A Acadêmicos do Grande Rio desembarcou, na noite do último sábado, no Centro de Nilópolis para participar do “Encontro de Quilombos”, evento promovido pela Beija-Flor. Apesar do clima de festa, a agremiação levou a sério o ensaio de rua na casa da coirmã e fez um belo espetáculo na Estrada da Mirandela. Embalado pelo ótimo rendimento do samba-enredo, os quesitos de chão da tricolor caxiense foram os destaques da apresentação, assim como o carro de som comandado pelo intérprete Evandro Malandro e a bateria liberada pelo mestre Fafá. Logo após o término do treino, o diretor de carnaval Thiago Monteiro concedeu uma entrevista para a reportagem do site CARNAVALESCO, na qual avaliou o desempenho da escola e fez questão de elogiar o canto dos componentes.

“Estou muito feliz, muito satisfeito. Acho que a escola cantou bem e o principal destaque foi essa irmandade entre a Beija-Flor e a Grande Rio. Em 2022, no ano do Exu, eles já tinham ido nos visitar em Caxias e hoje a gente teve a possibilidade de retribuir essa gentileza. Então, estou muito contente com a apresentação e acho que a agremiação está cada vez mais madura. Estamos em fase de preparação e o samba está pegando. Tecnicamente, embora seja um campo diferente, a metragem é bem semelhante. E o balanço é que a comunidade se comportou muito, muito bem”, ponderou Thiago Monteiro.

No ano que vem, a Grande Rio será a quarta escola a cruzar o Sambódromo da Marquês de Sapucaí no domingo de Carnaval, dia 11 de fevereiro, pelo Grupo Especial. A agremiação irá em busca do segundo título de campeã da folia carioca com o enredo “Nosso destino é ser onça”, assinado pela dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A proposta é fazer uma reflexão sobre a simbologia da onça no cenário artístico-cultural brasileiro, tocando em temas como antropofagia e encantaria.

Comissão de Frente

Formada pelo casal Hélio e Beth Bejani, a dupla de coreógrafos da Acadêmicos do Grande Rio trouxe para Estrada da Mirandela uma apresentação especialmente elaborada para os ensaios de rua. A performance contou com a participação de 14 integrantes e foi marcada por passos bem definidos, assim como movimentos que faziam alusão ao que era contado pela letra do samba-enredo. Mesmo sem o uso de fantasias ou elementos cênicos, a comissão chamou a atenção do público que assistia a passagem da tricolor caxiense e arrancou aplausos durante diversos momentos. O principal deles ocorreu no refrão do meio, quando uma das componentes ia para o centro de uma roda para, em seguida, ser erguida para o alto. Em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, os dois responsáveis pelo quesito falaram sobre a importância dos treinos a céu aberto, além de comentarem sobre o trabalho que está sendo realizado por eles visando o Carnaval de 2024.

“Tem duas questões que são bem importantes para nós, da comissão de frente, nos ensaios de rua. A primeira é o contato com a comunidade, enquanto a segunda é o preparo físico. Acima de tudo, esse tipo de ensaio ajuda muito no condicionamento da galera. Além disso, a gente consegue ir aprimorando o trabalho, desenvolvendo algumas situações, fazendo alguns testes, justamente visando uma melhor preparação. Claro que o que apresentamos aqui não é o que vamos levar para a Avenida, mas a gente experimenta algumas coisas sim”, relatou Hélio Bejani.

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“A gente está se baseando na coreografia oficial e está testando várias coisas que a gente pretende usar no desfile. É claro que não colocamos tudo que a gente pretende levar na apresentação, porém muita coisa aqui já funcionou. Isso vai fazer parte do avanço e do andamento da performance que estamos desenvolvendo para o grande dia”, pontou, logo na sequência, a coreógrafa Beth Bejani.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Após obterem no último desfile um total de três notas máximas e um 9,9, que acabou sendo descartado, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Acadêmicos do Grande Rio, Daniel Werneck e Taciana Couto, está empenhado na busca por alcançar os 40 pontos no Carnaval de 2024. Pelo menos, é o que ambos demonstraram durante a passagem pela Estrada da Mirandela, em Nilópolis, no “Encontro de Quilombos”. Com um figurino clássico, todo na cor branco, os dois apostaram em uma dança marcada pela intensidade, que mesclou o bailado tradicional com diversos passos coreografados, muitos deles fazendo referências à letra do samba. Repleta de giros, a apresentação executada pela dupla no treino desse sábado teve como características os movimentos precisos e o gestual elegante. Ela deixou evidente ainda a sintonia existente entre Daniel e Taciana, fruto de uma parceria que já possui mais de cinco anos de existência.

Samba-enredo

Um dos pilares do ótimo ensaio de rua realizado pela tricolor de Duque de Caxias, com certeza, foi o samba-enredo. A obra de autoria de Derê, Marcelinho Júnior, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Tony Vietinã e Eduardo Queiroz deu uma amostra de sua potência na noite desse sábado ao embalar os quesitos de chão da escola, que correspondeu com um canto bastante aguerrido e uma evolução alegre. Isso foi potencializado graças à performance do intérprete Evandro Malandro, que manteve uma pegada vibrante do começo ao fim, além de ter buscado a todo momento trazer os componentes para cantarem juntos. Outro fator importante para o rendimento do hino oficial foi o desempenho da bateria. Os ritmistas comandados por mestre Fafá souberam explorar o desenho melódico da composição, através de bossas e nuances, enriquecendo a mesma e levantando a galera presente na Estrada da Mirandela, sejam elas desfilantes ou meros espectadores.

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Fotos: Diogo Sampaio/CARNAVALESCO

“No primeiro ensaio de rua da Grande Rio, eu estava em Manaus fazendo um trabalho pela escola. Já no segundo, teve a questão da chuva que caiu logo depois daquela semana de onda de calor. Então, não tinha conseguido participar até agora e estava doido para fazer um ensaio de rua. E, sinceramente, nada melhor do que treinar com uma grande coirmã, como a Beija-Flor. O ensaio aqui na Mirandela foi maravilhoso e o samba rendeu muito. Devido a acústica que a gente tem na quadra, o canto ecoa bastante, mas faltava ter essa noção dele ao livre. Aqui, sentimos o clima de Avenida. Ver a escola cantando com muita vontade foi gratificante demais, não tenho palavras. Tinha certeza que a escola já estava cantando muito, mesmo sem a minha participação. Aliás, a voz principal participa de um ensaio de rua junto com a sua comunidade, mas quem carrega o samba é o componente. Portanto, tinha certeza que ia acontecer e hoje foi nota mil. Claro que ainda tem bastante coisinha para acabarmos de acertar, alguns molhos para colocar, tanto na bateria, carro de som, quanto na comunidade. Tem bastante coisa legal para gente fazer, aguardem”, declarou Evandro Malandro em entrevista concedida para a reportagem do site CARNAVALESCO, logo após a conclusão do treino.

Harmonia

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Os componentes da Acadêmicos do Grande Rio provou estar com a letra do samba na ponta da língua nesse ensaio de rua na Estrada da Mirandela. Ao longo de aproximadamente uma hora de apresentação, os desfilantes entoaram a obra com afinco, especialmente o refrão principal. Os versos “Werá, werá auê, naurú werá, auê/A Aldeia Grande Rio ganha a rua/No meu destino a eternidade/Traz no manto a liberdade/Enquanto a onça não comer a Lua!” foram berrados por eles e serviram como um momento de explosão da agremiação. Além dele, o refrão do meio, “É preta, parda é pintada feita a mão/Sussuarana no sertão que vem e vai/Maracajá, jaguatirica ou jaguar/É jaguarana, onça grande mãe e pai”, e o trecho “Kiô! Kiô, kiô, kiô Kiera/É cabocla, é mão-torta/Pé-de-boi que o chão recorta, travestida de pantera/Kiô! Kiô, kiô, kiô Kiera/A folia em reverência/Onde a arte é resistência/Sou Caxias, bicho fera!”, presentes na segunda estrofe, também se destacaram e foram fortemente cantados. Em relação às alas em si, chamou a atenção a intensidade do canto nas duas primeiras e nas duas últimas, mesmo elas estando mais afastadas do carro de som e da bateria.

Evolução

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Além da harmonia, outro quesito que foi impactado positivamente pelo ótimo rendimento do samba-enredo foi a evolução. Mesmo ensaiando “fora de casa”, a comunidade da tricolor caxiense compareceu em peso na Estrada da Mirandela, fazendo uma apresentação que ficou marcada pela alegria dos desfilantes. Sem estar preso em qualquer tipo de amarra ou fileiras rígidas, eles aproveitaram ao máximo a passagem da escola para brincar, pular, sambar e se divertir. O uso de adereços diversos como balões, bastões de luzes e pom poms ajudou a reforçar o clima de leveza, dando um charme a mais para o espetáculo da Grande Rio. Vale mencionar que essa empolgação não acarretou qualquer tipo de prejuízo para a agremiação, que mesmo em um clima mais descontraído, não sofreu com abertura de buracos, clarões no meio das alas ou embolamentos. Os momentos de parada dos segmentos para a apresentação dos quesitos nas cabines simuladas de jurados também não atrapalharam a escola, que conseguiu manter um ritmo cadenciado do início ao fim.

Outros destaques

A bateria da Acadêmicos do Grande Rio foi uma atração à parte no “Encontro de Quilombos”. Os ritmistas liderados pelo mestre Fafá demonstraram estar entrosados com o carro de som e contribuíram para a ótima performance do samba-enredo, sendo peças cruciais para mantê-lo com um alto rendimento durante aproximadamente uma hora de ensaio de rua. As bossas e nuances realizadas por eles agitaram o público, que não ficou parado durante a apresentação e entrou no clima da escola.

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Sem a presença da rainha de bateria Paolla Oliveira, coube a musa Luciene Tavares, a Santinha, a missão de vir à frente dos ritmistas da tricolor caxiense. A beldade não se intimidou com o desafio e deu uma aula de samba no pé. Com um vestido brilhoso e de estampa de onça, ela esbanjou beleza e simpatia no decorrer da passagem da agremiação, fazendo questão de interagir com os espectadores presentes nas calçadas da Estrada da Mirandela e com os comandados de mestre Fafá.