionou com um canto poderoso em seu último ensaio de rua. Todas as alas entoaram o samba deste ano com vigor, destacando a força que a Mangueira planeja levar para a Avenida em 2024. A dupla de cantores oficiais, Marquinho Art Samba e Dowglas Diniz, brilhou com uma interpretação excepcional, incentivando constantemente os componentes a cantar com ainda mais intensidade. Sem dúvida, serão fundamentais para impulsionar o canto da agremiação no dia do desfile, que vem cada vez mais aprimorado.
Evolução
O ensaio da Estação Primeira de Mangueira seguiu sem correrias aparentes ou espaçamentos indevidos entre as alas. Os componentes demonstraram muita energia, alegria e espontaneidade. Entretanto, é necessário que a coordenação esteja atenta à evolução, pois a primeira parte do desfile parece ser bastante extensa, abrangendo a comissão de frente, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, uma grande ala coreografada e, por fim, o abre-alas. Vale atenção com o desfile, que pode ficar muito devagar em certo ponto, com a ilusão que a escola possa estar parada.
Samba-Enredo
O desempenho elevado do samba-enredo nos ensaios contradiz a opinião de muitos críticos em relação à obra. A excelente sincronia entre a bateria e o carro de som também se destaca como um diferencial para o rendimento da canção como um todo, seja letra, seja melodia.
“A gente sempre vai avaliando as coisas e sempre falta um pouquinho mais, sempre falta um pouquinho mais, sempre, sempre, sempre. Mas, em um todo foi maravilhoso”, disse Art Samba.
“Para mim foi o ensaio que está lavando a nossa alma, que deixa a gente mais aguerrido para descer domingo lá para Sapucaí e mostrar que sim a Mangueira pode estar na briga para conquistar mais uma estrela. A comunidade está abraçando, está gritando esse samba, então hoje foi um ensaio para lavar a alma, um dos ensaoios que mais a comunidade cantou. Foi um ensaio perfeito hoje e domingo pode esperar um grande show da Estação Primeira da Mangueira”, completou Dowglas Diniz.
Outros destaques
O trabalho da bateria, liderada pelos mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto, foi fundamental, mantendo o ritmo e a musicalidade nas bossas apresentadas. Destaca-se a paradinha com o tambor de crioula e o uso dos xequerês na bossa do “Ê bumba meu boi…”, proporcionando grande musicalidade ao samba.
“Foi bom, ensaio produtivo, a gente saiu no andamento um pouquinho acelerado hoje, acho que era a euforia já de estar chegando no carnaval e ensaio técnico no domingo, mas a gente conseguiu acertar e foi bom, foi bom para a gente, é bom acontecer isso antes, dar tempo da gente acertar no caminho. Agora é mais tirar a emoção da rapaziada, falar para ele ser mais profissional, ser um pouco frio, porque às vezes a emoção atrapalha a gente na largada, acertando isso está tudo certo. A expectativa para o ensaio técnico na Sapucaí é a melhor possível, acho que a gente está no mais crescente, não só a bateria, como a Mangueira toda, a comunidade está cantando bastante, acredito que domingo a gente vai dar um show lá embaixo na Sapucaí”, afirmou mestre Taranta Neto.
“Gostei muito, no início a gente foi um pouco na emoção, corremos um pouquinho, mas deu para ajustar antes de sair daquela parada que a gente começa a caminhar. Aí chegamos no consenso até aqui e no final a gente já está padronizado ali que entre um 142 e um 144 é o nosso andamento, que encaixou com o samba, e se Deus quiser a gente vai conseguir implantar isso, e chegou a hora, agora não tem mais o que fazer, foram os últimos ajustes e o nosso último ensaio de bateria que a gente ainda tem aqui essa terça-feira, junto com a nossa entrega de fantasia, e se Deus quiser a gente vai trazer esses 40 aí novamente”, garantiu o mestre Rodrigo Explosão.
A nação mangueirense se colocou em peso na rua, ainda que a chuva tivesse deixado a ameaça para cair de fato sobre os componentes e espectadores, ainda que mais fraca que o previsto. Reunidos na Avenida Estação Primeira cada um que colocou seu coração nesta noite foi recompensado pelo carinho e força da Verde e Rosa em plenos pulmões.
Para encerrar, a rainha de bateria da Beija-Flor, Lorena Raíssa, compareceu também ao desfile, esbanjando carisma, tal qual a rainha da bateria, Evelyn Bastos, que foi bem receptiva a rainha da coirmã.