A Fenasamba (Federação Nacional das Escolas de Samba) realizou no último fim de semana o evento do Conasamba dentro da Cidade do Samba. Liderado pelo presidente da entidade, Ricardo Campos (Kaxitu), no encontro houve diversas discussões sobre carnaval, mas a principal pauta foi a política. Todas as mesas ressaltaram a importância de ter governos que apoiem as escolas de samba, tanto moralmente a nível nacional e municipal, quanto financeiramente, pois comprovadamente, alegam que a festa rende muito dinheiro e emprego, e isso não são só nos dias de carnaval, visto que a Cidade do Samba não para os ateliês, compra de materiais, ensaios, feijoadas não param.

Mercado e oportunidades

Alex Bouças, o primeiro a discursar, fala algo interessante. O político, que tem o cargo de superintendente regional do trabalho do estado do Rio de Janeiro, diz que não só a Sapucaí leva tanto dinheiro e emprego para a cidade, mas também os blocos de rua mostram resultados agradáveis. Ou seja, para a folia carioca, a festa em si, é totalmente rentável. Encerrando o seu discurso, Alex crava que todas as escolas de samba e a Fenasamba podem contar com a superintendência para tudo relacionado ao assunto.

Nota-se isso quando a diretora da Mangueira, Célia Domingues, apresentou o programa ‘Carnaval em 365 graus’, onde explica todas as fases de uma escola de samba. Desde simples eventos até o grande dia do desfile. E tem como defesa mostrar que uma agremiação não para. Tudo gera trabalho. É escolha de enredo, entrega de sinopse para compositores, disputa de sambas, festa de protótipos, ensaios e o desfile oficial, além de eventos extras, como feijoadas. São inúmeros os fatos que acontecem dentro de uma escola de samba e que também foi citado pela diretora artística, mas o fato principal é que o objetivo de tudo isso tudo é mostrar que mexe com todo o poder turístico e empreendedor do mercado.

Célia também cita outras coisas que geram trabalhos, mas que não costumam citar, como a desmontagem das alegorias e recolhimento das fantasias. Isso requer um empenho dobrado da comunidade e talvez contratação de profissionais, porque há casos em que não se sabe o que fazer com as peças. Algumas são descartadas, outras reaproveitadas e as demais vendidas para desfiles de outros locais.

Quando todos esses processos acabam, Célia diz que há o mutirão de limpeza dos barracões e ateliês. Realmente quando termina um carnaval, a pausa para iniciar o próximo é extremamente curta. Então, para o início dos próximos trabalhos, o local em que se constrói os desfiles, precisa estar completamente remanejado.

Dérick Santana, produtor cultural e que está dentro do Ministério da Cultura do governo federal, palestrou explicando os projetos para incentivar a cultura, sendo aprovado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, onde vê a necessidade de ampliação. Para isso, se tem projetos como a ‘Diretoria de Política para trabalhadores da Cultura’ e o ‘Vale Cultura’.

A primeira consiste em implementar e avaliar jovens da arte e da cultura entre 18 e 29 anos, tendo a idade entre 19 e 28 anos, além de fazer com que o profissional tenha suporte técnico para tal. Também se tem o objetivo de construir propostas de regulamentação das profissões que envolvem cultura em conjunto com o Ministério do Trabalho e Emprego e, por último, gerir o Projeto Cultura do Trabalhador.

O Vale Cultura tem vários tópicos a serem feitos, como a retomada e ampliação da política de isenção fiscal, reuniões e participações para tentar parcerias com o objetivo de arrecadar, campanha de divulgação, entre outros.

Levando para o carnaval, Dérick cita que quase todos os materiais usados na avenida são exportados da China, mas os brasileiros têm totais condições de produzirem igual. É mais uma fonte de trabalho. Basta incentivo de cultura e suporte técnico, pois os profissionais que lá estão, precisam de remuneração adequada.

Luis Hernando, representante do carnaval da Colômbia, compôs a mesa e explicou um pouco sobre o que é o carnaval do país. O profissional optou por fazer uma palestra falando mais da festança do país. No vídeo explicativo, mostrou-se fotos que dava para notar semelhanças com o Brasil, principalmente nas fantasias e maquiagens.

Escola de samba, desfile como patrimônio e novas leis

A segunda mesa começou com o ex-presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães, discursando. O experiente gestor falou brevemente da precariedade que existe em gerir uma escola de samba e precisa muito a ser feito no trato dos sambistas e componentes que visitam as escolas de samba.

Marcel Machado, técnico de patrimônio imaterial da superintendência do Rio de Janeiro, explicou sobre o que é o IPHAN. O órgão, que cuida dos patrimônios imateriais, reconheceu o samba carioca desta forma em 2007. Para o IPHAN, tudo o que é saberes, conhecimento, ofícios, celebrações, forma de expressões dentro de certas manifestações culturais, é feito uma análise interna para ser concedido o feito de patrimônio imaterial. Segundo Marcel, a identificação de bens culturais, reconhecimento deles e a promoção e sustentabilidade são as três vertentes para o reconhecimento do IPHAN.

Gestão pública

O presidente da União das Escolas de Samba de São Paulo (UESP), Alexandre Magno, falou da importância que o novo governo está sendo importante para novas discussões sobre cultura e que podem impactar positivamente o segmento de carnaval.

Para criar um clima de descontração no ambiente, o diretor da Liesa, Elmo José dos Santos entrou no auditório cantando Martinho da Vila e depois parabenizou a todos por estarem levando a cultura do samba adiante. Ressaltou que todos os sambistas devem fazer com que seja obrigação que as autoridades ajudem o samba. Após, para finalizar sua rápida participação, Elmo quis prestar uma homenagem ao maior intérprete de todos, Jamelão, cantando um pagode de sua composição. E ainda sobrou um tempo para cantar o histórico samba-enredo ‘Aquarela Brasileira’, do Império Serrano em homenagem ao compositor Silas de Oliveira.

Pedro Silva, presidente da Superliga Carnavalesca do Brasil, declarou que a entidade tem responsabilidade principalmente com a Intendente Magalhães. Segundo o próprio, os desfiles devem continuar com aquela ‘leveza raiz’, mas o institucional deve ser preservado, até para o bem das escolas que por lá passam. Pedro até cita que não se pode ficar passando cachorros no meio das apresentações, apesar da irreverência que o local transmite.

Silva afirmou que tentou passar as escolas da Intendente para a Sapucaí, mas não teve o apoio necessário das demais entidades. Isso seria importante para melhores experiências e logística mais viável para as agremiações.

No segundo dia tivemos apenas duas mesas. A comunicação e a saúde dentro do carnaval foram as pautas do domingo. Vale destacar que, neste mesmo dia, o presidente da Fenasamba, Kaxitu, anunciou um pré-acordo para fazer um intercâmbio com o carnaval colombiano.

Saúde

O representante do Governo Federal disse que as escolas de samba junto às autoridades têm um potencial muito grande de promover a saúde. Campanhas de prevenções em quadras cheias, desfiles e ensaios. Um fator importante foi a questão do Coronavírus. Muitas agremiações serviram de apoio à doença, seja arrecadando alimentos às pessoas que perderam seus empregos ou muitas vezes servindo de posto médico.

De acordo com o especialista, é importante sempre ter seguranças de saúde nos eventos de escolas de samba, como no mínimo ambulâncias. Isso pode evitar coisas piores em um evento. Para entidades que não conseguem esse tipo de auxílio, a Fenasamba se dispôs a conversar.

Em um lado emotivo nas palestras, o profissional Paul Davies explicou sobre os Embaixadores da Alegria, que é um grupo de carnaval destinado às pessoas com deficiência. Foi fundado em 2012 e por lá já passou cerca de 22 mil foliões ao longo de sua história, sendo que nos desfiles de 2022, contou com 2.200 componentes. Um recorde para o grupo.