“Que Oxossi atire a flecha e atinja os corações… Pra que haja mais respeito entre as religiões”. Estes são os versos que antecedem o refrão principal da Unidos da Ponte, demonstrando toda mensagem de respeito, contra a intolerância religiosa que a Azul e Branca de São João de Meriti quer passar neste carnaval. O enredo “Liberte nosso sagrado: o legado ancestral de Mãe meninazinha de Oxum” está sendo desenvolvido pelos carnavalescos Rodrigo Marques e Guilherme Diniz. Pelo segundo ano à frente do Ritmo Meritiense, agora mais acostumado com os holofotes, mestre Branco Ribeiro explicou a proposta de trabalho para a gravação e para o próximo carnaval da Unidos da Ponte.

“A proposta para esse ano, podemos dizer que temos uma obra à altura da Unidos da Ponte. Não que no último carnaval não tenha sido, mas essa obra dá mais possibilidades além de ter uma mensagem muito importante. E ajuda mais e faz com que a gente se sinta mais motivado, e abra mais a mente para poder criar. O repertório afro ele também traz um novo desafio para mim que ainda não tive a oportunidade de trabalhar um enredo afro, será uma coisa muito boa para mim, agora mais amadurecido, melhor para poder trabalhar e explorar. A gente começa os ensaios a partir do lançamento do samba, que se torna uma coisa mais objetiva, trabalhado agora coisas que podemos inserir já dentro de uma obra escolhida, concreta”, explica Branco.

Quem também vai para o segundo ano na Ponte, neste caso a frente do microfone oficial, é o intérprete Charles Silva. O cantor contou como se preparou para colocar a voz oficial no Hino da Azul e Branca de São João de Meriti.

“Sobre preparação, eu, pelo menos, não tenho muito segredo, é dormir, descansar bastante, se alimentar bem, e muita água, principalmente no dia da gravação, comidas leves, uma fruta um pouco antes de colocar a voz”, revela o cantor.

O samba de 2023 tem autoria de Junior Fionda, Tião Pinheiro, Tem-tem Jr, Marcelo Adnet, Léo Freire, Marcelinho Santos, Carlos Kind, Bruno Castro e Vitor Hugo. Sobre a obra em si, o intérprete Charles falou das possibilidades que planeja para o samba que considera um dos melhores deste ano na Série Ouro.

“Eu acho que sem sombra de dúvidas é um samba que vai entrar para os grandes sambas da Ponte. Eu acho que tem tudo para ser um dos destaques da safra , acho que é um samba que ainda vai crescer muito, a gente fazendo ao vivo, quadra, ensaio de rua, até chegar no ensaio técnico e no desfile. Têm certas partes do samba que eu acho que serão muito marcantes para a comunidade, para o público em geral , principalmente a frase do refrão ‘Deixa em paz meu terreiro de candomblé’, a última frase da cabeça do samba ‘fundamento assentado em São João de Meriti’, tem uma bossa muito maneira que o Branco (Ribeiro) está fazendo, que dá uma ênfase nessa frase, eu acho que será um dos destaques do carnaval esse samba”, aposta o intérprete.

Também presente à gravação, o vice-presidente da Unidos da Ponte, Tião Pinheiro falou sobre o planejamento da escola em um ano em que muitas etapas tiveram que atrasar um pouco.

“É um ano atípico, é um ano diferente, um ano de grade muito curta. A Unidos da Ponte como todas as outras enfrentam este momento de dificuldade que é o calendário. A gente já voltou a fazer ensaios. Fazemos ensaios específicos de segmentos, preparando cada segmento isoladamente. E tem aqueles eventos gerais. Nós já fizemos dois grandes eventos, um foi do lançamento do samba e outro foi da retomada dos trabalhos para esse ano. E a gente está muito satisfeito com o que vem acontecendo, a gente está com o entendimento muito grande de que a história que a gente vai contar na Avenida é muito interessante. Nesse aspecto estamos muito entusiasmados”, admite o dirigente.

Tião, que também é um dos autores do samba da escola para o carnaval 2023, falou sobre a mensagem do enredo e como espera que ela emocione a todos que acompanharem o desfile da Unidos da Ponte.

“Para gente que lida com a cultura popular, é muito importante contar uma história que retrata aquilo que a gente defende, que é a mulher negra, o espaço dessa mulher e a espiritualidade, o respeito a tudo isso. Não é tolerância, é respeito. A gente vai contar a história de Mãe Meninazinha de Oxum, é uma história muito bonita, sobretudo pela missão dela de fazer um resgate dos objetos sagrados dos centros de candomblé e umbanda, que eram efetivamente sequestrados, pois não havia mandado para que isso acontecesse. Havia uma invasão, agressão. E esses objetos eram classificados como magia negra, não são. Estão sendo libertos, catalogados e serão expostos para o futuro. É uma história que mistura todos esses valores da mulher negra, da espiritualidade, das religiões de matriz africana”, esclarece Tião Pinheiro.

Em 2023, a Unidos da Ponte será a segunda escola a pisar na Sapucaí na segunda noite de desfiles da Série Ouro.