Se tem uma ocasião em que ritmistas, diretores e mestres aguardam com ansiedade é o dia de levar a bateria para ensaiar na Sapucaí. Seja o treino mais reservado do setor 11 ou mesmo o ensaio técnico oficial, indiscutivelmente, se tratam de momentos preciosos para que seja avaliada a bateria e definido o norte do trabalho na reta final do pré-carnaval.
Nesses ensaios algumas coisas podem ser notadas, absorvidas e quiçá posteriormente modificadas. Por meio deles é plenamente possível avaliar se a integração musical das bossas casou com o samba pela Avenida. E, consequentemente, se a conjugação dos sons ocorre de forma equilibrada e com uma equalização de timbres que permita a apreciação total de cada detalhe do ritmo. Ainda que uma bateria ensaie na rua, a sonoridade proporcionada pela Marquês é diferenciada, devido a sua própria arquitetura e alguns detalhes musicais só podem ser conferidos por lá mesmo. É um momento próspero para refletir sobre ajustes, caso alguma dificuldade envolvendo a execução de algum naipe seja percebida.
Também acaba sendo um momento propício para acompanhar o andamento do samba e sua manutenção. Vale, inclusive, constatar se esse andamento oscila tanto na realização de bossas, quanto na retomada do ritmo. Outra atitude válida é conferir a limpeza dos naipes, buscando a fluidez rítmica. As peças leves, por causa de possuírem timbres mais agudos, normalmente são as que requerem mais atenção nessa análise, pois às vezes por mais sutil que seja uma eventual alteração, ela poderá ser benéfica para todo o ritmo, de forma geral. Por mais árduo que seja, refletir de forma minuciosa pode sim representar uma avaliação musical positiva, contribuindo para a almejada nota máxima.
Outro detalhe que poucos avaliam ou mesmo notam diz respeito às cordas do carro de som. Sabemos da qualidade indiscutível de inúmeros músicos do nosso Carnaval. Entretanto, a criação rítmica precisa e merece ser respeitada, evitando assim ser encoberta por violões e cavacos que, por vezes, tentam repetir o que determinados naipes fazem.
Claro que algumas nuances musicais são pra lá de benéficas, desde que não impossibilitem a assimilação rítmica total dos arranjos da bateria. Se as cordas não estão contribuindo nas paradinhas ao fazer coisa a mais, tocam por cima das bossas impedindo a audição plena ou mesmo estão de certa forma “sujando” o arranjo musical é primordial que seja reavaliado e principalmente corrigido. Ensaios da Sapucaí são os momentos mais pertinentes para esse tipo de análise.
Outra boa oportunidade que esses treinos já no campo de jogo oferecem é a possibilidade de conferir o impacto da interação popular com o ritmo e com as paradinhas. O quanto os arranjos musicais propostos para o Carnaval balançam o público e permitem que a experiência sensorial provocada cative a plateia. Ainda que não seja critério de julgamento, bateria de escola de samba gosta demais de dar espetáculo, faz parte da cultura rítmica carioca, portanto, a busca invariável pelo sacode.
Uma coisa incompreensível é um som extremamente alto num ensaio de bateria no setor 11. São treinos nos dias de semana, sem presença maciça de público, cuja função principal é poder avaliar o ritmo. Colocar um volume elevado dificulta a percepção musical de todos os naipes da bateria. É praticamente jogar aquele ensaio importante fora colocar um carro de som estridente, devido ao volume excessivo, num dia que a bateria é o foco principal do treino. É preciso tomar cuidado com essa questão e assim maximizar o potencial de evolução e crescimento de um treino com caráter diferenciado.
Sejam em escolas de grupo Especial ou de Acesso, os ensaios de ritmos na Sapucaí são os que têm maior quórum. No caso do Acesso, inclusive, são praticamente os únicos de bateria verdadeiramente cheia para a maioria das agremiações. Sendo assim, é possível afirmar que culturalmente o técnico na Avenida é o ensaio mais importante para qualquer bateria de escola de samba.
Sua importância vem junto com um temor cada vez mais crescente entre as baterias, o do pré-julgamento. Quanto um erro de um ritmo no ensaio técnico impacta ao tendenciar a avaliação dos jurados no Carnaval? Inicialmente, soa particularmente injusto que qualquer bateria seja julgada por causa de algo ocorrido em um ensaio. Ensaio é onde eventuais erros ocorrem. Vale mencionar que os treinos existem exatamente para que através dos equívocos, as correções sejam devidamente realizadas. Carnaval é na Avenida e Ritmo de Bateria deve ser julgado pelo ocorre na pista, no dia do desfile oficial.