Festa na Serrinha! O Império Serrano venceu a Série Ouro e está de volta ao Grupo Especial. A Verde e Branco perdeu apenas um décimo na apuração. Estranhamente, a Santa Cruz e o Cubango foram rebaixadas para Série Prata e vão desfilar em 2023 na Intendente Magalhães. * LEIA AQUI A CRÔNICA DO DESFILE // * VEJA FOTOS DO DESFILE
Como foi o desfile do Império Serrano
O presidente Sandro Avelar falou mais de uma vez que o desfile de 2020 era o pior da história do Império Serrano em sua história. Se é verdade, a escola então se redimiu com um desfile sem erros, perfeito em evolução, com destaque também para o canto da escola, bateria do estreante mestre Vitinho e a comissão de Patrick Carvalho, que ainda que um efeito não tenha funcionado no segundo módulo, resumiu de forma clara o enredo. A Verde e Branco da Serrinha esteve menor do que algumas outras agremiações, mas entregou alegorias e fantasias de bom gosto. Com o enredo “Mangangá”, de autoria do carnavalesco Leandro Vieira, a agremiação encerrou a última noite dos desfiles da Série Ouro com 53 minutos.
A comissão de frente de Patrick Carvalho “Besouro e Império da patente de Ogum” representou a crença de que Manuel Henrique Pereira, o Besouro Mangangá, era um homem de corpo fechado que lutava com a força protetiva de seu orixá. Para isso, a comissão trouxe um bailarino representando o “Besouro Mangangá”, e outros representando as entidades do orixá, estes vestidos em uma roupa prateada que colocava um tom futurista para a apresentação. A coreografia de avanço trazia bastante sincronia entre os orixás e o capoeirista. Atrás, um elemento cenográfico representando o engenho foi palco primeiro para a emboscada armada para o assassinato do “Besouro”, quando outros capoeiristas e um coronel aparecia para realizar o ato. O elemento cenográfico apresentava o truque usado por Patrick Carvalho em outras comissões em que a alegoria passava e se realizava uma transformação, neste caso, o componente era trocado por um drone caracterizado do inseto besouro que voava e levantava o público. Como ponto importante a ser citado, o drone não realizou o voo no segundo módulo de julgamento, sendo retirado por um componente e guardado novamente na cenografia.
O primeiro casal da Serrinha, Matheus Machado e Verônica Lima, tinham como fantasia “Exu de Oxalá”, representando o mensageiro de um orixá supremo, o exu que veste branco. A dupla realizou uma apresentação de cerca de dois minutos e meio pontuando bastante algumas terminações dentro do samba que traziam elemento das religiões africanas como “firma o ponto no Juremá”, “Sou eu Império da patente de Ogum” com algum tipo de passo afro, principalmente quando a bateria fazia uma bossa mais voltada para o jongo. No “sou Exu de Oxalá”, a dupla realizava uma referência afro com o ombro. No geral, a dança mostrou bastante intensidade nos passos, principalmente de Matheus, que alguns momentos parecia flutuar. Já Verônica girava com bastante elegância. Um ou outro momento que a bandeira poderia estar mais desfraldada, mas nada que comprometa a boa apresentação.
Desde os primeiros versos quando Igor Vianna e Nêgo iniciaram o “Bate Marimba”, não só os componentes da Serrinha como boa parte da Sapucaí nas arquibancadas e nas frisas entoaram o samba com vigor, intensidade e correção da letra que poderia aspirar alguma dificuldades pela letra e métrica bonita, mas de não tão fácil aprendizado. Do início ao fim da escola, as alas cantaram e não se via componentes fingindo ou conversando. Destaque para as alas “mestre Alípio”, no primeiro setor, ala “Ogum”, do segundo setor e “samba de roda”, do último. Algumas alas mais clássicas como baianas, velha guarda e passistas também passaram cantando muito, assim como a bateria de mestre Vitinho e a comissão de frente.
O enredo “Mangangá” de autoria do carnavalesco Leandro Vieira transformou em narrativa carnavalesca a história de Manuel Henrique Pereira, capoeirista baiano que tornou-se uma forte liderança na luta contra a insubordinação de homens e mulheres negros. Seu nome mais popular, Besouro Mangangá. Dividido em três setores, na abertura “ Firma ponto pro corpo fechar”, a escola mergulhou em um ambiente que evoca a ancestralidade negra. Em seguida “Negro feito na cabaça não se rende a coronel”, a abordagem foi direcionada ao aspecto religioso, segundo mitos, o orixá fecha o corpo do homenageado para adiar a sua morte. Por fim, “Serrinha canta o justiceiro vingador”, o Império abordou a vida de trabalho do capoeirista e apresentou seus algozes. Um enredo de fácil leitura que trouxe de forma cronológica os fatos que o carnavalesco escolheu como mais relevantes da vida do capoeirista. A escolha por um recorte mais específico da vida do homenageado acabou por trazer um desfile menor em comparação com outros escolas.
A escola foi perfeita no quesito e se coloca muito forte na briga pelo título em comparação a escolas que erraram bastante. A opção por um desfile mais enxuto foi inteligente, focando em mostrar qualidade e não quantidade, o que impactou em uma evolução no geral fluida, sem buracos, espontânea, sem alas emboladas.Destaque para alas de passistas “trabalhadores negros” que além de trazer uma fantasia colorida mostrou bastante samba no pé. Destaque também para a ala “Xangô” do segundo setor que passou na Avenida com muita alegria, canto e sem se colocar em fileiras rígidas. A ala “Exu” do início realizava uma coreografia muito bonita e espiritualizada.
O samba escolhido ainda em 2020 que poderia preocupar por algumas questões de métrica mais difícil nos dois refrãos passou de forma bastante tranquila pela Sapucaí principalmente pelo andamento mais cadenciado gerado pela Sinfónica de mestre Vitinho. O samba facilitou o canto e deixou a evolução mais espontânea. A letra foi cantada não só pelos componentes do Império, mas pelo público em geral nas frisas e arquibancadas, fato raro. Destaque para o refrão “Bate Marimba Camará”, o trecho antes do refrão do meio “Filho de faísca é fogo”. A integração no carro de som entre os intérpretes oficiais Nêgo e Igor Vianna, que finalmente fez sua estreia depois de quase dois anos anunciado, foi um ponto alto, sem vaidade, com cada um deixando o outro profissional brilhar e os dois impulsionando o canto do imperiano.
A escola trouxe fantasias de muito bom gosto com a cara do carnavalesco Leandro Vieira, com boas soluções estéticas.Em diversas alas, a escola também investiu em uma maquiagem que contribuia para a caracterização de cada fantasia. A bateria “besouro:sangue real”, que evocava a ancestralidade real do capoeirista, os ritmistas estavam com o rosto pintado de branco. O mesmo se viu nas alas seguintes Destaque para as alas seguintes “Jagunço”, representando os homens violentos, guarda-costas de pessoas influentes, e ” Coronel”, representando inúmeros senhores que queriam a morte do capoeirista, e “força policial”, apresentando brigas entre o Besouro e os supostos defensores da lei. A ala das baianas “mirongueiras”, muito coloridas, vestindo a sabedoria e os segredos das pretas mirongueiras. Outro destaque foi para a ala das crianças “ogun”, representando os corpos fechados que na tradição afro-brasileira.
Com três alegorias, a escola trouxe no abre-alas “Besouro, saravá, Serrinha”, o Besouro Mangangá, capoeirista homenageado do enredo. A alegoria trazia a coroa do Império sendo resguardada por Orixás, destaque para a utilização de materiais como ferro retorcido que apresentava um efeito interessante, assim como a diferente estética das esculturas de frente, mais voltado para o afro.
Na segunda alegoria ““Se quebrar pra São Caetano”, o Império representou um ambiente rural, típico do recôncavo baiano, um carnavalesco engenho de cana de contorno africanizado, pois Besouro foi trabalhador de engenhos da região, criativo pela utilização de bambus.
Por fim, a terceira alegoria “Império, da patente de Ogum”, mostrou Besouro morrendo e virando lenda. Seu corpo, consagrado a Ogum, transforma-se em sinônimo de luta negra. Uma escultura de São Jorge figurava no centro da alegoria, a iluminação se destacou principalmente pela coloração prateada do carro. Em geral, a escola trouxe alegorias de muito bom gosto, assim como as fantasias, ainda que menores que outras escolas e não tendo o melhor acabamento da Série Ouro, ainda que estando entre as melhores.
A bateria do mestre Vitinho trouxe berimbaus que participavam das bossas. Uma de grande destaque remontava ao toque da cavalaria e o fechamento com o agogô. A rainha Darlin Ferrattry, com a fantasia “realeza imperiana”, chorava de emoção quando a bateria saiu do segundo recuo. Além dela, muitos imperianos no final do desfile estavam emocionados tanto dentro da escola como nas arquibancadas. O setor trouxe o grito de campeão. Quitéria Chagas levantou a arquibancada do setor 3 sambando antes do início do desfile. Arlindinho e sua esposa marcaram presença também na Sapucaí na apresentação da Serrinha.