A bateria “Tabajara do Samba” da Portela fez um ensaio técnico muito bom, sob o comando de mestre Nilo Sérgio. Uma musicalidade que uniu o autêntico ritmo portelense e arranjos musicais pautados pela pressão, além de refinada elaboração. Com direito a uma exibição privilegiada do naipe de caixas e das destacadas terceiras da Majestade.
A cozinha da bateria da Portela apresentou um timbre relativamente grave, totalmente inserido nas tradições da Majestade do Samba. Marcadores de primeira e segunda foram seguros e precisos ao longo de todo o cortejo. O naipe de caixas de guerra, com sua genuína batida rufada, foi responsável por amparar musicalmente os demais naipes, além de dar base sonora para toda a “Tabajara”. Repiques coesos também contribuíram com o preenchimento da sonoridade de modo preciso. Os surdos de terceira portelenses se destacaram, adicionando um molho envolvente à parte de trás do ritmo.
Na cabeça da bateria, um trabalho de solidez sonora foi notado. A ala de tamborins tocou de modo firme, executando a convenção rítmica baseada na melodia do samba de modo seguro e preciso. Um naipe de chocalhos de valor técnico inegável ajudou a preencher a musicalidade com eficiência. Agogôs com bom volume, pontuaram o samba-enredo da Portela se aproveitando das variações melódicas para consolidar seu toque. Uma ala de cuícas acima da média ajudou na musicalidade da parte da frente do ritmo, inclusive participando das duas bossas da “Tabajara do Samba”.
A elaborada paradinha do refrão do meio é iniciada no último verso da primeira do samba. Após um corte seco, surdos e demais naipes dão tapas que auxiliam na pressão, para que o arranjo musical do refrão siga a linha de permitir ao ritmo portelense um balanço envolvente. Com frases musicais bem construídas, a sonoridade chega a encantar pelo swing dos surdos, complementado por repiques e caixas com toques precisos e integrados.
O detalhamento musical da referida bossa ganhou até certo ar de refino com uma contribuição luxuosa das peças leves. Tamborins deram tapas ritmados que auxiliaram no balanço, chocalhos deram molho e cuícas aproveitaram para concluir com uma “subidinha”. Tudo isso com agogôs tocando como pede a melodia no trecho “Deixa a Portela passar”, sendo finalizado com um ousado toque das terceiras que foram responsáveis pela retomada da “Tabajara” já na segunda do samba-enredo. Uma construção musical baseada profundamente nas nuances melódicas da obra e mostrando uma integração musical de raro valor.
Já a paradinha do final da segunda também se mostrou uma construção musical perfeitamente alinhada com o samba da Majestade. Mais uma vez juntando pressão ao balanço, se aproveitando das marcações, caixas, repiques, chocalhos e novamente cuícas ajudando a preencher a musicalidade da bossa. O telecoteco curto do tamborim no início do refrão, antes da subida dos repiques para retomar o ritmo, deu valor sonoro ao arranjo da bateria da Portela.
Mestre Nilo Sérgio tem motivo para ficar confiante em um grande desfile da bateria da Portela, após um ensaio técnico seguro e consistente de todos os naipes da “Tabajara do Samba”. Um ritmo que esbanjou tradicionalismo, mas sempre dando ao samba o que ele pediu. As duas conversas rítmicas bem elaboradas em bossas permitiram além de pressão, uma fluência plena entre as mais diversas peças portelenses.