Por Lucas Santos. Fotos de Magaiver Fernandes
Última escola da Liesb a desfilar na Intendente Magalhães, o Império da Uva de Nova Iguaçu apresentou as ideias do pensador Darcy Ribeiro para modificar o contexto social que afligem os indígenas, negros e pobres mas pecou na estética das fantasias, em evolução e na harmonia.
De positivo ficou o enredo, de fácil leitura e bem apresentado com uma bonita mensagem pelo carnavalesco Silvio César Ribeiro, assim como os carros coloridos e de boas soluções de iluminação. A escola foi a campeã do grupo C em 2019 e se conseguir continuar no grupo ficará a sensação de ter cumprido seu objetivo.
Comissão de frente
A comissão de frente trouxe uma coreografia que não apostavam tanto em movimentos acrobáticos mas dialogava de forma expressiva com a letra do samba. Efeito observado no refrão quando há o trecho ” e samba” em que os componentes literalmente sambavam. Outro momento foi no trecho da ditadura militar da obra que os integrantes seguravam uns aos outros em movimentos bruscos A fantasia representava uma espécie de guarda com bonitas penas no chapéu na cor verde da escola. Apesar de não ter um acabamento tão perfeito, trazia um bom gosto principalmente nas armaduras que reluziam em efeito de pedras preciosas.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O casal Cristiano Foguinho e Edna Ramos apostou em uma coreografia mais focada em movimentos graciosos e sensuais. Edna apresentava em alguns momentos expressões e movimentos mais descontraídos nos trechos do samba que remetiam mais à leveza da vida de Darcy, como o que falava da”passarela do samba, reduto de gente bamba”. Como ponto negativo da apresentação ficou a falta de proximidade do casal. Ainda que demonstrasse muita sensualidade e leveza, faltou aproximação aos dois.
Evolução
A evolução vinha bem dançando sem correria até a escola ter um pequeno problema por conta de dificuldade em empurrar a segunda alegoria. O problema poderia ter sido pontual mas deixou um pequeno buraco logo antes do terceiro módulo de julgamento. Depois deste momento a escola retomou a boa evolução mas voltou a pecar de novo no fim do desfile demorando a encerrar a apresentação, evoluindo de forma muito lenta.
Harmonia
O carro de som comando por Rogério Santos até chamou os componentes mas o canto da escola não foi legal. Parecia que apenas algumas alas da comunidade realmente estavam cantando. A grande maioria passou sem mexer a boca.O único destaque talvez ficou com a última ala da escola que trazia a velha guarda declamando a obra com vontade.
Fantasias
O Império da Uva apostou em trazer no um início de desfile cores mais cítricas nas penas do chapéu. O verde da escola também estava bastante presente. Mas o aspecto visual da parte de baixo das fantasias não impressionou. O investimento maior estético foi na cabeça e esplendores. O nível até aumentou depois do primeiro carro mas já no final do segundo setor as fantasias voltaram a apresentar o mesmo problema.
Alegorias e Adereços
Um dos destaques do desfile foi as três alegorias que possuíam uma qualidade muito interessante e uniforme. A primeira alegoria trouxe o povo indígena um dos personagens que mais sofrem pelo contexto social assim como citado no enredo. Alguns animais ornavam a alegoria, como a onça e peixes, que era completada por foliões em bonitas fantasias indígenas. Na segunda alegoria, uma bonita imagem de Darcy Ribeiro e componentes fantasiados de lápis em um colorido interessante representando a importância que o pensador dava a educação. Por fim, o terceiro carro encerrava o desfile com muito bom gosto trazendo a passarela do samba destacando um casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira com o pavilhão do Império da Uva, alguns pierrots e colombinas na parte da frente, e a bandeira de outras escolas de samba atrás. A aposta em todos as alegorias foi em uma iluminação simples mas bastante funcional.
Enredo
O enredo “Darcy Ribeiro – O homem muito além do seu tempo” passou bem o recado apostando em setorizar de forma clara no início aqueles que Darcy queria ajudar principalmente com suas ideias, no segundo setor as ações e as dificuldades que o pensador teve que enfrentar como a ditadura e na última parte, um recado para que as pessoas possam valorizar a cultura brasileira, representada pelo carnaval, como artifício usado por Darcy para enfrentamento da desigualdade social.
Samba-enredo
O samba-enredo veio em primeira pessoa trazendo uma visão do próprio Darcy de suas experiências desde o nascimento em Minas Gerais e depois em um segundo momento falando de suas realizações. Apesar de uma letra poética como no trecho “no sonho que nasce no amor verdadeiro, guerreiro de fé é o povo brasileiro”, os refrões mais dolentes faziam com que o samba não apresentasse um clímax para o canto.
Bateria
A bateria de mestre Dó apostou em passar de uma forma um pouco mais reta e trouxe apenas algumas bossas que mais serviam para manter o andamento do samba. Destaque para um toque mais afro no trecho do samba que cita “o negro oprimido” e no trecho logo antes do segundo refrão onde era feita uma pequena paradinha para que os componentes cantassem “Sou eu Império da Uva de Nova Iguaçu”
Outros destaques
As baianas da escola trouxeram uma interessante mistura de tons cítricos, amarelo, laranja ainda com um pouco do verde da escola. Na cabeça algumas frutas para que estás pessoas pudessem ser homenageadas representando o que o enredo chama de “fruto do saber”.
No segundo setor destaque para a ala da ditadura que trazia as pessoas fantasiadas de operário com um diabo nas costas. Por fim, os ritmistas da bateria comandada por Mestre Dó vieram fantasiados de “formandos” usando uma bata com o verde da escola.