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Machismo e o preconceito com a cultura popular são temas presentes no documentário sobre Rosa Magalhães

Evento organizando pelo site CARNAVALESCO teve sessão exclusiva na Biblioteca Parque do Rio

O Teatro da Biblioteca Parque do Rio de Janeiro recebeu, na última segunda-feira, uma sessão única e exclusiva do documentário “Rosa – A narradora de outros Brasis”, de Valmir Moratelli, em parceria com Libário Nogueira. O filme, que foi premiado na 2ª edição do Festival de Cinema de Vassouras, acompanha a trajetória da carnavalesca Rosa Magalhães em seu último trabalho até aqui, à frente da Paraíso do Tuiuti em 2023. Temas como o machismo e o preconceito com a cultura popular estão presentes na obra, que intercala falas da própria homenageada com depoimentos de quem conviveu com ela e imagens de desfiles que marcaram a carreira da artista.

Fotos: Diogo Sampaio/CARNAVALESCO

Em entrevista ao site CARNAVALESCO, o diretor e roteirista do documentário, Valmir Moratelli, explicou de onde veio a ideia de produzir um longa dedicado a Rosa Magalhães. Ele também narrou todo o processo até o projeto ganhar vida nas telas.

“A gente já tinha feito um filme intitulado de ‘Prateados’, sobre pessoas idosas, e de alguma forma estávamos procurando uma personagem que pudesse falar sobre outros temas. Sempre buscamos em nossas produções dar visibilidade a grupos que são geralmente esquecidos durante o ano e o carnaval acaba entrando nisso também. Querendo ou não, a grande maioria das pessoas não conhecem os bastidores do que é o Carnaval. E, para quem conhece e quem trabalha com isso, sabe que a figura da Rosa é única. A ideia de falar sobre ela propriamente surgiu quando eu estava assistindo o filme sobre o Joãozinho Trinta. Eu fiquei pensando quem hoje seria a pessoa que poderia representar isso tudo. Eu mandei esse filme para o Libário e disse que a gente tinha que buscar uma personagem assim. Quando eu fiz isso, eu meio que já sabia quem que seria, que representaria tudo isso no Carnaval hoje, e era a Rosa Magalhães. Ele na mesma hora topou e embarcamos nessa ideia”, disse Moratelli.

Valmir Moratelli e Libário Nogueira são os diretores do filme

“A partir daí, a gente foi atrás da Rosa e tentou convencê-la durante uma semana. Fiquei ligando direto, perturbando, e o Fábio Fabato teve um papel importante para que conseguimos um sim. Ele, como amigo da Rosa, fez essa ponte, apresentou a gente a ela. O engraçado é que quando fomos na casa dela apenas para poder conhecer, fazer uma visita técnica, já levamos câmera, equipamento, e começamos a gravar o filme. Saímos de lá encantados”, completou.

Também diretor do filme, Libário Nogueira detalhou ao site CARNAVALESCO sobre a mensagem que o filme busca deixar no público. De acordo com ele, a principal é a importância de ser enaltecer as manifestações culturais tipicamente brasileiras, em especial as de origem mais popular.

“Nossa maior intenção é realmente trazer essa valorização do que é arte popular brasileira. Como é mencionado no próprio filme, o próprio brasileiro não conhece a arte que tem, o poder que o carnaval possui. Então, a primeira instância é mostrar para o povo brasileiro o que nós temos, e muitas vezes desconhecemos. Em seguida, potencializar isso cada vez mais para o mundo”, garantiu.

Libário exaltou que a obra abre espaço para refletir sobre o papel da mulher na sociedade. “No nosso filme, a gente descobre como uma mulher que resistiu por mais de 40 anos na Sapucaí acaba inspirando outras mulheres em todos os setores. Rosa é resistência, é mulher que acredita em si e inspira outras mulheres. Acredito que é uma das principais mensagens que a gente traz ao público, de uma forma mais ampla”, comentou.

Logo após a sessão, o público presente pode conferir um bate-papo com os diretores do documentário. O jornalista Fábio Fabato e o carnavalesco e comentarista Milton Cunha foram os dois convidados especiais dessa roda de conversa, ambos amigos próximos de Rosa Magalhães, além de estudiosos do trabalho realizado ao longo de décadas pela artista.

Jornalista Fábio Fabato

“Trata-se da artista em atividade, porque eu a considero ainda assim, mais completa do Carnaval. Quando morrem Fernando Pinto e Arlindo Rodrigues em 1987, quase que no mesmo mês, a festa fica carente de um representante do barroco e outro do estilo indianista. A Rosa Magalhães acaba abraçando esses dois conceitos. Apesar de já ter um título em 1982, é a partir da década de 1990 que ela decola, justamente incorporando esses dois elementos, o do Arlindo e o do Fernando. Uma mulher, em um ambiente absolutamente masculino, muito machista, que representa a força feminina, da arte feminina, e que é a grande professora de todos. Então, eu fico muito emocionado. Acho que a gente tem que louvar a sétima arte de Carnaval, sobretudo quando exalta personagens como a Rosa. E fazer isso com ela em vida é algo ainda mais fantástico, necessário, fundamental, igual o enredo de escola de samba. Eu acho que Rosa tem que ser enredo um dia, de preferência da Imperatriz Leopoldinense, em vida, ou seja, desfilando. Nós temos que celebrar os nossos valores. Em um país que tem um falso compromisso com a memória, que não abraça, é importante a gente contar grandes histórias. E ela como uma grande contadora de histórias, nada melhor do que ter a história dela sendo contada”, avaliou Fabato em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO.

Comentarista Milton Cunha

“Ela é uma deusa, porque ela compreende o alcance cultural que possuí, mas ao mesmo tempo se coloca dizendo: ‘Olha, gente, eu sou a perfumaria e o samba é o poderoso, a comunidade’. Então, eu acho que ela tem uma visão esclarecida da importância do povo dentro da estrutura. E fazer um filme sobre ela, é jogar os conteúdos de Carnaval que estão em livros impressos nesse audiovisual. Na minha visão, cada vez mais essa indústria vai começar a avançar nos documentários e nas ficções sobre os sambistas. Tomara que o filme premiado dela seja inspirador para que o cinema, a televisão, se dedique a isso. E que bom ter início com uma mulher que é tão emblemática, que tem tanto a dizer sobre a cultura do nosso país, e tudo isso de uma forma muito direta, muito clara. Por exemplo, quando ela pega os camelos que eram chiquérrimos, mas que não tinham o balanço do nosso sertão, ela está dizendo que nós sambistas temos a ginga e que esse outro povo tem um balanço lá deles, mas que não serve para a gente. Dessa forma, ter o filme sobre Rosa é mostrar o gingado da nossa deusa, a deusa magalha”, relatou Milton Cunha, também em conversa ao site CARNAVALESCO.

Além de Fabato e Milton, diversos nomes ligados ao Carnaval carioca e a Rosa Magalhães estiveram presentes no evento de exibição do documentário, organizado pelo site CARNAVALESCO. Entre as figuras ilustres, estavam o atual diretor executivo da Unidos do Viradouro, Marcelinho Calil, e a presidente da Imperatriz Leopoldinense, Cátia Drumond.

Diretor executivo da Unidos do Viradouro, Marcelinho Calil

“Todo mundo chama a Rosa de professora e não é atoa. Ela realmente marcou época, conseguiu apresentar na Marquês de Sapucaí carnavais memoráveis. Então, a gente que já tem no país tanta dificuldade em reverenciar os nossos ídolos, é muito importante poder homenagear Rosa Magalhães. Uma mulher, uma artista, que de fato sempre foi a frente do seu tempo e contribuiu absurdamente para a festa, de forma material e principalmente imaterial. Infelizmente, não tive a oportunidade de trabalhar com a Rosa, mas não poderia deixar de estar aqui para aplaudi-la”, declarou Marcelinho Calil.

“A Rosa é a essência da Imperatriz, do Carnaval como um todo. É a mestra, a professora, que ensinou muito desses novatos que estão aí em atividade. É alguém que a gente sente falta. Não ter a Rosa, agora no Carnaval de 2024, vai ser um impacto muito grande. Quem trabalhou, quem conhece, vai sentir essa ausência”, pontuou Cátia Drumond.

Presidente da Imperatriz Leopoldinense, Cátia Drumond

A presidente da Imperatriz ainda falou sobre a relação pessoal dela com Rosa Magalhães. Antes de assumir o comando da agremiação, Cátia Drumond passou por diferentes funções dentro do barracão, como almoxarife e chefe do setor de compras, tendo atuado por muito anos ao lado da carnavalesca.

“Tive o prazer de trabalhar com ela. Eu ainda aprendendo no barracão, engatinhando, pude ter essa convívio e tirar diversas lições. A Rosa, ali nos anos de 1990, foi a grande campeã da Marquês de Sapucaí. E ela sempre teve muita boa vontade de ensinar a gente. Recentemente, em 2022, tive a felicidade de voltar a trabalhar com ela, mas agora comigo já no posto de presidente da Imperatriz. Depois desse reencontro, só confirmei o quão sensacional a Rosa é. Ela é grande. Falar da Rosa é até difícil, pois posso ficar uma noite inteira e não vou conseguir acabar. É uma pessoa especial, que engrandeceu muito a minha vida e a de qualquer gresilense. Todo mundo é Rosa Magalhães”, afirmou.

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