Por Rafael Soares, Guibsom Romão, Maria Clara, Matheus Morais e fotos de Nelson Malfacini

A Inocentes de Belford Roxo foi a terceira escola de samba a se apresentar no ensaio técnico da Série Ouro na noite de sábado na pista da Marquês de Sapucaí. Antes de começar, o discurso do presidente Reginaldo Gomes chamou muito a atenção. Nitidamente chateado, o líder reclamou da liga organizadora dos desfiles do Grupo Especial, a Liesa, dizendo que eles são covardes com as escolas que sobem do Grupo de Acesso, as rebaixando de forma injusta. Também criticou a prefeitura de Búzios, que seria o enredo da escola. Ele disse que não tiveram coragem de sustentar a parceria, após a briga política com o prefeito de Belford Roxo, a quem o dirigente chamou de ‘ditadorzinho’. Ainda falou que foi melhor assim, pois deixou de homenagear uma cidade elitista, em suas palavras, para poder dar vez ao povo ambulante, que é pobre, preto e batalhador.

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A chamada ‘Caçulinha da Baixada’ começou seu treino com uma comissão de frente bem simples, que parece ter escondido o jogo. Destaque para a atuação do casal de mestre-sala e porta-bandeira Matheus e Jaçanã, que exibiram um forte e bonito bailado. Outro ponto alto foi o desempenho do carro de som da escola, sob o comando do intérprete Thiago Brito, que mostrou ótima e valente atuação na condução do samba. Obra musical que é muito funcional por traduzir o enredo de forma certeira. A bateria também teve uma boa participação. Porém, os quesitos técnicos de pista deixaram a desejar. A harmonia da Inocentes não foi das melhores, com algumas alas cantando pouco, deixando um conjunto irregular. E a principal preocupação foi com a evolução da escola, que teve problemas de buracos entre a bateria e os componentes logo à frente, que ocorreram duas vezes, além de embolamento de alas. A escola precisa corrigir seus defeitos em pouco tempo.

A Inocentes será a quarta agremiação a desfilar na sexta-feira de carnaval, dia 9 de fevereiro, e levará o enredo “Debret pintou, camelô gritou: ‘compre 2, leve 3!’ Tudo para agradar o freguês”, contando a história dos trabalhadores informais do Brasil, desde a sua origem nos tempos do Império até os dias atuais.

Comissão de frente

O grupo de bailarinos comandado por Juliana Frathane tinha seis homens e seis mulheres. Eles estavam vestidos como se fossem pintores, usando boinas e camisas com manchas de tinta. Os integrantes mostraram uma dança bem normal, com movimentos simples e não muito intensos, sem grande grau de dificuldade. Em certos momentos, eles formavam duplas para bailar, em outros todos eles faziam uma fila para definir poses, simulando uma pintura. Ao final, exibiam uma faixa com os dizeres “Viva a arte”, Viva a cultura”, Viva o carnaval!”. Passou a impressão de ser apenas uma coreografia de passagem ou um número organizado para o ensaio técnico.

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“Deu tudo certo. Ensaiamos muito. O que eu mostrei hoje foi 80% da coreografia original. Tive que fazer as adaptações porque eu não posso entregar o que será a grande surpresa do dia 9. Olha, vocês podem esperar muita força, energia, garra”, comentou a coreógrafa.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Destaque para a atuação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Inocentes. A dupla formada por Matheus Machado e Jaçanã Ribeiro exibiu uma dança tradicional de movimentos fortes e bem entrosados. Eles mostraram muita segurança em seu número, usando bom espaço da pista. As interações foram constantes, com algumas pitadas de irreverência, como pede o enredo. Aliás, ele estava vestido para representar Silvio Santos, com um microfone no paletó. Em alguns momentos, ele fazia um aviãozinho de dinheiro e jogava para o público.

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“Ah, eu acho que para a gente foi um ensaio perfeito na nossa visão técnica, a gente veio brincando bastante, executamos o nosso passo que a gente precisava mostrar na frente dos jurados e a gente fez um ensaio leve e divertido, a gente veio brincando com o público e eu acho que foi bem legal. Hoje a gente fez algumas coisas que não faremos no dia do desfile oficial, a gente veio brincando mesmo, a gente veio fazendo o passo básico do mestre-sala e porta-bandeira, a dança clássica, e no dia do desfile é algo meio sagrado. A gente não pode falar o que é, mas a gente tem que ter fé. E aí vocês já pegam o spoiler”, disse a porta-bandeira.

“Foi bem gratificante que tudo que a gente ensaiou há bastante tempo, a gente conseguiu executar. Eu estou bastante feliz de que saiu tudo perfeitamente da maneira que a gente combinou. E foi descontraído também, a gente veio brincando bastante com as pessoas e as pessoas merecem esse abraço, o povo do carnaval, a gente que luta tanto, eu me incluo nisso, pelo carnaval, pela nossa arte, principalmente o que tem acontecido em Belford Roxo nos últimos momentos, foi ótimo, foi bom demais. Eu estou bastante feliz. O que aconteceu aqui hoje”, completou o mestre-sala.

Samba-enredo

A obra musical da Inocentes não tem uma letra das mais rebuscadas ou uma melodia diferenciada, mas passa o enredo de forma muito clara. O samba se mostra funcional para o desfile da escola, até pelo fato de ser fácil de cantar, com algumas passagens do nosso cotidiano. O rendimento da canção foi muito bom através do carro de som, com ótima atuação. A bateria também teve um bom desempenho, ajudando a impulsionar o samba. Porém, o mesmo rendimento não foi visto pela voz da comunidade, que não cantou a obra com potência, mesmo sendo favorecida por todos esses fatores.

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“O rendimento do samba foi bom para caramba. Acima da média, o pessoal está cantando bem. Já era esperado, que a gente tem feito grandes ensaios. O andamento a gente já testou várias vezes nos ensaios o que a gente iria fazer e a gente achou o caminho certo para o samba. Cada samba pede um andamento e esse a gente testou algumas coisas até chegar nesse”, disse o cantor.

Harmonia

O canto da comunidade de Belford Roxo deixou a desejar no ensaio técnico de sábado. O volume apresentado foi de médio para fraco em boa parte da escola. Algumas alas passavam cantando bem pouco, outras exibiam um nível levemente maior, mostrando a irregularidade. Apenas no refrão principal era possível ouvir a escola com maior clareza. Para uma escola como a Inocentes, de boa trajetória no Grupo de Acesso, não foi o suficiente. A agremiação precisa melhorar sua harmonia.

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“Na frente da escola, eu não tenho aquela sensação de como foi ela no todo. Vou ter uma reunião com o pessoal da harmonia e eles vão me passar como foi o andamento, o canto, a compactação. Do que vi aqui na frente, do que notei quando a escola estava passando, eu achei o canto bom, podendo melhorar mais ainda. Nós temos mais quatro ensaios de rua para aprimorar esse canto da escola, com certeza nós vamos chegar no dia do desfile na totalidade de 100% da melhor coisa que tem. No ensaio técnico, na minha opinião, é para você corrigir os seus erros no campo de jogo. O campo de jogo é aqui. É corrigir os erros. E hoje, o canto chegou, na minha opinião, a 80%, podendo melhorar, repetindo no ensaio de rua, que eu tenho quatro por fazer ainda”, comentou Saulo Tinoco, diretor de carnaval.

Evolução

Quesito da Inocentes que se mostrou muito problemático no treino. A escola desfilou com certa desorganização em suas alas. Algumas chegavam a entrar com componentes na outra logo à frente, gerando embolamento. Desfilantes paravam para conversar entre si ou com pessoas que assistiam nas frisas. E o mais grave foi a abertura de grandes espaçamentos entre a bateria e a ala que vinha na frente. Isso aconteceu nos dois primeiros módulos de jurados. Erro básico da escola que se for repetido no desfile oficial sofrerá penalização. Além disso, os desfilantes não mostraram a total animação que o enredo pede. A situação é preocupante e precisa ser corrigida.

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Outros destaques

A bateria comandada por mestre Washington Paz teve um bom desempenho no ensaio. Os ritmistas colocaram um ótimo ritmo para embalar o samba-enredo da escola. As bossas tinham um certo nível de dificuldade e estavam bem adequadas.

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“A gente esperava o som um pouquinho melhor, fomos um pouquinho prejudicado, mas isso não atrapalha a gente não. Vamos embora, a gente tem que ensaiar do jeito que dá. Gostei muito do andamento da bateria, tem algumas coisas para acertar, mas a avaliação foi muito boa, sempre podendo melhorar”, afirmou o mestre de bateria.