A Imperatriz Leopoldinense caprichou para fazer do Dia Nacional do Samba, uma grande homenagem para todo o sambista reverenciado nas figuras de suas coirmãs do Grupo Especial e na sua escola madrinha de fundação, o Império Serrano. Para que a data não passasse em branco, a Verde e Branca de Ramos mudou o dia de seu ensaio, normalmente realizado às sextas-feiras, convocou as outras escolas para enviarem representantes, entregou para cada uma placa e relembrou sambas do passado das agremiações.
O diretor executivo da Imperatriz Leopoldinense, João Drumond, destacou a importância das escolas de samba se unirem em um momento em que o carnaval vem sendo tão perseguido. “Eu acho que o carnaval está vivendo um momento muito complicado, por mais que a gente tenha esperança de dias bastante melhores. Um momento em que a opinião pública tem batido um pouco no carnaval. E eu acho que é uma data que é preciso celebrar, é preciso que a gente propague essa data para a sociedade, e, acima de tudo, eu acho que é uma data que os sambistas em geral precisam demonstrar união porque se os sambistas não se unirem, se as escolas não se unirem, se o carnaval não estiver unido, a gente não consegue passar por essa fase. A mensagem é essa: a união entre as escolas, a união entre os sambistas para que a gente consiga ter carnaval em 2022, e eu não tenho a menor dúvida que nós vamos ter, e fazê-lo o maior carnaval de todos os tempos”.
Ícones da Imperatriz, o eterno casal de mestre-sala e porta-bandeira, Chiquinho e Maria Helena, são um dos mais belos exemplos da força do samba que é passada de geração em geração. Mãe e filho, desfilaram por mais de 20 anos, dançando juntos e defendendo o pavilhão da Imperatriz. Os baluartes da Verde e Branca de Ramos agradeceram pela oportunidade de poderem comemorar o dia do samba presencialmente.
“É uma satisfação muito grande para todos nós sambistas, principalmente para mim que sou de uma geração mais antiga e o samba é essa energia, é essa popularidade, mas infelizmente estamos sendo vencidos por uma pandemia e a gente tem que se preocupar com isso são vidas, são as nossas vidas que estão em risco, mas é um dia muito especial que não deve ser deixado de ser comemorado”, entende Chiquinho.
“Foi a melhor coisa que pôde acontecer depois desta turbulência toda, essas doenças, essas mortes, tínhamos que dar a volta por cima para melhorar as coisas”, acredita a porta-bandeira Maria Helena.
Utilizando de seus segmentos para abrilhantar a festa, a Imperatriz começou o evento com seu samba de 2009 que homenageia não só o bairro da escola, mas toda a sua relação com o samba, cantando o Cacique de Ramos, o Grupo Fundo de Quintal, e a própria história da Imperatriz. Ddepois, o tributo às outras agremiações teve início, começando pela atual campeã do carnaval do Rio de Janeiro, a Viradouro. O intérprete Zé Paulo Sierra foi o encarregado de receber o prêmio e levantou a quadra de ensaio Luiz Pacheco Drummond com o samba campeão de 2020. À reportagem do CARNAVALESCO, a exemplo de João Drummond, ele aproveitou as comemorações do dia do sambista para fazer um alerta sobre a perseguição que o povo do samba vem recebendo nos últimos tempos.
“A data específica é tão emblemática porque a gente vem sofrendo ataque, por ignorância, muitas vezes, talvez na maioria das vezes, preconceito mesmo, mas o samba não vive isso hoje. Talvez algumas pessoas entendam o que a nossa ancestralidade sentiu lá no começo de tudo. Então, a gente vive um momento de intolerância contra o nosso gênero musical, então hoje a gente se vê no momento em que as pessoas nos atacam sem saber o que vai acontecer, e sem motivo para tal. Porque essas mesmas pessoas que nos atacam, estão aglomeradas em outro tipo de show, em outro tipo de eventos, em jogos de futebol, mas o carnaval, eles não querem que aconteça. O samba eles querem denegrir. Hoje mais do que nunca é um grito de alerta, é um grito de guerra contra essa maldade que estão fazendo com a gente”, disse Zé Paulo.
A festa seguiu com o Salgueiro apresentando seu samba que caiu na boca do povo em 2016 com o “Malandro batuqueiro”, do enredo Ópera dos Malandros, sendo entoado pelo carro de som da Imperatriz. O diretor cultural do Salgueiro, Marcelo Pires, ficou responsável por representar a escola. A Estação Primeira de Mangueira relembrou o samba campeão de 2002, “Brasil com Z é pra cabra da peste, Brasil com S é nação do nordeste”. Simone Rosa da direção da harmonia recebeu a placa em nome da escola. “Em nome da Estação Primeira de Mangueira, é uma honra estar na casa de vocês, estar no chão de vocês e receber este prêmio maravilhoso pela data hoje. Viva o samba”.
A Portela foi representada por Junior Escafura, membro da direção de carnaval, e, pelo intérprete Gilsinho que entoou o maravilhoso “Contos de Areia”de 1984. Junior se emocionou ao lembrar que fez parte da Imperatriz por bastantes anos, foi responsável pela harmonia entre 2015 e 2020. “Prazer imenso estar aqui representando a Portela nesta quadra aqui da Imperatriz que eu tenho o maior carinho, foram anos aqui nessa quadra, impossível não me emocionar”.
Seu Jorge Honorato, pai do presidente da Paraíso do Tuiuti, Renato Thor, também falou de sua relação com a escola de Ramos, ao receber a homenagem. “Fico honrado por ter participado dos dois primeiros títulos da Imperatriz Leopoldinense. Como dizia o mestre, vamos cantar samba, não vamos deixar o samba morrer”. A Tuiuti também se emocionou com o belíssimo samba de 2018 que foi cantado por Ciganerey.
Já a Beija-Flor, teve Selminha, Claudinho e o diretor de carnaval, Dudu Azevedo, para representar o pavilhão. Selminha reverenciou Maria Helena e Chiquinho, grande inspiração para o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Beija-Flor, que vai comemorar 30 anos de Avenida em 2022.
“É um prazer estar aqui neste solo sagrado onde nós guardamos o coração porque nós quando começamos essa parceria de quase 30 anos (parceria com Claudinho), nós fomos apadrinhados por este casal que o mundo inteiro ama e respeita. E hoje neste dia tão especial que o dia nacional do samba, vê-la aqui neste lugar que ela tanto ama, com saúde, amando está escola…Dona Maria Helena e Chiquinho, toda a reverência para vocês é muito pouco”.
Já Evandro Malandro fez questão de lembrar a importância de que o sambista não desista de brigar pelo carnaval como atividade cultural e de direito do povo, antes de cantar o samba de 2020 da Grande Rio, um grande hino contra a intolerância religiosa. “Eu fico feliz de fazer parte dessa festa, festa que é nossa. Hoje a gente tem que bater no peito por ela, é muito importante sim, ver o povo todo feliz cantando, participando do que é nosso”.
Pela Vila Isabel quem recebeu o prêmio foi Caca da Vila, da equipe de harmonia, e pela São Clemente, Marquinhos Harmonia. “Eu venho representando a Vila Isabel e nós queríamos agradecer essa homenagem. Infelizmente não podemos estar mais completos porque nós tivemos ensaio hoje na Boulevard Vinte Oito de Setembro. Mas de qualquer maneira, nós estamos presentes com o nosso segundo casal, com ‘nossos harmonias’, e quero dizer que o Samba é resistência sim, viva o samba, viva o carnaval”, lembrou Cacá.
“O nosso presidente, Renato Almeida Gomes tem um carinho muito grande por essa agremiação. Presidente Cátia, o seu pai Luizinho era um amigo incondicional de nosso presidente Renatinho. E hoje, no dia Nacional do Samba, essa placa, com certeza nós estamos lisonjeados por essa homenagem. Eu queria desejar a toda a comunidade da Imperatriz, que “papai do céu” ilumine todos vocês. Feliz carnaval”, desejou Marquinhos Harmonia.
Para a São Clemente, foi relembrado o samba de 2015, sucesso do enredo sobre Fernando Pamplona e pela Vila, um dos sambas mais emblemáticos do carnaval de todos os tempos, “Kizomba, Festa da Raça”.
A Mocidade foi homenageada com o samba de 1985, “Ziriguidum 2001”. O diretor de harmonia Wallace Capoeira à reportagem do CARNAVALESCO relembrou a importância de agradecer por poder vivenciar este momento de alegria de forma presencial
“Primeiro é agradecer a “papai do céu” por permitir estar presente hoje, vivenciando esse momento através da Imperatriz Leopoldinense que nos presenteou com uma belíssima homenagem. É um motivo de muito orgulho, e hoje, além de estar celebrando o Dia Nacional do Samba, estamos celebrando a vida, neste momento difícil, e podendo estar presente é uma satisfação imensa”.
A Unidos da Tijuca protagonizou um dos momentos mais bonitos deste dia de sambistas, Wantuir e a filha Wic Tavares, agora também sua companheira a frente do carro de som do Pavão, receberam a homenagem juntos. Wantuir aproveitou para apresentar a comunidade Leopoldinense, a nova função de Wic demonstrando como o samba pode ser passado de geração em geração para sempre se manter vivo. “Eu gostaria de nesse momento, que vocês recebessem com muito carinho, a minha filha Wic Tavares, cantora da Unidos da Tijuca, oficialmente”.
O site CARNAVALESCO também foi um dos homenageados na festa, recebendo uma placa e representando todos os veículos de imprensa que se dedicam a cobrir e a falar de carnaval, de samba, o ano todo.
Imperatriz inicia ensaios de rua
Após a festa pelo Dia Nacional do Samba, a Imperatriz deu início ao seu ensaio de canto, em preparação para o desfile e já para o primeiro ensaio de rua que a escola irá realizar no próximo domingo (05) na Rua Cardoso de Morais. O diretor executivo da escola, João Drumond acredita que a retomada dos ensaios de rua trará um novo ânimo para os componentes e ajudará na avaliação sobre a evolução do canto da escola.
“Há muito tempo que a Imperatriz não tem uma rotina de ensaios de rua, e a gente vê isso como muito importante para trabalhar o canto, para trabalhar a evolução e acima de tudo para trabalhar a auto estima do componente que vê o trabalho evoluindo a cada semana e não tenho a menor dúvida de que as pessoas vão ficar muito feliz de estar na rua novamente no domingo. É gradativo, pé no chão e muito trabalho pela frente”.
Em 2020, a Imperatriz, vai abrir os desfiles de domingo das escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro com o enredo ” Meninos, eu vivi…Onde canta o sabiá, Onde cantam Dalva & Lamartine “.