“A arte de narrar está em vias de extinção” (WALTER BENJAMIN, 1996. P.197).

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Arte de Antonio Vieira

Ao ser honrosamente convidado para navegar pela obra do enredista João Gustavo Melo, me propus o desafio de tratar a empreitada como o desenvolvimento de um enredo. Porém, para dar samba, precisava mais do que informações: faltava ao texto ondas de afeto, de lúdico, de magia e de sedução. Elementos tão presentes na obra de João. Assim, recolhi minha âncora e me lancei nas águas quentes de minha memória recente.

Bons ventos sopraram as velas de meu destino, me guiando ao encontro de João durante as águas turbulentas de um mestrado. João é um habilidoso “contador de causos”, daqueles que a gente ouve por horas a fio, e te proporcionam a sensação de calmaria, do qual o vasto repertório de histórias e memórias envolventes transita naturalmente entre as culturas. É um grande narrador do Brasil para o próprio Brasil. Jornalista, enredista, pesquisador, cearense e neto de uma cordelista (talvez venha daí sua vocação). Grande apaixonado pelo carnaval carioca, que como tantos outros brasileiros, foi seduzido pelo canto de sereia dos narradores que o antecederam, e que, assim como ele, aproximam este país continental por meio das águas da carnavalização.

“Além de um profissional competente ao extremo, e pessoa íntegra, respeitosa e sensível, ele ainda tem a capacidade de ter um papo incrível, e ser bonito! Aí já é sambar muito na nossa cara! Tô pra ver sujeito mais apaixonado pelo nosso povo, nossa cultura, alma… Eu acho que Guga nem mora no Brasil, o Brasil é que mora dentro dele!” – Jack Vasconcelos

Sua vasta produção de mais de quarenta enredos, geraria uma epopeia, com direito a dramas, paixões, humor e grandes momentos de superação. Conhecido sobretudo por sua atuação no Salgueiro, onde ficou ancorado por de cerca de quinze anos, e trouxe à tona tesouros como “Candaces” (2007) e “Cordel branco e encarnado” (2012), recentemente zarpou em busca de novos parceiros de aventuras como o carnavalescos João Vitor Araújo, união da qual gerou a jóia “Qualquer semelhança não terá sido mera coincidência”, sinopse da Unidos de Padre Miguel de 2019.

“João Gustavo canta quando escreve.
João Gustavo canta quando pensa.
João Gustavo canta quando apresenta o seu opulento trabalho.
João Gustavo é o grande intérprete da arte da pesquisa e da escrita!
Viva , João Gustavo!” – João Vítor Araújo.

Como um grande aventureiro da palavra, ele se joga de cabeça nos livros, nas narrativas orais, nas memórias das coisas, sem se perder no academicismo, na frieza de um texto pedagógico, linear e informativo ou datado, pois leva consigo a bússola da atualidade e a isca do afeto. Não teme mergulhar em águas profundas, pois tem o fôlego necessário para resgatar os tesouros dos signos e memórias nacionais, geralmente submersos nos mares do esquecimento e do obscurantismo de um país que naufraga sua melhor frota, a cultura popular.

  • O Enredista. Por André Wonder

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