A Inocentes de Belford Roxo foi a segunda escola a pisar na Sapucaí no último sábado, primeiro dia de ensaios técnicos da Liga-RJ. A bateria de mestre Juninho trouxe um bom andamento e realizou bossas complexas para o samba que foi bem executado, mas a Caçulinha da Baixada pecou demais no quesito evolução, abrindo buracos entre a ala a frente do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeir,a que se apresentou em uma posição mais próxima do meio do desfile e não logo depois da comissão de frente. O treino oficial da agremiação teve duração de cerca de 50 minutos. Em 2023, a Inocentes de Belford Roxo vai encerrar a segunda noite de desfiles da Série Ouro, com o enredo “Mulheres de Barro” que está sendo produzido pelo carnavalesco Lucas Milato e vai contar a história das paneleiras de Goiabeiras, artesãs do Espírito Santo que herdaram o saber da confecção das panelas de barro de suas ancestrais. * VEJA AQUI FOTOS DO ENSAIO

“O balanço positivo do ensaio é o que estamos buscando desde lá da quadra e nas ruas de Belford Roxo, é o canto da escola. Deu pra notar que ele está em uma crescente a escola está cantando, estamos buscando isso. Um ajuste que acho importante, por exemplo, o rádio, falhou, a comunicação quando ela falha, eu que estou aqui na frente no andamento do desfile uma palavra mal colocada atrapalha, lógico, não é esse no desfile, mas atrapalhou em certos momentos, é uma coisa boba. Tem que melhorar a evolução sim, a escola tem que explodir mais, já explodiu aqui hoje, melhor que no último, mas o que estou falando: Nós vamos chegar no dia do desfile, não vou dar arma para ninguém, eu tenho certeza que vamos chegar no dia, respeitando as coirmãs, sempre respeito todas, sempre falo que a campeã, sai do quesito avenida. No ensaio eu quero que dê problema para poder ajustar isso, porque se sair daqui tudo bem a gente entra na zona de conforto e eu não quero entrar nessa zona”, explicou Saulo Tinoco, diretor de carnaval.

Evolução

A Caçulinha da Baixada optou por colocar o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Machado e Jaçanã Ribeiro, em uma posição mais próxima do meio do desfile, o que pode ter impactado na evolução da agremiação. Sem a dupla para preencher o espaço logo após a comissão de frente, na cabeça da escola, nos momentos de apresentação dos integrantes em frente ao módulo de julgadores, principalmente na segunda cabine, ocorria um espaço muito grande até a primeira ala que demorava para preencher.

Mas o principal problema aconteceu à frente do primeiro casal, que vinha atrás de pelo menos cinco alas depois da comissão de frente e uma antecedendo da bateria. Quando a dupla se preparava para entrar tanto na primeira quanto na segunda cabine de jurados, a ala a frente não parou, gerando um grande buraco que foi maior em frente ao módulo 1, com o tamanho em equiparação a uma distância maior que de um suporte de som da Avenida para o outro.

buraco inocentes

A evolução durante boa parte do treino foi um problema, algumas alas bastante abertas, sem muita sincronia no deslocamento, quase gerando espaços e o início do desfile corrido. De positivo, pode-se destacar a animação principalmente das alas que vinham do meio para o final da apresentação que evoluíam sambando e dançando de forma espontânea.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Juntos para o carnaval 2023, o primeiro casal Matheus Machado e Jaçanã Ribeiro mostrou já um bom entrosamento, se buscando bastante durante o bailado com sincronia de movimentos e optando por um estilo mais clássico da dança. Matheus se destacou bastante pela postura corporal em que realizava os passos e no sorriso sempre no rosto. Jaçanã mostrou intensidade nos movimentos com o pavilhão sempre de forma precisa. A questão da evolução da escola, com a ala que seguiu se deslocando e abrindo buraco em frente ao casal em pelo menos dois módulos, não interferiu na eficiência do casal, ainda que em alguns momentos pela fisionomia, obviamente havia preocupação na dupla.

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Fotos de Allan Duffes/Site CARNAVALESCO

Mas, o elogio fica por conta da concentração que o casal apresentou, mesmo com os problemas, para a conclusão da exibição em toda a pista. Matheus carregava um lenço que lhe dava mais elegância nos movimentos. Eles estavam vestidos de traje de gala em um tom de vermelho mais escuro. Em um momento da coreografia executaram um giro de forma elegante e muito bem sincronizado.

“O ensaio foi maravilhoso, muito bom. É a minha estreia com a Jaçanã aqui na Inocentes de Belford Roxo e estamos felizes demais. O ensaio foi lindo. O trabalho está sendo feito e se Deus quiser chegaremos no desfile trazendo nota máxima pra escola”, disse Matheus.

“Hoje fizemos o ensaio técnico. Aqui sentimos o calor e realmente qual vai ser a energia do desfile. Pra gente, é extremamente valoroso. A previsão é que tudo se melhore. Não é a coreografia oficial e vamos criar ainda mais coisas até o carnaval para ficar tudo lindo”, comentou Jaçanã.

Comissão de Frente

A coreógrafa Juliana Frathane trouxe para este ensaio uma proposta bastante relacionada com o enredo e de fácil entendimento dos movimentos. Apesar dos problemas já citados por conta da evolução da ala que vinha logo atrás, quando os bailarinos se apresentavam nos módulos, durante a coreografia de deslocamento, os componentes da comissão de frente utilizavam muito bem o espaço da Sapucaí, preenchendo bastante a pista com dança e movimentos com sincronismo.

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Na coreografia, havia mulheres com saias em um tom marrom escuro, talvez, remetendo ao próprio enredo, dando efeito de barro, que realizavam movimentos bem sincronizados apresentando um interessante efeito ao se unirem e dando ideia de maior volume preenchido no espaço por conta da saia. Havia também um elemento caracterizado de indígena entre as bailarinas, que hora a coreografia das mulheres o escondia, hora ele era destacado. O grupo de mulheres também parecia realizar alguns passos de danças típicas da região da Goiabeira ao qual o enredo é situado geograficamente.

Samba-Enredo

De volta à Caçulinha da Baixada, escola por onde passou no carnaval de 2012, o intérprete Thiago Brito iniciou o samba de 2023 na arrancada com uma bonita vocalização realizada pelo carro de som até o próprio cantor abrir no “Eu preciso falar de um Brasil”. No restante da apresentação o “ooô” vinha logo depois dos dois primeiros versos de forma pertinente pela melodia e sem prejudicar a boa condução que a equipe fez da obra.

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O andamento acordado e realizado pela bateria “Cadência da Baixada”, de mestre Juninho, ajudou bastante na condução do samba, com características mais melódicas que esteve sempre confortável para o canto da comunidade e agradável para quem acompanhava o ensaio, sem ficar arrastado ou agressivo a quem ouvia.

Ainda que o canto da agremiação não tem sido tão satisfatório e inspire um maior trabalho com a comunidade até o desfile, os trechos da obra que tiveram maior desempenho foram o refrão principal “É na renda, é na palha”, o refrão do meio “É no barreiro do vale do mulembá” e um outro bis na segunda do samba que começava com o “Tambor de Congo”.

Harmonia

O bom desempenho do samba por parte do carro de som, sustentando bem o ritmo e com correção no desempenho das vozes não se refletiu no canto da escola que precisa melhorar em alguns setores, principalmente nas alas de início. Do meio para o fim, algumas alas se destacaram com uma intensidade interessante e constância no canto . Para citar algumas, as alas número 10, 16 e a que vinha logo a frente da bateria “Cadência da Baixada”. Alguns componentes em diversas alas se contentavam apenas em cantar o refrão principal e o Ôôô que vinha logo depois do primeiro verso da cabeça do samba. Nas demais partes, o canto destes desfilantes citados desaparecia, fortalecendo a suspeita de que não conheciam a letra.

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“Achei muito proveitoso (o ensaio). Bem bacana. O andamento da bateria onde a gente queria, a gente largou onde queríamos. É normal a gente largar um pouquinho na frente para chegarmos aonde queremos, porque se a gente largar muito para trás, quando chegar no segundo recuo aqui no final vai estar pagodão. Temos tudo para fazer um grande desfile. Hoje foi uma prévia, não é o som oficial. Curti bastante, acho que estamos em um caminho super certo para brigar por esse. “Eu acho que esse samba tem alguns momentos muito fortes. Tanto refrão, refrão do meio (“É no barreiro no Vale do Mulembá”) e a cabeça do samba (“Eu preciso falar de um Brasil, ôô, ôô”)”, garantiu o intérprete Thiago Brito.

Outros destaques

A bateria mostrou boa desenvoltura ao produzir um andamento confortável para o samba e no desenvolvimento de bossas como no refrão principal em que havia um destaque para a ala de chocalhos. A escola veio bem arrumada com todos os componentes com a camisa do enredo 2023, diversas alas levavam bolas de encher nas cores da Inocentes e algumas alas traziam um balão transparente com um coração dentro.

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No esquenta, o intérprete Thiago Brito cantou o samba de 2020 que homenageou a jogadora Marta, recebendo uma boa recepção do público que cantou principalmente o refrão principal “É a Marta, é a deusa”. O coreógrafo Carlinhos Salgueiro esteve presente no ensaio em uma ala coreografada em que os componentes se juntavam e lambuzavam o sambista com o produto, gerando um efeito que remetia a criação humana e ao mesmo tempo ao trabalho homenageado no enredo da fabricação de panelas de barro.

Por Gabriel Gomes, Augusto Werneck, Cristiano Martins, Luisa Alves e Victor Pinho