Por Gustavo Lima e fotos de Fábio Martins
Ter uma escola engajada é meio caminho andado para alcançar o sucesso. É isso que a Mancha Verde tem. Isso foi mostrado no ensaio técnico deste último sábado, onde o canto dos componentes da ‘mais querida’ ecoou forte, desde a concentração até a dispersão. Na verdade, foi um ensaio satisfatório como um todo. Teve quesitos que se destacaram além da harmonia, como a comissão de frente e casal, mas ao todo, tudo fluiu tranquilamente. A Mancha prometeu melhorias para este segundo ensaio e, de fato, conseguiu. “Do Nosso Solo Para o Mundo” é o enredo da escola para o Carnaval 2024, assinado pelo carnavalesco André Machado.
É o que diz o diretor de carnaval Paolo Bianchi. De acordo com o profissional, todas as correções foram feitas. “A gente encontrou algumas coisas que queria melhorar. Conversou a semana inteira, teve uma parte que não gostamos no primeiro ensaio e hoje a gente corrigiu. O canto funcionou, fizemos os apagões e hoje foi melhor ainda do que semana passada. O andamento foi tudo o que a gente desenhou. Temos uma forma de trabalhar isso e cada ala e cada marcação de alegoria saiu exatamente em cada tempo que desenhamos e deu até para tirar uma onda no final, que era o combinado. Deu tudo certo, graças a Deus”.
Comissão de frente
Uma apresentação com muitas informações teve a ala da Mancha Verde, que é liderada pelos coreógrafos Wender Lustosa e Marcos dos Santos. Na dança, esteve presente os orixás Ocô, esse que é ponto chave do enredo e junto dele Ogum e Oxalá. Todos tinham participações fundamentais. Os outros personagens eram aparentemente mulheres do campo e outros homens da cultura afro.
A apresentação consistia em exaltar Ocô e a agricultura. Claramente com a letra do samba dava para notar que, com sua flauta, Ocô recebia a missão de olorum, como bem diz a trilha-sonora da escola para 2024. Em outra parte da encenação, Ogum, o homem do ferro tomava as frentes e Oxalá também. Após, em determinado momento, as supostas mulheres do campo pegavam uma bacia que estava em um pequeno tripé. Ou seja, uma comissão de frente recheada de informações para apresentar o enredo da ‘mais querida’.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Mais um grande ensaio de Marcelo Silva e Adriana Gomes. Da outra vez a porta-bandeira teve problema com o cinto e mesmo assim havia feito um treino satisfatório. Agora, foi 100%. Vale ressaltar que o casal tem uma estratégia de ‘se poupar’. Os dois bailam na pista, estendem o pavilhão ao público, mas só colocam a intensidade na dança mesmo quando vai se apresentar para a cabine dos jurados. A dupla opta pela integridade para dar o melhor de si nos pontos estratégicos da pista.
“Eu estou feliz porque a gente mudou quinta-feira, ensaiou junto com a quadra em um lugar separado, só eu e a Adriana e em vez de uma, mudamos quatro coisas. Sem perder o critério, é lógico, mas mudamos para a gente poder entrar no contexto da evolução da escola também e sem perder o nosso critério. Pensando na escola para gente fazer parte desse título. O que eu estou mais feliz é saber que a gente está há 11 anos junto e que ela tem a confiança em mim na avenida. Eu só disse para ela antes de entrar olhar para mim, e mesmo pequenas coisas a gente acertava e dava certo. Eu acho que é Deus, são os orixás. A gente não quer ser melhor do que ninguém, a gente quer ser melhor para nossa escola”, disse o mestre-sala.
“A gente é um time. Não adianta só o casal ser bom, tem que o time ser bom. Somos nove quesitos, e se os nove quesitos não estiverem ornando e um só der certo não tem nota, não tem campeonato, não tem sucesso de ninguém. Sem esse time, sem o time da minha equipe, sem o William, sem a Vanusa, a Vanessa, a Domênica, a Daniela, sem o apoio da diretoria da escola, sem o Paulo Serdan confiar, que ele aposta na gente, nada disso seria possível”, completou a porta-bandeira.
Harmonia
Foi o grande destaque da Mancha no ensaio. É impressionante como a comunidade abraça qualquer samba escolhido pela agremiação. É claro que todos os componentes tem carinho pela sua agremiação, mas neste ensaio deu para ver o brilho no olhar do componente da ‘mais querida’. Uma empolgação e uma atitude de quem realmente quer vencer e defender o pavilhão. Uma escola muito bem ensaiada, com vários repertórios, bem focadas nos apagões da bateria “Puro Balanço”. Isso tudo faz com que a harmonia da agremiação seja um ponto positivo. Diretor de carnaval Paolo Bianchi, presidente Serdan, diretor de harmonia Bruno Ferrari e demais membros da diretoria merecem seus devidos créditos – Isso também engloba bateria e ala musical. Como dito, a escola é muito bem ensaiada.
Evolução
Os componentes da Mancha Verde fizeram o que é agradável. Dançaram com empolgação, apesar do samba, que tem a melodia para baixo. Executaram a evolução de um lado para o outro. Não tem coreografia dentro do samba, pois realmente a ideia é deixar os componentes soltos. As fileiras estavam compactas e não teve percalços no término do desfile.
Samba-enredo
Realmente é incrível como o intérprete Freddy Vianna conduz o seu carro de som e a sua comunidade. Na largada, com seu grito “Vem que vem”, a galera vem junto. Ainda antes de começar, o cantor foi para o meio dos desfilantes em um gesto emocionante. Mostra o engajamento de um profissional que está há 12 anos defendendo o pavilhão alviverde.
A parte mais cantada do samba são os últimos versos e o refrão principal, com destaque para os apagões da bateria “Puro Balanço” nos versos “orvalho que toca a viola/dá o tom pro matuto versar/levando aos céus/as bênçãos dessa noite de luar”.
O intérprete Freddy Vianna falou sobre o ensaio. “Devido ao novo regulamento da Liga das Escolas de Samba, eu decidi mudar o jeito da minha ala musical e interpretar o samba. A gente vem de uma forma mais uníssona, todos numa só voz. Só a Clara Vidal, que vem fazendo uma ‘tercinha’ no meio, até mesmo para não sobrepor a minha voz porque tudo a gente corre risco hoje. Eu acho que a gente vindo dessa forma, a gente vai convencer os jurados que a ala musical da Mancha é bem musical, e o samba também é um samba que pega no coração. Eu estou fazendo uma desenvoltura diferente com as cordas também, são as cordas que vão brilhar esse ano, e a ala musical vai vir em redondinha, cantando, como se fosse um CD. Eu achei que foi muito proveitoso, só tenho feras comigo. Eu só tenho pessoas que abraçam a causa, então eu só tenho a agradecer a eles”, avaliou.
O cantor exaltou o canto da comunidade no Anhembi. “Eu acho que melhorou muito, principalmente a organização, o canto. A Mancha tem um canto muito maciço e hoje ela mostrou isso no nosso apagão, em momentos que são fortes do samba como o refrão, então o samba ecoa. Eu acho que a ala musical tem um papel muito importante e desempenha muito bem o samba cantado. Eu acho que ela mostra realmente o que é o samba no CD, ela trouxe o CD para a Avenida. Isso é muito importante, essa divisão como a divisão do CD, porque as pessoas escutam muito de casa, as pessoas escutam muito pelo celular, as pessoas sempre estão escutando a gravação da Mancha, então eu trouxe a gravação da Mancha para o Anhembi”, completou.
Outros destaques
A bateria “Puro Balanço”, dos mestres Cabral e Vinny, deram um andamento satisfatório para o samba, com bossas soltadas o tempo todo. Como dito, os apagões dão o tom nos versos citados acima. Também no refrão principal, na frase “Mancha Verde esperança”.
“Eu acho que a gente deu um grande passo em relação ao primeiro ensaio. Conseguimos corrigir coisas que a gente tinha em mente e hoje foi um grande ensaio”, disse Vinny.
“A gente conseguiu corrigir alguns erros pequenos, estamos sempre conversando com a diretoria e com os ritmistas. O ensaio foi maravilhoso, vamos continuar trabalhando para conseguir fazer um ótimo desfiles”, completou Cabral.
A rainha de bateria, Viviane Araújo, esteve presente no ensaio. A artista se mostrou totalmente engajada e sorridente. O carinho da comunidade e diretoria é recíproco. uda Serdan, princesa da “Puro Balanço”, brilhou ao lado de ‘Vivi’. Baianas vestidas de verde e branco cantando o samba também foram destaques.